Marina Beatriz Paes de Barros
“MyNews”: A inserção jornalística no YouTube e a reconfiguração das práticas e processos jornalísticos na internet
Cuiabá
2020
Marina Beatriz Paes de Barros
“MyNews”: A inserção jornalística no YouTube e a reconfiguração das práticas e processos jornalísticos na internet
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito parcial para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso
Modalidade: Monografia
Orientador: Prof. Dr. Bruno Araújo
Cuiabá
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO
FOLHA DE APROVAÇÃO
Banca Examinadora:
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Prof. Dr. Bruno Bernardo de Araújo –UFMT – Orientador
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Prof. Dr. Thiago Cury Luiz
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Prof. Dr. Luãn José Vaz Chagas
AGRADECIMENTOS
Esse espaço dedico àqueles que, de alguma forma, me auxiliaram nesse período tão importante de minha vida. Primeiramente, gostaria de agradecer ao meu pai, Jorge Áureo, e, em especial a minha mãe, Maria Inez, por terem me dado a base necessária para alcançar o privilégio de cursar um ensino superior, num curso que eu almejava desde os meus 15 anos. Obrigada por sempre priorizarem meus estudos e por acreditarem na minha capacidade.
Agradeço ao meu namorado, Hugo Bueno, por ter sido meu ponto de apoio e por estar ao meu lado nos momentos difíceis dessa jornada. Obrigada por me confortar, sempre sabendo as palavras que eu precisava/tinha que ouvir, e me incentivar a valorizar o trabalho que desempenho. Obrigada por embarcar nessa trajetória de crescimento e autoconhecimento comigo.
Agradeço aos meus amigos de curso, Yan, Aline e Lariça, que sempre me encorajavam e estimulavam. Obrigada por me fazerem rir em momentos complicados da graduação e, principalmente, por me apoiarem a enfrentar meus medos e dificuldades.
Não poderia deixar de agradecer aos professores que fizeram este Trabalho de Conclusão de Curso ser possível: Prof. Dr. Bruno Araujo, responsável por me guiar e auxiliar na construção dessa monografia, sempre muito disponível e compreensivo; e ao Prof. Dr. Thiago Cury e Prof. Dr. Luãn Chagas, que auxiliaram a enriquecer a proposta oferecida por esse trabalho, ao trazerem apontamentos importantes para análise.
Agradeço imensamente por apoiarem meu projeto!
Resumo
Este trabalho tem como objetivo entender as reconfigurações de práticas e processos jornalísticos no YouTube a partir da experiência do canal MyNews. O canal jornalístico analisado surgiu na plataforma em 2018 com o propósito de “trazer informação de qualidade, com contexto e análise pra você ficar bem informado e tirar as suas próprias conclusões. Temos compromisso com a pluralidade e queremos ser um ambiente de debate de ideias com espaço para todos”, como pontuado na descrição do MyNews em sua página do YouTube. Para o desenvolvimento do trabalho, discutem-se questões teóricas em torno da Cultura da Convergência, por meio dos contributos de Henry Jenkins (2009), Cibercultura, seguindo as leituras de Lévy (1999) e Jornalismo pós- industrial por meio do relatório feito por Anderson, Bell e Shirky, da Universidade de Columbia. Na parte empírica, foi realizado um estudo de caso, a partir de um corpus composto por nove vídeos, de três quadros selecionado do MyNews, tendo como suporte cinco categorias de análise desenvolvidas através da observação empírica do material. Além disso foram realizadas entrevistas semiestruturadas com jornalistas do canal. Entre os resultados, percebeu-se que as práticas jornalísticas foram adaptadas à linguagem e à estética próprias da plataforma do YouTube, através da utilização de gírias e de um teor de comicidade, por meio do emprego de memes, por exemplo. Além disso, pode-se observar uma maior dinamicidade jornalística, como na realização de entrevistas por Skype, por exemplo, as quais são inseridas durante os vídeos.
