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REASSENTAMENTO Conjunto Paraíso dos Pássaros

3.1.4 CONCLUSÃO: PROJETO UNA E NOVAS ALTERNATIVAS PARA O DESLOCAMENTO INVOLUNTÁRIO

O projeto de macrodrenagem da bacia do Una é executado em um período   que   se   defende   a   “urbanização   de   favelas”   como   modelo   de   intervenção em áreas de assentamento informal, baseado no objetivo de levar ao pobre urbano infraestrutura e melhorias nas condições de vida. As agências internacionais, como o BID, no início da década de 1990 tinham interesse em financiar a intervenção de assentamentos informais, através de projetos de infraestrutura (principalmente relacionados ao saneamento) como estratégia de desenvolvimento e combate a pobreza. O projeto Una, foi reconhecido como um projeto de urbanização de favelas, como pôde ser observado no livro produzido   pelo   BID   “Urbanização   de   Favelas:   Lições   Aprendidas   no   Brasil”   (MAGALHÃES E VILLAROSA, 2012).

12 Tornou-se um dos principais escândalos referente ao projeto da Bacia do Una a não

utilização dos equipamentos que seriam utilizados para limpeza de canais, comprados através de financiamento do BID. Estes equipamentos estavam sob posse da Prefeitura desde 2005 e em 2012 foram vendidos em leilão, muitos destes sem nunca terem sido usados. O caso dos equipamentos e da falta de manutenção da bacia do Una foi investigado pelo Ministério Público do Pará e retornou a ser investigado pela Assembléia Legislativa e pela Câmara Municipal através de comissões externas.

O Projeto do Una traz aspectos novos para o planejamento de baixadas em Belém no que diz respeito ao reassentamento. A adoção desses princípios (expostos no tópico 3.1) estava ligada ao momento histórico de redemocratização, onde a reforma urbana era constante nas reivindicações e novas legislações que defendiam a função social da propriedade, estavam sendo aplicadas.

Entretanto, outro fator que caracterizará substancialmente o formato do Plano de Reassentamento aplicado no Una, serão os princípios sobre o reassentamento involuntário, aplicados pelo BID, na época. O reassentamento involuntário era tratado pelo BID através do Comitê de Meio Ambiente do Banco   (CMA)   no   documento   “Estratégias   e   Procedimentos   sobre   questões   sócio-culturais, relacionados ao meio ambiente" de junho de 1990. Conforme observado no capítulo 01(ver tópico 1.2.1), este documento possuía princípios básicos para o reassentamento em projetos financiados pelo banco, entre eles: a necessidade de oferecer medidas de compensação e reabilitação para os deslocados e incentivar a participação social em todo o processo.

É notável o tratamento diferenciado que se deu ao reassentamento no Projeto Una, em relação aos projetos anteriores na cidade. Identificam-se no Plano de Reassentamento princípios que favoreciam o deslocado, como a garantia ao direito de compensação pelo remanejamento, seja esse total ou parcial, e foi dada a opção de escolha para o morador.

O  deslocado,  que  é  chamado  pelo  termo  “remanejado”,  teria  direito a escolher como seria indenizado, optando entre receber uma indenização em dinheiro ou receber a indenização em dinheiro mais um lote urbanizado indicado pela Prefeitura. O morador poderia ficar com material demolido, seria disponibilizado o transporte do material como da mudança e mão de obra para reconstrução de benfeitorias no caso de portadores de necessidades especiais e idosos.

Conforme reivindicação do movimento social, assim como a agência financiadora recomendava, procurou-se apontar os lotes para o reassentamento próximo da área de intervenção, o que não foi realizado na

sua totalidade, justificado por questões financeiras, sendo construído o Conjunto Paraíso dos Pássaros, que  em  sua  concepção  lembra  o  modelo  “site

and  services  projects”,  lançado pelo Banco Mundial ainda na década de 1970

que se baseia na oferta de lote urbanizado onde a moradia é construída através da autoconstrução e mutirão pelos próprios moradores (ARANTES, 2004; BUENO, 2000). O modelo torna-se uma estratégia viável economicamente no caso do reassentamento do Una, já que é indicado para quando existe escassez de recursos, e quando se tem baixa capacidade de pagamento da população.

