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Este trabalho teve o objetivo principal de compreender as reconfigurações de

práticas e processos jornalísticos em plataformas digitais como o YouTube, a partir da

experiência do canal jornalístico MyNews. Partimos da hipótese de que sendo o Youtube

uma plataforma marcada pelas lógicas da cibercultura e da convergência, o jornalismo

produzido neste espaço teria de se adaptar, adotando linguagens e estéticas próprias do

meio. Assim, a proposta teórica que fundamentou nossa discussão reuniu autores que nos

ajudaram a entender conceitos como cibercultura (LEMOS, 2003), convergência

midiática (JENKINS, 2009) e jornalismo pós-industrial (ANDERSON; BELL; SHIRKY

(2012). Nossa ideia foi enquadrar o MyNews, nosso objeto empírico, como sintoma desse

momento do jornalismo, influenciado também por alterações no modo de produção

capitalista, com a difusão do chamado capitalismo de acumulação flexível.

Considerando os objetivos da pesquisa, a análise empírica realizou um estudo de

caso, por meio de uma análise de conteúdo, que deu ênfase a três quadros, “MyNews

Explica”, “Sem Politiquês” e “Empreender É Mara”. De cada um, foram selecionados

três vídeos, totalizando um corpus de nove vídeos. Além desse material, realizamos duas

entrevistas com jornalistas do canal. A análise, que juntou o estudo dos vídeos e das

entrevistas, procurou discutir questões como: 1) que marcas jornalísticas predominavam

nos vídeos e sua relação com outros formatos; 2) que traços característicos da plataforma

teriam sido adotados pelo jornalismo do MyNews; 3) que modelo de negócios o canal

adota e que relação teria com as alterações no jornalismo; 4) como ocorrem os processos

de produção no âmbito das rotinas produtivas? 5) que relação o canal mantém com seu

público. O trabalho de análise nos levou a problematizar alguns pontos que acabaram por

relativizar, em parte, algumas dimensões, dadas muitas vezes como adquiridas, na

proposta de convergência apontada por Jenkins (2009), autor central em nosso trabalho,

como a noção de cultura participativa.

A análise mostrou a existência de muitas adaptações da linguagem jornalística à

estética do canal, desde a organização geral do canal até os detalhes de edição dos vídeos

dos quadros analisados. Em uma análise mais geral, observamos que o MyNews é

dividido em quadros temáticos, os quais são postados em dias específicos da semana, da

mesma forma como é feito em canais de produtores de conteúdo da plataforma,

conhecidos como youtubers. Outra característica na estrutura estética do MyNews é a

utilização de thumbnails, as quais procuram atrair o usuário a partir da exibição de

miniaturas personalizadas que mostram uma prévia do conteúdo a ser transmitido.

Usualmente, as thumbnails tem um cunho apelativo e, muitas vezes, sensacionalista,

porém, esse não é o caso do MyNews. Apesar de utilizarem desse recurso como um mote

para atrair, normalmente elas estampam uma imagem do (s) jornalista (s) que apresentam

o quadro e uma frase que intitula o vídeo ou que remete ao tema que será tratado,

mantendo a seriedade e o compromisso com a informação de que um conteúdo

jornalístico necessita. Quanto aos chamados “clickbait”, nos quais os produtores de

conteúdos utilizam de manchetes sensacionalistas ou chamativas para que os usuários

“cliquem” nos seus vídeos, mais uma vez, apesar de não utilizarem do sensacionalismo, o

MyNews utiliza em determinados quadros uma linguagem cômica, sarcástica e, até

mesmo, provocativa, em títulos de alguns quadros do canal, o que se encaixa nos

parâmetros estabelecidos na plataforma. Assim, mesmo sabendo que o jornalismo

investe, desde há muito, em estratégias de apelo, a internet e as redes sociais tornaram

mais fluidas as fronteiras entre informação e entretenimento, o que alguns chamam de

infoentretenimento.

Dessa maneira, a estrutura do canal como um todo, envolvendo a organização dos

vídeos em quadros, as thumbnails e os títulos dos vídeos, mostram o que identificamos

como hibridização de linguagens, entendendo hibridismo, em conexão com Jenkins

(2009, p. 389), como o processo que ocorre quando “um espaço cultural absorve e

transforma elementos de outro”. De fato, os elementos aqui apontados, além de outros

identificados na análise, permitem perceber esse movimento no canal, tão próprio dos

ambientes interativos.

