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Analise espaço-temporal do processo de ocupação no município de Corumbiara - Rondônia

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ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CORUMBIARA – RONDÔNIA

Florianópolis 2008

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PAULO HENRIQUE SCHRÖDER

ANÁLISE ESPAÇO-TEMPORAL NO PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CORUMBIARA – RONDÔNIA

Dissertação apresentada como requisito final para a obtenção do título de mestre em Utilização e Conservação dos Recursos Naturais pelo Programa de Pós Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Catarina.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Fernando Scheibe

Florianópolis 2008

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PAULO HENRIQUE SCHRÖDER

Dissertação submetida ao Curso de Mestrado em Geografia, área de concentração, Utilização e Conservação dos Recursos Naturais, do Programa de Pós Graduação em Geografia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, em cumprimento aos requisitos necessários à obtenção do grau acadêmico de MESTRE EM GEOGRAFIA.

__________________________________________________ Prof. Dr. Carlos José Espíndola

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Geografia

APROVADO PELA COMISSÃO EXAMINADORA EM: 08/02/2008

_________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Fernando Scheibe (Presidente e orientador – GCN/UFSC)

_________________________________________________________________ Prof. Dr. Joel Pellerin (Membro – GCN/UFSC

_________________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Carlos Pittol Martini (Membro-CCA/UFSC)

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Ao meu orientador Prof. Dr. Luiz Fernando Scheibe pela orientação, estímulo, compreensão, paciência e, acima de tudo, pela sua grande amizade.

Ao Prof. Dr. Dorisvalder Dias Nunes, Pró-reitor de Pesquisa e Extensão e Coordenador do Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental (LABOGEOPA), da Fundação Universidade Federal de Rondônia pelo apoio e aconselhamentos dados à realização da pesquisa.

Aos amigos do LABOGEOPA, Prof. Ricardo Gilson, Prof. Tuninho, Luiz Cleiton, Madalena, Michel, Gisele, Luciana e Leonilda, pela valiosa ajuda nos trabalhos de campo e discussões sobre a realidade local.

Aos amigos do Laboratório de Geoprocessamento e Laboratório de Análise Ambiental, do Departamento de Geociências da UFSC, Prof. Paulino, Prof. Joel, Prof.ª Dolores, Prof.ª Sandra, Henrique, Luciano, Harideva e Gisele Xavier, pelo apoio e carinho recebido.

Ao Sr. José Neumar Morais da Silveira, Gerente Regional do SIPAM, pela amizade e permissão para utilizar a estrutura institucional na realização deste trabalho.

Aos amigos do SIPAM, Ana Cristina, Thiago, Luciana, Juliana, Ernesto, Samuel, George, Jair, Pablo Santana, Gustavo, Leda, Carin, Rogério e João, pela amizade e apoio na realização deste trabalho.

Ao meu pai Oswaldo Frederico Schröder e minha mãe Christina Clara Hildegard Raeder Schröder pelo apoio nesta caminhada e minha irmã Claudia e meu Sobrinho Henri pelo infinito carinho.

Ao meu grande amor, Tatiane, e meu enteado Andrew, pelo apoio, paciência, carinho, compreensão e felicidade.

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GRANDEZA DO EFEITO”. ALLAN KARDEC

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A região amazônica é um vasto campo de pesquisa. Esse estudo se justifica pela análise espaço-temporal da ocupação da área do atual município de Corumbiara e sua relação com o planejamento estatal, desde os Planos Nacionais de Desenvolvimento até o atual Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Rondônia. Para orientar o trabalho de desenvolvimento da pesquisa foi efetuado levantamento bibliográfico, atividades de campo e análise de imagens de satélite de diferentes épocas. O levantamento bibliográfico e análise das imagens de satélite permitem uma caracterização sobre a ocupação da área do município de Corumbiara. Na análise dos dados verifica-se que nos últimos trinta anos, diversos projetos governamentais (tanto na esfera Federal quanto Estadual) foram implementados na região. Observou-se a inexistência de diálogo entre diferentes instituições governamentais, com a geração de sobreposições na implantação de projetos diversos, tais como projetos de assentamento em unidades de conservação. Com a dinâmica da ocupação, percebe-se a existência de padrões nos procedimentos de supressão da floresta, com as pequenas supressões em áreas de projetos de colonização e assentamentos partindo das estradas principais e vicinais, formando uma composição visual chamada de “espinha de peixe” e das grandes aberturas com a supressão total da floresta nas áreas licitadas para grandes investidores. Nota-se que, com o aumento da ocupação há uma diminuição das áreas disponíveis, o aumento das tensões entre grandes proprietários e posseiros, bem como entre madeireiros e fazendeiros com grupos indígenas existentes no local. Conclui-se que o uso de imagens de diferentes épocas auxilia na visualização e acompanhamento de projetos de diferentes magnitudes e áreas de atuação. Sugere-se a necessidade de um maior comprometimento e cuidado por parte das instituições governamentais no desenvolvimento de projetos e atividades na região, além de uma maior eficiência na fiscalização quanto às diferentes legislações existentes por parte das instituições que detêm as competências para atuar nas esferas correspondentes.

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Figura 1: Real Forte Príncipe da Beira (MOSS, 2007)... ...19 Figura 2: Cargueiro Rio Tubarão trazendo os maquinários para abertura da BR-29 e das obras da rodovia (Ronet, 2007)...21 Figura 3: Primeira aproximação do zoneamento socioeconômico e ecológico de Rondônia. (SEDAM, 2002)...28 Figura 4: Segunda aproximação do Zoneamento Socioeconômico Ecológico de Rondônia. (PLANAFLORO, 2000)...33 Figura 5: Localização do município de Corumbiara no Estado de Rondônia... 35 Figura 6: Mapa geológico do município de Corumbiara (adaptado PLANAFLORO, 2000)...36 Figura 7: Mapa Geomorfológico do Município de Corumbiara (adaptado

PLANAFLORO, 2000)...37 Figura 8: Unidade denudacional que ocorre na porção central do Município... 38 Figura 9: Morro com controle estrutural...39 Figura 10: Mapa pedológico do município de Corumbiara (adaptado de

PLANAFLORO, 2000)...40 Figura 11: Localização do PIC-PAR e dos municípios que se originaram

posteriormente do mesmo (Colorado do Oeste, Cabixi, Corumbiara, Cerejeiras e Pimenteiras do Oeste)...42 Figura 12: Mapa com as datas das emancipações dos municípios de RO e seta indicando a área de interesse deste trabalho. (BARAÚNA, 2005 com alterações do autor)...43 Figura 13: Localização do PIC Paulo Assis Ribeiro e dos assentamentos criados posteriormente na área do atual município de Corumbiara...45 Figura 14: Mapa contendo a configuração do ZSEE no município de Corumbiara (recortado pelo autor de PLANAFLORO 2000)...46 Figura 15: Localização da porção da FERS Rio Mequéns no município de

Corumbiara...48 Figura 16: Localização da Terra Indígena Rio Omerê – Corumbiara/RO (recortado e adaptado de PLANAFLORO, 2000)...50 Figura 17: Placa da FUNAI indicativa da Terra Indígena Rio Omerê...51 Figura 18: Imagem LANDSAT 1 MSS (4R5G3B) de 1975, com detalhamento do pequeno ponto de desmatamento no círculo oval ao norte e campo de pouso no círculo ao sul, às margens do rio Corumbiara...58 Figura 19: As linhas retas delimitam a área correspondente ao PIC–PAR em 1975, sem a presença visível dos parceleiros e com detalhe do campo de pouso no círculo vermelho...59 Figura 20: Imagem LANDSAT 2 MSS (4R5G3B) de 1978, onde a região do atual município de Corumbiara, ainda pertencente a Guajará-Mirim, apresenta poucas alterações em sua cobertura vegetal original...60 Figura 21: Detalhe da imagem LANDSAT 2 MSS de 1978 com a indicação (setas amarelas) do início do desmatamento na área da Gleba Corumbiara, na porção norte da área do atual município de Corumbiara...61 Figura 22: Abertura de linhas de ocupação na porção do PIC-PAR que engloba a área do atual município de Corumbiara (setas amarelas) e campo de pouso mais antigo, fora da área do mesmo (seta vermelha)...62

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de peixe” e o extravasamento dos mesmos para o oeste e norte deste trecho do projeto...64 Figura 25: Mudança nas formas de ocupação do espaço amazônico, com supressão da floresta em grandes áreas contínuas, conforme pode ser percebida na área da gleba Corumbiara, na porção oeste da área do município de Corumbiara...65 Figura 26: Diferença geomorfológica entre a área do PIC-PAR (à esquerda) com a dos grandes empreendimentos (à direita)...65 Figura 27: A figura do LANDSAT 5 TM (4R5G3B) de 1986 mostra o incremento do desmatamento tanto na área do PIC Paulo Assis Ribeiro como, principalmente, das áreas de formação de pastagens mais a oeste, na área da antiga gleba Corumbiara. ...66 Figura 28: Extravasamento contínuo da área do PIC PAR, com a abertura e

supressão da floresta indo em direção à gleba Corumbiara, a oeste. No círculo vermelho temos a área atualmente pertencente à FERTIPAR, com o cultivo de soja. ...67 Figura 29: Intenso processo de supressão florestal, na área da antiga gleba

