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Neste capítulo são apresentadas a conclusão e as sugestões para os próximos trabalhos. 5.1 Conclusão

Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de estudar o consumo de energia e a emissão de CO2 no transporte das coletas seletivas (domiciliar e pontual) realizadas pelo setor público e

pelo sistema cooperativo no município de Campinas (SP).

Os resultados, sintetizados em um conjunto de 9 grandezas com o propósito de padronizar a apresentação dos mesmos, embora não tenham caráter comparativo, mostram que o consumo médio de combustível nos caminhões utilizados na coleta seletiva do setor público (PMC/contratada e PMC/DLU) corresponde a 0,377 l/km, representando 59% a mais que o consumo médio dos caminhões utilizados pelas duas cooperativas, ou seja, 0,223 l/km. Dos 14 caminhões que, em 2005, compunham a frota da seletiva nos dois setores (público e cooperativo), os maiores consumidores de óleo diesel foram os 4 caminhões compactadores utilizados na coleta seletiva domiciliar pela PMC/Contratada.

Na relação entre quilometragem percorrida e quantidade de reciclável coletado, os caminhões pertencentes ao setor público também foram os que mais consumiram combustível por tonelada de reciclável coletado devido à distância percorrida, cuja média correspondeu a 44,5 l/t contra 10,6 l/t das cooperativas.

As cooperativas apresentam resultados bem diferentes tendo em vista os propósitos das coletas e os princípios norteadores da economia solidária. Diferentemente do setor público que

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tem a obrigação de cobrir uma abrangente área geográfica, as cooperativas podem esquematizar suas coletas de acordo com suas conveniências, apresentando dessa forma, melhores resultados.

Com a reciclagem dos recicláveis coletados no setor público e no sistema cooperativo, a quantidade estimada de energia primária evitada correspondeu respectivamente a 7.716,0 GJ/mês e 4.836,2 GJ/mês, totalizada em 12.552,2 GJ/mês calculado com base no fator de correção que incide sobre a energia gasta no transporte e que corresponde à energia efetivamente evitada. Comparando a energia gasta no transporte da coleta seletiva com a energia evitada no reaproveitamento do montante de recicláveis coletados, a quantidade de energia evitada nesse processo corresponde, em média, a 32,5 vezes maior do que a energia (óleo diesel) consumida no transporte pelos caminhões para a realização das coletas seletivas.

Com relação à análise de emissão de CO2, estima-se que o consumo de óleo diesel dos

caminhões coletores do setor público e do sistema cooperativo emitiram, em 2005, uma quantidade média de 29,3 tCO2/mês. A energia evitada com a reciclagem dos recicláveis

coletados deixou de emitir na atmosfera cerca de 901,2 tCO2/mês que corresponde a trinta vezes

mais a emitida pela queima de combustível no transporte da coleta dos recicláveis.

Com esses resultados concluí-se que sob análise do aspecto energético e de emissão de CO2, a coleta seletiva no município, em 2005, demonstrou viabilidade energética e ambiental,

embora a quantidade de recicláveis coletados pelo setor público representassem pouco mais de 1% da massa de resíduo sólido recolhida, ou 2,7% do potencial estimado de materiais passíveis de serem reciclados que é recolhido misturado na coleta comum diariamente e disposto no Aterro Delta A.

Para aumentar a quantidade de recicláveis coletados, levantamento bibliográfico no Cap. 2, mostra que é necessário priorizar a coleta seletiva no contexto da política pública. Dessa forma, alguns países como Japão, EUA, Europa e Taiwan têm conseguido aumentar suas taxas de reciclagem. Observa-se que, nesses países, o poder público tem utilizado, pelo menos, três ferramentas consideradas importantes para a manutenção do programa de coleta seletiva/reciclagem. A primeira consiste no instrumento legal instituída para regulamentar as responsabilidades do produtor de embalagem e do consumidor. A segunda consiste na aplicação de recursos técnicos e financeiros visando à disponibilidade de infraestrutura necessária à manutenção do programa implantado. A terceira consiste no marketing ambiental da coleta

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seletiva/reciclagem que inclui o processo de divulgação sistemática junto à população, bem como a tentativa da formação educacional ecológica para alavancar os programas de reaproveitamento de resíduo.

Países como Áustria, Bélgica, Dinamarca, Japão, Suécia e Suíça, por exemplo, reaproveitam, na incineração com recuperação de energia, na compostagem e na reciclagem, acima de 90% de seus resíduos sólidos urbanos, conforme tab. 2.17, 2.18. 2.19, 2.20 no Cap. 2. Na Suíça, o reaproveitamento do resíduo totaliza 99%, no Japão, o índice corresponde a 91% e na Áustria o índice é de 93%. A reciclagem nesses três países apresentam os índices de 34%, 17% e 27% respectivamente. Diferente de países como Croácia, México, Polônia, Turquia e Brasil que dispõem no solo acima de 90% dos seus resíduos sólidos.

As formas de gerenciamento dos programas de coleta seletiva/reciclagem são diversificados. No Reino Unido, por exemplo, o governo executa a coleta simultânea de resíduo comum e a de recicláveis no mesmo caminhão. Nesse País, a separação e entrega dos recicláveis pelos moradores é voluntária, contudo, o poder público utiliza estratégias de divulgação dos programas junto à população para aumentar a quantidade de reciclável coletado. Essa iniciativa tem trazido bons resultados para aquele País (READ, 1999).

