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Para o desenvolvimento dos resultados e discussões fez-se uma análise multitemporal da área do atual município de Corumbiara, utilizando imagens de satélite da família LANDSAT (1, 2, 3 e 5), conforme exposto no capítulo referente à metodologia, com um maior detalhamento em pontos de maior interesse para a discussão.

A área do atual Estado e então Território de Rondônia sofreu profundas mudanças em seu território a partir da década de 60, através dos planos de desenvolvimento governamentais implementados para efetivar a ocupação da Amazônia.

Rondônia foi escolhido para ser o palco dessas políticas de colonização devido principalmente ao acesso facilitado para o Centro-Sul (BR-364), à disponibilidade de terras e por ser área sob controle federal (MIRANDA, 1990). Deve-se ressaltar que a ocupação, pelo processo de colonização, se deu principalmente no eixo da rodovia: desta forma, os pontos mais distantes da mesma tardariam a serem ocupados.

Muitas vezes se tem a falsa impressão de que a colonização se tornou igualmente efetiva em todos os pontos dos projetos de colonização, ou do Estado, devido à forma com que são tratadas essas questões.

Miranda (1990) nos fala sobre a vinda maciça de produtores descapitalizados para as áreas de colonização dirigida.

Coy (1988, p. 176) também retrata o tema quando fala da “forte migração

incessante rumo a Rondônia” (grifos meus).

Baraúna (2005) destaca o rápido crescimento populacional, em comparação com as taxas de crescimento dos outros estados da federação, assim como Santos (1982, p.51) que nos diz que “essa rápida expansão demográfica se fez em virtude dos fortes contingentes migratórios que demandavam o Território”.

Os números totais impressionam: passam de pouco mais de 111.064 habitantes em 1970, para 1.379.787 habitantes em 2000 (IBGE, 2000). Mas, apesar de o Estado como um todo ter uma área total de 243.000 km2, o que se constata hoje é uma grande concentração de habitantes, principalmente no eixo da rodovia BR-364.

4.1. 1975 – UM PONTO DE PARTIDA PARA NOSSO ESTUDO

No caso específico do atual município de Corumbiara, na imagem do satélite LANDSAT 1 MSS de 1975 (figura 18), não era percebida a ocupação por parte dos parceleiros na porção do município que compreende o PIC Paulo Assis Ribeiro, que havia sido implantado um ano antes: a cobertura vegetal estava bem preservada, havendo apenas um pequeno ponto de possível desmatamento na porção superior direita da área e um pequeno campo de pouso às margens do rio Corumbiara (destacados pelos círculos vermelhos na figura 18).

Em continuação na análise da figura 18, é visível através de grandes manchas rosadas na porção leste da área do atual município de Corumbiara, a presença de cerrados, ocorrendo em quase toda a extensão da Serra dos Parecis, atingindo os municípios de Vilhena, Chupinguaia, Colorado d’Oeste e Corumbiara.

Figura 18: Imagem LANDSAT 1 MSS (4R5G3B) de 1975, com detalhamento do pequeno ponto de desmatamento no círculo oval ao norte e campo de pouso no círculo ao sul, às margens do rio Corumbiara.

O rio Corumbiara possui suas principais nascentes localizadas nestas áreas rosadas da porção oeste, atravessando diagonalmente o município de Corumbiara, até o ponto onde o mesmo estabelece o limite sul do município, com fluxo para a direção oeste.

Conforme foi visto no capítulo I, o PIC-PAR foi o responsável pelo surgimento do município de Corumbiara, entre outros. No detalhe da imagem LANDSAT 1 MSS (figura 19) aparece a porção do PIC-PAR que está localizado dentro da área do atual município de Corumbiara, onde a ocupação pelos parceleiros ainda não se iniciou, principalmente devido ao pouco tempo de implantação do PIC-PAR, em torno de 1 ano, e a distância deste ponto até o núcleo principal (Núcleo Colorado).

As estradas ainda não estavam abertas neste período, não evidenciando a principal característica das ocupações no estado de Rondônia, as chamadas “espinhas de peixe”, que é a supressão da floresta partindo-se do eixo principal e das linhas vicinais, ou seja, da estrada principal e das estradas secundárias.

Figura 19: As linhas retas delimitam a área correspondente ao PIC–PAR em 1975, sem a presença visível dos parceleiros e com detalhe do campo de pouso no círculo vermelho.