Quanto às rotinas produtivas do MyNews, percebemos diferenças na produção do

produto jornalístico no YouTube com a de um telejornal diário por exemplo, a começar

pela questão do tempo. Isso porque, mesmo tendo em vista a abordagem de conteúdos

mais “quentes” da semana, quadros como o MyNews Explica, apresentado por Gabriela

Lisbôa não se defronta com as “hard News”, que é o que movimenta os telejornais

diários, fazendo com que o tempo de produção desse conteúdo seja estendido. Outra

questão observada é a maneira como muitas entrevistas são realizadas: especialistas são

ouvidos diretamente do “conforto de sua casa”, através do Skype. Esse tipo de proposta,

muito comum no quadro MyNews Explica, representa também uma proposta estética

muito própria de ambientes virtuais, sem, contudo, deixar-se de discutir questões

relevantes sob uma ótica jornalística. Além disso, outro aspecto, talvez um dos mais

relevantes, é que o MyNews recorre a estúdios alugados e, em muitos casos, utiliza

estúdios do YouTube Space e até da Bolsa de Valores de São Paulo, para a gravação de

um de seus quadros. Com isso, a noção de redação é fragmentada como espaço físico, de

forma que os jornalistas atuam, produzindo e disseminando conteúdos, a partir de suas

casas e dos mais diversos locais. Esse tipo de proposta, que algumas televisões têm até

adotado, mas sem abrir mão da redação fixa, representa bem a lógica da flexibilização do

trabalho própria de uma dinâmica capitalista e neoliberal.

Já na questão de modelo de negócios, observamos que o principal patrocinador do

MyNews é uma empresa de investimentos. Neste caso, várias questões foram apontadas,

mas destacamos, principalmente, a partir do quadro Empreender é Mara, o culto ao

empreendedorismo como forma de endeusar a ideia do empreendedor de si mesmo ou

gestor da própria carreira. Outro aspecto foi a associação da figura do jornalista à marca

apresentada, o que seria um jornalismo de marcas, mostrando como a lógica do marketing

faz com que os jornalistas virem marcas dos produtos anunciados, podendo causar

problemas éticos e deontológicos, apesar de as jornalistas entrevistadas falarem em

liberdade e autonomia.

Na questão de linguagem e estética, destaca-se a mescla entre seriedade,

dinamismo e descontração muito mais explorado nos conteúdos da plataforma do

YouTube do que em um telejornal clássico. Diferentemente do jornalismo televisivo, e

semelhante aos conteúdos de youtubers, nos quadros analisados, sobretudo no MyNews

Explica, a jornalista se porta de maneira descontraída, da introdução do assunto à

apresentação dos entrevistados. O quadro se apropria da linguagem da internet sobretudo

no uso da linguagem informal por meio da inserção de vídeos cômicos, memes, efeitos

sonoros, modificação de voz e mudança de cor da imagem para preto e branco (para

trazer um viés cômico ou sinalizar que aquele trecho do vídeo “não deveria estar ali”).

Situação parecida acontece com o Sem Politiquês, no qual se percebe a utilização de

expressões com gírias em muitos momentos, além da construção de um cenário

descontraído e intimista. Mesmo com a mudança de apresentador no quadro e alterações

no cenário anterior, Sem Politiquês segue com a mesma estratégia de criar uma sensação

de proximidade interativa com público através de vários estratégias retóricas e estéticas,

como a inclusão de gifs e ilustrações.

Por fim, é importante destacar uma das questões que o estudo empírico permitiu

relativizar em nossas considerações inicias acerca da proposta de Jenkins (2009) sobre a

convergência. Com o auxílio de outros autores que também se interessam pelos

fenômenos do ambiente digital, como Carpentier (2012) e Chagas (2018),

problematizamos a noção de participação para concluir que o que ocorre no MyNews é

um nível muito rudimentar de participação. O papel de “gatekeeping” realizado pelos

jornalistas e editores dos quadros acaba por limitar a noção de uma participação plena já

que o público, podendo influenciar, não define as decisões finais. Nota-se, sim, uma

interação com o público, que possibilita uma relação de comunicação, a partir do acesso a

plataforma do YouTube, mas não uma participação de fato. De outro lado, percebemos

que muito do que se apresenta como desdobramento da convergência é também uma

consequência direta de alterações no modo de funcionamento do capitalismo, que

atualmente opera pela fragmentação do trabalho (FERREIRA, 2019).

