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MyNews : A inserção jornalística no YouTube e a reconfiguração das práticas e processos jornalísticos na internet Cuiabá 2020

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Marina Beatriz Paes de Barros

“MyNews”: A inserção jornalística no YouTube e a reconfiguração das práticas e processos jornalísticos na internet

Cuiabá

2020

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Marina Beatriz Paes de Barros

“MyNews”: A inserção jornalística no YouTube e a reconfiguração das práticas e processos jornalísticos na internet

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito parcial para aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso

Modalidade: Monografia

Orientador: Prof. Dr. Bruno Araújo

Cuiabá

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO

FOLHA DE APROVAÇÃO

Banca Examinadora:

_____________________________________________

Prof. Dr. Bruno Bernardo de Araújo –UFMT – Orientador

_______________________________________________

Prof. Dr. Thiago Cury Luiz

________________________________________________

Prof. Dr. Luãn José Vaz Chagas

(4)

AGRADECIMENTOS

Esse espaço dedico àqueles que, de alguma forma, me auxiliaram nesse período tão importante de minha vida. Primeiramente, gostaria de agradecer ao meu pai, Jorge Áureo, e, em especial a minha mãe, Maria Inez, por terem me dado a base necessária para alcançar o privilégio de cursar um ensino superior, num curso que eu almejava desde os meus 15 anos. Obrigada por sempre priorizarem meus estudos e por acreditarem na minha capacidade.

Agradeço ao meu namorado, Hugo Bueno, por ter sido meu ponto de apoio e por estar ao meu lado nos momentos difíceis dessa jornada. Obrigada por me confortar, sempre sabendo as palavras que eu precisava/tinha que ouvir, e me incentivar a valorizar o trabalho que desempenho. Obrigada por embarcar nessa trajetória de crescimento e autoconhecimento comigo.

Agradeço aos meus amigos de curso, Yan, Aline e Lariça, que sempre me encorajavam e estimulavam. Obrigada por me fazerem rir em momentos complicados da graduação e, principalmente, por me apoiarem a enfrentar meus medos e dificuldades.

Não poderia deixar de agradecer aos professores que fizeram este Trabalho de Conclusão de Curso ser possível: Prof. Dr. Bruno Araujo, responsável por me guiar e auxiliar na construção dessa monografia, sempre muito disponível e compreensivo; e ao Prof. Dr. Thiago Cury e Prof. Dr. Luãn Chagas, que auxiliaram a enriquecer a proposta oferecida por esse trabalho, ao trazerem apontamentos importantes para análise.

Agradeço imensamente por apoiarem meu projeto!

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Resumo

Este trabalho tem como objetivo entender as reconfigurações de práticas e processos jornalísticos no YouTube a partir da experiência do canal MyNews. O canal jornalístico analisado surgiu na plataforma em 2018 com o propósito de “trazer informação de qualidade, com contexto e análise pra você ficar bem informado e tirar as suas próprias conclusões. Temos compromisso com a pluralidade e queremos ser um ambiente de debate de ideias com espaço para todos”, como pontuado na descrição do MyNews em sua página do YouTube. Para o desenvolvimento do trabalho, discutem-se questões teóricas em torno da Cultura da Convergência, por meio dos contributos de Henry Jenkins (2009), Cibercultura, seguindo as leituras de Lévy (1999) e Jornalismo pós- industrial por meio do relatório feito por Anderson, Bell e Shirky, da Universidade de Columbia. Na parte empírica, foi realizado um estudo de caso, a partir de um corpus composto por nove vídeos, de três quadros selecionado do MyNews, tendo como suporte cinco categorias de análise desenvolvidas através da observação empírica do material. Além disso foram realizadas entrevistas semiestruturadas com jornalistas do canal. Entre os resultados, percebeu-se que as práticas jornalísticas foram adaptadas à linguagem e à estética próprias da plataforma do YouTube, através da utilização de gírias e de um teor de comicidade, por meio do emprego de memes, por exemplo. Além disso, pode-se observar uma maior dinamicidade jornalística, como na realização de entrevistas por Skype, por exemplo, as quais são inseridas durante os vídeos.

Palavras-chave: Comunicação, mídias digitais, Youtube, jornalismo pós-industrial, MyNews.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Printscreem dos Vídeos mais acessados, contidos na aba “Em alta” na

plataforma ... 20

Figura 2. Página Inicial do Canal MyNews... 41

Figura 3. Layout do canal MyNews do quadro MyNews Explica... 51

Figura 4. Layout do canal MyNews do quadro Sem Politiquês ... 52

Figura 5. Layout do canal MyNews do quadro Empreender é Mara. ... 53

Figura 6. Página inicial do MyNews que mostra os vídeos divididos em quadros ... 56

Figura 7. Imagem das thumbnails da aba “Início” do YouTube ... 58

Figura 8. Imagem de thumbnails de vídeos do MyNews ... 58

Figura 9. Imagem do vídeo “É para ter medo do foro de São Paulo? ”, que mostra a realização ... 64

de entrevista a distância, por meio do Skype... 64

Figura 10. Imagem da vinheta do quadro MyNews Explica ... 66

Figura 11. Legenda exibida no momento em que é inserida a entrevista, a qual foi realizada por meio do Skype. ... 66

Figura 12. Imagem do trecho em que o vídeo torna-se preto e branco, e é inserida um efeito sonoro de suspense ... 68

Figura 13. Inserção de vídeo de Eduardo Bolsonaro que virou meme nas redes sociais. No vídeo ele está concedendo uma entrevista e tenta lembrar de uma palavra em inglês, ao não ser bem-sucedido acaba ... 68

dizendo a frase “deu branco”. ... 68

Figura 14. Cenário Sem Politiquês quando apresentado por Daniela Lima. ... 72

Figura 15. Cenário do Sem Politiquês com o apresentador Bruno Boghossian ... 73

Figura 16. Ilustração do vídeo ... 77

Figura 17. Inserção de chamada durante a explicação de Boghossian ... 78

Figura 18. Inserção de vinheta para separar o vídeo em “blocos” ... 79

Figura 19. Cenário dos vídeos introdutórios do quadro Empreender é Mara ... 81

Figura 20. Cenário Empreender é Mara ... 84

Figura 21. Exemplos de ilustrações do Empreender É Mara ... 85

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Figura 23. Questões finais colocadas no vídeo do canal “Biologia Total com Prof.