Palavras-chave: Comunicação, mídias digitais, Youtube, jornalismo pós-industrial, MyNews.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Printscreem dos Vídeos mais acessados, contidos na aba “Em alta” na
plataforma ... 20
Figura 2. Página Inicial do Canal MyNews... 41
Figura 3. Layout do canal MyNews do quadro MyNews Explica... 51
Figura 4. Layout do canal MyNews do quadro Sem Politiquês ... 52
Figura 5. Layout do canal MyNews do quadro Empreender é Mara. ... 53
Figura 6. Página inicial do MyNews que mostra os vídeos divididos em quadros ... 56
Figura 7. Imagem das thumbnails da aba “Início” do YouTube ... 58
Figura 8. Imagem de thumbnails de vídeos do MyNews ... 58
Figura 9. Imagem do vídeo “É para ter medo do foro de São Paulo? ”, que mostra a realização ... 64
de entrevista a distância, por meio do Skype... 64
Figura 10. Imagem da vinheta do quadro MyNews Explica ... 66
Figura 11. Legenda exibida no momento em que é inserida a entrevista, a qual foi realizada por meio do Skype. ... 66
Figura 12. Imagem do trecho em que o vídeo torna-se preto e branco, e é inserida um efeito sonoro de suspense ... 68
Figura 13. Inserção de vídeo de Eduardo Bolsonaro que virou meme nas redes sociais. No vídeo ele está concedendo uma entrevista e tenta lembrar de uma palavra em inglês, ao não ser bem-sucedido acaba ... 68
dizendo a frase “deu branco”. ... 68
Figura 14. Cenário Sem Politiquês quando apresentado por Daniela Lima. ... 72
Figura 15. Cenário do Sem Politiquês com o apresentador Bruno Boghossian ... 73
Figura 16. Ilustração do vídeo ... 77
Figura 17. Inserção de chamada durante a explicação de Boghossian ... 78
Figura 18. Inserção de vinheta para separar o vídeo em “blocos” ... 79
Figura 19. Cenário dos vídeos introdutórios do quadro Empreender é Mara ... 81
Figura 20. Cenário Empreender é Mara ... 84
Figura 21. Exemplos de ilustrações do Empreender É Mara ... 85
Figura 23. Questões finais colocadas no vídeo do canal “Biologia Total com Prof.
Jubilut” ... 86
Sumário
1. INTRODUÇÃO... 9
2. NOVAS PRÁTICAS COMUNICACIONAIS E CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA ...13
2.1 Cibercultura: nova dinâmica técnico-social ...14
2.2 Cultura da Convergência: Cultura participativa e Inteligência Coletiva ...17
2.3 O meio é a mensagem: o YouTube ...24
3. NOVAS PRÁTICAS NO JORNALISMO PÓS-INDUSTRIAL ...27
3.1 O modelo de negócio do jornalismo na era da convergência: economia afetiva ...32
3.2 As alterações nas rotinas jornalísticas: do modelo fordista ao flexível ...35
4. DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS ...41
4.1 Estudo de Caso ...43
4.1.1. Corpus da pesquisa ...45
4.2 Análise de Conteúdo: as categorias de análise ...47
5. ESTUDO DE CASO: CANAL JORNALÍSTICO MYNEWS...51
5.1 Uma primeira aproximação ao objeto: do hibridismo das linguagens ao modelo de negócios ...53
5.2 MyNews Explica ...62
5.2.1. Rotinas produtivas do quadro (e do canal) ...63
5.2.2. Linguagens e Estéticas no MyNews Explica ...65
5.2.3. O MyNews Explica possui uma “Audiência Ativa”? ...69
5.3 Sem Politiquês ...71
5.3.1. “A nova e mais rumorosa bomba da Vaza Jato”: linguagem e estética do YouTube na transmissão de informações sobre política ...74
5.3.2. Um novo “Sem Politiquês”? ...76
5.4 Empreender é Mara: o culto do empreendedorismo ...80
5.5 YouTuber X Jornalista ...87
6. CONCLUSÃO...89
Referências ...93
APÊNDICE ...95
A – Entrevista realizada com a jornalista Gabriela Lisbôa, que apresenta o
quadro MyNews Explica ...95
B - Entrevista com a jornalista Myrian Clark, diretora do quadro Sem Politiquês103
