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O formato final dos processos de reassentamento são sistematizados através de matriz na qual são destacados quatro aspectos (técnico, político, social e financeiro) que são considerados determinantes para o reassentamento. Estes aspectos são denominados nessa pesquisa como “fatores   decisórios”.   Portanto,   neste   tópico   são   identificados   os   principais   fatores, a partir da matriz, que levaram ao formato final dos reassentamentos, nos casos estudados nas baixadas de Belém.

Aspectos Técnicos:

Questões técnicas levaram a mudanças/ajustes na forma do reassentamento em todas as experiências estudadas. Nota-se a dificuldade em desapropriar terrenos para fins de reassentamento/remanejamento em locais próximos da intervenção. Os motivos alegados, em geral são coincidentes, como a dificuldade em encontrar terrenos disponíveis que comportassem o número de deslocados, e o alto valor dos terrenos, que sofreriam com a especulação imobiliária pela localização próxima a área central, além de serem beneficiados com as melhorias do projeto em execução.

Nota-se que a equipe técnica é limitada por regulamentos definidos pelos manuais da CAIXA, órgão presente em todas as experiências estudas. Em alguns casos, conforme o programa e linha de financiamento eram determinados dimensões mínimas e valores por unidade habitacional que deveriam ser adotados no projeto.

Em relação ao projeto urbanístico e arquitetônico, as propostas são diferenciadas conforme a experiência estudada, a tipologia habitacional mais freqüente é a de blocos de apartamentos, assim tem-se: No projeto Una, adotou-se a autoconstrução dirigida de casas, com a possibilidade de projeto arquitetônico individual; No PDLS a proposta era ofertar casas-embriões que poderiam ser expandidas e/ou adaptadas conforme a necessidade da família, no entanto, o projeto executado foi de blocos de apartamentos de 4 pavimentos com 16 apartamentos em cada, o projeto possui a planta baixa do pavimento tipo em H, modelo freqüente em projetos multifamiliares de habitação de interesse social, por racionalizar a construção.

Na intervenção na bacia da Estrada Nova, prevaleceu os blocos de apartamentos como solução habitacional, o projeto para o Portal da Amazônia e Conjunto Estrada Nova possuem a mesmo modelo: Blocos de 2 ou 3 pavimentos, com planta baixa do pavimento tipo em H, a unidade habitacional possui planta baixa padrão de projetos de habitação de interesse social. O Residencial Cabano, utilizado no reassentamento da sub-bacia 01, também é composto por blocos de apartamentos

Conclui-se que não há um estudo maior para a proposta urbanística e habitacional, que relacione a tipologia regional da casa e/ou ligue ao modo de vida do morador das baixadas. Não se observa nos projetos a organização e números de ambientes, bem como não há referências estéticas. Em geral, quando há o esforço técnico, em busca de adaptação ao contexto local, este é limitado pelas diretrizes das agências financiadoras. Desta forma, as soluções habitacionais propostas se mantêm sob a lógica econômica.

Isto de certa forma contraria a recomendação das diretrizes internacionais, assim como as brasileiras, onde aspectos como identidade cultural seria relevante, demonstrando, por outro lado, a ambigüidade causada pelas políticas de reassentamento, que discursam a favor de valores locais, mas em sua instrumentalização colaboram para universalização das ações.

Político/institucional:

Observa-se que o interesse político de determinada gestão são determinantes para a elaboração e execução de projetos em baixadas. Isto, segundo Cardoso (2007) enfraqueceria as atividades de planejamento, pois as ações seriam planejadas conforme o tempo de um mandato, colaborando para decisões projetuais apressadas e com pouca inovação. As rivalidades políticas seriam entraves para continuação e conclusão de projetos, pois impediriam a integração entre secretarias de diferentes esferas do governo. Outro conflito estaria na troca da administração pública e a mudança de técnicos e de interesse por determinado projeto ou local da cidade. Pode-se também comentar a desarticulação das secretarias/instituições que colaboram para projetos fragmentados, como é o caso da intervenção na Estrada Nova.

Aspectos sociais:

A presença da pressão popular foi presente nas três experiências, com diferença na representatividade e poder de decisão que houve em cada momento. A resistência e reivindicação social das comunidades surgem em diferentes situações, como na reformulação da forma de atendimento ao deslocado e contrariando decisões projetuais.

A participação social institucionalizada tem sido incentivada pelas agências financiadoras (IDB, 1998; BANCO MUNDIAL, 2001), e esteve presente em todos os casos estudados. No entanto, foi observado que a maior parte das decisões em  reassentamento,  ainda  é  “de  cima  para  baixo”,  onde  o   espaço de consulta popular é mais para informar as decisões técnicas e colher votos (exigidos para a liberação de recursos), do que de fato um local para o debate.

Aspectos Financeiros

Outro fator de ordem econômica seria o método de avaliação dos imóveis, o qual tem induzido a indenização baixa. A avaliação mais usual é a

partir do cálculo de materiais de construção e estado de conservação, como parâmetro utiliza-se a tabela SINAPI, produzida pelo IBGE e Caixa. Imóveis em situação de precariedade, através desse método, recebem valores baixos, dificultando a negociação com moradores e dificultando a melhora nas condições de habitação do deslocado.

Conclusão

O reassentamento é enrijecido pelas diretrizes das linhas de financiamento, seguindo modelos universais, sem uma maior preocupação com as especificidades locais e regionais. As referências aos aspectos culturais e sociais, em geral estão inclusos nas redações dos planos, e são relevantes nas diretrizes externas, mas as exigências e regras da linha de financiamento são, justamente, os maiores obstáculos para técnicos que buscam inserir essas questões no planejamento local.

Os projetos habitacionais executados, não trazem estudos tecnológicos nem ligados a sustentabilidade, são adotados projetos padrões para habitação de interesse social, onde a maior preocupação é atingir a demanda e seguir as exigências mínimas para se ter uma moradia considerada digna.

Em todas as experiências o processo de reassentamento foi longo, problemas são observados desde a negociação com moradores que são contra o deslocamento, gestão do projeto em administrar assuntos burocráticos, necessidade de alterar projeto físico, paralisações da obra, entre outros, colaboram para atrasos da entrega da unidade habitacional.

Em Belém existem obras que são executadas há décadas como caso do Riacho Doce, sendo prejudicial às famílias, que ficam atreladas a auxílios- moradia. Isto agrava a situação de vulnerabilidade dessas famílias, que sofrem com a insegurança de ter um lar. A demora na execução das obras, também leva ao próprio descrédito pela população por obras do poder público, criando- se uma marca histórica de promessas de habitação não cumpridas.