Jubilut” ... 86

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Sumário

1. INTRODUÇÃO... 9

2. NOVAS PRÁTICAS COMUNICACIONAIS E CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA ...13

2.1 Cibercultura: nova dinâmica técnico-social ...14

2.2 Cultura da Convergência: Cultura participativa e Inteligência Coletiva ...17

2.3 O meio é a mensagem: o YouTube ...24

3. NOVAS PRÁTICAS NO JORNALISMO PÓS-INDUSTRIAL ...27

3.1 O modelo de negócio do jornalismo na era da convergência: economia afetiva ...32

3.2 As alterações nas rotinas jornalísticas: do modelo fordista ao flexível ...35

4. DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS ...41

4.1 Estudo de Caso ...43

4.1.1. Corpus da pesquisa ...45

4.2 Análise de Conteúdo: as categorias de análise ...47

5. ESTUDO DE CASO: CANAL JORNALÍSTICO MYNEWS...51

5.1 Uma primeira aproximação ao objeto: do hibridismo das linguagens ao modelo de negócios ...53

5.2 MyNews Explica ...62

5.2.1. Rotinas produtivas do quadro (e do canal) ...63

5.2.2. Linguagens e Estéticas no MyNews Explica ...65

5.2.3. O MyNews Explica possui uma “Audiência Ativa”? ...69

5.3 Sem Politiquês ...71

5.3.1. “A nova e mais rumorosa bomba da Vaza Jato”: linguagem e estética do YouTube na transmissão de informações sobre política ...74

5.3.2. Um novo “Sem Politiquês”? ...76

5.4 Empreender é Mara: o culto do empreendedorismo ...80

5.5 YouTuber X Jornalista ...87

6. CONCLUSÃO...89

Referências ...93

APÊNDICE ...95

A – Entrevista realizada com a jornalista Gabriela Lisbôa, que apresenta o

quadro MyNews Explica ...95

B - Entrevista com a jornalista Myrian Clark, diretora do quadro Sem Politiquês103

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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos tempos, o jornalismo vem passando por diversas mudanças estruturais que afetam os vários domínios da prática profissional, desde questões linguísticas e estéticas até questões éticas e socioeconômicas. Formatos novos são pensados, maneiras diferentes de entender a prática jornalística são sugeridas, audiências atuam como coparticipantes do processo produtivo, tornando menos óbvias as fronteiras entre emissor e receptor, e as empresas têm reinventado novos modelos de negócio, com o surgimento de empreendimentos jornalísticos há bem pouco tempo impensados. Esse conjunto de transformações dá corpo ao que alguns pesquisadores chamam de cenário pós-industrial, um novo modo de compreensão do capitalismo, que não acomete apenas o jornalismo, mas que produziu o que Anderson, Bell e Shirck (2012) chamaram, em relatório produzido pela Universidade de Columbia, de jornalismo pós-industrial. Essas transformações estariam a ocorrer, segundo a perspectiva dos autores, porque vivemos em uma sociedade que está cada vez mais conectada e dependente de relações virtuais, que tendem a ser mais instáveis e marcadas pelo signo da rapidez. Com efeito, a expansão de uma “cultura da internet”, chamada de cibercultura (Lemos, 2003) e, por consequência, o desenvolvimento de uma sociedade em rede (Lévy, 1999), acelerada pela condição sociocultural da convergência (Jenkins, 2009), fazem com que alguns parâmetros de convivência e de interação sejam alterados no conjunto das práticas sociais, e, de modo mais visível, no universo comunicacional.

O fazer jornalístico, portanto, passa a apresentar novas características, como a transmissão e recepção de notícias para qualquer parte do globo, a instantaneidade na sua divulgação e a interatividade que essa nova ambiência permite com o público. É nesse cenário que surgem novas formas de se fazer jornalismo, o qual passa a se inserir em plataformas próprias da internet, como podcasts, sites e vídeos para plataformas, como o Youtube. Nesse contexto, em que parece haver uma liberdade maior na produção de conteúdos jornalísticos e interativos, em particular no espaço da internet, surge o objeto de estudo deste trabalho: o canal jornalístico MyNews, situado na plataforma Youtube.

O MyNews é um canal, dirigido e idealizado por Mara Luquet, jornalista

especializada em economia e ex-Globo, que foi criado em 2018 e hoje tem cerca de 300

mil inscritos. De acordo com a descrição do YouTube, o canal tem como objetivo “trazer

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informação de qualidade, com contexto e análise pra você ficar bem informado e tirar as suas próprias conclusões. Temos compromisso com a pluralidade e queremos ser um ambiente de debate de ideias com espaço para todos”

1

. Dividido em quadros, o canal jornalístico aborda sobre diversos temas, como política, economia, empreendedorismo, além de trabalhar com debates e colunas de opinião. Atualmente, o MyNews conta com mais de 30 jornalistas em sua equipe, espalhados pelo Brasil e pelo mundo.

A experiência do MyNews despertou a nossa atenção por aquilo que ela tem de singular e de representativo de outros projetos jornalísticos criados e difundidos pelo Youtube. Após uma reflexão sobre o objeto, à luz de diversas leituras que buscam compreender o ecossistema pós-industrial em que o jornalismo contemporâneo se encontra, eis que formulamos a seguinte questão de pesquisa, com o fim de guiar o nosso percurso analítico: “Como se dá a inserção jornalística no YouTube e a reconfiguração das práticas e processos jornalísticos a partir da experiência do canal MyNews? ”.

Para o desenvolvimento do trabalho, foram delineados alguns objetivos de cunho teórico, com o fim de esclarecer melhor o nosso percurso, quais sejam,: (i) discutir sobre cibercultura, a convergência e sua influência nos conteúdos produzidos para internet, em particular no campo do jornalismo; (ii) identificar as principais características do YouTube, como meio e plataforma, e como essa estética se manifesta nos conteúdos audiovisuais postados na plataforma; (iii) verificar traços do jornalismo tradicional presentes na linguagem e estética da informação transmitida no YouTube; (iv) entender o MyNews como experiência representativa de um momento de transformação no campo da comunicação e no jornalismo especificamente. Para a realização da pesquisa, em termos teóricos, foram utilizadas referências que auxiliaram a entender as questões que envolvem a cibercultura, cultura da convergência e as novas práticas do jornalismo, discutindo os contributos de autores como: Jenkins (2009), Lévy (1999), Vizeu (2015), Ferreira (2018), além do relatório feito por Anderson, Bell e Shirky (2012), da Universidade de Columbia. Foram discutidas as transformações enfrentadas numa sociedade em rede e as implicações no fazer jornalístico. Por outro lado, em termos empíricos, recortamos o nosso objeto, selecionando três quadros do MyNews, os quais abordam temas divergentes: política, empreendedorismo e assuntos variados, são eles:

Sem Politiquês, Empreender é Mara e MyNews Explica. Foram selecionados 3 vídeos de

1

Canal MyNews. Disponível em <https://www.youtube.com/channel/UCUM4-

KGZEXC2pk6zRDL9jMQ>. Acesso em: março 2020

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cada quadro, levando em consideração a quantidade de visualizações de cada vídeo, totalizando 9 vídeos ao final da análise. Além disso, o corpus de pesquisa é, ainda, constituído por duas entrevistas com integrantes do canal: Gabriela Lisbôa e Myrian Clark, para as quais aplicamos a técnica de entrevista semiestruturada, entendida como entrevista qualitativa. Segundo Gaskell (2002, p. 65), o objetivo de uma entrevista desse tipo “é uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos”. Para fazer a análise foi adotado a metodologia de Estudo de Caso. Segundo Yin (2011, p.32), o estudo de caso se trata de uma “investigação empírica que estuda um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real”, dessa forma, analisando o objeto dentro do contexto em que se encontra. No caso do MyNews, foram analisadas as novas práticas jornalísticas no momento em que se encontra instalado em uma nova plataforma, e a adaptação dos jornalistas nesse cenário.

A elaboração deste trabalho se justifica pelo desenvolvimento de seu objetivo principal: verificar mudanças na prática jornalística exercida em um canal do YouTube como sintoma deste momento em que as lógicas do digital parecem alterar os diversos processos comunicacionais, incluindo os jornalísticos. Além disso, em seus objetivos específicos, trata-se de um trabalho que busca refletir sobre a atuação de profissionais, conhecidos ou não, que têm buscado, no YouTube, uma nova maneira de fazer jornalismo, reconfigurando os antigos modelos de negócio e algumas práticas da profissão. Ainda, o trabalho é uma oportunidade para discutir a inserção do jornalismo na internet, a produção de conteúdo alternativo, criativo e diversificado, que proporcione maior liberdade ao jornalista na produção de vídeos noticiosos e uma outra forma de interação com o público.