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos, o jornalismo vem passando por diversas mudanças estruturais que afetam os vários domínios da prática profissional, desde questões linguísticas e estéticas até questões éticas e socioeconômicas. Formatos novos são pensados, maneiras diferentes de entender a prática jornalística são sugeridas, audiências atuam como coparticipantes do processo produtivo, tornando menos óbvias as fronteiras entre emissor e receptor, e as empresas têm reinventado novos modelos de negócio, com o surgimento de empreendimentos jornalísticos há bem pouco tempo impensados. Esse conjunto de transformações dá corpo ao que alguns pesquisadores chamam de cenário pós-industrial, um novo modo de compreensão do capitalismo, que não acomete apenas o jornalismo, mas que produziu o que Anderson, Bell e Shirck (2012) chamaram, em relatório produzido pela Universidade de Columbia, de jornalismo pós-industrial. Essas transformações estariam a ocorrer, segundo a perspectiva dos autores, porque vivemos em uma sociedade que está cada vez mais conectada e dependente de relações virtuais, que tendem a ser mais instáveis e marcadas pelo signo da rapidez. Com efeito, a expansão de uma “cultura da internet”, chamada de cibercultura (Lemos, 2003) e, por consequência, o desenvolvimento de uma sociedade em rede (Lévy, 1999), acelerada pela condição sociocultural da convergência (Jenkins, 2009), fazem com que alguns parâmetros de convivência e de interação sejam alterados no conjunto das práticas sociais, e, de modo mais visível, no universo comunicacional.
O fazer jornalístico, portanto, passa a apresentar novas características, como a transmissão e recepção de notícias para qualquer parte do globo, a instantaneidade na sua divulgação e a interatividade que essa nova ambiência permite com o público. É nesse cenário que surgem novas formas de se fazer jornalismo, o qual passa a se inserir em plataformas próprias da internet, como podcasts, sites e vídeos para plataformas, como o Youtube. Nesse contexto, em que parece haver uma liberdade maior na produção de conteúdos jornalísticos e interativos, em particular no espaço da internet, surge o objeto de estudo deste trabalho: o canal jornalístico MyNews, situado na plataforma Youtube.
O MyNews é um canal, dirigido e idealizado por Mara Luquet, jornalista
especializada em economia e ex-Globo, que foi criado em 2018 e hoje tem cerca de 300
mil inscritos. De acordo com a descrição do YouTube, o canal tem como objetivo “trazer
informação de qualidade, com contexto e análise pra você ficar bem informado e tirar as suas próprias conclusões. Temos compromisso com a pluralidade e queremos ser um ambiente de debate de ideias com espaço para todos”
1. Dividido em quadros, o canal jornalístico aborda sobre diversos temas, como política, economia, empreendedorismo, além de trabalhar com debates e colunas de opinião. Atualmente, o MyNews conta com mais de 30 jornalistas em sua equipe, espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
A experiência do MyNews despertou a nossa atenção por aquilo que ela tem de singular e de representativo de outros projetos jornalísticos criados e difundidos pelo Youtube. Após uma reflexão sobre o objeto, à luz de diversas leituras que buscam compreender o ecossistema pós-industrial em que o jornalismo contemporâneo se encontra, eis que formulamos a seguinte questão de pesquisa, com o fim de guiar o nosso percurso analítico: “Como se dá a inserção jornalística no YouTube e a reconfiguração das práticas e processos jornalísticos a partir da experiência do canal MyNews? ”.