Ao realizar essa análise, portanto, foi possível perceber as múltiplas facetas e

possibilidades para o jornalismo, mas também algumas contradições que podem afetar

valores históricos da própria profissão. Como estudo de caso, procuramos apresentar uma

visão amplificada do objeto, sem desconsiderar que vários pontos ficaram por aprofundar.

Ao analisar o MyNews, percebemos que, apesar de estarmos em um cenário onde a

informação não é mais monopólio do jornalismo, este tem um papel a desempenhar no

espaço das redes. Além disso, como um dos poucos estudos sobre o canal MyNews, este

trabalho pode servir como base para pesquisas futuras, já que o canal pode ser analisado

sob diversas facetas, visto que possui quadros temáticos que desenvolvem estéticas

próprias, apontando para discussões complexas e complementares sobre o potencial do

jornalismo em espaços interativos como o YouTube.

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APÊNDICE

A – Entrevista realizada com a jornalista Gabriela Lisbôa, que apresenta o quadro

MyNews Explica

1. Gostaria de saber um pouco da sua vida profissional, como foi sua trajetória.

R: Me formei em jornalismo em 2003, em Passo Fundo no Rio Grande do Sul, na Universidade de Passo

Fundo. Quando eu me formei, eu já trabalhava, comecei a trabalhar em 2002 numa televisão lá, que era da

universidade, que era afiliada ao canal Futura e lá eu trabalhei até 2007. Em 2007 eu fui para o Tocantins,

trabalhar na afiliada da TV Globo, que é a TV Anhanguera, fiquei lá por 2 anos e fui chamada para ser

repórter da Globo no Recife. Fui para o Recife e fiquei por 7 anos, até 2016. Em 2016 eu vim para São

Paulo, trabalhei um tempo na Globo News e na TV Globo São Paulo, acho que quase 1 ano e aí, eu saí e fui

trabalhar, primeiro na CBN, por pouco tempo porque fui cobrir uma licença maternidade, deve ter dado uns

6 meses, e aí eu fui chamada para trabalhar no R7 e fiquei 9 meses, até me chamarem para ir para o

MyNews. E estou no MyNews desde outubro de 2018.

2. E como foi a sua entrada no MyNews?

R: Eu tenho uma amiga, com quem eu tinha trabalhado na Globo News, a Denise Barbosa e a Mara Luquet

comentou com a Denise que estava precisando de alguém que tivesse uma noção de economia e que tivesse

experiência em vídeo e em produção, ai a Denise indicou meu nome. Elas me ligaram e a gente conversou e

eu achei que valia a pena sair do R7 para ir para o MyNews.

3. Comparando a sua atual experiência no MyNews com suas outras experiências, quais são as

práticas que mudaram como jornalista?

R: Acho que tudo. O MyNews é um jeito completamente diferente de trabalhar, não só de fazer jornalismo,

mas de trabalhar. O dia a dia é muito diferente. Antes eu trabalhei sempre em empresas formais, empresas

tradicionais, em que eu tinha carteira assinada, que eu tinha um horário de trabalho a cumprir e eu tinha

uma função específica, ou eu era repórter, ou eu era apresentadora ou eu era produtora e enfim. O MyNews

chegou com outra visão de mercado, o profissional do MyNews, hoje, é um profissional que não tem um

horário de trabalho fechado, mas que tem funções a cumprir. E aí a gente cumpre essas funções nos

horários que nós achamos melhor cumprir e enfim. Meu horário ainda é um pouquinho mais fechado do

que a maioria por causa do Dinheiro na Conta, que acontece todos os dias num horário fixo. Então, naquele

horário eu tenho que estar na redação, mas eu faço muita coisa de casa, não vejo necessidade de estar na

redação para trabalhar, então tem muita coisa que faço de casa: gravo entrevistas de casa, uma coisa que eu

nunca imaginei fazer, abrir o computador e gravar uma entrevista sentada aqui na minha sala. Essa

facilidade de poder gravar com o celular, quando eu saí da televisão era uma coisa que a televisão estava

começando a fazer e aqui no MyNews a gente lida muito bem com isso. A gente tem o celular, se acontecer

alguma coisa agora e eu precisar gravar com o celular, eu vou gravar e vai para o ar e vou gravar com uma

qualidade boa, porque os aparelhos permitem isso hoje. Isso é uma coisa que a TV ainda está um pouco

restrita, as próprias entrevista por Skype que a gente faz todos os dias e o tempo todo a televisão ainda... a

mídia tradicional ainda está se adaptando. Então isso é muito legal, sem contar que a gente tem uma grade

mas a gente tem a possibilidade de publicar coisas o tempo todo, a hora que a gente quiser, isso também

facilita muito o fazer jornalismo porque você não precisa esperar a hora do jornal, se é uma coisa

importante você entra/ grava um vídeo agora e publica agora e daqui a pouco grava outro para atualizar.

