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Esse trabalho buscou efetuar o acompanhamento espaço-temporal da ocupação do município de Corumbiara desde os Planos Nacionais de Desenvolvimento, com a implantação do PIC Paulo Assis Ribeiro, passando pelo POLONOROESTE, PLANAFLORO, ZSEE, chegando aos dias atuais. Além do levantamento bibliográfico, foram utilizadas imagens de satélite de diferentes épocas, e reconhecimento expedito de campo.

Analisando as imagens, pudemos acompanhar a evolução da ocupação da área que, primeiramente, viria a constituir o município de Corumbiara, e posteriormente, do município propriamente dito.

Na imagem de 1975 foi constatado que não eram visíveis marcas da presença dos parceleiros do PIC-PAR na porção do mesmo que se localiza dentro da área de estudo. Presume-se que a distância deste local à sede principal do projeto, a inexistência de estradas e o pouco tempo de implantação do projeto sejam as causas principais dessa ausência de vestígios.

Na esfera Federal, aquele é um período de início de um novo governo, que extinguirá o processo de ocupação por projetos de colonização, por julgar cara e ineficiente e implantação de novos projetos desse tipo – I PND -, passando à licitação de grandes áreas com incentivos para grandes investidores – II PND: criou- se assim, na área de estudo, a ”Gleba Corumbiara”.

Na imagem de 1978 já se vislumbram as marcas da ocupação decorrente das duas políticas públicas implantadas, a ocupação gradativa do PIC-PAR patrocinada pelo I PND e a abertura de grandes áreas com a supressão total da floresta na área da Gleba Corumbiara, implantada pelo II PND.

Já na imagem de 1981 são ainda mais nítidas as marcas dessas duas formas de ocupação (projetos de assentamentos e grandes glebas), que irão efetuar procedimentos diferentes na supressão da floresta, com pequenas áreas seguindo as estradas principais e vicinais (situação conhecida como espinha de peixe) nos projetos de colonização e de grandes aberturas para a formação principalmente de pastagens, na área da Gleba Corumbiara. Nessa época, esses efeitos teriam sido já potencializados pela implantação do POLONOROESTE (recursos iniciais liberados

em 1982), que visava a recuperação e pavimentação da BR-364, construção de estradas, desenvolvimento agrícola e recuperação de áreas degradadas.

Esses processos que irão se intensificar nos anos seguintes, conforme se observa na imagem de 1986. Com o aumento das áreas de floresta suprimidas se torna inevitável o contato entre pecuaristas, madeireiros e fazendeiros, com os grupos indígenas existentes na área. Neste período se iniciou a pesquisa pela FUNAI, para comprovar a existência destes grupos no sentido de preservar áreas de floresta para os mesmos.

As pressões exercidas junto ao INCRA por pequenos produtores que não tiveram a oportunidade de conquistar uma área junto ao PIC-PAR fazem com que esse órgão implante, em 1986, um novo projeto de assentamento (sem os moldes do PIC), o chamado PA Vitória da União.

Três anos após a implantação do PA Vitória da União já se percebe (imagem de 1989), que os procedimentos de ocupação são semelhantes aos que vinham ocorrendo na ocupação do PIC-PAR, diferentemente das grandes aberturas que vinham ocorrendo intensamente nas áreas próximas, como as da Gleba Corumbiara.

Um ano antes da obtenção daquela imagem, em 1988, o INCRA implantou um novo projeto de assentamento, o chamado PA Verde Seringal, e um ano depois, em 1990, o governo do Estado de Rondônia decreta a FERS Rio Mequéns para atendimento de diretrizes da Primeira Aproximação do Zoneamento Sócio- Econômico e Ecológico de Rondônia, decretada em 1988, como um dos resultados finais do POLONOROESTE.

Sobrepondo-se parcialmente ao PA Vitória da União, a implantação da FERS Rio Mequéns mostra a dificuldade de diálogo entre as instituições governamentais de diferentes instâncias, como se verá em 1999 com a implantação de outro projeto de assentamento (o PA Roncauto), totalmente dentro da FERS.

A FERS Rio Mequéns não saiu do papel, bem como o seu decreto de criação não foi revogado, fazendo com que a mesma exista até hoje, porém sem boa parte da floresta para a qual a mesma foi criada, como pode ser visto com as alterações contínuas até hoje.