Por outro lado, em um mercado de trabalho saturado, no qual as redações mais demitem do que contratam, encontra-se no YouTube a oportunidade para o desenvolvimento de novos modelos de negócio. Assim, estamos vivendo uma fase em que os youtubers estão em constante crescimento. Segundo pesquisa do “Think With Google

2

”, esses novos agentes comunicacionais que, como veremos, influenciam até mesmo os jornalistas, possuem mais influência na opinião da população do que os próprios jornalistas.

2

Pesquisa realizada pelo Google em fevereiro de 2019. Disponível em <

https://www.thinkwithgoogle.com/intl/pt-br/advertising-channels/vídeo/creators-connect-o-poder-

dosyoutubers/>. Acesso em: dezembro 2019.

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Quanto à sua estrutura, o trabalho encontra-se dividido em quatro capítulos. O Capítulo 1, “Novas práticas comunicacionais e convergência midiática”, destina-se à compreensão das novas práticas comunicacionais a partir da cibercultura e da convergência. Permite ao leitor um primeiro contato de contextualização com o universo a partir do qual vamos situar o nosso objeto de análise. No capítulo 2, “Novas práticas no jornalismo pós-industrial ”, voltado ao jornalismo pós-industrial e seu novo papel na sociedade midiatizada, vamos refletir sobre as características deste novo momento comunicacional e os seus desdobramentos sobre a prática jornalística, a partir de alguns eixos centrais, quais sejam: as linguagens, as estéticas, os modelos de negócio e as rotinas jornalísticas.

No Capítulo 3, intitulado “Definições metodológicas”, traçamos as definições metodológicas que guiaram a pesquisa. Por fim, o Capítulo 4 se volta para a análise do estudo de caso do MyNews, quando discutiremos os principais achados da pesquisa. As considerações finais sistematizam os resultados e apontam novos caminhos de reflexão.

(13)

2. NOVAS PRÁTICAS COMUNICACIONAIS E CONVERGÊNCIA MIDIÁTICA

Para que possamos compreender o MyNews, hospedado no YouTube, é necessário que entendamos essa plataforma, ou seja, o ambiente em que o canal se encontra. O MyNews, o objeto de pesquisa desse trabalho, é compreendido como uma consequência da evolução tecnológica e das transformações culturais que lhe estão associadas, ocorridas a partir do surgimento da internet que acaba de completar 50 anos.

Esse conjunto de transformações no plano das práticas sócio-técnicas – que dão corpo ao que os autores chamam de cibercultura (Lemos, 2003) – criou um novo tipo de espaço onde as relações sociais e até profissionais passaram a ter lugar – o ciberespaço. Segundo Lucia Santaella (2008, p. 21), o ciberespaço “consiste de uma realidade multidirecional, artificial ou virtual incorporada a uma rede global, sustentada por computadores que funcionam como meios de geração e acesso”. Sendo assim, a internet, que funciona por meio de computadores e aparelhos digitais, tem uma pretensão globalizante, ou seja, de reunir usuários do mundo todo em um só espaço, uma só rede, ainda que continuem a existir barreiras digitais para as populações que não têm acesso à rede.

Essas discussões, trabalhadas, por exemplo, por Pierre Lévy (1999), são essenciais para a compreensão e caracterização da web e do universo cibercultural, o qual cria as condições para a emergência de práticas e produtos como o MyNews. Segundo Lévy (1999, p.17), o ciberespaço é um meio de comunicação que surge através da interconexão dos computadores, onde as pessoas começam a navegar e intensificar suas interações.

Dessa forma, a internet surge como um avanço comunicacional que apresenta uma nova

forma de mediação das relações. O ciberespaço passa a abrigar novas técnicas, hábitos,

valores e formas de pensar, o que, mais uma vez segundo Lévy (1999, p.17), origina a

cibercultura, uma cultura marcada pelas tecnologias digitais. Por consequência dessa

nova cultura, originária de um mundo conectado e marcado pelas novas tecnologias

digitais e midiáticas, temos o que chamam de Cultura da Convergência. Apesar de o

conceito de convergência ter sido amplamente difundido a partir das pesquisas de Henry

Jenkins (2009), o cientista social Ithiel de Sola Pol, no livro Technologies of Freedom, de

1983, foi o primeiro a lançar as bases de muito do que viria a ser discutido por Jenkins

anos depois ; além dele, no final da década de 1970, Nicholas Negroponte já trazia a ideia

de integração de mídias prevendo igualmente um cenário em que os diferentes formatos,

unidos, permitiram novas formas de produção narrativa. Reconhecendo essas

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contribuições, o presente trabalho vai dialogar, de modo mais próximo, com a contribuição dada por Jenkins (2009), abarcando o seu entendimento sobre a amplificação das possibilidades de interação entre os diversos meios de comunicação e a modificação da relação entre emissor e receptor. Aprofundaremos essas questões nos próximos tópicos deste capítulo, começando pela matriz dos conceitos que guiam nossa pesquisa: a cibercultura.

2.1 Cibercultura: nova dinâmica técnico-social

A cibercultura, formada pela relação entre sociedade, cultura e as novas tecnologias, é fruto do surgimento das tecnologias digitais, em especial da internet.

Através dessa ambiência, há uma reconfiguração de práticas, modalidades midiáticas, relações sociais, além do surgimento de formas renovadas de comércio, trabalho e educação e sociabilidade.

A cibercultura é recheada de novas maneiras de se relacionar com o outro e com o mundo. Não se trata, mais uma vez, de substituição de formas estabelecidas de relação social (face a face, telefone, correio, espaço público físico), mas do surgimento de novas relações mediadas. (LEMOS, 2003, p. 15)

Essas novas relações mediadas originam o que se chama de sociedade da informação. Nessa sociedade, há uma alteração da percepção do espaço e do tempo, transmitindo-se aos usuários da rede uma sensação de tempo real e de abolição do espaço físico-geográfico. Isso ocorre porque o acesso a informações, de toda parte do mundo, ocorre de forma instantânea, graças a uma conexão generalizada. Essa conexão, ainda que possua limitações em certas partes do globo, ocorre devido a uma nova dinâmica técnico- social, na qual os indivíduos conectados podem transmitir e receber informações em tempo real, de lugares diversos e utilizando vários formatos (escrita, imagética, sonora) (LEMOS, 2003, p. 13). De acordo com Lemos (2003, p.15), “estamos mais uma vez diante da liberação do polo da emissão, do surgimento de uma comunicação bidirecional sem controle de conteúdo”, ou seja, não há “emissor versus receptor” e, sim, uma transação de conteúdos.