Corumbiara, com a abertura de grandes áreas contínuas...68 Figura 30: Linhas retas e o leito do rio Corumbiara, ao sul, delimitam a área, até então bastante preservada, onde foi estabelecido o projeto de assentamento Vitória da União...69 Figura 31: A continuidade dos desmatamentos é visível na imagem obtida em 1989 pelo satélite LANDSAT 5 TM (3R5G3B), com padrões diferenciados de

desmatamento. O igarapé omerê, identificado na imagem, é o ponto de divisão, dentro do primeiro zoneamento, onde temos a zona 6 na porção oeste e zona 1.3 na porção leste...70 Figura 32: Detalhamento que permite melhor comparação da ocupação do PA Vitória da União entre 1986 (criação do PA) e 1989... 71 Figura 33: Localização do PA Verde Seringal, estabelecido em 1988, na imagem LANDSAT 5 TM de 1989. As manchas maiores correspondem aos cerrados do topo da Serra dos Parecis...71 Figura 34: PIC Paulo Assis Ribeiro em 1989, com a supressão continuada da

floresta...72 Figura 35: Limites da FERS Rio Mequéns no município de Corumbiara, observando-se a exploração em grandes glebas, em contraste com a do PA Vitória da União... 73 Figura 36: Sobreposição parcial entre o PA Vitória da União (já existente) e a

Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Rio Mequéns (já parcialmente

explorada em regime de grandes glebas)... 73 Figura 37: Imagem LANDSAT 5 TM (4R5G3B) de Corumbiara em 1992, quando de sua emancipação (em vermelho, a sede municipal)... 74 Figura 38: aumento do desmatamento na FERS Rio Mequéns, registrada em 1992. ...75 Figura 39: Imagem LANDSAT 5 TM (5R4G3B) do município de Corumbiara em 1995, mostrando a continuidade dos processos de desmatamento, inclusive nas áreas da FERS Rio Mequéns...76 Figura 40: Área indígena interditada e demarcada pela FUNAI, na região do rio Omerê, no extremo noroeste da área do município de Corumbiara... 77

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relativamente pequena, e situado a NE da sede municipal de Corumbiara... 78 Figura 43: Área onde foi criado o PA Guarajús, na porção centro-sul do município, nas proximidades da sede do município e vizinho ao PA Vitória da União (contorno em preto)...79 Figura 44: Flagrante da manutenção das bordas da floresta para esconder o

desmatamento da parte interna, em uma fazenda localizada entre o PA Vitória da União (parte sul) e a TI Rio Omerê (parte norte)...80 Figura 45: Continuada supressão da floresta na área do PIC-PAR, com comparativo entre as imagens de 1989 (esquerda) e 1995 (direita)...81 Figura 46: Desmatamento contínuo na FERS Rio Mequéns entre 1992 (esquerda) e 1995 (direita)...81 Figura 47: Imagem LANDSAT 5 TM (5R4G3B) de 20 agosto de 1998 mostrando a presença de fumaça (aspecto esbranquiçado na imagem), indicação de ocorrência de queimadas na região da FERS Rio Mequéns (porção oeste) e PIC PAR (porção leste)...82 Figura 48: Locais onde ocorreram queimadas dentro da FERS Rio Mequéns (setas vermelhas)...83 Figura 49: Detalhe de áreas com queimada recente dentro da FERS Rio Mequéns. ...84 Figura 50: no círculo, indicação de possível ponto de queimada ainda ativo... 85 Figura 51: Com contorno amarelo o Projeto de Assentamento Roncauto,

estabelecido dentro da FERS Rio Mequéns...86 Figura 52: Áreas do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Rondônia no município de Corumbiara, vistos sobre a imagem LANDSAT 5 TM (5R4G3B) de 2000...87 Figura 53: a FERS Rio Mequéns dentro da zona 1 (subzonas 1.1 e 1.2)...87 Figura 54: Localização da TI Rio Omerê dentro da zona 1, subzona 1.1... 88 Figura 55: Disposição das subzonas do ZSEE sobre as unidades geomorfológicas 90 Figura 56: Localização do Município de Corumbiara e do Parque Estadual de

Corumbiara...91 Figura 57: Supressão das áreas de preservação permanente, sem respeitar a faixa marginal de 30 metros para rios de até 10 metros de largura...92 Figura 58: Assoreamento do rio Corumbiara...92 Figura 59: Imagem LANDSAT 5 TM de 2006 indicando o atual nível de ocupação, com uma grande supressão da mata original...93 Figura 60: Na figura resultante da classificação feita a partir da imagem LANDSAT 1 MSS de 1975, percebe-se apenas dois pequenos pontos de antropização, que correspondem a 0,02% da área total do município... 94 Figura 61: Na classificação efetuada a partir da imagem LANDSAT 5 TM de 2006, 68% da área do município se encontra antropizada, observando-se ainda que um percentual significativo é de manchas isoladas, com pequeno significado do ponto de vista da manutenção da biodiversidade...95 Figura 62: Pontos registrados em campo com GPS, plotados sobre imagem

LANDSAT 5 TM de 2006...96 Figura 63: Localização dos pontos 0 a 10, registrados nos trabalhos de campo (dia 04/08/07)...97

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Governo. Ao fundo presença de um silo (círculo vermelho)...98

Figura 66: transformação do PA Vitória da União em grande área de pastagem...99

Figura 67: supressão da mata ciliar no PA Vitória da União...99

Figura 68: Pequeno morro onde é visível o controle estrutural (visão lateral)... 100

Figura 69: Visão de outro ângulo do pequeno morro com controle estrutural (visão frontal)...100

Figura 70: limites da Terra Indígena Rio Omerê... 101

Figura 71: Fazendas vizinhas à Terra Indígena Rio Omerê (área de mata ao fundo, à esquerda)...101

Figura 72: Áreas de interesse entre os pontos 09 e 10, localizadas inteiramente dentro da FERS Rio Mequéns, na porção oeste do município... 102

Figura 73: A área A, floresta degradada, com árvores jovens ou sem valor comercial. ...102

Figura 74: Visão dos quadrantes do ponto B, mostrando o amplo predomínio das pastagens na paisagem de toda a área...103

Figura 75: Área preparada para cultivo no ponto C...104

Figura 76: Barragem construída sobre igarapé no ponto 10...104

Figura 77: Localização dos pontos coletados nos trabalhos do dia 05/08/07...105

Figura 78: Visão parcial do município de Corumbiara, percebendo-se a supressão quase total da floresta...106

Figura 79: Deslizamento de terra nas proximidades do eixo 02, via que atravessa o PIC-PAR no sentido N – S, na sua porção mais a leste (corresponde ao ponto registrado n° 16)...107

Figura 80: Dois pontos de deslizamentos, conforme as setas, no eixo 02 e correspondem ao ponto 18 (presume-se que a alteração da cobertura da terra tenha potencializado a ocorrência do mesmo)...107

Figura 81: Detalhe de um dos deslizamentos, mostrando, na parte superior, que corresponde a processos ainda ativos, apesar da pequena quantidade de vegetação remanescente...108

Figura 82: Processo de deslocamento de massa, ainda em curso. A inclinação dos troncos das árvores ao fundo, indica tratar-se de um típico fenômeno de rastejamento...108

Figura 83: Grande presença de sedimentos (areia) no PA Verde Seringal... 109

Figura 84: Detalhe da grande quantidade de sedimentos grossos inconsolidados. 109 Figura 85: Grande presença de matacões neste ponto (22) do rio Corumbiara...110

Figura 86: Assoreamento do rio Corumbiara (ponto 24), por atividade antrópica a montante...111

Figura 87: Visão geral das alterações ocasionadas na linha 05 na direção oeste do PIC-PAR...111

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Quadro 1: Zoneamento socioeconômico e ecológico de Rondônia, segundo zona, destinação, finalidade e área...26 Quadro 2: Sistema MSS dos Satélites LANDSAT 1, 2 e 3 e suas aplicações (INPE, 1997)...50 Quadro 3: Sistema TM do satélite LANDSAT 5 e suas aplicações (adaptado de INPE, 1997)...51

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APP – Área de Preservação Permanente

BIRD – Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento COMAI – Comissão de Avaliação Independente

ECO-92 – II Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

ESG – Escola Superior de Guerra

FERS – Floresta Estadual de Rendimento Sustentado FUNAI – Fundação Nacional do Índio

GTDS – Projeto Gestão Territorial e Desenvolvimento Sustentável IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBGE-SIPRA – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Sistema de Informação de Projetos de Assentamento