Neste período das figuras 18 e 19 (referentes a imagem LANDSAT de 1975), o I PND já havia terminado e o Brasil estava sentindo os reflexos da crise do Petróleo, que tiveram efeitos diretos no II PND, onde os projetos integrados de colonização de pequenas propriedades deram lugar para os grandes empreendimentos, principalmente pecuaristas e empresários, considerados menos onerosos pelo governo.

4.2. 1978 – A OCUPAÇÃO JÁ DEIXA MARCAS

Durante a vigência do II PND, temos a mudança de jurisdição municipal sobre a área de estudo, com a emancipação, em 1977, de Vilhena, sendo desmembrado de Porto Velho e Guajará-Mirim. Neste período foi criada a gleba Corumbiara, que eram áreas de 2000 a 3000 ha, destinadas a grandes empreendimentos, conforme visto no capítulo I. Parte desta gleba está inserida na área de estudo e, na imagem do satélite LANDSAT 2 MSS de 1978 (figura 20), já é visível a presença de grandes desmatamentos ocorrendo na porção correspondente à gleba (faixas em branco na porção norte do município), conforme se observa em detalhe na figura 21.

Figura 20: Imagem LANDSAT 2 MSS (4R5G3B) de 1978, onde a região do atual município de Corumbiara, ainda pertencente a Guajará-Mirim, apresenta poucas alterações em sua cobertura vegetal original.

Figura 21: Detalhe da imagem LANDSAT 2 MSS de 1978 com a indicação (setas amarelas) do início do desmatamento na área da Gleba Corumbiara, na porção norte da área do atual município de Corumbiara.

Na figura 22, com maior detalhamento da figura 20, é possível visualizar melhor o início do processo de ocupação do PIC-PAR da área do município de Corumbiara pelos parceleiros, que após quatro anos de início da ocupação, começam a se estabelecer nesta parte. Os mesmos estão indicados com setas amarelas, sendo que a seta vermelha mostra mais detalhadamente o campo de pouso nas proximidades (já informado anteriormente), provavelmente relacionado com alguma fazenda da região, já que o mesmo existia antes da implantação do projeto.

Uma das possíveis causas da demora na ocupação mais intensa destes pontos do PIC-PAR reside no fato de os mesmos estarem distante do NUAR Colorado d’Oeste, núcleo principal e sede do PIC-PAR, e as estradas de acesso ainda estavam sendo abertas, viabilizando a supressão da floresta.

Figura 22: Abertura de linhas de ocupação na porção do PIC-PAR que engloba a área do atual município de Corumbiara (setas amarelas) e campo de pouso mais antigo, fora da área do mesmo (seta vermelha)

4.3. 1981 – O INÍCIO DO POLONOROESTE

A figura 23, da imagem LANDSAT 3 MSS de 1981, mostra um aumento significativo da ocupação da área do atual município de Corumbiara, que serão vistas com mais detalhes nas figuras 24 e 25.

É neste ano também que se tem a implementação do Projeto Noroeste (POLONOROESTE), já descrito no capítulo I, com recursos do Banco Mundial, na ordem de US$ 1,2 bilhão de dólares, o projeto tinha por objetivo reconstruir e pavimentar a BR-364, a construção das estradas secundárias e vicinais dos projetos de colonização, o desenvolvimento agrícola com a recuperação de áreas degradadas, a saúde, a educação e a proteção ambiental, sendo os três últimos componentes “agraciados” com aproximadamente 6% de todo o montante.

Figura 23: Imagem LANDSAT 3 MSS (4R5G3B) de 1981, onde já é visível a ocupação tanto na área da Gleba Corumbiara quanto do PIC-PAR.

Com as transformações advindas da injeção financeira, efetuadas pelo POLONOROESTE, tivemos um incremento nas taxas de desmatamento e também um aumento considerável no número de migrantes, facilitado pela melhoria de acesso à região.

Coy (1988) chama a atenção para o fato de que essas mudanças atraíram muitas vezes migrantes bem servidos financeiramente, o que causou em muitos pontos dos projetos de colonização a concentração dos estabelecimentos, quando esse migrante adquiria inúmeras propriedades de 100 ha, gerando estabelecimentos maiores e, em conseqüência, uma exploração maior da propriedade com a supressão da floresta para a formação de pastos e criação de gado.

Na figura 24, em detalhe, se observa como a espinha de peixe já está mais definida, com grandes rasgos na floresta por conta da ocupação pelos parceleiros que necessitavam efetuar benfeitorias e assim ter acesso à titulação da terra. Note- se, também, o extravasamento das linhas vicinais do PIC-PAR, na porção oeste do empreendimento, com o início da supressão da floresta nestas áreas.

