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6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

6.1. Conclusões

A presente dissertação realiza uma análise, a partir de um estudo de caso, se existem articulações entre as esferas públicas administrativas, no sentido de que a provisão do transporte se dê de forma eqüitativa aos alunos que dele necessitam, especialmente, os residentes em localidades afastadas da escola. Observa-se, também, a performance do poder público no deslocamento de alunos às escolas públicas, mediante o uso do transporte escolar.

Embora tenha-se podido constatar no quadro conceitual que a democratização da educação esteja assumindo, nos tempos atuais, características historicamente diferenciadas das de administrações públicas anteriores, e que, através dela, o Estado esteja buscando salvaguardar os indivíduos contra a exclusão social implantada pelo capitalismo e a globalização vigentes, sob o conceito de que ela vai incluir e superar as desigualdades sociais, na prática, esta realidade está longe de ser alcançada. Senão vejamos: sendo responsabilidade constitucional do poder público federal em assegurar o deslocamento de alunos carentes do ensino fundamental no trajeto residência-escola-residência, implantaram-se, como instrumentos de viabilização do aumento da mobilidade destes alunos, programas de transporte escolar PNTE e PNATE. No entanto, a limitação destes programas ao ensino fundamental, e exclusivamente para os municípios que necessitam de apoio financeiro para transportar os alunos carentes do campo para as escolas ou vice- versa, deixou fora o ensino médio que não deveria, já que este é parte integrante e complementar da educação básica.

As administrações públicas estaduais e municipais, com vistas a assegurarem que o aluno carente do ensino médio também desfrute do transporte escolar, elaboram seus próprios planos, mesmo que desintegradas. Como resultado, consegue-se deslocar das áreas rurais dos municípios, a maior parte do alunado que necessita estudar em escolas urbanas. Quando se trata da UNED/PIn, escola da rede pública federal que não oferta transporte escolar, onde a maior parte dos alunos originários de localidades distantes depende de transportes escolares ofertados pelos municípios, um atendimento eqüitativo é uma

realidade que ainda está longe de ser alcançada, uma vez que não existem políticas sólidas de transportes que assegurem democrática e gratuitamente o deslocamento a todos os alunos de baixa renda à escola, independentes da localização geográfica na qual residam, ficando muitos deles desassistidos. Isto porque as políticas que visam integrar educação e transportes - quando existem – são isoladas e pouco funcionais, proporcionando soluções pontuais e iníquas, e comprometendo a inclusão social dos alunos na escola. Apenas os municípios mais desenvolvidos possuem infra-estrutura capaz de proporcionar a criação de mecanismos que facilitem a vida dos seus estudantes.

Esses mecanismos, que podem ser traduzidos sob o nome de transporte escolar, são privilégios para poucos, uma vez que a prestação do serviço está condicionada a interesses políticos, aos horários de expediente dos motoristas, a rotas mal planejadas, a quantias pagas pelos alunos, e à impossibilidade financeira das prefeituras dos municípios em ofertar transporte em mais de um turno de aula.

O estudo de caso realizado na UNED/PIn permitiu desvelar a importância do transporte público (representado pelo transporte escolar, ônibus comum e veículo fretado) para a escola, já que a maior parte dos alunos, cerca de 73%, utiliza diariamente esse modal nos deslocamentos para chegar até ela. Mas, permitiu verificar também que ele é excludente, uma vez que uma parcela considerável dos estudantes potenciais percebe que sem transporte público não se chega até a UNED/PIn, devido à baixa renda, à acessibilidade e grandes deslocamentos. Mesmo assim a preferência, na opinião desses estudantes, é gastar menos e estudar em escola pública - mesmo que seja a UNED/PIn - sujeitando-se às condições adversas de transporte, a ter que pagar por uma escola particular. Daí a influência que o transporte público exerce sobre a escola, notadamente, na preferência dos estudantes e alunos de baixa renda familiar em estudar nela.

