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2. EDUCAÇÃO, TRANSPORTE E EQÜIDADE PARA A

2.3. Estado e educação

2.3.2. Os anos 80 e a Nova República

Com o final da década de 70 do ‘milagre econômico’, e o seu conseqüente esgotamento, decorrente da estagnação econômica pela qual passava a nação brasileira, como tantas outras nações que haviam gozado do Estado do “Bem-estar Keynesiano14”, o projeto educacional do governo, que vigorava desde a década de sessenta começou a perder forças.

Na visão de Bauman (1999), os três pés do "tripé da soberania", como ele chama, foram quebrados sem esperança de conserto. A auto-suficiência militar, econômica e cultural do Estado deixou de ser uma perspectiva viável, e isto, segundo este autor, para preservar sua capacidade de policiar a lei e a ordem, os Estados buscaram alianças e entregaram voluntariamente pedaços cada vez maiores da sua soberania.

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Estado qualificado como provedor, que assume a responsabilidade pela condução da economia e do bem- estar social (SANTOS, 2000).

A educação deixou de ser parte da agenda das políticas governamentais articuladas em torno de um projeto de crescimento econômico e passou a ser gerida como instrumento para atenuar a pobreza criada pela concentração de renda. Dessa forma, houve o incentivo de participação dos municípios, em programas de parcerias. Multiplicaram-se os convênios entre Estados e Municípios, com vistas ao transporte de alunos, à merenda escolar, às construções escolares, e começou a municipalização do ensino pré-escolar. Conforme salienta Velloso et al. (1992), subjacente a estas iniciativas estava uma abordagem inspirada na predominância culturalista e assistencialista, cuja ênfase era dada ao atendimento pré-escolar e à merenda, como forma de minimizar a fome das crianças pobres e até mesmo da mortalidade infantil resultantes da crise econômica que se instalava.

Contudo, o governo federal não se viu impedido de exercer seus interesses específicos, mesmo depois da primeira eleição direta para governadores em 1982. Apesar da desarticulação das diretrizes para a educação, a que muitos chamaram de ‘prefeiturização’ das escolas, o governo conseguiu impor a sua soberania via manipulação de fontes de financiamento: embora existisse heterogeneidade de poder, pouco os estados podiam fazer para custearem e manterem os seus sistemas educacionais.

Para Velloso et al. (1992), uma das estratégias privilegiadas do exercício desse poder foi a de buscar novas formas de ação direta junto aos municípios, passando ‘por fora’ das administrações estaduais. Esta forma de gestão adotada conseguiu desestruturar possíveis tentativas de pactuação política entre as esferas municipais e estaduais que viessem gerar má gerência de recursos.

A Nova República

Instituída a ‘Nova República’ em 1985, expressão que designava o retorno do poder civil ao governo brasileiro, o Ministério da Educação e Cultura - MEC não disponha de legitimidade e tampouco de vontade política para formular propostas hegemônicas que pudessem reverter o quadro em que se encontrava a educação no Brasil: problemas de qualidade da educação básica, deficiência na formação dos professores, elitização do ensino de 2º grau, desarticulação entre as esferas do governo nas formas de gestão e pobreza de resultados das Universidades Federais (VELLOSO et al., 1992).

Adicionalmente, o agravamento da crise econômica e os preparativos para as eleições diretas passaram a ocupar espaço maior na agenda do país do que a educação.

Do ponto de vista da gestão, a Nova República não só soube administrar a favor dos interesses do caótico modelo herdado do regime militar, em termos de financiamento, como procurou aperfeiçoá-lo (VELLOSO et al., 1992). A dualização entre estados e municípios foi aprofundada, sob os auspícios do governo federal, alargando ainda mais a falta de integração entre estados e municípios.

Sabe-se que, nos finais da década de 80, a qual se conhece como “década perdida”, houve o esgotamento do modelo de desenvolvimento que vigiu no país. Após o qual, o Estado - da administração burocrática para a gerencial -, assume o papel de regulador das políticas públicas, retraindo-se de suas funções sociais. O que ocorreu de fato, no Brasil, como já havia ocorrido em outras nações da Europa e Estados Unidos, foi a consolidação da hegemonia do capital mundial, êxito do neoliberalismo, que se fez sentir forte em todas as relações, na vida política, na sociedade, e como não poderia deixar de ser na educação.

“Essa retração vem servindo para reordenar o papel do Estado, limitando, quase sempre, seu raio de ação em termos de políticas públicas. É o caso, por exemplo, das políticas educacionais” (NETO, 2003).

Nesta época, o sistema educacional se apresentava com elevados índices de evasão e repetência. Para assegurar, não só a superação destas dificuldades, como também o acesso de todos à educação, como também para garantir que a oferta educativa seja de qualidade, compensadora de desigualdades às largas etapas de educação, o governo desenvolveu desde 1988, com a promulgação da carta constitucional do Brasil, em seu Artigo 211. §1º ao §4º, a idéia de um Estado cujas tarefas relacionadas à educação fossem descentralizadas para a União, os poderes Estaduais e Municipais, numa relação cooperativa: Cabe à União organizar o sistema federal de ensino, aos Municípios atuarem prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil, e aos Estados e ao Distrito Federal atuarem prioritariamente no ensino fundamental e médio. À União caberá, ainda, a assistência técnica e financeira às unidades da federação em todos os seus níveis.

A ênfase na educação passa a ser a eficiência do funcionamento das instituições escolares e a qualidade de seus resultados, e não mais o abrandamento da pobreza e o aumento da quantidade de unidades educacionais. Esta tendência permanece na década de 90, como afirma Oliveira (2000): “O Estado procurará imprimir maior racionalidade à gestão da

educação pública, buscando cumprir seus objetivos, equacionar seus problemas e otimizar seus recursos, adotando em muitos casos o planejamento por objetivos e metas” (citado

em ZANETTE, 2004).