[...] os novos media prometem interação, prefigurando um mundo em que

barreiras como as existentes entre emissor e receptor, autores e públicos,

representantes e representados, desapareceriam em favor de uma perfeita

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igualização e uma incessante interatividade entre cibercidadãos. (BAPTISTA, 2018, p.48)

Sendo assim, a cibercultura é uma ambiência de comunicação marcada pela amplificação das possibilidades de interação, seja entre os usuários da internet, por meio da transmissão de informações ou de chats online, seja entre os usuários e plataformas, através da postagem de conteúdo ou da sua reconfiguração. Segundo Lévy (1999, p.82), um meio pode ter até cinco graus de interatividade, a saber: 1) a possibilidade de apropriação e de personalização da mensagem recebida; 2) a reciprocidade da comunicação; 3) a virtualidade (tempo real); 4) a implicação da imagem dos participantes nas mensagens e, por fim, 5) a telepresença. Logo, observa-se que, de acordo com as características previamente descritas, a internet é um ambiente que detém um alto grau de interatividade, a qual é fundamental para existência do YouTube. Através dessa plataforma, o criador de conteúdo – potencialmente todos aqueles com acesso à rede – pode entender a demanda do público e observar como está a imagem do canal, o que possibilita a incorporação ou transformação de assuntos.

Ao falarmos sobre interatividade, principalmente acerca da relação entre público e

os meios de comunicação, abrimos um parênteses para ressaltar que a interação público-

mídia não surge apenas da emergência da internet e do digital. Antes do que estamos

chamando de convergência, o público se comunicava com os meios de comunicação de

outras maneiras, estabelecendo níveis, ainda que rudimentares, de interação. Se nos

lembramos das cartas e telefonemas para a redação ou estações de rádio, e a sua

repercussão, de algum modo, na programação, podemos dizer que havia ali um contato

entre público e meio. No Brasil, os primeiros registros de comunicação por cartas no

rádio datam da década de 1920, por exemplo nas primeiras transmissões de Edgard

Rouquette-Pinto, na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Além disso, a utilização dos

telefonemas como forma de sugerir pautas ou denunciar situações era parte do cotidiano

de jornalistas da Rádio Continental dos anos 1950 no Rio de Janeiro e em São Paulo, nas

Rádios Record e Rádio Panamericana. Estaria aí uma primeira forma de impacto na pauta

jornalística, ainda que possamos questionar o grau desse impacto. Atualmente, diríamos

que é modificado, no ciberespaço, é o meio pelo qual o público comunica e, por

consequência, a forma como interage e participa do fluxo produtivo da informação,

questão à qual vamos voltar. Dessa forma, se antes, para haver a interação, o público

precisaria enviar cartas ou telefonar, hoje, através do ciberespaço, enviam-se e-mails e

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mensagens através das redes sociais, nas quais as rádios, televisões possuem suas contas e páginas, ou no próprio site do jornal na web. Há um aumento das possibilidades interativas, e também uma aceleração na sua intensidade.

Voltando à proposta de Lévy (1999, p.17), pode-se afirmar que cibercultura surge justamente no momento em que o aumento da capacidade interativa modifica técnicas, práticas, modos de agir e pensar e até valores socioprofissionais. Assim, o crescimento do YouTube, plataforma que hospeda o objeto de estudo da presente análise, e da profissão de youtuber, pode ser considerado fenômeno próprio da chamada cibercultura. Pode-se observá-lo, portanto, como meio que integra essa nova forma de comunicação, através da qual as pessoas interagem, além de manterem contato direto com a própria plataforma (através da postagem dos vídeos, por exemplo). Em resumo, a cibercultura pode ser definida em três mudanças fundamentais que encontramos descritas no trabalho de Lemos (2003, p. 21) e temos vindo a discutir até aqui: 1) Reconfiguração de práticas, modalidades midiáticas, espaços etc, sem a substituição de seus respectivos antecedentes;

2) Liberação do polo de emissão, dando origem a novas formas de relacionamento social, além da disponibilização da informação e movimentação social; e 3) Conectividade Generalizada, que possibilita a troca de informações autônomas e independentes, e a redefinição de tempo (tempo real) e espaço (quebra do espaço geográfico).

Essas três mudanças, que caracterizam a cibercultura, podem ser facilmente

observadas na plataforma que comporta o objeto de estudo desta pesquisa, o canal

jornalístico MyNews, hospedado no YouTube. Isso porque a plataforma traz novas

formas de produção audiovisual, a qual não substitui as produções anteriores, e sim,

acrescenta configurações para o formato audiovisual. Essas configurações abrangem as

questões que envolvem a interação com o público que assiste ao vídeo/à produção, visto

que ele passa a não ser um mero expectador, sua opinião passa a ser aceita e avaliada pelo

produtor do conteúdo, gerando uma troca de impressões e ideias. Além disso, os usuários

do YouTube podem ter acesso a conteúdos que são postados em diferentes lugares do

mundo, e, também, podem acessar os vídeos em qualquer horário, visto que, a plataforma

funciona como uma nuvem, que armazena os conteúdos para que possam ser acessados

posteriormente. No próximo tópico desse capítulo abordaremos de forma mais detalhada

como essas características deram origem ao que entendemos por Cultura da Convergência

e como ela constrói e molda o cenário tecnológico e midiático, tornando-o um sistema

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interativo.

2.2 Cultura da Convergência: Cultura participativa e Inteligência Coletiva

Como desdobramento da cibercultura, entendida, mais uma vez, como processo sociocultural amplo, a Cultura da Convergência é marcada por “mudanças tecnológicas, industriais, culturais e sociais no modo como as mídias circulam em nossa cultura”

(JENKINS, 2009, p. 385). Segundo o autor, a convergência midiática, que envolve a tecnologia e a união de diferentes indústrias midiáticas, ocorre através das relações cada vez maiores entre os meios de comunicação – o que possibilita um hibridismo de linguagens sem precedentes –, da construção de uma cultura participativa e da formação de uma inteligência coletiva.

A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. A convergência ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um de nós constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana. (JENKINS, 2009, p. 31)

Assim como a cibercultura, a convergência não é um fenômeno puramente tecnológico, mas uma condição social criada a partir de transformações de base técnico- social que criam condições para a reconfiguração de práticas e processos no interior da cultura, especialmente no âmbito da cultura profissional, como é o caso do jornalismo, que interessa mais diretamente a esta reflexão. Os conteúdos de mídia, antes transmitidos através de instrumentos tradicionais, como a televisão, rádio, revistas e jornais, por meio da internet passam a ser propagados por diversas outras formas, como vídeos, podcasts, memes, gifs, entre outros. Dessa maneira, as informações passam a ter outros mecanismos de transmissão, sem que um anule a existência do outro. Jenkins defende que,

se o paradigma da revolução digital presumia que as novas mídias substituiriam as antigas, o emergente paradigma da convergência presume que novas e antigas mídias irão interagir de formas cada vez mais complexas (JENKINS, 2009, p. 32)

Em Cultura da Convergência, o autor traz exemplos dessa interação entre as

mídias, principalmente no mundo do entretenimento, com games, por exemplo, sendo

lançados a partir de filmes, filmes através de livros, e vice e versa. O filme e o game,

(18)

nesse sentido, são produtos midiáticos divergentes, mas que, juntos, trazem a narrativa de uma mesma história, um complementando o outro. Com efeito, a partir da interação de diversos meios, o autor desenvolve o conceito de transmídia, quando a narrativa rompe as limitações técnicas de um único meio, para desdobrar-se em outros que com aquele interagem. Além disso, a mescla dos meios de comunicação possibilita uma mescla igualmente das linguagens, num processo de hibridização que abre margem ao surgimento de novas práticas comunicacionais. Pode-se verificar isso no próprio espaço do YouTube, onde esse hibridismo de linguagens fica bastante patente.

O conceito de hibridismo da linguagem é essencial para o entendimento do MyNews e da Cultura da Convergência. Esse termo surgiu no contexto de ascensão da cibercultura, em meados da década de 1990, no qual o termo “hibridização” começou a ser amplamente utilizado para caracterizar a sociedade contemporânea.

