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Minimização do resíduo sólido por ação dos catadores informais

Revisão da literatura

2.6 Região Metropolitana de Campinas

2.6.5 Minimização do resíduo sólido por ação dos catadores informais

Uma parcela significativa do resíduo sólido passível de reciclagem tem sido desviado do aterro por ação dos catadores informais. A atividade de catar resíduo reciclável no município de Campinas é antiga e, nos últimos anos, tem se intensificado. Um estudo realizado por Streb (2001) com catadores no distrito de Barão Geraldo, mostra que a quantidade de reciclável coletado por cada catador corresponde à média de 2,3 t/mês.

Os catadores formam um exército de desempregados nas ruas onde passam recolhendo os recicláveis das lixeiras ou calçadas, como mostram as figuras 2.11 e 2.12.

6 Entrevista pessoal concedida à autora em 17/03/07.

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Para transportar o resíduo reciclável coletado, os catadores usam carrinho de supermercado com três rodas (figura 2.12), carrinho de feira (duas rodas), carriola (1 roda) e carrinho de mão (2 rodas). Em geral, o sistema de transporte acaba sendo improvisado. Para transportar além da capacidade de carga, os carrinhos de mão, por exemplo, apresentam prolongamento em suas laterais conforme figura 2.13a. Também são utilizados carroças (tração animal) e veículos automotivos como camioneta, caminhão e perua Kombi como mostra a figura 2.13b. Nesta, o reciclável obtido em várias formas de coleta, inclusive das lixeiras domiciliares, é transportado na parte interna e no bagageiro instalado no teto do veículo.

Figuras 2.13a e 2.13b Sistema de transporte de reciclável utilizado por catadores © Lino, 2007

© Lino,2005 ©Lino,2005

Figura 2.11 Catadora cata reciclável

em lixeira residencial em Campinas 2.12 Catadora acomoda os recicláveis no carrinho do tipo supermercado

77 2.6.6 Histórico da coleta seletiva

As informações sobre a origem da coleta seletiva em Campinas, nesta dissertação, tem base em depoimentos dos ex-garis, Sr. Ireno Alves dos Santos, Sr. Moacir Franceschini, Sr. José dos Santos, Sr. João Batista Rodrigues e Sr. Francisco Evandro Farias. Estes, são antigos funcionários públicos do Departamento de Limpeza Urbana (DLU), que permaneceram no exercício da atividade de coleta de resíduo nos domicílios, no período de 1970 até final da década de 1990. Esses trabalhadores são parte integrante da história que compreende o período de transição entre a coleta de resíduo sólido realizada pela prefeitura, a implantação oficial da coleta seletiva no município e a contratação de serviços desta a empresas particulares.

Durante entrevista coletiva à autora desta dissertação, em 23/11/2005, o grupo fez uma retrospectiva sobre a história da coleta de resíduo no município, naquele tempo, e como era exercida a atividade extra de separação do reciclável dos demais resíduos para comercialização. O grupo não soube informar a época em que começou a atividade extra de separação dos recicláveis realizada concomitantemente à coleta comum domiciliar. Contudo, na avaliação geral sobre o trabalho, o grupo informou sobre os benefícios econômicos que a renda complementar obtida com a comercialização dos recicláveis proporcionara a cada um deles durante cerca de 10 anos.

A coleta de resíduo sólido comum no domicílio era realizada em dias alternados, de segunda a sábado nos períodos diurno e noturno, por cerca de 80 equipes composta por 3 ou 4 garis. Num trabalho paralelo e simultâneo à coleta comum, o invólucro coletado do domicílio contendo resíduo misturado era aberto pelos próprios coletores e o reciclável, papel, papelão, vidro e metal, denominado no jargão da categoria por “muamba”, era separado do restante do resíduo.

O reciclável era colocado em sacos presos com tira de borracha na parte externa do caminhão e os demais, (orgânico e outros materiais sem valor comercial) colocados na parte interna para disposição no aterro sanitário. O resíduo de plástico, por ser volumoso e tomar muito espaço no caminhão, mesmo com demanda de mercado, conforme o Sr. Ireno, não era separado. O Sr. Moacir disse que “com tantos sacos de material reciclado pendurado, o caminhão parecia uma árvore de natal”. O trabalho iniciava-se na rua e terminava com a descarga do caminhão e

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uma nova etapa de catação no lixão da Pirelli. Essa dupla atividade tem sido exercida em países como Venezuela e Colômbia (MEDINA, 2000).

No lixão da Pirelli, os garis dispunham ainda de mais uma hora de trabalho para fazer a catação e separação dos recicláveis, momento que disputavam o espaço com “mais de 200 catadores locais” conforme PMC (1996). Por estimativa, cada equipe coletava e separava por dia, em média, 150 kg de material. A comercialização dos recicláveis era realizada junto a vários depósitos de ferro-velho existentes no município de Campinas. A média de renda estimada obtida em valores correspondentes a 2005 era da ordem de R$ 30,00/dia, ou dois salários mínimos mensais por gari.

Para o Sr. Moacir, o período em que exerceu a dupla atividade de gari e catador (trabalho formal e informal) era considerado como “época da bonança”. O grupo entrevistado informou que a renda complementar obtida possibilitou a compra de terreno e ajuda na construção de suas próprias casas. O trabalho paralelo foi interrompido por força da sua proibição, em 1985, no primeiro mandato do Prefeito Magalhães Teixeira.

A coleta seletiva domiciliar, em Campinas, foi implantada, em 1991, mesmo ano da sua regulamentação, pelo então Prefeito Jacob Bittar, sendo iniciada no bairro Cidade Universitária, localizada no distrito de Barão Geraldo, onde o DLU coletou no primeiro dia, cerca de 200 kg de reciclável. A coleta seletiva e a triagem do material eram realizadas pelos próprios funcionários do DLU, e a verba da comercialização era revertida em benefícios do banco de órtese e prótese pelo Fundo Social de Solidariedade (Fusscamp) (PMC, 1996).

Para beneficiamento do reciclável (triagem, prensagem e enfardamento), a prefeitura instalou uma infra-estrutura com galpão, esteira e prensa nas dependências do DLU. Local posteriormente utilizado para capacitação técnica de grupos interessados em trabalhar com segregação de material reciclável.