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Revisão da literatura

2.6 Região Metropolitana de Campinas

2.6.8 Programa de geração de trabalho e renda

A abordagem sobre a coleta seletiva e o programa de geração de trabalho e renda tem base na experiência da autora desta dissertação, que participou do programa no período de 2001 a 2005. A autora foi a responsável pela implantação do projeto de cooperativa de catadores denominada “Cooperativa Santa Genebra”, onde participou de forma voluntária da coleta seletiva nas ruas dos três bairros no entorno da cooperativa, juntamente com cerca de 20 cooperados.

A coleta seletiva da Cooperativa Santa Genebra, como mostram as figuras 2.16 e 2.17, foi iniciada no sistema domiciliar pontual em residências, comércios, indústrias, igrejas e outros locais onde semanalmente eram recolhidos os recicláveis por um caminhão fretado pela cooperativa. Em várias residências, os próprios moradores tomavam a iniciativa de transformar suas garagens ou quintais em posto de recebimento de recicláveis. Outros moradores, porém,

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preferiam levar seus recicláveis até a cooperativa, localizada num terreno público, onde o trabalho de triagem dos recicláveis era realizado debaixo de árvores. Posteriormente, a Cooperativa Santa Genebra foi incluída no Programa de Geração de Trabalho e Renda e, assim passou a obter alguns benefícios da prefeitura, como o caminhão com um motorista para os cooperados realizarem sua coleta semanal e, também, uma carga de recicláveis proveniente da coleta seletiva pública.

O Programa de Geração de Trabalho e Renda foi criado, em 2001, pelo Prefeito Antonio da Costa Santos, do Partido dos Trabalhadores (PT), morto em 11 de setembro do mesmo ano, e que teve continuidade por sua vice Izalene para equacionar um problema crucial no município: o desemprego. O projeto original previa a extensão do serviço de coleta seletiva domiciliar em todos os bairros para aumentar o volume de reciclável coletado e a implantação, até 2004, de 17 cooperativas de trabalhadores para segregação, beneficiamento e comercialização do material reciclável.

A prefeitura forneceria os recursos técnicos e financeiros para implantação das cooperativas, ou seja, capacitação técnica dos cooperados e a infra-estrutura necessária como barracão e equipamentos (balança, prensa etc). Em cada administração regional (AR) seria outorgada apenas uma cooperativa que receberia o reciclável proveniente da coleta seletiva visando à sua auto-gestão.

Os cooperados das recém-criadas cooperativas deveriam passar primeiramente por um processo de capacitação técnica para manusear os recicláveis (triagem e beneficiamento). Cada cooperativa ficaria submetida a um período de incubação nas também recém-criadas incubadoras, tais como: o Centro de Referência em Cooperativismo e Associativismo, CRCA, fundada em

© Lino 2003

© Lino, 2003

Figura 2.16 Cooperados durante coleta em bairro próximo à cooperativa.

Figura 2.17 Cooperados ajeitam os recicláveis nos carrinhos para transportá- los até a cooperativa.

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outubro de 2002 pela Cáritas Arquidiocesana de Campinas, o qual a autora deste trabalho é membro de fundação e o Instituto Tecnológico de Cooperativa Popular – ITCP órgão ligado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Posteriormente, foi inserida como incubadora, a organização não-governamental Ecologia e Dignidade Humana (EDH), coordenada por Cheda Name Saad, fundador da Cooperativa Aliança. Com isso, a prefeitura estaria preparando a mão- de-obra para que no exercício das atividades, os cooperados pudessem atender adequadamente as exigências legais e técnicas na prestação de serviços à municipalidade.

Das 17 cooperativas do projeto original, até 2005, apenas 11 foram implantadas. Devido às dificuldades de ordem técnica e financeira do programa, a maior parte funcionava sem as mínimas condições. Os problemas se estendiam desde a falta de local para triagem e equipamentos necessários (balança, prensa etc.), à falta de reciclável. As cooperativas mantinham uma estrita relação de dependência com a prefeitura, demonstrando com isso incapacidade de absorver o sistema cooperativista como um novo conceito de gerar trabalho e renda. Sem a aplicação de recurso público para estender a coleta seletiva a outros setores tampouco melhorar a existente, a quantidade de reciclável coletada seletivamente e distribuída passara a ser insuficiente para as cooperativas adquirirem seus próprios recursos e atingir a auto-gestão.

Para o engenheiro e professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, Waldir Bizzo, diretor do DLU em 2003, a sustentabilidade econômica e social de uma cooperativa depende do aumento do volume da coleta seletiva. Em seus cálculos, para que cada cooperado auferisse uma renda mínima de um salário mínimo mensal, deveria executar a triagem de pelo menos 2 t/de material reciclável por mês.

Com base nesse raciocínio, uma cooperativa com 20 cooperados, que é o número mínimo considerado pela legislação vigente para sua formação, deveria receber, em média, 40 t/mês. Em 2005, a coleta seletiva totalizava a quantidade de 210 t/mês ou 7 toneladas/dia, correspondendo a 2,6% do potencial de geração de recicláveis no município. Com o total de 190 cooperados nas 12 cooperativas, a distribuição da quantidade de recicláveis deveria ser, em média, de 380 t/mês. Nesse cálculo, o déficit acumulado correspondia a 170 t/mês.

Nas cooperativas participantes do programa municipal de geração de renda, o trabalho se resume à triagem dos resíduos sólidos oriundos da coleta própria, da coleta oficial e de doações de empresas, comércios etc. No processo de triagem, os materiais são separados por tipo e

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categoria e beneficiados (prensados e enfardados) para valorização do preço de mercado. O beneficiamento dos recicláveis também facilita o transporte (CRUZ, 2002).

Na falta da prensa, o material é comercializado solto e dentro de bags ou sacos, após atingir o volume mínimo exigido pelos compradores denominados “aparistas”, “sucateiros” “atravessadores” ou “intermediários”, que estabelecem o critério da comercialização, a partir de seus interesses e da indústria recicladora (CRUZ, 2002).

Para cumprir o objetivo desta dissertação, foram estudadas três cooperativas do município: a Cooperativa Aliança, o Projeto Reciclar e a Cooperativa Prefeito Antônio da Costa Santos. Todas integradas no programa de geração de renda da Prefeitura.