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CONCLUSÃO: MÉTRICAS ALTERNATIVAS PARA AS MÍDIAS SOCIAIS

No documento Métodos Digitais (páginas 92-97)

MANEIRA: AS MÍDIAS SOCIAIS — DAS MÉTRICAS DE VAIDADE

CONCLUSÃO: MÉTRICAS ALTERNATIVAS PARA AS MÍDIAS SOCIAIS

Gostaria de sintetizar o argumento feito para um projeto alternativo de métricas para mídias sociais. Ao todo, eu faço cinco movimentos. Com base nas altimétri- cas para a ciência, que considero um projeto alternativo de métricas, proponho um outro projeto. Esta proposta é relativa às questões problemáticas sociais, ao invés de ser relativa às ciências. Para essa finalidade, conclamo a uma mudança nas redes em estudo por pesquisadores sociais, isto é, uma mudança da rede social (com suas métricas de vaidade) para uma rede de questões problemáticas. Essa mudança de redes possibilita focar nas oportunidades de métricas alter- nativas para o estudo do engajamento social em questões problemáticas, que eu nomeio “análise crítica”. Em uma aplicação de métodos digitais, que procura redirecionar dispositivos online e seus métodos de pesquisa, minha proposta aqui é reutilizar as pontuações de altimétricas e outras medidas de engajamento

para a pesquisa social (Rogers, 2013). A análise crítica — o projeto alternativo de métricas para as mídias sociais — busca mensurar o “engajamento de outra maneira” ou modos de engajamento (outros que não aqueles feitos com métri- cas de vaidade), como voz dominante, interesse, comprometimento, posiciona- mento e alinhamento.

Um dos insights mais originais do projeto de altimétricas na ciência diz res- peito à importância das mídias sociais para a organização da atenção no novo trabalho. As novas métricas antecipariam o interesse acadêmico em artigos publicados ou republicados, e mesmo em projetos em desenvolvimento ou aque- les que estão em tópicos atuais de blogs. Isso concede à web, e mais especifi- camente às plataformas de mídias sociais, o status de um fluxo de dados quase em tempo real que não apenas anteciparia o interesse em novo trabalho, mas fornecer indicações de impacto antes que o tempo necessário para as citações impressas se acumularem e serem contadas (Thelwall et al., 2013). A análise crí- tica é igualmente considerada uma alternativa aos projetos de métricas existen- tes em mídias sociais, mas a relação entre as altimétricas e a análise de citações (Web of Science) é diferente daquela entre análise crítica e métricas de vaidade.

A análise crítica toma de empréstimo o insight de que há trabalho profissional sendo organizado e disseminado por meio de mídias sociais que não concernem, principalmente, à apresentação de si e à vaidade (embora esses aspectos exis- tam, claro, tanto na ciência quanto no trabalho referente às questões sociais). Da mesma maneira que as altimétricas enxergam as redes de ciência nas mídias sociais, a análise crítica propõe enxergar redes de questões problemáticas. Por conseguinte, as redes sociais são produtivas não apenas para o self e aquilo que alguém gostaria de ser, mas para a análise de engajamento em torno de questões problemáticas.

A análise crítica também toma das práticas de mensuração de engajamento online, tal como o monitoramento de mídias, a ideia de que o engajamento nas mídias sociais é significativo e digno de ser mensurado para além do alcance da vaidade. O impacto dos atores nos espaços de questões, ou seja, a métrica de

voz dominante, é um exercício relativo à identificação de atores e demarcação de

fontes que poderia ser empreendido em ciência ou no monitoramento de mídias, onde os atores são autores ou líderes de opinião, e as fontes são revistas ou jor- nais renomados. O interesse, como redirecionamento da atenção por parte dos públicos, similarmente, pode ser estudado em termos de novos investimentos em inovação na ciência (Callon et al., 1983). O comprometimento poderia ser con- cebido como uma “mais que esperada” atenção para uma notícia ou um para- digma científico fora de moda, ainda que se escreva sobre isso depois do término

do ciclo de atenção (Downs, 1972). O posicionamento deve ser pensado como os termos específicos usados repetidas vezes em artigos noticiosos que sinalizam uma inclinação política ou política editorial no enquadramento de prestação de contas sobre um evento (Etman, 1991; Herman & Chomsky, 1988). O alinhamento poderia ser concebido como enquadres comuns em jornais, mostrando como os jornais se alinham a outros. Em outras palavras, cada uma das análises críticas poderia ser descrita como formas de redirecionamento de métricas, em ciência e em monitoramento de mídias, aplicadas às mídias sociais.

Também sustentamos aqui que o estudo do engajamento nas mídias evolui com o advento das mídias sociais. Para cada uma das análises críticas há combi- nações de atores e linguagem, com relações entre eles, que são delineadas subs- tancialmente, topologicamente e estilisticamente, e onde as particularidades são próprias a cada meio pesquisado. Assim, há importantes hashtags, postagens geolocalizadas e fotos, bem como memes expressos por meio de filtros. Além disso, os resultados de análise compartilham uma linguagem visual com o meio do qual derivam. Há nuvens de palavras, mapas com marcadores de localização, grids de imagem e outras visualizações do meio. Desse modo, as análises e seus resultados, enquanto compartilham comprovações e recursos com métricas de análise de citações científicas e monitoramento de mídias, também contêm objetos nativos digitais (do próprio meio) cujos meios de mensuração são comu- mente referidos como analíticos. Não apenas a apresentação de uma alternativa às métricas de vaidade, mas também o estudo do engajamento em questões pro- blemáticas oferece um atributo crítico.

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