[...] O uso das palavras “hibridismo”, “híbrido” e “hibridização” ou

“hibridação” expandiu-se consideravelmente para se referir tanto à convergência das mídias no mundo digital quanto à mistura de linguagens na hipermídia, ou seja, a junção do hipertexto com a multimídia que define a linguagem que é própria das redes. (SANTAELLA, 2008, p.20)

O surgimento da internet e das mídias digitais é o mote que traz a discussão sobre as misturas linguísticas e culturais. Composta por “hibridismos”, seja na linguagem, nos formatos ou conteúdos, a internet é caracterizada como um espaço híbrido, que desenvolve uma linguagem própria. Segundo Néstor García Canclini (2001, p.14),

“hibridação são processos socioculturais em que estruturas práticas discretas, que existiam separadamente, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas”.

De acordo com Santaella (apud SOUZA E SILVA, 2008, p.21), “os espaços

híbridos combinam o físico e o digital num ambiente social criado pela mobilidade dos

usuários conectados via aparelhos móveis de comunicação”. Ainda, segundo Jenkins

(2009, p.389), o hibridismo ocorre quando “um espaço cultural absorve e transforma

elementos de outro”. O hibridismo da linguagem, portanto, está ligado a transformações

linguísticas e culturais provenientes de misturas e adaptações, ou seja, um meio

apropriasse da linguagem de um outro, porém fazendo adaptações para que a linguagem

se encaixe nas características próprias do espaço. Sendo assim, a cibercultura, como a

cultura da internet, absorve princípios, que existiam anteriormente, e os modifica,

trazendo a perspectiva de uma nova forma de comunicação. Principalmente através das

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redes sociais, observa-se o desenvolvimento de novas linguagens.

O YouTube, como uma plataforma própria do espaço cibercultural, possui características que foram concebidas a partir de outras mídias, como a televisão, porém, desenvolveu peculiaridades que a singularizam. O formato audiovisual, apesar de ser uma característica de conteúdos televisivos, desenvolveu uma linguagem intimista e pessoal.

Enquanto em quadros de entretenimentos na televisão há um afastamento do apresentador-público, que pode ser observado no enquadramento e posicionamento das câmeras, no conteúdo do YouTube há uma tentativa de aproximação através do posicionamento da câmera – o enunciador ganha ares de um youtuber, novo sujeito comunicacional que surge na ambiência da plataforma e caracterizado por uma série de peculiaridades. Além disso, o conteúdo é transmitido de forma que o público não somente se aproxime, mas que haja uma identificação com o “indivíduo atrás da câmera”, através da narração de acontecimentos ou da exposição de opiniões pessoais.

Há, também, a substituição de um linguajar televisivo para uma fala informal e descontraída. Falas como “Não troque de canal” ou “Não saia daí que a gente já volta”, usadas principalmente em programas de entretenimento quando há pausa para o clássico espaço comercial, foram adaptadas para “Se inscreva no canal”, “Deixe seu gostei”,

“Comente aqui em baixo” e “Ative o sininho para receber notificações”. Até mesmo a palavra “canal” passa a adquirir outro significado. Na televisão, a palavra se refere a uma faixa do espectro de radiofrequência com largura definida a ser utilizado para difusão de sinais de sons e imagens que são captados por televisores; já no YouTube o “canal” é o meio pelo qual os vídeos são postados na plataforma, que devem ser publicados através da realização de login pela conta Google. Além disso, um dos pontos-chave, que será discutido no próximo capítulo, é a mistura entre a linguagem presente nos canais do YouTube e aquela que seria própria de um jargão jornalístico, a partir da experiência do MyNews. Esse hibridismo da linguagem marca um novo modo de transmitir informações, narrar acontecimentos e comunicar-se com o público.

Deste modo, o hibridismo da linguagem presente no YouTube está amplamente

ligado à cultura da convergência não somente por conta das adaptações e de suas

características mistas, mas, também, pela consequência dessas “misturas”, sendo essa

uma nova forma de comunicar com o público, trazendo uma amplificação das

possibilidades de interação e participação. Com isso, segundo a proposta de Jenkins

(2009) e Lévy (1999), a convergência midiática criaria as condições para a constituição

(20)

de uma cultura participativa, que tem a ver com a participação dos diferentes entes do processo comunicacional e, sobretudo, com os novos papeis ocupados por eles. Isso porque abarca uma nova dinâmica de relações tecno-sociais, como abordado no tópico 2.1, na qual os indivíduos conectados à rede podem transmitir e receber informações em tempo real e de qualquer parte do globo. Sendo assim, se antes a comunicação com os meios demandava tempo e dependia de localização, feitas através de telefonemas e cartas, por exemplo, hoje, essa comunicação pode ser feita através do envio de e-mails (que chegam à “caixa de entrada” de maneira instantânea) e de comentários ou envio de mensagens nas redes sociais. Estamos falando, por exemplo, do lugar do consumidor, do público, na produção/recepção de produtos midiáticos e das novas possibilidades de autonomia na construção de um percurso que ele próprio cria. “A convergência representa uma transformação cultural, à medida que consumidores são incentivados a procurar novas informações e fazer conexões em meio a conteúdos de mídia dispersos”

(JENKINS, 2009, p. 30). Nesse sentido, o produtor de conteúdo midiático e o consumidor não atuam em papéis separados, e sim, são participantes de uma nova forma de interação, de um novo um conjunto de regras que ainda é desconhecido (JENKINS, 2009, p.30).

Assim, a noção de cultura participativa auxilia o entendimento de como o YouTube opera por meio da relação com o público, isso porque é através desse contato que os canais ali hospedados crescem e ganham visibilidade. Através do botão “Gostei”

ou “Não Gostei”, o público opina sobre o conteúdo do vídeo publicado, o que pode visibilizar o canal, colocando-o na aba “Em alta” da plataforma (Figura 1), a qual contém os vídeos mais acessados do dia.

Figura 1. Printscreem dos Vídeos mais acessados, contidos na aba “Em alta” na plataforma

Fonte: https://www.youtube.com/feed/trending

Além disso, através dos comentários, o público pode dissertar sobre o conteúdo,

deixando considerações, opiniões e, até mesmo, sugestões de temas para serem discutidos

(21)

nos próximos vídeos de determinado canal. Essa participação é incentivada pelos criadores de conteúdo da plataforma, através de frases como “Deixe seu gostei” e

“Comente aqui embaixo o que achou desse vídeo”. Porém há nessa insistência de interação uma razão comercial: é através dela que o youtuber consegue a monetização de seus vídeos, ou seja, quanto mais inscritos, curtidas e comentários um canal possui, maior será a remuneração concedida pelo YouTube e maior a quantidade de marcas que terão interesse em anunciar os produtos nos vídeos. Dessa forma, a cultura participativa, nos termos elaborados por Jenkins (2009), é, ao mesmo tempo, característica básica dessa nova condição social marcada pela convergência, mas é, também - como não poderia deixar de ser – condição necessária à consecução da lógica capitalista nela contida.