É bem verdade que a venda da madeira também auxiliava na renda familiar, melhorando o padrão de vida, já que as dificuldades em escoar a produção agrícola ainda eram muito grandes naquele período e sem contar, também, que o mercado consumidor estava muito longe do ponto de produção.

Figura 24: Ocupação da área do PIC-PAR, com a visualização do sistema “espinha de peixe” e o extravasamento dos mesmos para o oeste e norte deste trecho do projeto.

A imagem obtida do ano de 1981 nos mostra as conseqüências diferenciadas da mudança na forma de ocupação da terra. A forma de exploração em espinha de peixe, com a supressão da floresta gerada pelos pequenos parceleiros (figura 24), com poucos recursos e dependendo exclusivamente da mão de obra familiar; e na figura 25, o contraste que corresponde à supressão em grandes áreas contínuas, iniciada pelos grandes empreendimentos, madeireiros e pecuaristas, com a formação de pastagens para a criação do gado, e que desobedece totalmente o Código Florestal.

Figura 25: Mudança nas formas de ocupação do espaço amazônico, com supressão da floresta em grandes áreas contínuas, conforme pode ser percebida na área da gleba Corumbiara, na porção oeste da área do município de Corumbiara.

O que se percebe, também, é a diferença na geomorfologia entre as áreas do PIC-PAR e as grandes áreas destinadas aos pecuaristas e empresários. Enquanto que na primeira área temos um forte agrupamento de morros e colinas, na segunda a paisagem é muito mais plana, com geomorfologia mais suave, conforme a figura 26.

Figura 26: Diferença geomorfológica entre a área do PIC-PAR (à esquerda) com a dos grandes empreendimentos (à direita).

Em 1981 ocorre uma nova mudança nas políticas municipais, com a emancipação do NUAR Colorado, que era o núcleo principal do PIC-PAR, desmembrando-se de Vilhena. Com isso a área do atual município de Corumbiara, passa a pertencer a Colorado d’Oeste.

4.4. 1986 – A FALÊNCIA DO POLONOROESTE E OS NOVOS

PROJETOS DE ASSENTAMENTO

Cinco anos após o início do Programa POLONOROESTE, é possível observar, na Figura 27, de 1986, a intensificação dos processos de ocupação e supressão da floresta, em toda a região, sem nenhuma preocupação de manter, pelo menos, as áreas de proteção permanente, mostrando que o programa, com seu caráter eminentemente desenvolvimentista, estava realmente propiciando as condições para uma exploração cada vez mais predatória da mesma.

Figura 27: A figura do LANDSAT 5 TM (4R5G3B) de 1986 mostra o incremento do desmatamento tanto na área do PIC Paulo Assis Ribeiro como, principalmente, das áreas de formação de pastagens mais a oeste, na área da antiga gleba Corumbiara.

A figura 28, em detalhe, percebem-se também grandes extensões desmatadas nas áreas ao redor do PIC-PAR, tanto ao norte quanto a oeste. A grande porção a oeste é atualmente pertencente ao grupo FERTIPAR, que cultiva soja nesta grande área.

Figura 28: Extravasamento contínuo da área do PIC PAR, com a abertura e supressão da floresta indo em direção à gleba Corumbiara, a oeste. No círculo vermelho temos a área atualmente pertencente à FERTIPAR, com o cultivo de soja.

No ano de 1984, ou seja, dois anos antes da obtenção da imagem da figura 29, a FUNAI começou a colher relatos de existência de índios nestas áreas que estavam sendo desmatadas, porém, os fazendeiros locais informavam que não havia mais índios na região, conforme visto no capítulo 1.

A prática de eliminar os vestígios da existência de grupos indígenas por madeireiros e fazendeiros com medo de perderem suas terras, não é incomum. MILANEZ (2007) nos relata que índios isolados são constantemente ameaçados por grileiros e madeireiros temerosos de perderem as suas terras, devido à possibilidade de interdição das mesmas pela FUNAI.

Figura 29: Intenso processo de supressão florestal, na área da antiga gleba Corumbiara, com a abertura de grandes áreas contínuas

Em 1986 foi criado o Projeto de Assentamento Vitória da União (figura 30), em uma tentativa do INCRA de aliviar as tensões que começam a existir nesta região, devido às facilidades de acesso propiciadas pelo programa POLONOROESTE.

