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CONCLUSÃO: TUCUDUNBA: DE PROJETO “BOAS PRÁTICAS” À REASSENTAMENTOS INCONCLUSOS

REMANEJAMENTO – PDL Riacho Doce e Pantanal

3.2.2   CONCLUSÃO: TUCUDUNBA: DE PROJETO “BOAS PRÁTICAS” À REASSENTAMENTOS INCONCLUSOS

Pode-se afirmar que tanto o Projeto Tucunduba como o PDL possuem em sua concepção aproximação com a forma de se pensar a intervenção do assentamento informal no Brasil, no final da década de 1990. É presente, sobretudo  na  proposta  do  PDL  o  conceito  de  “urbanização  de  favelas”  que  no   final da década de 1990 foi posto como a política urbana mais eficaz de “combate  à  pobreza  urbana”  (difundida  pela Cities Alliance). Neste período, as intervenções urbanas no Brasil sofrem grande influência das diretrizes externas das agências multilaterais, sendo defendidas tanto pelo Banco Mundial como pela ONU intervenções de slum upgrading que, além de projetos físicos,

deveriam ter ações de política social, inserindo projetos de capacitação profissional e geração de trabalho e renda, relacionados aos novos princípios de desenvolvimento adotados pelos bancos que incluem como objetivo o combate a pobreza urbana (ARANTES, 2004).

A intervenção no Tucunduba e principalmente a proposta do PDL evidenciam a preocupação em inserir uma política social, através da inserção de itens como sustentabilidade ambiental e geração de renda e trabalho. A aproximação com a ONU através do programa de gestão de rios seria uma indicação de onde sairiam os principais conceitos adotados pelo projeto.

A ONU no final da década de 1990, junto com o Banco Mundial era uma das defensoras da urbanização de favelas no combate a pobreza urbana no mundo, através do UN-HABITAT transmite ideais que deveriam ser incluídos na agenda urbana dos países, coma defesa pela participação social como meio de se fazer valer o interesse público em projetos urbanos, defendia- se ainda a necessidade de considerar asvisões daqueles que vivem nas áreas que serão impactadas, a transparência, abertura de espaço para discussão de alternativas, assim como o direito a informação adequada pelos moradores atingidos (UN-HABITAT, 2011). Estes itens estão presentes na intervenção do Tucunduba e PDL através da proposta de gestão participativa.

Em relação ao deslocamento do Projeto Tucunduba, houve a dificuldade para reassentar os moradores atingidos próximo a área, sendo oferecido como novo local para moradia o conjunto Eduardo Angelim (ver Ilustração 19), construído em Icoaraci. Apesar das dimensões dos lotes serem generosas para os padrões anteriores em que viviam os moradores, e da possibilidade de receberem uma unidade habitacional (térrea), os moradores em geral ainda preferiam manter-se próximo ao local de origem.

Ilustração 19 - deslocamento na bacia do Tucunduba. Fonte: Adaptado CTM (2000)

A dificuldade no reassentamento para o conjunto e a reivindicação dos moradores para permanecer na área resultou na adoção de novas estratégias para o deslocamento, iniciadas, porém somente a partir de 1999, com as obras do Projeto Tucunduba já iniciadas, entre as opções estavam a compra de casas, permuta e indenização.

Essas soluções, porém, não garantiriam a permanência de todas as famílias na área, já que havia a dificuldade na compra de habitações com o valor baixo das indenizações, como Negrão (2007) aborda, a maioria dos moradores que conseguiu permanecer na área eram aqueles que receberam indenizações maiores e que tinham renda fixa, enquanto aqueles que receberam indenizações mais baixas foram levados a buscar habitação em áreas mais distantes da primeira légua patrimonial, sendo que estes não tinham acompanhamento da prefeitura na busca por moradia.

Lacunas na provisão de moradia foram evidentes no projeto Tucunduba, apesar de sua proposta reformulada dar importância para a questão do deslocamento. Foi na tentativa de responder a essa demanda não bem atendida que de certa forma o PDL Riacho Doce e Pantanal vem com a proposta de trazer melhorias urbanísticas, de habitação e aspectos socioeconômicos.

O Projeto PDL, possuía uma proposta urbanística e habitacional, considerada promissora e que serviria como referência para outras intervenções em baixadas. O objetivo do projeto era oferecer a melhoria habitacional e o remanejamento (ou seja, nova unidade habitacional na área de intervenção) favorecendo a permanência dos moradores nas baixadas, evitando assim maiores impactos sociais para a comunidade. São relatados pontos positivos referentes ao projeto urbano, pela integração que permitiu a introdução de linha de ônibus e acesso a coleta de lixo, e pela infraestrutura como o abastecimento de água e energia elétrica.

No entanto, a elaboração da segunda proposta, verticalizando a solução habitacional, e a mudança na condução da participação social, desagradou à população. Essa mudança de postura seria atribuída, segundo os técnicos do PDL, pela pressão do cronograma que a execução do projeto deveria seguir, sob o risco da perda do recurso (SOUZA, 2004; NEGRÃO, 2007). A posterior troca de gestão paralisaria a execução das obras, que se estenderam por mais de uma década.

Os moradores, que foram remanejados pelo PDL, sofreram com a demora para receber suas moradias definitivas, fazendo com que dependessem de auxílio-aluguel oferecido pela prefeitura, além da adaptação a

novas despesas como água e luz que foram introduzidas após o projeto urbano (NEGRÃO, 2007). Isto leva a vulnerabilidade social das famílias pela incerteza sobre a data do reassentamento, além da sensação de descrédito em relação ao projeto que acabou não tendo a participação social anunciada.

Denaldi (2003) afirma que as exigências excessivas, dificuldades institucional dos municípios, constante mudanças na regulamentação do HBB, além da falta de sintonia entre SEDU, Caixa e BID podem explicar a dificuldade de se obter recursos pelo programa. Segundo a autora, a maioria dos municípios que participaram do HBB não conseguiu, através do programa, ampliar a escala de intervenção e enfrentaram dificuldades para realizar uma recuperação urbanística e ambiental adequada (DENALDI, 2003).

Problemas relacionados com a Caixa, na década de 1990, são citados pelo despreparo que o banco tinha como operador de programas urbanos (DENALDI, 2003). É relatado que o banco não contava com uma equipe preparada, para analisar projetos urbanos e sociais, isto trazia conflitos entre técnicos dos municípios, e com órgãos responsáveis pelos programas de urbanização/habitação, como observado em Belém (CARDOSO, 2007, 2011).

3.3 REASSENTAMENTO NO PORTAL DA AMAZÔNIA E BACIA DA