Além do mais, o estudo de caso permitiu desvelar as políticas públicas de transporte escolar existentes para deslocar os alunos à escola, mas, que estão longe de ser eqüitativas, não apenas para os residentes no município sede da escola (Palmeira dos Índios – AL), mas, também, nos outros pertencentes à sua área de influência. Em busca da solução para o

questionamento formulado para esta dissertação, foram colhidos dados e informações que podem ser citados:

- Falta de estrutura do órgão gestor municipal (no município onde se localiza a escola) em termos de recursos humanos, equipes e materiais para que ele possa cumprir a sua função reguladora, frente à multimodalidade de transportes coexistente. Essa multimodalidade, aliada à ausência de políticas regulatórias específicas que possibilitem a oferta de um sistema eficiente de transportes públicos, permite que formas alternativas de transporte sejam demandadas pela população, entre elas o moto-táxi e o alternativo. Conseqüentemente, o transporte público coletivo por ônibus urbano, que não se adequou às características topográficas e viárias do município, encontra-se ainda mais desestruturado e em decadência.

- Para a população residente na área rural do município, o transporte alternativo por “caminhonetes’ e “Vans” é de fundamental importância, porque tem se mostrado eficaz na acessibilidade e mobilidade da população dessa área, e para qualquer época do ano. Não existem outras formas de transporte que consigam abastecer com tanta eficiência o residente rural transportando pessoas e mercadorias (compras semanais, animais, etc.), além de prestar o serviço “porta-a-porta”. No âmbito intermunicipal, a forma de transporte que tem se mostrado eficaz é a do transporte complementar. A grande vantagem dele sobre os modos tradicionais de transporte intermunicipal por ônibus, é a baixa tarifa e o serviço ser flexível, parando em qualquer ponto e transportando qualquer bagagem.

- A área de influência determinada de 380Km2 para a UNED/PIn a um tempo máximo de viagem residência-escola (verificado entre municípios) de 80min, supera a média de 24Km2 e 45min descritos na literatura técnico-científica, e denota a importância social desta instituição na região, uma vez que sua área de influência engloba 21 municípios, onde a maior parte da população residente está no meio rural.

- Nos três níveis de ensino ofertados pela UNED/PIn, no que se refere à renda familiar dos alunos, os do nível técnico se apresentam como os mais desprovidos de renda e,

concomitantemente, são os que menos usam os transportes públicos e escolares. Aí residem as iniqüidades em transportes, principalmente quando se trata do transporte escolar ofertado pelas prefeituras municipais, por este ser ofertado apenas no turno matutino priorizando, conseqüentemente, os alunos do ensino médio regular.

- O uso de indicadores educacionais e de transporte permitiu inferir em que medida a falta de integração entre políticas educacionais e de transportes está iníqua com a população estudantil. Algumas observações puderam ser individualizadas:

a. A falta de ações da escola voltada a ter mais alunos, cumprindo a sua função social de educação pública gratuita e trazendo para si a maior parte possível de estudantes dos municípios do seu entorno.

b. A mobilidade do aluno no transporte escolar ofertado pelos municípios nem sempre está assegurada e distribuída de forma eqüitativa, já que pode ser cobrada dele uma contribuição financeira para que seja transportado, independente da sua condição socioeconômica.

c. As menores taxas de abandono escolar observadas estão nos municípios que ofertam transporte escolar gratuito.

d. No município de Palmeira dos Índios, o nível de qualidade de acessibilidade verificado é o mais baixo na escala adotada, de tal modo que os benefícios proporcionados pelo sistema de transporte público local, colocam em desvantagem os estudantes desprovidos de transporte particular, em relação aos mais abastados. Esse quadro caracteriza a situação de iniqüidade na acessibilidade à UNED/PIn por que passam os alunos residentes no município. Por outro lado, indiretamente, esta iniqüidade se reflete para os alunos de outros municípios, já que o acesso por transportes públicos convencionais (intermunicipais) requer conexões com o transporte público urbano.

e. A heterogeneidade, nos níveis de qualidade de acessibilidade obtidos, não evidencia relação de município predominantemente urbano ou rural com a melhor ou pior acessibilidade. Independente da condição de moradia dos estudantes, as iniqüidades são possíveis de ocorrer.

f. Para os municípios não atendidos pela UNED/PIn, a acessibilidade não é um fator inibidor da ida dos estudantes potenciais para esta escola, já que os níveis de qualidade de

acessibilidade se apresentam regulares ou bons. Fatores como a baixa renda familiar, e, conseqüentemente, a necessidade do estudante parar de estudar para trabalhar no campo, podem ser cogitados, pois a população residente desses municípios é predominantemente rural.