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

LABOGEOPA – Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental NUAR – Núcleo Urbano de Apoio Rural

ONG – Organização Não Governamental PA – Projeto de Assentamento

PAD – Projeto de Assentamento Dirigido PIC – Projeto Integrado de Colonização

PIC-PAR – Projeto Integrado de Colonização Paulo Assis Ribeiro PIN – Programa de Integração Nacional

PLANAFLORO – Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia PND – Plano Nacional de Desenvolvimento

POLAMAZÔNIA - Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia POLONOROESTE – Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste

PROTERRA – Programa de Redistribuição de Terra e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste

SIPAM – Sistema de Proteção da Amazônia

SEPLAN – Secretaria de Planejamento do Estado de Rondônia

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UNIR – Fundação Universidade Federal de Rondônia

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1. INTRODUÇÃO...15

2. Revisão bibliográfica...19

2.1. A formação do Estado de Rondônia...19

2.2. Os Planos Nacionais de Desenvolvimento (I e II)...23

2.3. POLONOROESTE e PLANAFLORO...27

2.4. O município de Corumbiara...35

2.4.1. Localização e características...35

2.4.2. Aspectos Físicos...36

2.4.3. O Projeto Integrado de Colonização (PIC) Paulo Assis Ribeiro... 42

2.4.4. Outros Projetos de Assentamentos em Corumbiara... 45

2.4.5. Corumbiara no contexto do Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Rondônia...46

2.4.6. Áreas especiais (Unidades de Conservação e Terras Indígenas)... 48

3. METODOLOGIA...53

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES...58

4.1. 1975 – Um ponto de partida para nosso estudo...59

4.2. 1978 – A ocupação já deixa marcas... 61

4.3. 1981 – O início do POLONOROESTE...63

4.4. 1986 – A falência do POLONOROESTE e os novos projetos de assentamento...67

4.5. 1989 – O primeiro zoneamento de Rondônia... 70

4.6. 1992 – A criação do município de Corumbiara... 75

4.7. 1995 – Um período de conflitos...77

4.8. 1998 – A presença das queimadas...82

4.9. 2000 – A apresentação do segundo zoneamento...87

4.10. 2006 - Panorama atual...94

5. CONCLUSÕES...112

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1. INTRODUÇÃO

Com a vinda para Rondônia para assumir cargo no Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM), deparei-me com uma nova realidade que em muito se diferenciava dos aspectos geográficos do sul do Brasil.

Dada a nova realidade e a impossibilidade de dar continuidade ao primeiro projeto de mestrado, passei a desenvolver um novo projeto que possibilitasse ao mesmo tempo atender ao curso de Pós-graduação em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina e ao Sistema de Proteção da Amazônia, além de possibilitar uma melhor compreensão do processo de ocupação da região.

A escolha do município de Corumbiara, como objeto desta dissertação está relacionada ao convênio existente entre o Sistema de Proteção da Amazônia e a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), através do Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental (LABOGEOPA), que desenvolve pesquisas na Bacia do rio Corumbiara, onde se localiza o referido município.

Ao pesquisar o assunto envolvendo a ocupação dessa área, percebeu-se que o atual estado de Rondônia passou por vários períodos de ocupação, sendo o último relacionado a um grande processo de colonização que iniciou timidamente na metade do século XX e que tomou maior impulso nos últimos trinta anos.

Ao analisar mais detalhadamente, viu-se que esses processos de ocupação tinham, e em muitos aspectos atuais ainda têm, o objetivo de solucionar problemas alheios à realidade regional, seja no abastecimento do mercado externo, seja na absorção de contingentes migratórios de outras regiões devido a distorções do desenvolvimento sócio-econômico brasileiro. Ou, em outras palavras, pode-se dizer com Gutberlet (2002) que o modelo de desenvolvimento adotado hoje na região é um modelo onde se busca a apropriação do espaço e a exploração das riquezas e que muitas vezes não considera as culturas locais e nem as dinâmicas naturais que regem os ecossistemas.

A recente ocupação da Amazônia não levou em consideração a ocupação tradicional, que tinha o rio como seu foco principal, e sim, o padrão desenvolvimentista que gira em torno dos grandes eixos rodoviários. As aglomerações ribeirinhas foram marginalizadas, com exceção das que foram

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cortadas pelos eixos rodoviários (GONÇALVES, 1989; KAMPEL; CÂMARA; MONTEIRO, 2007).

A pergunta que se coloca neste trabalho é como foi efetuada a ocupação da região que compreende o município de Corumbiara, nestes últimos trinta anos?

Desta forma, buscou-se efetuar uma análise espaço-temporal da ocupação do município de Corumbiara e sua relação com o planejamento estatal, desde os Planos Nacionais de Desenvolvimento até o atual Zoneamento Socioeconômico e Ecológico de Rondônia.

Para isso foram estabelecidos os seguintes objetivos: (1) efetuar um levantamento histórico das origens e acontecimentos do atual estado de Rondônia, que repercutiram nos anos posteriores à implantação do antigo Território; (2) levantar dados referentes aos aspectos geomorfológicos, geológicos e da cobertura vegetal original do município de Corumbiara; (3) analisar os diversos projetos governamentais que foram instalados em Rondônia, principalmente na área compreendida pelo atual município de Corumbiara; e (4) verificar as conseqüências no uso da terra advinda dos diversos projetos governamentais que foram implementados no período.

Para orientar o trabalho de desenvolvimento da pesquisa foi efetuada atividade de campo no município de Corumbiara nos dias 04 e 05 de agosto de 2007. Essa atividade contribuiu para o trabalho de análise das diversas imagens de satélite que compõem a pesquisa, assim como para a realização de registros fotográficos durante a visita.

O desenvolvimento da pesquisa foi dividido nas seguintes partes: (1) revisão bibliográfica que buscou tratar do histórico do atual estado de Rondônia e dos diversos projetos de ocupação que se desenvolveram na região; análise multitemporal das imagens do sistema de satélites LANDSAT; (2) caracterização do município; (3) descrição da metodologia e (4) resultados, discussão e conclusões.

A primeira parte trata da revisão bibliográfica sobre o histórico da ocupação da região do estado de Rondônia, os projetos recentes de ocupação e análise do sistema de satélites LANDSAT. Neste item buscou-se efetuar um levantamento dos processos de ocupação que ocorreram na região que compreende o atual estado de Rondônia (trabalho nestes termos devido ao fato de já ter pertencido ao estado do Amazonas, Mato Grosso e de ter sido território federal, antes de se tornar estado em 1981), que vão desde a demarcação do território pelos portugueses, no século XVII,

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passando pela mineração de ouro pelos bandeirantes, jesuítas, os dois ciclos da borracha e finalizando com os grandes projetos de ocupação efetuados a partir da década de 60. Neste item também será abordado um histórico da família de satélites LANDSAT que serão utilizadas na pesquisa.

A segunda parte buscou caracterizar o município de Corumbiara no que tange os seus aspectos naturais e sociais. Neste item também foi trabalhado todo o histórico do Projeto Integrado de Colonização Paulo Assis Ribeiro, base para o início da ocupação atual do município. Também foram efetuados os levantamentos de outros projetos de colonização, das unidades de conservação e das terras indígenas existentes.

Na terceira parte buscou-se mostrar como foram efetuados todos os processos metodológicos, principalmente no que tange aos trabalhos efetuados junto às imagens de satélite, desde sua coleta, até aos acertos de projeção, composição de bandas, corte, análises e layout final.

A quarta e última parte corresponde às análises e discussões sobre a evolução espaço-temporal do município de Corumbiara, mostrando através das imagens de satélite de diferentes épocas, as conseqüências dos diferentes projetos de ocupação e planejamento que foram executados nos últimos trinta anos.

A elaboração desta pesquisa visa contribuir com futuros estudos envolvendo os grandiosos projetos, como os projetos de colonização da década de 70, o POLONOROESTE, o PLANAFLORO, entre outros, que foram efetuados não só no município de Corumbiara, mas em Rondônia e na Amazônia como um todo.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. A FORMAÇÃO DO ESTADO DE RONDÔNIA

A região que atualmente compreende o estado de Rondônia, até meados da década de 60 do século XX, comportou-se da mesma forma que a Amazônia em geral, no que tange às formas de ocupação de seu território. Becker (2005) nos diz que a ocupação se deu em surtos, de acordo com a valorização, no mercado internacional, de seus produtos extrativos. No período do Brasil Colonial, contudo, outras motivações levaram à ocorrência de surtos mais antigos de ocupação, que serão expostos posteriormente.

Um dos primeiros movimentos de ocupação da região que engloba o estado de Rondônia esteve ligado às missões, que para cá vieram com o objetivo de pacificar, catequizar os índios e, de certa forma, ocupar a região, já que havia rumores da presença de holandeses, e também para impedir a ocupação pelos espanhóis vindos do altiplano boliviano (SILVA, 1984).