Nesse ponto, vale uma reflexão sobre a denominada participação do público na plataforma do YouTube. Apesar de, como dissemos antes, este trabalho reconhecer a pertinência da contribuição de Jenkins (2009), há questões que merecem ser mais bem problematizadas, até para possibilitar uma análise mais próxima da dinâmica do nosso objeto de estudo. Assim como a interação não nasce com a convergência, a participação também não está relacionada apenas a este ambiente. O que existe é um convite à participação bastante marcado, mas que não é garantidor de uma participação plena do público, sobretudo no processo produtivo do jornalismo, no YouTube ou fora dele. Por outro lado, “participação” e “interação” não podem ser vistas como processos sinônimos.

Enquanto a interação “está ligada à história da teoria sociológica no âmbito do estabelecimento de relações socio-comunicativas” (CARPENTIER apud CHAGAS, 2018, p.55), a participação carrega uma ideia de relação mais profunda. Como nos lembra Chagas (2018, p. 55):

Participar vem do latim particeps, que significa aquele que faz parte, que reparte algo. Com base nas definições de Carole Pateman (1992) sobre participação plena na teoria democrática, Carpentier (2012) afirma que o conceito tem como base a tomada de poder, a influência nos processos de decisão e a possibilidade de tomar parte de algo, como expressa a origem da palavra.

Levando em consideração os pontos apresentados acima, como o envio de

sugestões, likes e deslikes, inscrições em canais e, até mesmo, a sua função monetária,

podemos dizer que a relação do público com os produtores de conteúdo no Youtube é

mesmo de participação? A proposta de cultura participativa abordada por Jenkins (2009)

(22)

diz respeito, como vimos, a uma relação entre produtor e consumidor de conteúdo baseada em uma troca de ideias, no qual o consumidor tem influência naquilo que consome. No YouTube, de fato, o público comenta, oferece sugestões e opiniões sobre o conteúdo transmitido, porém, somente o ato de fazer observações, e mostrar aprovação em relação ao assunto através dos likes e inscrições, faz do público participante da produção de conteúdo do canal?

Chagas (2018, p.55) utiliza dos conceitos de Carpentier (2012) para a compreensão de três conceitos: acesso, interação e participação. Em suma, o acesso seria a adesão de atores em determinados espaços e a interação a relação sócio-comunicativa entre seres humanos ou objetos, os quais são entendidos como condições de possibilidade de participação. Ao considerarmos as reflexões de Carpentier (2012) sobre participação, nas quais defende que a participação é um conceito que envolve a tomada de poder, na qual há uma influência nos processos de decisão e a possibilidade de fazer parte de algo, compreende-se que a participação vai além da realização de comentários, likes e deslikes.

Entende-se que, para participar de algo, o indivíduo deve estar presente nos momentos de se fazer escolhas, exigindo um envolvimento mais profundo entre público e o meio de comunicação. Apesar de comentarem e sugerirem questões, elas passam por uma curadoria, na qual os produtores de conteúdo selecionam aquilo que vale ou não a pena ser abordado na plataforma, o que é chamado de gatewatching.

O antigo monopólio de gatekeeping mantido pela mídia de massa tem sido desafiado pela nova prática de gatewatching: feita pelos blogueiros individuais e pelas comunidades de comentaristas que podem não fazer reportagem das notícias de primeira mão, porém fazem a curation e avaliam as notícias e outras informações fornecidas pelas fontes oficiais, e assim prestam um serviço importante. (BRUNS, 2011, p. 119).

Dessa forma, o que acontece na plataforma YouTube pode não ser considerado uma participação plena. Isso porque os indivíduos têm acesso a ela e criam uma relação comunicacional, interagindo com os produtores de conteúdo, com a própria plataforma e entre eles mesmos, mas não exercem influência nos processos de tomada de decisão em relação ao conteúdo produzido na plataforma. Sendo assim, a cultura participativa, a participação dos usuários, ocorre em um nível rudimentar, não chegando a sua totalidade.

Dessa forma, apesar da promessa de que a convergência conduziria a uma cultura da

participação, será necessário analisar, caso a caso, para verificarmos se há ou não uma

participação efetiva, diferente do ato mais simples de interagir.

(23)

Todavia, na proposta de Jenkins, parece não haver uma preocupação muito clara com essa problematização, ficando-se pela discussão em torno de um rompimento da barreira que separa o público do produtor de conteúdo, ou seja, o público passaria a interagir, opinar e, de certo modo, influenciar os conteúdos do que irá consumir. De toda forma, mesmo reconhecendo a necessidade de problematização do termo participação, entendemos que a noção de cultura da participação, nos termos do autor e subsidiada pela discussão aqui proposta, auxilia o entendimento do nosso objeto de pesquisa.

Voltando às demais características da convergência, segundo Jenkins (2009), outro ponto que devemos destacar é a existência de uma inteligência coletiva, termo que surge a partir da observação de que a transmissão e retransmissão de informações acabava criando um espaço de debates e discussões num processo de retroalimentação constante.

Comunidades de conhecimento formam-se em torno de interesses intelectuais mútuos; seus membros trabalham juntos para forjar novos conhecimentos, muitas vezes em domínios em que não há especialistas tradicionais; a busca e a avaliação de conhecimento são relações ao mesmo tempo solidárias e antagônicas. (JENKINS, 2009, p. 48)

Dessa forma, apreendemos a inteligência coletiva como consequência da participação e interação do público com as mídias, com os produtores de conteúdo e, principalmente, com outros participantes do espaço virtual. A inteligência coletiva se forma, então, a partir de argumentações em determinada comunidade ou espaço que dão origem a uma opinião ou a uma informação sobre certo assunto. Sendo assim, a opinião/informação é formada em conjunto, dando origem a um conhecimento potencialmente compartilhado.

O que consolida uma inteligência coletiva não é a posse do conhecimento – que é relativamente estática –, mas o processo social de aquisição do conhecimento – que é dinâmico e participativo –, continuamente testando e reafirmando os laços sociais do grupo social. (JENKINS, 2009, p. 78)

A inteligência coletiva é, portanto, fruto da cultura participativa que se aprofunda

com as potencialidades da cibercultura. Sendo assim, podemos afirmar que o MyNews,

como prática própria do ciberespaço, está contido em uma plataforma que fomenta um

processo de inteligência coletiva, nos termos aqui definidos, quando observamos a

participação e a interação do público com os temas tratados pelo canal. O YouTube tem

como característica a propagação de ideias, tanto pelo criador de conteúdo, através da

(24)

produção e divulgação de vídeos, quanto pelos consumidores por meio de comentários realizados por intermédio da plataforma. Ou seja, o criador de conteúdo, o youtuber, transmite uma ideia, uma opinião ou informação, e o público discute sobre o assunto através do espaço destinado aos comentários na plataforma. Para além disso, o assunto discutido em determinado canal pode tomar outras proporções e sair do espaço

“YouTube”, tornando-se tema de discussões em outras plataformas e redes sociais, como o Instagram e Twitter, por exemplo.

Além disso, a inteligência coletiva possui uma relação direta com a ideia de memória e armazenamento, eixos centrais daquilo que constitui a própria ideia de

“nuvem”, tão comum nos espaços virtuais. Esses espaços nascem a partir do surgimento da cibercultura, sendo ambientes que reúnem os usuários da rede e promovem a interação na web. O YouTube, um espaço virtual ambientado no ciberespaço, tem como uma de suas características ser um local de armazenamento, ou seja, a plataforma virtual armazena os vídeos e conteúdos, que podem ser acessados pelo público em qualquer momento. Essas são algumas particularidades que definem o YouTube. No próximo tópico discutiremos quais são essas caraterísticas do YouTube e como elas podem influenciar no conteúdo que é divulgado e postado na plataforma.