Na Alemanha, por exemplo, existe uma outra forma de aumentar a quantidade de recicláveis coletados. Por imposição de lei, a população é obrigada a levar o reciclável até o local determinado pelo poder público, ou então, tem de pagar pela retirada do mesmo no domicílio (GONOPOLSKI, 2007).

Em Taiwan, desde que foi implantada a política de responsabilidade do produtor, em 1990, o país passou a contar com mais recursos financeiros para gerenciar seu resíduo sólido. Desenvolveu política de redução da quantidade de resíduo sólido gerado por habitante/dia e ainda obtém recursos para alavancar o programa de coleta seletiva.

Outras experiências de coleta seletiva/reciclagem são apresentadas no Cap.2. Constata-se que a questão relacionada ao resíduo sólido urbano no mundo todo tem sido um assunto que, nos últimos anos, vem desafiando as autoridades públicas em âmbito nacional e internacional tendo em vista dois fatores: o aumento da população mundial e o conseqüente aumento da quantidade de resíduo sólido urbano gerada diariamente na sociedade moderna. Em algumas nações, conforme mostra levantamento no referido capítulo, no período de 27 anos (1980-2007), a

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geração de resíduo sólido urbano teve crescimento de até três vezes mais. Como pode ser visto na tabela 2.18, boa parte do resíduo coletado tem como destino a disposição no solo.

Um procedimento utilizado também no Brasil para a maior parte do resíduo que é coletado nos centros urbanos. Por falta de dados atualizados, não se sabe exatamente a quantidade gerada e nem o montante reaproveitado. Em Campinas (SP), por exemplo, o histórico de 10 anos (1995- 2005) apresenta aumento de 23% na coleta, ou seja, cerca de 121 toneladas/dia de resíduo sólido urbano. Cerca de 99% da massa total de resíduo coletado diariamente não tem reaproveitamento. Desde que foi implantada, em 1991, a coleta seletiva não ultrapassou os 2% da massa recolhida.

Com base em estudos já mencionados sobre a evolução da coleta seletiva em outras localidades, pode-se afirmar que o baixo percentual de reaproveitamento dos recicláveis em Campinas acontece em função do gerenciamento do resíduo sólido ainda não fazer parte da pauta das prioridades da política pública do município.

Algumas falhas operacionais no sistema de gerenciamento foram observadas durante este estudo como irregularidade na frequência da coleta diurna e interferência dos catadores informais que recolhem nos domicílios os recicláveis antes dos caminhões da coleta pública. Entretanto, a coleta domiciliar noturna tem sido mais proveitosa devido a ausência dos catadores o que faz aumentar a quantidade de reciclável coletado, conforme mostra a tabela do anexo II.

Outro aspecto que pode influenciar negativamente o processo da coleta seletiva em Campinas é a utilização desnecessária de caminhões compactadores. Tratam-se de veículos pesados devido à existência do equipamento de compactação, normalmente utilizados na coleta de grande volume de resíduo comum. Para a coleta seletiva, o caminhão compactador torna-se inadequado, uma vez que os recicláveis não devem ser submetidos à compactação sob pena de danificá-los. Além de pesados, os caminhões compactadores consomem mais combustível e ainda recolhem pouca massa de recicláveis por setor, conforme pode ser observado na tabela do Anexo II.

Quanto maior a quantidade de resíduo sólido gerado em um centro urbano, maior é a frota de veículos em circulação diária para coletá-lo e transportá-lo até seu destino final. Normalmente, a frota se caracteriza por grandes caminhões movidos à óleo diesel.

No Brasil, por exemplo, o setor de transporte representa o segundo maior consumo desse energético. Estudo apresentado no Cap. 2, mostra que embora a energia seja um insumo básico

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para o desenvolvimento de uma sociedade, tanto sua produção quanto seu consumo acarretam impactos proporcionando danos à saúde ambiental. Por isso, considera-se fundamental que toda e qualquer iniciativa relacionada ao consumo de energia deve ser criteriosamente planejada, como é o caso de programas de coleta seletiva.

O Cap. 2, apresenta ainda, importante participação de associações e cooperativas em cidades da China, Índia, Filipinas, México, Colômbia e Brasil no que se refere à coleta e reaproveitamento de resíduo sólido urbano. Enfim, os catadores sejam organizados ou na base da informalidade em busca da sobrevivência financeira têm desempenhado importante papel na sociedade no exercício de catar os recicláveis para comercialização, desviando-os dos lixões e ou aterros.

Assim, no estudo desenvolvido em Campinas, tem-se que a análise da sustentabilidade de um programa de coleta seletiva/reciclagem está além da viabilidade energética e ambiental, ou seja, inclui outros aspectos como o econômico e o social que precisam ser mensurados. Embora estudado apenas os dois aspectos (energético e ambiental), acredita-se que os programas desenvolvidos pelas Cooperativas (Aliança e Reciclar) atinjam a sustentabilidade. Com relação ao setor público, o estudo precisa ser aprofundado.

5.2 Sugestões para os próximos trabalhos A sugestão para os próximos trabalhos:

• criar uma metodologia de avaliação da coleta seletiva no conjunto dos aspectos energético, econômico, ambiental e social; e,

• quantificar o consumo de energia (combustível no transporte e energia elétrica) utilizados nos processos de beneficiamento e no transporte dos recicláveis na trajetória que perpassa pelas cooperativas, intermediários até a indústria recicladora.

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