Ainda segundo Silva (1984), a descoberta de ouro nas águas do rio Corumbiara no século XVII e a preocupação crescente de ocupação das margens direita dos rios Mamoré e Guaporé para garantir as posses portuguesas teriam gerado outro surto.

A diplomacia portuguesa fez prevalecer o uti possidetis (através do Tratado de Madri) e com isso garantiu a posse das margens direita dos rios acima mencionados. Desta forma, para garantir o espaço conquistado, ordenou-se a construção do Real Forte Príncipe da Beira (SILVA, 1984), que até hoje resiste no atual município de Costa Marques/RO, como mostrado na figura 1.

Passados os surtos das missões, do ouro, e definidas claramente as áreas de fronteiras entre Portugal e Espanha, a região entrou em um período de estagnação que finalizou em meados do século XIX quando começou o interesse pela borracha.

Neste período iniciou-se um novo surto de ocupação, com a vinda de migrantes de outras regiões, principalmente de nordestinos fugindo das constantes secas e incentivados pelo governo imperial. Gonçalves (1989) comenta que a escassez de mão-de-obra na Amazônia devido ao massacre indígena da Amazônia,

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junto com a seca nordestina, ensejará uma política por parte do governo imperial de estimular o fluxo migratório, resolvendo, do ponto de vista das classes dominantes, o problema de mão-de-obra para a borracha e deixando intacta a estrutura fundiária do Nordeste.

Figura 1: Real Forte Príncipe da Beira (MOSS, 2007)

Com o plantio, pelos ingleses, de sementes de seringueira, da Amazônia nas colônias inglesas da Ásia e posteriormente o início da produção de borracha naquele continente, a região do atual Estado de Rondônia passou por um novo período de estagnação.

Deve-se lembrar que, no Brasil, as seringueiras estavam dentro da floresta, distantes umas das outras, enquanto que na produção asiática o plantio das mesmas seguiu a lógica agrícola, de árvores alinhadas e próximas umas das outras, o que diminuía o tempo de retirada da seiva e produção do látex.

Houve tentativas de efetuar o mesmo tipo de produção de seringueiras no Brasil, de forma alinhada e próximas uma das outras, mas por ser sua área de origem, havia o problema do fungo Microcyclus ulei, que provoca o adoecimento das seringueiras, diminuindo sua produtividade, coisa que não ocorria na Ásia por a mesma ser exótica naquela região (OTT, 2002).

Assim, a produção brasileira de látex foi desbancada pela asiática e a região entrou em estagnação novamente, até a Segunda Guerra Mundial, quando a Malásia (principal região asiática de produção de látex) foi ocupada pelo Japão, o

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que levou os países aliados a novamente procurar a região para o fornecimento de látex, gerando um novo surto de ocupação.

Esse novo período, considerado áureo para a região, propiciado pela procura do látex, levou à geração de alguns fatos institucionais que foram determinantes em acontecimentos futuros.

É nesse novo ciclo da borracha que temos a criação, por Getúlio Vargas em 1943, do Território Federal do Guaporé. A criação do território (junto com os territórios de Rio Branco e Amapá) estava relacionada com os esforços de guerra brasileiro para a realização do que estava determinado pelo Acordo de Washington (RABELLO, 2004), sendo renomeado para Território Federal de Rondônia, em 1956, através da proposta efetuada pelo Deputado Federal Áureo Melo (SILVA, 1984).

A política de Vargas da “reorganização do espaço político e econômico da Amazônia, possibilitando ao governo central uma melhor intervenção nas áreas de fronteiras” (MATIAS, 2001, p.66), culminou na criação do Território do Guaporé, e foi de grande valia, aproximadamente duas décadas depois, com a implantação dos projetos de colonização.

Conforme Becker (2001), “a manipulação do território pela apropriação de terras dos Estados foi um elemento fundamental da estratégia do governo federal, que criou por decreto territórios sobre os quais exercia jurisdição absoluta e/ou direito de propriedade”.

Desta forma, as políticas de planejamento para a região já estavam sendo desenhadas bem antes dos governos militares, através da criação da SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia), Banco de Crédito da Amazônia (antigo Banco de Crédito da Borracha) e o Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas, todos na década de 50 (d’Araújo, 2007).

Outro exemplo que temos é o início da construção da rodovia BR-29 (atual BR-364), que ligaria posteriormente Porto Velho a Cuiabá, em 1960, por Juscelino Kubitschek. A figura 2 ilustra a chegada de um navio cargueiro trazendo o maquinário para dar início à construção desta rodovia.

Neste sentido, d’ARAÚJO (2007, p. 02) diz que, “a grande diferença que se pode estabelecer, portanto, entre antes e depois de 1964 com relação à Amazônia, não diz respeito aos tipos de planos de desenvolvimento, mas sim à capacidade do governo de implementá-los”.

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Figura 2: Cargueiro Rio Tubarão trazendo os maquinários para abertura da BR-29 e das obras da rodovia (Ronet, 2007).

RABELLO (2004) diz que a grande marca do período militar para compreender sua ação na região foi a ‘Operação Amazônia’, que se constituía em uma série de investimentos e ações políticas destinadas a ocupar, desenvolver economicamente e atender, com isso, às prerrogativas do discurso da Segurança Nacional.

Em 1966 é extinta a SPVEA e em seu lugar criada a SUDAM, através da Lei 5.173, de 27 de outubro de 1966. No quarto artigo dessa Lei, já se delineiam ações que irão resultar na transformação do Território de Rondônia em área de colonização, através da: a) formação de grupos populacionais estáveis, tendente a um processo de auto-sustentação; b) adoção de política imigratória para a região, com aproveitamento de excedentes populacionais internos e contingentes selecionados externos e c) fixação de populações regionais, especialmente no que concerne às zonas de fronteiras; além, obviamente, de outras atribuições que alçariam o desenvolvimento da região.

Desta forma, como um esforço para a implantação da chamada “Operação Amazônia”, o Estado criou o Grupo de Trabalho para a Integração da Amazônia, através do decreto 61.330, de 11 de setembro de 1967, formado por membros de

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quase todos os ministérios e de outros órgãos federais ligados ao desenvolvimento ou à Amazônia; como resultado deste esforço do Estado para o desenvolvimento da Amazônia, temos o Programa de Integração Nacional (Rabello, 2004).

O Programa de Integração Nacional (PIN), executado no governo Médici, em 1970, representará o ponto de partida da ocupação atual do espaço rondoniano, pois sua prioridade, em uma primeira etapa, foi constituída pela construção de estradas e a reserva das laterais das rodovias para a colonização e reforma agrária (Coy, 1988; Rabello, 2004).

A escolha de Rondônia como região prioritária para a colonização se deu devido a, principalmente: “a) a localização da região na continuidade da direção do movimentos das frentes pioneiras do Centro-Oeste rumo ao Norte; b) a existência da estrada Cuiabá – Porto Velho mantendo esta extensão da frente pioneira; c) a situação jurídica das terras de Rondônia facilitando a colonização oficial pela existência de uma porcentagem relativamente elevada de terras públicas e d) pela existência de terras mais férteis do que dentro da média da região amazônica” (Coy, 1988, p.175).

No início dos anos 70, o Estado cria os Planos Nacionais de Desenvolvimento, no intuito de criar mecanismos para organizar a gestão do Estado Brasileiro, sendo que os mesmos eram estabelecidos com períodos de vigência que correspondiam aos dos governos dos Presidentes.

2.2. OS PLANOS NACIONAIS DE DESENVOLVIMENTO (I E II)

O I Plano Nacional de Desenvolvimento (1972 – 1974) fazia parte do período conhecido como “milagre brasileiro” e incorporou o Plano de Integração Nacional e o recém-criado Programa de Redistribuição de Terra e de Estímulo à Agroindústria do Norte e Nordeste (PROTERRA), seguindo, desta forma, com o conjunto de políticas que já vinham sendo desenvolvidas nos moldes do discurso geopolítico da Escola Superior de Guerra (ESG) da década de 50, no sentido de que a área deveria ser “desenvolvida” e “ocupada” e assim não gerar “riscos” à segurança nacional (GTDS, 2006, p. 25).

Essas medidas faziam parte da estratégia do governo de integrar a região à economia nacional, mesmo sendo controversas, no sentido que, ao mesmo tempo

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em que buscavam integrar, também isolavam e discriminavam as regiões a serem integradas, conforme Lei n° 5.727, de 04 de novembro de 1971:

“Além da integração de sentido Norte-Sul, entre áreas menos desenvolvidas, realizar-se-á a integração de sentido Leste-Oeste, principalmente para permitir a associação destes fatores relativamente abundantes nas duas áreas: no Nordeste, mão-de-obra não qualificada, e na Amazônia – Planalto Central, terra e outros recursos naturais. Isso implica reorientação dos fluxos migratórios, a fim de evitar que se dirijam para os núcleos urbanos do Centro-Sul”

De acordo com Rabello (2004, p.88), “as populações nordestinas se constituiriam, assim, na mão-de-obra qualificada para ocupar uma terra desqualificada, ou vice-versa”. Essa é uma demonstração de que esses planos, principalmente o de integração, não tinham um caráter integracionista.