Para o desenvolvimento do trabalho, foram delineados alguns objetivos de cunho teórico, com o fim de esclarecer melhor o nosso percurso, quais sejam,: (i) discutir sobre cibercultura, a convergência e sua influência nos conteúdos produzidos para internet, em particular no campo do jornalismo; (ii) identificar as principais características do YouTube, como meio e plataforma, e como essa estética se manifesta nos conteúdos audiovisuais postados na plataforma; (iii) verificar traços do jornalismo tradicional presentes na linguagem e estética da informação transmitida no YouTube; (iv) entender o MyNews como experiência representativa de um momento de transformação no campo da comunicação e no jornalismo especificamente. Para a realização da pesquisa, em termos teóricos, foram utilizadas referências que auxiliaram a entender as questões que envolvem a cibercultura, cultura da convergência e as novas práticas do jornalismo, discutindo os contributos de autores como: Jenkins (2009), Lévy (1999), Vizeu (2015), Ferreira (2018), além do relatório feito por Anderson, Bell e Shirky (2012), da Universidade de Columbia. Foram discutidas as transformações enfrentadas numa sociedade em rede e as implicações no fazer jornalístico. Por outro lado, em termos empíricos, recortamos o nosso objeto, selecionando três quadros do MyNews, os quais abordam temas divergentes: política, empreendedorismo e assuntos variados, são eles:
Sem Politiquês, Empreender é Mara e MyNews Explica. Foram selecionados 3 vídeos de
1
Canal MyNews. Disponível em <https://www.youtube.com/channel/UCUM4-
KGZEXC2pk6zRDL9jMQ>. Acesso em: março 2020
cada quadro, levando em consideração a quantidade de visualizações de cada vídeo, totalizando 9 vídeos ao final da análise. Além disso, o corpus de pesquisa é, ainda, constituído por duas entrevistas com integrantes do canal: Gabriela Lisbôa e Myrian Clark, para as quais aplicamos a técnica de entrevista semiestruturada, entendida como entrevista qualitativa. Segundo Gaskell (2002, p. 65), o objetivo de uma entrevista desse tipo “é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos”. Para fazer a análise foi adotado a metodologia de Estudo de Caso. Segundo Yin (2011, p.32), o estudo de caso se trata de uma “investigação empírica que estuda um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real”, dessa forma, analisando o objeto dentro do contexto em que se encontra. No caso do MyNews, foram analisadas as novas práticas jornalísticas no momento em que se encontra instalado em uma nova plataforma, e a adaptação dos jornalistas nesse cenário.
A elaboração deste trabalho se justifica pelo desenvolvimento de seu objetivo principal: verificar mudanças na prática jornalística exercida em um canal do YouTube como sintoma deste momento em que as lógicas do digital parecem alterar os diversos processos comunicacionais, incluindo os jornalísticos. Além disso, em seus objetivos específicos, trata-se de um trabalho que busca refletir sobre a atuação de profissionais, conhecidos ou não, que têm buscado, no YouTube, uma nova maneira de fazer jornalismo, reconfigurando os antigos modelos de negócio e algumas práticas da profissão. Ainda, o trabalho é uma oportunidade para discutir a inserção do jornalismo na internet, a produção de conteúdo alternativo, criativo e diversificado, que proporcione maior liberdade ao jornalista na produção de vídeos noticiosos e uma outra forma de interação com o público.
Por outro lado, em um mercado de trabalho saturado, no qual as redações mais demitem do que contratam, encontra-se no YouTube a oportunidade para o desenvolvimento de novos modelos de negócio. Assim, estamos vivendo uma fase em que os youtubers estão em constante crescimento. Segundo pesquisa do “Think With Google
2”, esses novos agentes comunicacionais que, como veremos, influenciam até mesmo os jornalistas, possuem mais influência na opinião da população do que os próprios jornalistas.
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