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4. DEFINIÇÕES METODOLÓGICAS

4.1 Estudo de Caso

4.1Estudo de Caso

Para a realização da análise, utilizamos o estudo de caso como estratégia

metodológica. Segundo Yin (2011, p.32), o estudo de caso se trata de uma “investigação

empírica que estuda um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real”,

ou seja, é uma maneira de examinar o objeto levando em consideração o cenário social

(cultural, político, tecnológico etc.) em que ele se encontra. No caso do MyNews,

analisamos as práticas jornalísticas nesta nova plataforma e como os jornalistas se

adaptam e se moldam a essa nova realidade a partir da análise de vídeos difundidos pelo

canal e do discurso autorreferencial desses agentes a partir de entrevistas realizadas pela

autora. A combinação de análise do conteúdo dos vídeos com as entrevistas constituem

técnicas de análise complementares que atendem às exigências de um estudo de caso, que

deve ser o mais holístico e detalhado possível (YIN, 2011). De outro lado, o estudo de

caso é muito comum a trabalhos que analisam fenômenos muito específicos ou

representativos de uma tendência ou de uma mudança estrutural, como entendemos ser o

caso do MyNews – um cenário que se notabiliza tanto pela representatividade perante a

outras experiências semelhantes de jornalismo no Youtube, como também pelas

especificidades próprias das quais trataremos na análise.

Sendo assim, ao adotarmos o estudo de caso, entendemos que o MyNews é um

quadro de estudo porque pode auxiliar o entendimento desse novo processo

comunicacional que surge com a internet e, principalmente, com o YouTube. Isso porque,

“o estudo de caso contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos dos

fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos” (YIN, 2001, p. 21). Dessa

forma o MyNews é visto como um fenômeno individual e social, característico da

convergência, midiática e digital, o qual é passível de ser compreendido como um

fenômeno recente e inovador, que traz para a plataforma YouTube um novo formato

jornalístico, que nos auxilia no entendimento das novas práticas desenvolvidas e

aplicadas pelos profissionais da área. Como nos diz Yin:

O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos

contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos

relevantes. O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas

pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de evidências que usual-

mente não são incluídas no repertório de um historiador: observação direta e

série sistemática de entrevistas. (YIN, 2011, p. 27)

No nosso caso, a observação se deu no processo analítico dos vídeos,

acompanhado das entrevistas com jornalistas do canal. O método de pesquisa é utilizado

e indicado para responder a perguntas “do tipo “como” ou “por que” sobre um conjunto

contemporâneo de acontecimentos sobre o qual o pesquisador tem pouco ou nenhum

controle” (YIN, 2011, p. 28). Ao tratarmos do nosso objeto de pesquisa, o canal

jornalístico MyNews, trouxemos, além da questão-problema principal, recordada na

abertura deste capítulo metodológico, várias outras questões subsidiárias, que

pretendemos responder no decorrer desta pesquisa: (i) Como se dá a migração de

jornalistas para o Youtube e a reconfiguração das práticas e processos jornalísticos; (ii)

que tipo de modelo de negócios o MyNews representa?; (iii) como os jornalistas analisam

o jornalismo praticado pelo canal?; (iv) o que é possível entender das mudanças no meios

jornalísticos a partir da experiência de MyNews?. Essas questões se integram no processo

de análise deste caso, ajudando no entendimento das transformações nas práticas

jornalísticas a partir da adaptação a uma nova plataforma do ciberespaço.

Sem dúvida, MyNews é um caso com especificidades, as quais se diferenciam das

de outros canais jornalísticos presentes na plataforma YouTube, que nos ajuda a entender

a migração desses profissionais para essa plataforma e para o contexto mais amplo da

internet. Enxergamos esse processo como consequência de uma sociedade virtual, que

busca por um conteúdo menos verticalizado, ou seja, onde há mais participação e

interação com público. Ao fazermos essa análise tivemos como objetivo compreender

como o social interfere no objeto e como o objeto desempenha seu papel na sociedade,

num movimento analítico próprio dos estudos de caso (YIN, 2011).

4.1.1. Corpus da pesquisa

a) Vídeos analisados

Para a construção do corpus de análise, selecionamos três quadros do canal, os

quais acreditamos representar, de forma mais clara, as especificidades do MyNews, por

contemplarem, empiricamente, parte significativa das discussões teóricas desenvolvidas

neste estudo: “MyNews Explica”, apresentado pela jornalista Gabriela Lisbôa; “Sem

Politiquês”, de início apresentado por Daniela Lima e, atualmente, por Bruno

Boghossian; além do curso “Empreender é Mara”, com Mara Luquet. Esses quadros

foram utilizados como base do estudo a fim de serem aprofundados e discutidos como

reflexos de novos modos de fazer jornalismo, no YouTube. Para definir quais vídeos dos

quadros escolhidos seriam analisados, decidimos coletar os três vídeos mais visualizados

em cada um dos quadros, totalizando 09 vídeos para análise. Para melhor sistematização

dos vídeos, apresentaremos a seleção no Quadro 2, a seguir.