Para a lei que criou o Plano Nacional de Desenvolvimento, a Amazônia era concebida como uma região de fronteira, pois era considerada uma área de expansão da fronteira econômica, para absorver os excedentes populacionais de outras áreas e com isso buscar elevar o nível de renda e bem estar da região.

O Plano Nacional de Desenvolvimento também previa a necessidade do mapeamento das áreas a serem ocupadas, tanto para a ocupação populacional quanto para a implementação de grandes projetos.

Desta forma, surge o Projeto RADAM, que tinha como objetivo efetuar um levantamento aerofotogramétrico de toda a Amazônia Legal, através de mapas e cartas temáticas da topografia, cobertura vegetal, geologia, geomorfologia, natureza e potencial dos solos, drenagem, etc. (RABELLO, 2004).

Para Rabello (2004, p.92) “o Projeto RADAM se constituiu, e ainda hoje se constitui, no mais amplo levantamento já feito na região amazônica acerca de seus potenciais econômicos”.

De acordo com o Relatório Final do GTDS (2006), “apesar da ação do Estado parecer coordenada para estudar os recursos potenciais da região, as preocupações com a ocupação e a defesa não foram esquecidas”. Isso é percebido com a edição do Decreto-lei n° 1.164, de 01 de abril de 1971, que declara em seu primeiro artigo:

“Art.1° São declaradas indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento nacionais, na região da Amazônia Legal, definida no artigo 2° da Lei n° 5.173, de 27 de outubro de 1966, as terras devolutas situadas na faixa de 100 (cem) quilômetros de largura, em cada lado do eixo das seguintes rodovias, já construídas, em construção ou projeto”.

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Para o estado de Rondônia, seriam utilizadas as terras devolutas dos trechos das seguintes rodovias:

“II – BR-319 – Trecho Porto Velho – Abunã – Guajará-Mirim, na extensão aproximada de 270 Km;

III – BR-236 – Trecho Abunã – Rio Branco – Feijó – Cruzeiro do Sul – Japim, na extensão aproximada de 840 Km;

VI – BR-319 – Trecho Porto Velho – Humaitá – Manaus, na extensão aproximada de 650 Km;

IX – BR-364 – Trecho Cuiabá – Vilhena – Porto Velho, na extensão aproximada de 1.000 Km.”

Cabe ressaltar que o uso não poderia ser indiscriminado, pois havia a necessidade de se cumprir o Código Florestal, através de seu artigo 16° (Lei n° 4771, de 15 de setembro de 1965), que determinava o uso de apenas 50% das áreas de florestas nativas ou primitivas (atualmente, pela redação dada pela Medida Provisória n° 2166-67 de 2001, a permissão ao uso passou a 20%).

O INCRA, através de suas atribuições e em cumprimento à legislação, estabeleceu dois modelos de assentamento em Rondônia, os Projetos Integrados de Colonização (PIC) e os Projetos de Assentamento Dirigido (PAD). Ambos possuíam a forma de espinha de peixe, com estradas coletoras de até cem quilômetros, partindo dos eixos rodoviários e, das estradas coletoras construíam-se novas estradas perpendiculares e retilíneas, denominadas linhas (OTT, 2002).

O que diferenciava um PIC de um PAD era o tamanho do lote, do público atendido e da atuação dos órgãos públicos. Neves; Lopes (1979) caracterizam os Projetos de Assentamento Dirigido (PAD) como áreas destinadas a agricultores com maior nível de capacitação profissional, experiência quanto à obtenção de crédito bancário e um mínimo de recursos financeiros. Nas áreas desses projetos o INCRA é responsável pela seleção e assentamento dos beneficiários, pela implantação da infra-estrutura física, loteamento e titulação. As atividades referentes à assistência técnica, comercialização, saúde e educação não estão afetas ao INCRA, mas a outros órgãos diretamente responsáveis, seja ao plano federal, regional, estadual ou municipal.

As mesmas autoras caracterizam os Projetos Integrados de Colonização (PIC) como áreas destinadas à faixa de população de baixa renda, especificamente a agricultores sem terra (§ 2º, art. 25, do Estatuto da Terra), e de preferência àqueles que possuem maior força de trabalho familiar. Nestas áreas, o INCRA identifica e seleciona os beneficiários, localiza-os nas parcelas por ele determinadas,

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fornece a infra-estrutura básica, e, através dos órgãos responsáveis, a nível nacional, regional, estadual e/ou municipal, implementa as atividades relativas à assistência técnica creditícia, à comercialização, saúde, educação, ao mesmo tempo em que deve montar o sistema cooperativo, para facilitar a organização sócio-econômica dos parceleiros. Cabendo também ao INCRA outorgar aos beneficiários o título definitivo de propriedade da parcela.

Enquanto que num PAD os terrenos eram de 250 hectares, no PIC os terrenos tinham no máximo 100 hectares.

Em Rondônia foram criados 5 (cinco) Projetos Integrados de Colonização: PIC Ouro Preto (1970), PIC Sydney Girão (1971), PIC Gy Paraná (1972), PIC Paulo Assis Ribeiro (1973) e PIC Pe Adolpho Pohl (1975); e 2 (dois) Projetos de Assentamento Dirigido: PAD Burareiro (1974) e PAD Mal Dutra (1978) (MATIAS, 2001).

Deve-se salientar que, enquanto os PIC perfazem as políticas de integração do I Plano Nacional de Desenvolvimento, os PAD são oriundos do II Plano Nacional de Desenvolvimento.

Enquanto o I Plano Nacional de Desenvolvimento esteve relacionado com o chamado “milagre econômico”, o II Plano Nacional de Desenvolvimento foi fortemente influenciado pela crise do petróleo de 1974, obrigando o Governo Federal a mudar o foco da ocupação, conforme nos diz Mello (2002), “com o II PND houve o redirecionamento do ‘orçamento do tesouro aos projetos de pecuaristas e

empresários, economicamente mais eficazes’ porque os projetos de colonização

aliados ao atraso técnico dos colonos custavam muito caro” (p.39). No caso da Gleba Corumbiara, o Governo Federal licitou, com incentivos para médias e grandes empresas, áreas de 2000 ha, em média, abrangendo vários municípios, entre eles, Colorado d’Oeste e Cerejeiras (já que Corumbiara ainda pertencia a Colorado d’Oeste naquela época) (MATIAS, 2001).

Mesmo assim, o II PND foi uma tentativa de dar continuidade ao milagre econômico, já que a manutenção das taxas de crescimento era necessária para a afirmação política do regime militar (RABELLO, 2004).

Conforme GTDS (2006, p.33), “o II PND elegeu um novo setor para servir de alavanca à economia nacional: o setor de bens de produção”. Com isso tivemos um aprofundamento das “metas faraônicas” a serem cumpridas pelo Estado, sendo a

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Amazônia palco de novas ações, através do discurso da promoção da integração e do desenvolvimento da região (RABELLO, 2004).

2.3. POLONOROESTE E PLANAFLORO

Tem-se, assim, o desenvolvimento da política de criação de Pólos de Desenvolvimento, fazendo surgir na região o POLOAMAZÔNIA, o POLOCENTRO e o POLONOROESTE, sendo o primeiro e o último com atuação direta em Rondônia.

O POLOAMAZÔNIA foi o Programa de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia e, de acordo com o Decreto n° 74.607 de 25 de novembro de 1974, tinha como objetivo “promover o aproveitamento integrado das potencialidades agropecuárias, agroindustriais, florestais em áreas prioritárias da Amazônia”.

Esse programa causou o crescimento da ação de madeireiras atuando em Rondônia e também mudou a feição da extração de estanho (cassiterita), pois o Estado proibiu a ação de garimpeiros na região, determinando que somente empresas com lavra mecanizada estariam à frente da mineração. Com isso, Rondônia, ainda na década de 70, se torna o maior produtor brasileiro de estanho (RABELLO, 2004).

O POLONOROESTE (Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste) foi um programa financiado pelo Banco Mundial e tinha como principal objetivo o atendimento à região do entorno da rodovia Cuiabá – Porto Velho. Essa preocupação na criação do programa (Decreto n° 86.029, de 27 de maio de 1981) se deu devido ao intenso fluxo migratório (com ocupação espontânea e desordenada da região) e com a incapacidade do governo de dar um correto ordenamento e também o apoio sócio-econômico às populações que chegavam ao território (MATIAS, 2001; RABELLO, 2004).

De acordo com o Decreto n° 86.029, de 27 de maio de 1981, seus principais objetivos foram:

“concorrer para a maior integração nacional; promover a adequada ocupação demográfica da região absorvendo populações economicamente marginalizadas de outras regiões e proporcionando empregos; lograr o aumento significativo na produção da região e na renda de sua população; favorecer a redução das disparidades de desenvolvimento, a níveis inter e intra-regionais; e assegurar o crescimento da produção em harmonia com as preocupações de preservação do sistema ecológico e de proteção às comunidades indígenas”.