4. Você saberia me dizer como nasceu o MyNews?

R: Eu não estava lá desde o começo, quando eu entrei o MyNews já tinha alguns meses, o que eu sei... Vou

te contar o que me contaram. A chefia do MyNews é formada por pessoas que trabalhavam na TV Globo,

em setores diferentes. A Mara Luquet, por exemplo, era comentarista de economia, tem o Nelson Garrone

que era o diretor e criador do Globo News em Pauta, a Myrian Clark que era editora do Josoares, a Beatriz

Prates era a editora do Globo Rural e do SPTV, então cada um tinha sua função. A Mara Luquet tinha esse

sonho de ir para internet, de fazer um canal de jornalismo na internet. Ela conversou primeiro com o

Antônio Tabet, que é o criador do Porta dos Fundos, já que ele tinha essa experiência de criar canal e tal,

eles conversaram, decidiram criar o canal e aí ela (Mara) chamou a Bia, o Nelson e a Myrian, e juntos eles

fizeram o MyNews que está aí hoje.

5. Você vê o MyNews como um novo modelo de negócios para o jornalismo?

R: Vejo! Eu vejo o MyNews como uma grande possibilidade, a gente está num momento bem complicado

da profissão. As redações estão cada vez mais enxutas, os veículos estão com dificuldade de se manter,

porque fazer jornalismo é caro, você precisa de bons profissionais, você precisa de equipamentos, mesmo

que seja um celular e um computador, você precisa de um computador bom, de um celular bom você

precisa de programas bons. Então fazer jornalismo é uma coisa cara, as redações estão com dificuldade, o

mercado está cada vez mais estreito, as vagas são cada vez menores, então o MyNews abriu uma porta

nova, uma possibilidade de fazer jornalismo sem precisar de uma grande empresa, de uma mídia, de uma

concessão. O jornalismo ficou mais simples, mais fácil e jornalismo de qualidade, que é o principal.

6. E como você descreveria esse novo modelo do MyNews na internet, no YouTube?

R: É um modelo prático, é um modelo simples e ao mesmo tempo é um modelo sério. São pessoas muito

comprometidas que estão fazendo, e é um modelo que abre uma porta com possibilidades infinitas. Sabe...

eu fui viajar, passei um final de semana na Argentina e pensei “ah vamos fazer um Explica aqui na

argentina? Vamos! ” E eu e meu marido fizemos, e está no ar. Então é uma série de possibilidades, de

poder ter uma vida e ser jornalista, porque as vezes você não consegue ser as duas coisas e o MyNews da

essa possibilidade, da gente ter uma vida, da gente ter horários, da gente fazer coisas, da gente também

fazer jornalismo.

7. Nesse novo tipo de modelo de negócio, de onde vêm as receitas para a manutenção do canal?

R: O canal tem patrocinadores como todos os canais, como todas as rádios, televisões e jornais, a gente tem

anunciantes. O que a gente tem o cuidado de fazer é deixar claro para esses anunciantes que eles não

podem interferir na linha editorial, esse é um princípio. Mas a gente vende anuncio como todas as outras...

hoje o MyNews tem um patrocinador principal e aí a partir disso outros programas são comercializados

também.

8. Além dessas fontes de receitas, o que mais muda do jornalismo do MyNews para o jornalismo

tradicional?

R: Acho que tudo isso que eu te falei assim, é o jeito de fazer, é o jeito de trabalhar é o jeito de fazer

jornalismo, é uma liberdade editorial muito grande. Quando a gente trabalha numa grande empresa tem

coisas que a gente não pode falar, pessoas que a gente não pode entrevistar, tem assuntos que a gente não

pode tocar. No MyNews a proposta é que a gente possa fazer o que é importante, que a gente possa ouvir

quem tem coisas para dizer, sem se tolher, sem cuidar porque “ai não pode falar isso porque talvez fulano