2.3 O meio é a mensagem: o YouTube

Discorremos sobre o YouTube durante todo o processo de escrita deste capítulo, porém, como parte de uma caracterização mais precisa do nosso objeto de estudo, apresentaremos algumas peculiaridades da plataforma, de maneira pontual, neste tópico.

O YouTube, plataforma de vídeos que surgiu em 2005, é um site que possui

características únicas, tanto em seu design quanto em seus conteúdos. Como abordado

anteriormente, resulta das condições criadas pelo ciberespaço como ambiência de

materialização da cibercultura. Trata-se de um espaço que congrega as diversas

características que se convencionou chamar de convergência. Com o passar dos anos, a

plataforma consolidou características linguísticas e visuais que impactam diretamente o

conteúdo ali disponibilizado. De fato, como é possível depreender desde a contribuição

clássica de Marshall McLuhan (1964), com a máxima de que “o meio é a mensagem”, o

YouTube, como meio, opera com uma série de caraterísticas que condicionam o modo

como os conteúdos (as mensagens) nele transmitidos são configurados.

(25)

O YouTube, uma plataforma que contém conteúdos audiovisuais, abarca novos conceitos, técnicas e estruturas, as quais passam a ser seguidas pelos que querem pertencer a esse meio. Primeiramente, apreendemos o YouTube como a plataforma originária de uma nova profissão: o youtuber. Esse profissional – um novo sujeito comunicacional do nosso tempo que exerce um papel de mediação fundamental - trabalha diretamente com a produção de conteúdo, em formato audiovisual, e com a interação do público.

São chamadas de YouTubers pessoas que possuem canais no site YouTube, que postam produtos audiovisuais e que, a partir disso, podem acabar tendo retorno financeiro e transformando essa atividade em carreira profissional. Ou seja, esse termo foi designado a partir da prática, de um fenômeno que surgiu de forma espontânea e se transformou em uma nova possibilidade no mercado audiovisual e online. (BERNARDAZZI, 2016, p.2)

A forma com que os assuntos passam a ser desenvolvidos e tratados por esse novo sujeito influencia diretamente os conteúdos compartilhados, a qualidade do debate e o grau de interação estabelecido. No espaço do youtuber, vemos traços que se repetem em todos os conteúdos, como a linguagem, o posicionamento da câmera e o “foco no eu”.

Como citado anteriormente, os traços presentes na linguagem, seus hibridismos, são bem nítidos: podemos observar uma fala informal, que utiliza gírias, jargões e até memes; a tentativa de conexão que se faz com o público através de frases como “Se inscreva nesse canal”, “Deixe seu like” ou “Você ainda não se inscreveu nesse canal? ”, e, também, em momentos em que o youtuber busca empatia do seu público ao contar histórias e acontecimentos pessoais. O enquadramento câmera-produtor de conteúdo também é uma questão de linguagem, pois comunica uma proximidade, ou tentativa dela, do youtuber com o seu público.

Novamente, o enquadramento e a linguagem adotados no YouTube, em particular

por aquele sujeito comunicacional, têm relação com uma “cultura do eu” que encontra

terreno fértil nas potencialidades da plataforma. Por exemplo, a disposição “youtuber

câmera”, além de transmitir uma ideia intimista, também é forma de se enfatizar o “eu

atrás da câmera” e de conseguir adesão do público ao que é dito pela ilusão da

proximidade. Essas questões são especificações e características que moldam os

conteúdos transmitidos na plataforma e que não dizem respeito, necessariamente, a todos

os conteúdos nela disponibilizados, afinal de contas há muitos conteúdos que foram

concebidos para meios clássicos – como a televisão – mas que são hospedados no

(26)

YouTube como forma de explorar o caráter de arquivo que também caracteriza a plataforma. Nesta discussão, interessam-nos os conteúdos feitos diretamente para serem disseminados na plataforma, vocalizados pela figura do youtuber, que incorpora essa série de elementos aqui discutidos e que, em alguma medida, oferece um tipo de atuação que poderá ser ou não incorporada até pelos jornalistas com atuação no meio YouTube, como poderemos discutir melhor na análise que faremos do MyNews.

Por enquanto, importa antecipar uma visão que será importante na formulação da nossa hipótese de análise: a prática jornalística do MyNews é diretamente influenciada pelas potencialidades do meio YouTube, incorporando, em muitas ocasiões, marcas deste novo sujeito comunicacional cuja função começa a ser mais bem explorada por trabalhos da área. Dessa maneira, as questões apresentadas nesse primeiro capítulo, como o hibridismo da linguagem e as características que moldam a plataforma, serão essenciais para fundamentação do terceiro capítulo, o qual será destinado a discussões sobre como a cibercultura e a cultura da convergência influenciaram a inserção do jornalismo na web, e, por consequência, as adaptações na estrutura do “fazer jornalístico”.

(27)

3. NOVAS PRÁTICAS NO JORNALISMO PÓS-INDUSTRIAL

Estamos vivendo uma época chamada pelos pesquisadores de “Jornalismo pós- industrial”. O termo não se refere somente às questões organizacionais do maquinário de produção, mas sim, ao papel jornalístico no sistema midiático contemporâneo. O relatório escrito pelos pesquisadores C. W. Anderson, Clay Shirky e Emily Bell (2012) discute a temática, relacionando-a às mudanças no jornalismo e ao papel que este passa a ocupar em uma sociedade midiatizada, conectada através das redes sociais e marcada por uma maior liberdade criativa e alcance comunicativo do público.

Se quisesse resumir em uma sentença a última década no ecossistema jornalístico, a frase poderia ser a seguinte: de uma hora para outra, todo mudo passou a ter muito mais liberdade. Produtores de notícias, anunciantes, novos atores e, sobretudo, a turma anteriormente conhecida como audiência gozam hoje de liberdade inédita para se comunicar, de forma restrita ou ampla, sem as velhas limitações de modelos de radiodifusão e da imprensa escrita.

(ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2012, p.30)

Dessa maneira, é possível dizer que o jornalismo pós-industrial é uma consequência

do crescimento da cibercultura e da convergência midiática, conceitos apresentados no

capítulo anterior, mas sobretudo dos desdobramentos na dinâmica do capitalismo de

acumulação flexível, ideia à qual voltaremos no tópico 3.2. A profissão passa por

transformações que afetam desde o formato até a linguagem da transmissão de

informações, adquirindo, no ciberespaço, novas características que modificam práticas

inauguradas por meios tradicionais como a televisão e os jornais impressos. Segundo os

autores, o jornalismo pós-industrial é marcado por uma reforma na estrutura das

organizações jornalísticas. Isso porque, devido à evolução tecnológica, o jornalismo lida,

atualmente, com um público que não é um mero expectador, mas que também é usuário

da rede e editor. Portanto, as práticas adotadas no jornalismo tradicional devem ser

adequadas e adaptadas a esses novos públicos. Se, antes, com os meios de comunicação

tradicionais, a prestação de serviço, ou seja, a transmissão de informação, era feita com

integração vertical de conteúdo, reprodução e distribuição, pelo qual o público poderia ser

induzido a pagar, agora, com a internet, a integração verticalizada acaba, pois todos

começam a pagar pela infraestrutura que permite a existência da rede, além de haver um

público mais disposto a pagar pela reprodução e distribuição dos conteúdos. Para além