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O orçamento foi de aproximadamente 1,2 bilhão de dólares, sendo 70% através do empréstimo pelo Banco Mundial e o restante repartidos igualitariamente entre os governos federal e estadual. Sobre a distribuição desses recursos, Ott (2002, p.110) nos informa:

“59% para infra-estrutura de transporte, o que incluía a reconstrução e pavimentação da BR-364 entre Cuiabá e Porto Velho,..., construção de estradas secundárias dos projetos de colonização para a BR-364 e de estradas vicinais, as chamadas linhas, dos lotes para as estradas secundárias, ou seja, a constituição de uma malha rodoviária que permitiria o escoamento da produção; 33.6% para o desenvolvimento agrícola, que contemplava novos assentamentos às margens da BR-364 e a recuperação de áreas degradadas dos primeiros projetos de colonização; 6,2% para o componente sócio-ambiental, que abrangia saúde e educação (1% para cada) nas áreas de colonização, materializadas sob a forma de construção de postos e escolas nas linhas, proteção ambiental (com 2,1%), que consistia no estabelecimento de florestas nacionais, e questão indígena (também com 2,1%) significando a demarcação e proteção de reservas; finalmente 1,2% dos recursos eram destinados à administração”.

Para MATIAS (2001, p.80), “o POLONOROESTE não atingiu os objetivos projetados durante o período em que teve vigência (1981/1992)”. Ainda segundo o autor, isso ocorreu devido a distorções como a “concepção ideológica desenvolvimentista autoritária e que fundamentou as estratégias e diretrizes dos diversos projetos e subprojetos que constituíram esse programa”.

BARAÚNA (2005, p.69) corrobora essa tese informando que “os objetivos apresentados por eles são muito subjetivos, de difícil alcance; ademais, estão cada vez mais condicionados ou atrelados à execução de ações que são pré-requisitos”. Ainda nos informa a autora que “outro ponto é o fato de que há um horizonte de tempo definido para execução dos planos e programas. E não raro, que objetivos e metas sejam traçados sem tal consideração, para aquele período definido”.

O Programa também não atingiu todos os seus objetivos propostos principalmente em relação a um processo de desenvolvimento que fosse capaz de assegurar o crescimento econômico com sustentabilidade ambiental (Baraúna, 2005, p.66).

Para BARAÚNA (2005, p.66):

“O impacto ambiental causado pelo processo de ocupação no Estado é caracterizado pelos altos índices de desmatamento; invasão das Unidades de Conservação e Terras Indígenas, em razão da expansão das atividades madeireiras; ocupação de terras com baixo potencial agrícola e utilização de terras para pastagens, o que repercutiu de forma negativa provocando inúmeras reações, uma vez que o Banco Mundial, como financiador de parte dos recursos foi responsabilizado pelo financiamento do desmatamento em Rondônia”.

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Em resumo, pode-se dizer que Rondônia recebeu um planejamento governamental centralizado e de uma política de ocupação com base no desenvolvimentismo, onde assistiu a uma exploração dos recursos naturais em nome da modernidade, do progresso.

Em busca de uma estratégia realista e viável de ocupação do espaço físico do Estado, o POLONOROESTE alocou recursos financeiros e técnicos visando a elaboração de uma “Primeira Aproximação do Zoneamento Sócio-Econômico” (Figura 3), que veio a ser concluída em junho de 1988, na escala 1:1.000.000 e instituída pelo Decreto n°3.782, de 14 de junho de 1988, e posteriormente convertida em Lei complementar n° 52, de 20 de dezembro de 1991. (MATIAS, 2001; OTT, 2002; BARAÚNA, 2005).

Figura 3: Primeira aproximação do zoneamento socioeconômico e ecológico de Rondônia. (SEDAM, 2002)

A versão final deste primeiro zoneamento dividiu o Estado em seis zonas e cinco áreas especiais, dentro das zonas 5 e 6, a saber: Áreas Indígenas, Reservas

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Biológicas, Florestas Nacionais, Bacia de Acumulação e Parque Nacional) (OTT, 2002), conforme caracterizado no Quadro 1.

Ainda conforme Ott (2002, p.129), “mas o prenúncio da fase final do POLONOROESTE era a razão primordial para se empreender o zoneamento, que funcionaria para orientar e fundamentar as bases de um novo plano, elaborado sob a orientação do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) e desta vez denominado PLANAFLORO”.

Desta forma, finaliza-se o POLONOROESTE e, com a entrada do PLANAFLORO, denota-se o sentido de urgência que havia em dar continuidade aos planos de desenvolvimento para o Estado.

Quadro 1: Zoneamento socioeconômico e ecológico de Rondônia, segundo zona, destinação, finalidade e área.

ZONA DESTINAÇÃO FINALIDADE ÁREA

(ha)

%

1

Exploração Agropecuária

Ordenamento e recuperação das atividades

agrícolas, pecuárias e agroflorestais. 6.195.000 28

2

Pequenos produtores

Recuperação e desenvolvimento da atividade agropecuária e de agricultura consorciada com culturas permanentes.

3.015.000 13,5

3 Ribeirinha

Aproveitamento de várzeas e terras firmes marginais aos rios, desenvolvendo atividades agroflorestais e pesqueiras.

589.000 2,6

4 Extrativista

Ordenamento e desenvolvimento do extrativismo vegetal de castanha, gomas, óleos, frutos e raízes exploráveis.

3.500.000 15,9

5 Manejo Florestal Importante potencial madeireiro para extração

em escala comercial. 2.435.000 11

6 Conservação e Preservação

Garantir a manutenção dos ecossistemas e o

equilíbrio ecológico. 6.400.000 29

FONTE: SEPLAN-Rondônia, 1990

Porém, deve-se lembrar que para a elaboração deste novo programa o processo de negociação foi longo e complexo, havendo ocorrido muitas interrupções. Havia a preocupação por parte do Banco Mundial em financiar um novo projeto com caráter desenvolvimentista e sem preocupação ambiental, haja vista o que havia ocorrido com o POLONOROESTE, ou seja, problemas ambientais em outro projeto na Amazônia influenciariam negativamente a imagem do Banco. Outro ponto polêmico era a dependência do governo estadual de recursos externos (BARAÚNA, 2005).

Ott (2002) nos mostra a “ambigüidade” que envolvia o PLANAFLORO, pois para o Banco Mundial o projeto representaria o gerenciamento dos recursos naturais

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de Rondônia, enquanto que, para o governo de Rondônia, estaria assegurado o financiamento para atender as necessidades de agricultores, pecuaristas e madeireiros, nos mesmos moldes do projeto anterior.

De acordo com Ott (2002), “para o Banco Mundial o projeto atendia pelo nome de Rondônia Natural Resource Management Project, enquanto para o Governo do Estado era divulgado como Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia

– PLANAFLORO.“

As tramitações para a implantação deste novo programa já estavam sendo discutidas há algum tempo, porém só começaram a serem viabilizadas com a vinda de uma missão do Banco Mundial em 1991, quando receberam e aprovaram para encaminhamento a carta consulta referente ao plano. Simultaneamente foi firmado um protocolo de entendimento entre ONG’s e o Governo do Estado, no qual concordavam que o plano era uma forma de resgatar os pressupostos de sustentabilidade, justiça social e participação democrática. No mesmo ano o Governo aprovava o zoneamento, que consistia em uma barreira para a efetivação do novo projeto (OTT, 2002).

O PLANAFLORO tinha como objetivo principal a implementação de uma estratégia de desenvolvimento sustentável, já que “nascia” em meio a discussões da ECO-92, e o Banco Mundial o utilizava como marketing da instituição, mostrando como a mesma estava se esforçando para o desenvolvimento sustentável para a Amazônia.