Quadro 2 – Vídeos selecionados de cada quadro a ser analisado

MY NEWS EXPLICA SEM POLITIQUÊS EMPREENDER É MARA

“Quem foi brilhante Ustra? ”

26.792 visualizações

“A nova e mais rumorosa

bomba da Vaza Jato”

95.041 visualizações

“Por que saí da Globo? ”

36. 878 visualizações

“Eduardo, do you speak

english? ”

25.514 visualizações

“Vaza jato bateu no

supremo”

25.044 visualizações

“Pari uma empresa, perdi o

marido”

13.993 visualizações

“É para ter medo do foro de

São Paulo? ”

19.290 visualizações

“ Bolsonaro interfere em

órgãos de investigação”

21.075 visualizações

“Como escolher o seu negócio?

#EmpreenderéMara1

2.466 visualizações

Fonte: Elaboração da autora

Ao selecionarmos os vídeos mais visualizados, adotamos os critérios de interação

e de adesão do público aos conteúdos transmitidos através dos formatos utilizados em

cada quadro. Um cenário um pouco diferente foi empregado para o quadro “Sem

Politiquês”, visto que no meio deste ano houve uma troca de jornalista responsável pela

apresentação do quadro. Daniela Lima era a jornalista encarregada da apresentação até o

dia 9 de julho de 2019, data em que foi ao ar seu último vídeo; quase um mês depois, em

6 de agosto, Bruno Boghossian assumiu o cargo. Portanto, escolhemos analisar o vídeo

mais visualizado do quadro, que foi presidido por Daniela, e dois vídeos mais

visualizados daqueles apresentados pelo atual apresentador. Como técnica de tratamento

dos dados obtidos com os vídeos, utilizaremos a análise de conteúdo, sobre a qual

abordaremos adiante.

b) Entrevistas semiestruturadas

Além da análise dos vídeos, o corpus da pesquisa é complementado por duas

entrevistas semiestruturadas, realizadas com integrantes do MyNews, as quais também

serão tratadas por meio da análise de conteúdo. Trata-se de uma estratégia de pesquisa

qualitativa que acreditamos ser importante para dar conta da complexidade da discussão.

De acordo com Gaskell,

A entrevista qualitativa (...) fornece os dados básicos para o desenvolvimento e

a compreensão das relações entre os atores sociais e sua situação. O objetivo é

uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e motivações, em

relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos.

(GASKELL, 2002, p. 65,)

Desse modo, as entrevistas são uma oportunidade de compreender a relação dos

jornalistas com a situação específica experienciada pelo trabalho no MyNews, suas

visões sobre o canal, os impactos nas práticas profissionais e os rumos do jornalismo

enquanto modelo de negócios num cenário de transformações profundas. As entrevistas

foram realizadas com a jornalista Gabriela Lisbôa, do quadro MyNews Explica, e com a

produtora do quadro Sem Politiquês, Mirian Clark. Outros membros e jornalistas do canal

foram contatados, como o Bruno Boghossian e a Mara Luquet, porém fomos informados

de que preferem não conceder entrevistas. As entrevistas foram realizadas por meio do

Skype, no dia 21 de outubro, com Lisbôa, e no dia 28 de outubro, com a Clarck.

Como estratégia, adotamos a entrevista semiestruturada, a qual tem como

característica a utilização de um roteiro previamente estruturado. Sendo assim, as

entrevistas realizadas com a jornalista apresentadora do MyNews Explica e com a

produtora do quadro Sem Politiquês foram elaboradas a partir de um tópico guia,

planejado para dar conta dos fins e objetivos da pesquisa. Ele se fundamentará

na combinação de uma leitura crítica da literatura apropriada, um

reconhecimento do campo (que poderá incluir observações e/ou algumas

conversações preliminares com pessoas relevantes), discussões com colegas

experientes, e algum pensamento criativo” (GASKELL, 2002, p.66)

Dessa maneira, as entrevistas foram conduzidas a partir da separação de três eixos

temáticos: (i) caracterização do perfil do entrevistado, (ii) o MyNews no contexto do

jornalismo brasileiro e (iii) a experiência do/no MyNews. Esses eixos tinham como

objetivo, respectivamente, (i) compreender o perfil do entrevistado de forma a esclarecer

a sua pertinência para o contexto da pesquisa; (ii) refletir acerca da opinião do

entrevistado em relação à carreira jornalística e ao mercado no Brasil; e, por fim, (iii)

entender as práticas jornalísticas do MyNews a partir do relato de experiência do

profissional no canal. Porém, como se trata de entrevista semiestruturada, os eixos

temáticos foram questões norteadoras para a realização das perguntas e não pontos fixos,

de forma a não engessar a prática da entrevista.

Segundo Gaskell (2002, p. 67), o tópico guia deve limitar-se a ser um “guia”, “o

entrevistador deve usar sua imaginação social científica para perceber quando temas

considerados importantes e que não poderiam estar presentes em um planejamento ou a

expectativa anterior, aparecerem na discussão”. Adotar esse método fez com que, ao

decorrer da entrevista, o diálogo acontecesse de modo espontâneo, mesmo que sempre

seguindo os eixos temáticos e as perguntas previamente construídas.

O roteiro de entrevistas utilizado está incluído nos apêndices de trabalho.