(28)

disso, antes um leitor de revista, que a comprava por se interessar por uma matéria específica, acabava lendo outras matérias por inércia. Atualmente, com a internet, o leitor possui uma maior facilidade de encontrar uma matéria que seja de seu interesse, para ser lida, vista ou ouvida, por conta dos links, vídeos e hiperlinks. Dessa maneira, o processo de fabricação e distribuição da notícia passa por diversas alterações e atualizações, dado que

o jornalismo pós-industrial parte do princípio de que instituições atuais irão perder receita e participação de mercado e que, se quiserem manter ou mesmo aumentar sua relevância, terão de explorar novos métodos de trabalho e processos viabilizados pelas mídias digitais. (ANDERSON; BELL; SHIRKY, 2012, p.38)

Na internet, o jornalismo desfruta de muito mais liberdade e autonomia para a criação de conteúdos diversificados, alternativos e, principalmente, interativos, com a utilização, por exemplo, da hipermídia. Produtos hipermidiáticos se aperfeiçoaram com o desenvolvimento da web e consistem na integração de vários formatos de mídia, como textos, áudios, vídeos, gráficos, que proporcionam possibilidades de construção narrativa calcada em maior interação com os usuários, sem que seja necessário seguir uma ordem linear para entender as informações. Dessa maneira, no cenário digital, o conteúdo e a forma jornalística devem estar em constante atualização e aprimoramento para fazer face ao potencial dado pela rede de que todos os usuários possam produzir e transmitir informações.

(...) Os novos media possuem uma função social distinta dos media de massa:

não existem para produzir e transmitir conteúdos (como era o caso dos media tradicionais), mas também para proporcionar aos utilizadores as ferramentas para produzirem e distribuírem os próprios conteúdos. (BAPTISTA, 2018, p.

132)

Essas novas configurações na produção de conteúdo trazem questionamentos em

relação ao papel do jornalismo e das empresas jornalísticas nas sociedades atuais. Gil

Baptista (2018, p. 133) aborda sobre três aspectos que passam a ser considerados na

produção jornalística, quais sejam: “a interseção entre a natureza do jornalismo (com a

sua cultura, os seus valores e processos), as ferramentas e tecnologias a que recorre

(como meio de produção e disseminação), e os públicos e fontes que envolve”. Segundo

Baptista, essas questões são interligadas pela internet e a sociedade em rede, a partir dela

surgem as novas maneiras de se fazer jornalismo. O jornalismo passa a desenvolver novas

(29)

características, como a proliferação onipresente de notícias, o acesso global à informação, a instantaneidade da transmissão de notícias, a interatividade, a multimedialidade e a personalização dos conteúdos. Dessa maneira,

temos, pois, que considerar todo um novo paradigma de informação e comunicação, que coloca os indivíduos numa situação inédita no que diz respeito ao acesso à informação mediatizada, com o duplo papel de agentes de produção e de consumo de mensagens (BAPTISTA, 2018, p.133)

Para além disso, outra questão que impulsiona as mudanças impostas ao jornalismo e caracterizam o período pós-industrial é a crise enfrentada pela profissão, uma crise que se desdobra em diferentes domínios, afetando as práticas, as linguagens, o modelo de negócios e até mesmo a identidade jornalística. A diminuição dos recursos humanos nas redações como resultado do aprofundamento da ideia de um jornalista multifuncional (que escreve, fotografa e edita) pode até ser visto de modo benéfico por alguns, mas também implicam, sem dúvida, uma precarização da profissão. Em um tempo em que o profissional compete com cidadãos e máquinas no trabalho de interpretação do real e de mediação da vida social, essa precarização pode ter efeitos muito negativos, aprofundando a crise de credibilidade atravessada pela profissão. No cenário pós-industrial, o papel do jornalista vai muito além da atividade de tornar disponíveis as informações:

Acreditamos que o papel do jornalista – como porta-voz da verdade, formador de opinião e intérprete – não pode ser reduzido a uma peça substituível para outro sistema social; jornalistas não são meros narradores de fatos. Precisamos, hoje e num futuro próximo, de um exército de profissionais que se dedique em tempo integral a relatar fatos que alguém, em algum lugar, não deseja ver divulgados, e que não se limite apenas a tornar disponível a informação (mercadoria pela qual somos hoje inundados), mas que contextualize a informação de modo que chegue ao público e nele repercuta. (ANDERSON;

BELL; SHIRKY, 2012, p.33)

Sendo assim, além de transformações na forma e da linguagem do conteúdo, os profissionais da área também sofrem alterações no modo como se reveem como grupo profissional e atual dentro das próprias redações, em particular nos ambientes digitais.

Trata-se de um desdobramento da crise que se materializa na mudança da própria

identidade jornalística. Se, antes, os jornalistas tinham papéis bem definidos dentro das

redações, atualmente assiste-se a uma tendência de tornar o profissional o mais

multifacetado possível. Para que ele possa produzir materiais que atendam esse novo

(30)

público da web, que é interativo e participativo, tende, também, a ser interdisciplinar, desenvolvendo habilidades de outros segmentos da área de comunicação, como a publicidade e o marketing. A interdisciplinaridade a que nos referimos diz respeito à parceria entre profissionais de áreas que se assemelham como estratégia fundamental para a criação de conteúdos hipermidiáticos. Segundo Miranda e Baldessar,

Não basta associar linguagens e mídias conhecidas. Com o desenvolvimento tecnológico implica na convergência de áreas afins, como profissionais da fotografia, televisão, design, jornalismo e tecnologia da informação, no desenvolvimento de produtos hipermidiáticos. (MIRANDA;BANDESSAR,

2015, p. 191)

Além do desenvolvimento de outras habilidades que tornam mais flexível a atuação dos jornalistas nas redações, há também de se questionar os novos comportamentos desses profissionais nos ambientes interativos. Nesta ambiência, o jornalista passaria a exercer uma nova função: a de gatewatching, redimensionando a posição clássica de gatekeeper. O termo, já abordado no tópico anterior, foi trazido pelo pesquisador Bruns (2011), questionando justamente a função do profissional em ambientes interativos: “nem o gatekeeper, que seleciona e edita as notícias, nem simplesmente o bibliotecário, que organiza conteúdos para o público: o jornalista da web seria uma espécie de vigia” (BARSOTI, 2014, p.9).

Esta mudança foi fomentada por dois aspectos que se combinaram para substituir as práticas de gatekeeping por aquelas de gatewatching: a multiplicação contínua dos canais disponíveis para a publicação e divulgação das notícias, especialmente desde o surgimento do World Wide Web como uma mídia popular, e o desenvolvimento dos modelos colaborativos para a participação dos usuários e para a criação de conteúdo, que atualmente são frequentemente resumidos sob o rótulo de “Web 2.0”. (BRUNS, 2011, p. 112).

Nesse cenário interativo, no qual os jornalistas atuariam como “vigias”, não só das informações, mas também, de comentários, opiniões e sugestões a respeito do conteúdo que está sendo transmitido, o interesse público pode ser substituído “pelo interesse dos comentários”. Isso porque a internet e a sua dinâmica monetária é baseada em cliques, acessos e visualizações, e a realidade do jornalismo nesse espaço não é divergente.

Assim, a pesquisa realizada por Barsotti (2014) aborda justamente sobre esse aspecto do

jornalismo online ao analisar as rotinas produtivas de sites dos jornais O Globo e Extra,

verificando como a internet ampliou os papéis desses profissionais. Segundo a

pesquisadora, um dos papéis do jornalista na web é de gatewatcher, mas não se resume a

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