O projeto urbano do loteamento no conjunto oferecia infraestrutura básica e equipamentos públicos, além da proposta da autoconstrução dirigida, que foi apontada como positiva ao aproximar no diálogo de técnicos com a população reassentada. Nesse sentido, a aproximação com a Universidade, contribui na inserção de princípios de urbanização de favelas e provisão habitacional de interesse social, à luz das discussões que se faziam no meio acadêmico.

A autoconstrução dirigida, praticada no Conjunto Paraíso dos Pássaros, tinha semelhança com as propostas de autogestão dirigida que tiveram berço nas universidades na década de 1970 e 1980, a exemplo, do Laboratório de Habitação da Faculdade de Arquitetura Belas Artes, coordenado por Nabil Bonduki, defensor do processo de mutirão "auto-gerido" como uma das soluções para a questão habitacional no Brasil, naquele período. A autogestão baseava-se em projetos-pilotos de reparcelamento urbanístico e demolição/reconstrução das moradias, onde a participação social era presente em todo o processo (BUENO, 2000). Considera-se que este modelo ao transmitir a responsabilidade da construção para o morador trazia o benefício da   “liberdade   construtiva”   de   sua   casa,   diferente   da   lógica   impositiva   dos   conjuntos habitacionais.

No entanto esta liberdade foi na prática limitada pelo orçamento já que as indenizações eram baixas dificultando a execução das obras, já que muitos teriam que gastar mais do que haviam recebido e ainda teriam que contratar mão de obra. A equipe técnica auxiliou para orientação do projeto arquitetônico

e na execução das moradias, porém não poderiam garantir a execução fiel dos projetos elaborados pela equipe, esses fatores de certa forma influenciaram na qualidade final da moradia.

O auxílio da equipe técnica, nem sempre, era aceito pelos moradores, conforme relato de uma técnica do projeto13, muitos eram trabalhadores da construção civil (pedreiros e mestres de obra) e tinham dificuldade em aceitar orientações técnicas alegando à experiência profissional. A técnica ainda relata que os moradores tinham dificuldade para se adaptar às instalações sanitárias, como o banheiro, antes inexistente ou situado do lado de fora da casa, era preciso esforço pelos técnicos para convencer a presença do banheiro dentro da casa e sua devida utilização.

Aponta-se que as principais dificuldades de adaptação dos reassentados ocorreram pela localização do conjunto, pois, apesar de oferecer infraestrutura básica e lotes com boas dimensões, o conjunto estava na época, desarticulado à malha urbana da cidade, dificultando o acesso dos moradores a trabalho, serviços e equipamentos urbanos.

Portanto, o reassentamento no Conjunto Paraíso dos Pássaros, demonstra que a compensação, no caso, financeira e através da provisão de um local para habitação, não são suficientes para restabelecer a comunidade, como seria proposto pelas diretrizes do Banco Mundial e pelo BID, conforme discutido no capítulo 01 (CERNEA, 2003).

A participação social defendida pelo Banco, para evitar conflitos, foi observada no projeto Una, através da formação do comitê assessor, COFIs e Conselho Gestor. As estruturas criadas tinham a função de permitir o diálogo com os moradores sobre o projeto de macrodrenagem, urbanístico e no processo de reassentamento. No entanto, houve críticas do movimento social, que contestava a legitimidade dos representantes e a permanência deles no cargo, denunciando práticas clientelistas no Comitê (PORTELA, 2005).

13

Apesar de o movimento social ser presente e atuante na área até os dias atuais (PARÁ, 2013). Após o término das obras, a tendência, foi o enfraquecimento e esvaziamento das estruturas sociais institucionalizadas pelo programa, algo observado em outros programas financiados pelo BID no Brasil, conforme demonstra a pesquisa de Magalhães e Villarosa (2012).

3.2 O REASSENTAMENTO NO PROJETO TUCUNDUBA E PDL RIACHO