É interessante ressaltar que os novos projetos de assentamentos proporcionados pelo INCRA em nada se assemelham com os antigos projetos (PIC e PAD), sendo que nestes últimos, o órgão apenas efetuava os picadões de acesso (abertura na floresta) e colocava os piquetes de demarcação dos lotes, não havendo nenhum outro tipo de infra-estrutura, tais como estradas, escolas, postos de saúde e nem auxílio a crédito ou garantia de compra de sua futura produção.

Figura 30: Linhas retas e o leito do rio Corumbiara, ao sul, delimitam a área, até então bastante preservada, onde foi estabelecido o projeto de assentamento Vitória da União.

4.5. 1989 – O PRIMEIRO ZONEAMENTO DE RONDÔNIA

Em 1988, através do Decreto n° 3782, de 14 de junho de 1988, é instituído o primeiro Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico do Estado de Rondônia. Pelo Zoneamento, a área que atualmente compreende o município de Corumbiara foi designada a oeste do igarapé Omerê (figura 31), através desta primeira aproximação, como sendo a zona 6 (na área destinada à Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Rio Mequéns, que seria decretada no ano de 1990) e no restante do município, como a zona 1.3, indicada como “apropriada para o ordenamento das atividades agropecuárias baseada em culturas perenes consorciadas, com prioridade para o café e pastagens cultivadas; em consórcio com leguminosas arbóreas, arbustivas e rasteiras” (RONDÔNIA, 1988).

Figura 31: A continuidade dos desmatamentos é visível na imagem obtida em 1989 pelo satélite LANDSAT 5 TM (3R5G3B), com padrões diferenciados de desmatamento. O igarapé omerê, identificado na imagem, é o ponto de divisão, dentro do primeiro zoneamento, onde temos a zona 6 na porção oeste e zona 1.3 na porção leste.

Na figura 32, observa-se o padrão diferenciado de desmatamento que ocorreu, entre 1986 e 1989, na área correspondente ao PA Vitória da União, na porção central sul do município de Corumbiara. Percebe-se que difere em relação às grandes áreas de florestas que estavam sendo suprimidas em outras partes da área de estudo (principalmente na porção oeste).

Ainda em 1988, o INCRA, buscando aliviar as tensões sociais provocadas pela contínua migração ao Estado de Rondônia, estabeleceu mais um projeto de assentamento na região, o PA Verde Seringal, que tem partes de sua área no extremo nordeste do município de Corumbiara (na época ainda pertencente a Colorado d’Oeste), conforme se observa na figura 33.

Figura 32: Detalhamento que permite melhor comparação da ocupação do PA Vitória da União entre 1986 (criação do PA) e 1989.

Figura 33: Localização do PA Verde Seringal, estabelecido em 1988, na imagem LANDSAT 5 TM de 1989. As manchas maiores correspondem aos cerrados do topo da Serra dos Parecis.

Da mesma forma, as mudanças continuam a ocorrer na área do PIC Paulo Assis Ribeiro, com a contínua supressão da floresta para dar lugar às pastagens e agricultura (figura 34).

Nesta imagem pode-se observar como, neste regime de aproveitamento da terra, embora a supressão da floresta não seja contínua, as áreas remanescentes

tornam-se gradativamente mais isoladas, o que dificulta a continuidade dos deslocamentos da fauna, e prejudica sobremaneira a manutenção da biodiversidade.

Figura 34: PIC Paulo Assis Ribeiro em 1989, com a supressão continuada da floresta.

Por outro lado, a área da Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Rio Mequéns (FERS Rio Mequéns), que foi criada oficialmente através do Decreto n°4573, de 23 de março de 1990, registrava já em 1989 um processo de exploração em grandes glebas, como se observa na Figura 35, o que certamente criaria grandes conflitos com os proprietários, caso viesse a ser efetivamente implantada, Em relação à imagem de 1986, houve um significativo aumento da área de florestas suprimida, começando a ocorrer a ligação entre os desmatamentos que até então estavam de certa forma “isolados”; assim, temos grandes faixas de desmatamentos em plena área que deveria ser de uso sustentado da floresta.

Vale ressaltar a falta de comunicação entre as instituições governamentais, pois quando da criação da FERS pelo Governo de Estado a mesma se sobrepôs sobre um trecho do PA Vitória da União que havia sido criado pelo INCRA em 1986 (figura 36). E o que se verá nos anos posteriores é a continuidade desta falta de diálogo, pois o INCRA em 1999 irá decretar outro projeto de assentamento e este

será estabelecido totalmente dentro da FERS, assim como a FUNAI, que irá interditar uma área para a criação da T.I. Rio Omerê, em 1995, também com sobreposição parcial da mesma sobre o FERS.