De acordo com o Relatório da Equipe de Avaliação do Banco Mundial (1992), o PLANAFLORO possuía os seguintes objetivos específicos:

“a) implementar políticas, regulamentos e programas de investimentos destinados a promover o desenvolvimento sustentável de Rondônia; b) conservara biodiversidade de Rondônia; c) proteger e fazer valer as fronteiras de todas as Unidades de Conservação, Áreas Indígenas, Florestas e Reservas Extrativistas, bem como controlar e prevenir o desmatamento, o transporte de madeira e as queimadas de florestas em Rondônia; d) desenvolver sistemas agrícolas integrados em áreas apropriadas para a agricultura permanente e para agroflorestas; e) apoiar investimentos prioritários em infra-estrutura sócio-econômica e serviços para implementar o zoneamento socioeconômico ecológico; e f) consolidar a capacidades técnica operacional das instituições de Rondônia.” (p.73)

Como pré-requisitos para garantir o objetivo básico do PLANAFLORO, foram estabelecidas uma série de reformas e compatibilizações com as políticas governamentais. De acordo com o Relatório do Banco Mundial (1992, p.95), essas reformas previam:

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a) A institucionalização do zoneamento socioeconômico-ecológico; b) A eliminação do desmatamento como forma de comprovar a utilização da terra para fins de titulação; adequação da política de regularização fundiária; e o estabelecimento de um Instituto Estadual de Terras para desenvolver e administrar a política fundiária estadual, de acordo com o zoneamento;

c) A eliminação ou reformulação de incentivos fiscais ou de outra natureza que estimulem a utilização ineficiente de recursos naturais, os investimentos privados não-sustentáveis e a degradação ambiental;

d) Adoção de políticas apropriadas para a interdição, delimitação, demarcação e proteção de áreas indígenas, e para a provisão de serviços básicos aos seus habitantes;

e) A redução dos níveis de migração espontânea para Rondônia, através da disseminação de campanhas informativas sobre as limitações da estrutura produtiva do Estado, em termos de capacidade de absorção de mão-de-obra;

f) A exigência de compatibilidade dos programas de investimento dos órgãos estaduais e federais, com as recomendações do Zoneamento Socioeconômico-Ecológico.

Esse programa constituiu-se em um projeto de grande complexidade, devido ao fato de haver inúmeros atores envolvidos, muitas particularidades, além da proposta de mudanças de comportamento da sociedade, que consistia em sair do modelo de desenvolvimento praticado até então para um modelo de desenvolvimento baseado em critérios de sustentabilidade, algo novo para a época (BARAÚNA, 2005).

O PLANAFLORO se iniciou em 1993, porém teve inúmeras dificuldades de implementação de suas metas, enfrentou problemas de descontinuidade que, conforme Baraúna (2005), “vão desde a questão do desembolso dos recursos, contrapartida dos governos estadual e federal, até as mudanças de governo, o que acarretou em certos momentos, a paralisação do programa”. (p.76)

O programa foi concebido para ser realizado em 3 anos, porém, em 1996 essa data foi adiada. Segundo a Comissão de Avaliação Independente – COMAI, que analisava o programa, foi constatado que: “1) os objetivos não estavam sendo alcançados; 2) os resultados alcançados não estavam consolidados, significando que não tinham sustentabilidade; 3) as diversas razões que justificaram a implantação do PLANAFLORO ainda persistem; 4) os problemas sociais e ambientais de Rondônia teriam tendências de agravamento, caso houvesse o encerramento do PLANAFLORO; 5) havia necessidade de se modificar a forma de execução do Programa” (BARAÚNA, 2005, p78).

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Desta forma, houve uma reformulação do projeto, onde componentes e subcomponentes foram ou excluídos, ou redimensionados, ou realocados; órgãos executores reduzidos e os recursos restantes remanejados.

No total, o programa levou 10 anos para ser concluído, e o relatório final do Banco Mundial de 2003, mostrou que muitos componentes e sub-componentes foram apresentados de forma confusa e/ou incoerente; que iniciativas para outros eram ineficazes, como em relação à regularização fundiária. Em suma, as iniciativas promovidas foram consideradas como “incipientes, descoordenadas e sem visão estratégica“.

Por fim, deve-se considerar que o maior legado deixado pelo PLANAFLORO consistiu na segunda aproximação do zoneamento, já que o mesmo poderia se considerar como o mais bem sucedido dos componentes do PLANAFLORO, pois, pelo menos sua conclusão corresponderia ao planejamento original (OTT, 2002).

Conforme BARAÚNA (2005, p.85), “o Zoneamento Socioeconômico e Ecológico do Estado de Rondônia (ZSEE/RO) ganhou uma dimensão elevada, por vezes se confundindo com o projeto, constituindo-se, em Rondônia, num instrumento formal, sendo instituído por decreto e, posteriormente, como lei estadual”.

O ZSEE/RO foi aprovado através da Lei Complementar n°233, de 06 de junho de 2000, ao custo de 22 milhões de dólares e 14 anos após a primeira aproximação, mostrando que o Estado estaria apto “a direcionar e/ou redirecionar as ações antrópicas de forma a adequá-las à base física existente, objetivando conferir um desenvolvimento sustentável ao conjunto do Estado” (CONSIDERAÇÕES, 2000, p.17).

Utilizando-se de uma escala de trabalho de 1:250.000, gerou com isso um nível de detalhamento muito superior à primeira aproximação, feita na escala de 1:1.000.000. Os levantamentos foram efetuados em diferentes campos do conhecimento: geologia, geomorfologia, pedologia, aptidão agrícola, climatologia, hidrologia, hidrogeologia, vegetação (inventário florestal e florístico), fauna (ictiofauna, mastofauna, herpetofauna, avifauna, entomologia de vetores e agrícola), uso e ocupação do solo (áreas urbanas, áreas de pastagens, áreas com agricultura, vias de acesso), situação e estrutura fundiária, sócio-economia (demografia, PIB, infra-estrutura social e econômica, setores produtivos), vulnerabilidades ambiental, sistemas naturais e sócio-econômicos e o zoneamento (OTT, 2002).

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Tendo esse significativo conjunto de informações, as seis zonas da primeira aproximação do Zoneamento Sócio-econômico foram reduzidas a três grandes zonas nesta segunda aproximação (Figura 4), com suas respectivas subzonas, conforme expôs (OTT, 2002):

• Zona 1, dividida em 4 subzonas e ocupando 50,45% da área do Estado, destinadas a diferentes usos, principalmente agropecuários, agroflorestais e florestais, com graus variáveis de ocupação e vulnerabilidade ambiental. Na sua área localizam-se 42 dos 52 municípios rondonienses;

• Zona 2, dividida em 2 subzonas e ocupando 14,6% da área do Estado, destinada à conservação dos recursos naturais, passíveis de uso sob manejo sustentável;

• Zona 3, dividida em 3 subzonas e ocupando 34,95% da área do Estado, destinada às unidades de conservação de uso direto (floresta estaduais de rendimento sustentado, florestas nacionais, reservas extrativistas), unidades de conservação de uso indireto (estações ecológicas, parques e reservas biológicas, patrimônio espeleológico reservas particulares do patrimônio natural) e reservas indígenas. (p.231)

Figura 4: Segunda aproximação do Zoneamento Socioeconômico Ecológico de Rondônia. (PLANAFLORO, 2000)

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Quando findo o programa, o ZSEE tornou-se sinônimo do PLANAFLORO. O governo em suas publicações direcionadas ao público externo, destacava com ênfase o “sucesso” na execução do zoneamento, bem como enfatizava a criação e demarcação de 51 unidades de conservação (24 reservas extrativistas, 06 parques, 04 reservas biológicas, 04 estações ecológicas, 11 florestas estaduais, 2 florestas nacionais), além de 22 áreas indígenas. Porém, todos os outros componentes do PLANAFLORO foram discretamente esquecidos (OTT, 2002).

2.4. O MUNICÍPIO DE CORUMBIARA

2.4.1. Localização e características

É nesse contexto de formação e desenvolvimento do estado de Rondônia que cabe estudar o município de Corumbiara, que se localiza no sul do Estado de Rondônia, localmente chamado de “Cone Sul” (Figura 5). Faz parte da bacia do rio de mesmo nome, afluente da margem direita do rio Guaporé. Limita-se ao Norte com o município de Chupinguaia, ao sul com o município de Cerejeiras, ao leste com o município de Pimenteiras do Oeste e ao oeste com os municípios de Chupinguaia e Colorado do Oeste.

A origem do município está diretamente ligada ao Projeto Integrado de Colonização Paulo Assis Ribeiro, através do NUAR (Núcleo Urbano de Apoio Rural) Nova Esperança (GTDS, 2006).

Desta forma, é um município recente, desmembrado de Colorado d’Oeste e Vilhena através da Lei n° 377 de 13 de fevereiro de 1992. Possui uma população estimada de 9.476 habitantes, conforme censo 2007; a sua economia é baseada principalmente nas atividades de silvicultura (dados não disponíveis), pecuária bovina (efetivo de 282.155 cabeças – 2005) e agricultura (sendo os principais produtos pimenta-do-reino, arroz, feijão, milho e soja) (dados IBGE).

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Figura 5: Localização do município de Corumbiara no Estado de Rondônia

2.4.2. Aspectos Físicos

2.4.2.1. Geologia

De acordo com os dados disponíveis do PLANAFLORO, o município possui feições geológicas que vêm do Proterozóico até o Holoceno, conforme se observa na Figura 6.

Do Proterozóico, dentro do mesoproterozóico, temos o Grupo Metavulcano-Sedimentar Colorado do Oeste (MPco), Grupo (meta)vulcano-sedimentar indiferenciado (MPi) e Granitóides Tardi a Pós-Rondonianos (MPgr).