Em 1992 é criado o município de Corumbiara. Na imagem do período percebe-se que a supressão da floresta faz com que tanto as áreas que correspondem aos projetos de assentamento quanto as grande aberturas

provocadas na porção da antiga Gleba Corumbiara, já estão interligados, situação essa que ficará explícita no decorrer dos anos.

Em uma tentativa de redimir os danos causados pelo POLONOROESTE, o Banco Mundial patrocinou um novo projeto: o PLANAFLORO. Desde o seu início o PLANAFLORO dava a impressão de não se concretizar na sua plenitude, haja vista o antagônico discurso praticado pelo Banco Mundial e pelas autoridades locais. O primeiro salientava que esse seria o projeto que salvaria a Amazônia, pois trazia consigo o emblema da sustentabilidade, e o segundo, por sua vez, propagandeava que os recursos seriam alocados para as áreas de agropecuária e exploração madeireira. Os resultados futuros mostram que o discurso praticado pelas autoridades locais foi muito mais realista que o do Banco Mundial.

Isso se torna visível na imagem de 1995, quando se percebe que o PLANAFLORO não estava cumprindo suas diretrizes na contenção dos desmatamentos e na implantação concreta de unidades de conservação e de terras indígenas.

Neste período dois novos projetos de assentamento são implantados, o PA Adriana, em 1992 e o PA Guarajús, em 1995. O PA Adriana aparecerá, lamentavelmente, na mídia nacional e internacional, devido ao que foi chamado de “massacre de Corumbiara”, a violenta desocupação que ocorreu na Fazenda Santa Elina, vizinha ao referido projeto de assentamento, com o assassinato de posseiros.

Também em 1995 a FUNAI irá interditar, formalmente, a área onde foram efetuados os primeiros contatos com os índios isolados dos Grupos Kanôe e Akuntsu. A FUNAI estava desde 1986 pesquisando a área visando comprovar a sobrevivência desses grupos.

A imagem de 1998 é duplamente interessante, devido fato de estar bem representado um acontecimento crônico na região Amazônica: as queimadas. Nela são visíveis a fumaça das queimadas em curso e também as áreas enegrecidas decorrentes de queimadas já realizadas no município de Corumbiara.

Neste período é implementado o último projeto de assentamento, o PA Roncauto (1999), totalmente inserido dentro da FERS Rio Mequéns, como informado anteriormente.

Em 2000 é implementada a Segunda Aproximação do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico do Estado de Rondônia. Pelo novo Zoneamento, o

município é inserido totalmente dentro da Zona 1, caracterizada pela ocupação intensa.

Analisando as formas de ocupação do município de Corumbiara, na imagem de 2000, tendo em vista as unidades geomorfológicas e o zoneamento, percebe-se a existência de contradições, principalmente no que tange à vulnerabilidade à erosão.

Outro detalhe sobre o zoneamento, é que não houve a consideração da zona de amortecimento quanto ao Parque Estadual de Corumbiara, como preconiza o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

Além da discordância entre legislações acima mencionada, o Zoneamento também desconsiderou a existência da FERS Rio Mequéns, tratando toda a área da unidade como sendo área de máxima utilização e ocupação (zona 1, subzonas 1.1 e 1.2).

Os mesmos possuíam diretrizes formais quanto à conservação e bom aproveitamento dos recursos naturais, porém não foram eficazes quanto a orientações, incentivos e fiscalização para a correta utilização dos mesmos, havendo um desrespeito tanto por parte da sociedade quanto por parte das instituições governamentais que implementaram projetos em áreas não permitidas.

Desta forma, sugere-se a necessidade de haver um maior comprometimento e cuidados por parte das instituições governamentais no desenvolvimento de projetos e atividades na região, bem como maior eficiência na fiscalização quanto às diferentes legislações existentes por parte das instituições que detêm as competências para atuar nas esferas correspondentes, tanto no aspecto econômico, como social e ambiental.

Conclui-se, portanto que a análise das imagens dos satélites LANDSAT de diferentes épocas permitiu a visualização e acompanhamento de projetos de diferentes magnitudes e áreas de atuação.

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