Figura 35: Limites da FERS Rio Mequéns no município de Corumbiara, observando-se a exploração em grandes glebas, em contraste com a do PA Vitória da União.

Figura 36: Sobreposição parcial entre o PA Vitória da União (já existente) e a Floresta Estadual de Rendimento Sustentado Rio Mequéns (já parcialmente explorada em regime de grandes glebas).

4.6. 1992 – A CRIAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CORUMBIARA

Em 1992, é criado o município de Corumbiara através da Lei n° 377, de 13 de fevereiro de 1992, com sua sede sendo estabelecida no NUAR Nova Esperança (figura 37). Essa figura mostra também a situação dos desmatamentos em toda a área do município, no ano de sua criação. Observa-se que, na escala em que a imagem é apresentada, mesmo na área do PIC-PAR as áreas inicialmente limitadas dos pequenos agricultores começam a unir-se entre si, deixando grandes claros na mata.

Figura 37: Imagem LANDSAT 5 TM (4R5G3B) de Corumbiara em 1992, quando de sua emancipação (em vermelho, a sede municipal).

Ainda em 1992, a FERS Rio Mequéns, na sua porção do município de Corumbiara, estava sendo paulatinamente transformada com os incentivos dos órgãos governamentais, tanto estadual quanto municipal, em uma grande área de pastagens, exceto na parte onde a FERS Rio Mequéns se sobrepôs ao PA Vitória da União (figura 38).

Figura 38: aumento do desmatamento na FERS Rio Mequéns, registrada em 1992.

Ao mesmo tempo encerram-se as discussões para o início de mais um programa de investimentos com o auxílio do Banco Mundial, o PLANAFLORO. O Banco Mundial o apresentou na ECO-92 como sendo o esforço da instituição para promover uma sociedade mais sustentável para a Amazônia, haja vista o caráter exclusivamente desenvolvimentista do POLONOROESTE, que teria deixado a instituição em uma situação delicada (BARAÚNA, 2005).

Como já mencionamos sobre o PLANAFLORO, enquanto o Banco Mundial propagandeava o mesmo com o nome de “Rondônia Natural Resource Management Project”, ou seja, o Banco Mundial dizia que estava financiando um projeto de gerenciamento dos recursos naturais de Rondônia, as autoridades locais o chamavam de Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia. Isso demonstrava claramente que os investimentos que iriam ser feitos seriam utilizados para atender as necessidades de agricultores, pecuaristas e madeireiro, assim como o fizeram no POLONOROESTE

O que se percebe, e isso até os dias atuais, é que existe uma espécie de abismo entre o discurso e a realidade. Enquanto o Banco Mundial propagandeava que estava financiando um programa de “desenvolvimento sustentável” para a

Amazônia, a realidade mostrava que o financiamento estava auxiliando os fazendeiros, pecuaristas e madeireiros na supressão da floresta.

4.7. 1995 – UM PERÍODO DE CONFLITOS

Analisando agora as imagens de 1995 (Figura 39), é possível constatar que os objetivos propostos pelo PLANAFLORO, como a eliminação do desmatamento, fazer valer as demarcações das unidades de conservação e terras indígenas, etc., não estavam sendo cumpridos, como viria a ser confirmado pelo relatório da Comissão de Avaliação Independente (COMAI) em 1996. A ocupação das áreas ainda florestadas segue como se o PLANAFLORO e seus objetivos não existissem, prevalecendo os “objetivos” das autoridades locais que, ao que tudo indica, consideraram o financiamento do programa como mais um auxílio para fazendeiros, pecuaristas e madeireiros. (BARAÚNA, 2005)

Figura 39: Imagem LANDSAT 5 TM (5R4G3B) do município de Corumbiara em 1995, mostrando a continuidade dos processos de desmatamento, inclusive nas áreas da FERS Rio Mequéns.

Conforme havíamos exposto anteriormente, 1995 é o ano em que a Frente de Contato da FUNAI, consegue estabelecer os primeiros contatos com o grupo isolado dos Kanôe e Akuntsu depois de 10 anos pesquisando e buscando vestígios dos mesmos.

Com isso é efetuada nova interdição da área onde o grupo foi contactado, porém com várias alterações em relação à primeira interdição, de 10 anos antes, já que os fazendeiros e pecuaristas buscaram de toda forma eliminar qualquer vestígio da presença dos índios, para lhes garantir a terra (Figura 40).

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