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Figura 6: Mapa geológico do município de Corumbiara (adaptado PLANAFLORO, 2000)

Do Mesozóico temos a ocorrência da Formação Arenito Parecis (Membros Siltito-Arenito Flúvio Lacustre – Kp2, Arenito Fluvial – Kp1 e Indiferenciado – Kpa) e da Formação Basalto Anari (Kba).

Do Terciário-Quaternário temos os solos arenosos elutriados (TQsa), sedimentos indiferenciados (coberturas neogênicas) (TQi), Terraços Fluviais Pleistocênicos (Qpt), sedimentos aluvionares e coluvionares pleistocênicos (Qpa) e sedimentos aluvionares e coluvionares holocênicos (Qha).

2.4.2.2. Geomorfologia

Geomorfologicamente a área de estudo é caracterizada principalmente por planícies aluviais e depressões, unidades denudacionais e unidades estruturais/denudacionais, conforme mostra a figura 7 (PLANAFLORO, 2000).

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Figura 7: Mapa Geomorfológico do Município de Corumbiara (adaptado PLANAFLORO, 2000).

As planícies aluviais e depressões localizadas na porção oeste do município (representadas siglas A15 - leques dissecados, A211 – terraços altos não dissecados e A32 - rios secundários) são caracterizadas pela presença de redes da drenagem que aflui de uma área mais alta e, ao chegar a cotas mais baixas e com relevo menos declivoso, espraia-se em um sistema distributário, depositando a carga sedimentar mais grosseira em sua posição proximal e as frações mais finas na porção distal.

Em trechos da planície temos a ocorrência de rios de menor porte que possuem uma dinâmica de fluxo no período de cheia, estando os mesmos nas áreas marginais do rio Corumbiara, correspondendo, no mapa, das áreas representadas pela sigla A32, na porção sul do município.

As unidades denudacionais (figura 8) são formas geradas por processos de intemperismo e erosão que são responsáveis pelo rebaixamento progressivo das formas de relevo, ocorrendo em seu interior a formação de colinas baixas e médias. Ocorrem principalmente na porção central do município em direção ao norte.

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Figura 8: Unidade denudacional que ocorre na porção central do Município

Essas unidades são representadas no mapa pelas siglas D12 (unidades denudacionais com dissecação média), D13 (unidades denudacionais com dissecação alta), D31 (aberto com colinas/inselbergs baixos e médios), D32 (denso com colinas/inselbergs médios a altos) e D2221 (com dissecação média e nenhum ou esporádicos inselbergs e tors).

Para o sul e leste temos, por fim, as unidades estruturais/denudacionais onde os efeitos estruturais, como por exemplo, a disposição de camadas, faixas de dobramentos, falhas, blocos basculados, intrusões, entre outros, que interferem na conformação da morfologia atual, por exemplo (principalmente na porção leste do município), a ocorrência de agrupamentos de morros e colinas com controle estrutural, conforme se observa na figura 9.

Essas representações geomorfológicas aparecem no mapa geomorfológico com as siglas iniciadas em “S”; S110 (planas com ferricrete cap rock), S111 (superfícies tabulares em rochas sedimentares com baixa dissecação), S112 (superfícies tabulares em rochas sedimentares com baixa a média dissecação) e S32 (agrupamentos de morros e colinas com controle estrutural).

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Figura 9: Morro com controle estrutural

2.4.2.3 – Solos

Os solos existentes na região de estudo estão, segundo a classificação de solos do Brasil (versão 2006), classificados como Argissolos, Gleissolos, Latossolos e Neossolos (figura 10).

Os Latossolos predominam na área de estudo, em aproximadamente 76% da área, através do Latossolo Amarelo Distrófico, Latossolo vermelho-amarelo Distrófico, Latossolo Vermelho Distrófico e Latossolo Vermelho Eutrófico.

Posteriormente temos a presença dos Neossolos (aprox. 9%), através dos Neossolos Flúvico Eutróficos e Neossolos Quartzarênicos, dos Gleissolos (aprox. 7,70%), através dos Gleissolos Tiomórficos Distróficos e dos Argissolos (aprox. 7,30%), através dos Argissolos Amarelo Distróficos e Argissolos Vermelho-Amarelo Eutróficos.

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Figura 10: Mapa pedológico do município de Corumbiara (adaptado de PLANAFLORO, 2000).

2.4.2.4 – Vegetação

A vegetação sofreu fortes alterações no município de Corumbiara, e hoje poucos são os remanescentes florestais encontrados no município.

Em pequena escala temos, ainda, porções da Floresta Ombrófila Densa, que é caracterizada por um dossel contínuo, fechado. Dominância de árvores na abóbada, sem associações co-dominantes. Sua subdivisão é caracterizada pela Floresta Ombrófila Densa Aluvial, Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, Floresta Ombrófila Densa Submontana (PLANAFLORO, 2000).

Outra formação vegetal que obviamente se encontra bastante alterada é a das Florestas Pioneiras sob influência fluvial. As mesmas correspondem à vegetação florestal ou não, que cresce sobre terrenos quaternários inconsolidados, apresentando diferentes graus de inundação. Apresenta dossel geralmente uni-estratificado nas formações pioneiras arbóreas. O porte e a contribuição do estrato herbáceo são determinados pela influência fluvial e pela cota altimétrica do terreno. Locais mais baixos e com maior período de inundação favorecem formações

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pioneiras herbáceas. O principal tipo encontrado são Florestas Pioneiras sob Influência Fluvial de Buritis (PLANAFLORO, 2000).

2.4.2.5 – Clima

Conforme a classificação de Köppen, o clima predominante no município é classificado como Aw, ou seja, tropical, quente, com chuvas de verão. A temperatura média anual está representada pela isoterma de 24ºC. A umidade relativa situa-se entre os 80 e 85% e a precipitação pluviométrica entre 1750 e 2000 mm, com 3 a 4 meses secos (junho, julho, agosto e setembro) (PLANAFLORO, 2000).

2.4.3.

O Projeto Integrado de Colonização (PIC) Paulo Assis

Ribeiro

Como já mencionado, o PIC Paulo Assis Ribeiro (PIC-PAR) foi criado pela Portaria do INCRA n°1480, de 10 de outubro de 1973, sendo realmente implantado a partir de 1974. O mesmo está localizado fora do eixo da BR-364, 100 km a sudoeste de Vilhena, em terras da União, no limite com Mato Grosso e fronteira com a Bolívia. Além de Corumbiara, outros quatro municípios surgiram direta ou indiretamente devido ao PIC-PAR: Colorado do Oeste, Cerejeiras, Cabixi e Pimenteiras do Oeste (Figura 11). A região compreendida por esses municípios possui as terras mais férteis do Estado (terra roxa), além de ser rica em madeiras nobres como o Mogno e a Cerejeira.

Quando da implantação do PIC-PAR, a área do projeto ainda pertencia ao município de Guajará-Mirim; posteriormente, passou a pertencer ao município de Vilhena, quando da emancipação do mesmo em 1977. Em 1981, ocorreu a emancipação de Colorado d’Oeste, e em 1983 o PIC foi repartido entre Colorado d’Oeste e Cerejeiras, com a emancipação deste último. Por fim, ocorreu a criação do município de Corumbiara, em 1992 (Cabixi – 1988 e Pimenteiras d’Oeste – 1995, estavam indiretamente ligados ao PIC-PAR). A figura 12 mostra as datas de emancipação dos municípios de Rondônia.

Para a implantação do PIC Paulo Assis Ribeiro, estava prevista uma área de 600.000 ha. Porém a área era alvo de disputa entre nove grupos financeiros

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interessados em explorar o potencial madeireiro e as terras da região. Com a exclusão de zonas alagadas não consideradas favoráveis ao assentamento de parceleiros e, também a regularização da situação de antigos posseiros residentes dentro do perímetro do PIC, à época de sua implantação, a área foi reduzida para 293.580ha (VALVERDE, 1979).

O INCRA havia previsto assentar 3.656 famílias em lotes de 100 ha no PIC-PAR e, de acordo com os primeiros estudos efetuados pelo IBGE, em 1976, 2.757 famílias (em torno de 13.785 pessoas - média IBGE de 5 pessoas/família) já haviam sido assentadas. Do núcleo principal do PIC-PAR, Colorado do Oeste, 600 lotes já haviam sido ocupados em 1976, entre lotes residenciais e industriais (para serrarias, olarias, descascadoras, etc.). Os dados atuais do IBGE-SIPRA, indicam 3.106 famílias assentadas (15.530 pessoas) (GTDS, 2006).

Figura 11: Localização do PIC-PAR e dos municípios que se originaram posteriormente do mesmo (Colorado do Oeste, Cabixi, Corumbiara, Cerejeiras e Pimenteiras do Oeste).

A saúde, educação e saneamento estavam, de acordo com o Decreto 60.296, de 03 de março de 1967, sob a responsabilidade da SUDAM. Porém, enquanto a iniciativa privada era auxiliada pelo Estado com financiamentos, os mesmos não aconteciam para essas áreas (RABELLO, 2004).

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