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Conclusões

No documento PEDRO MIGUEL CARVALHO CHULA (páginas 174-178)

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

6.2. Conclusões

Passados que estão quase 20 anos sobre a publicação da LAUGI, e mais de meio século sobre o surgimento concreto do fenómeno destas áreas, verificamos que as AUGI continuam a revelar-se como áreas importantes que marcam as características do território, embora não necessariamente pelas melhores razões do ponto de vista urbanístico.

De grande ou pequena dimensão, inseridas ou não em perímetros urbanos, com melhores ou piores acessibilidades, as AUGI apresentam-se como áreas que, pelos problemas que lhe são inerentes (existência de compropriedade, construções ilegais, carência de redes de saneamento e abastecimento, falta de espaços públicos, deficientes serviços de transportes públicos, níveis sociais e familiares baixos) necessitam de uma reconversão não apenas administrativa, mas antes, baseada em várias ações de intervenção que diagnostiquem esses problemas e proponham medidas de intervenção adequadas.

Nada a esse nível de intervenção tem sido feito, e os processos de reconversão de AUGI não têm sido mais do que meros processos de legalização de solos e de edifícios.

Existe, pois, uma necessidade urgente e imperativa de incentivar, estimular, e porque não, responsabilizar todos os intervenientes nos processos de reconversão das AUGI (desde os moradores às próprias câmaras municipais e demais entidades públicas envolvidas) no sentido de mostrar a realidade concreta das AUGI, as suas potencialidades e os seus problemas, levando à promoção das necessárias ações para a sua reconversão urbana.

Durante a elaboração da presente tese pretendeu-se apresentar uma perspetiva alternativa e inovadora para a reconversão das AUGI. Este trabalho teve início cerca de um ano depois da publicação da 3ª alteração da LAUGI, a qual veio suscitar novas discussões sobre a abordagem a esta problemática.

Desde essa altura, muitas iniciativas foram realizadas, quer por iniciativas municipais, quer por outras entidades públicas e privadas, nas quais o autor participou e tomou parte ativa, tendo as mesmas contribuído para a partilha de experiências e eventuais propostas de melhoramentos na abordagem ao fenómeno em apreço.

Nestas iniciativas, um dos principais pontos a reter residiu na necessidade de considerar o estudo dos casos existentes como orientação para a investigação futura desta temática. De facto, os casos cujas reconversões foram já finalizadas – não obstante serem ainda, percentualmente, em pouca quantidade – apontam algumas boas práticas, mas também, indicam erros que não se deverão repetir. Em qualquer dos casos, trazem ensinamentos para o futuro.

Simultaneamente, e tendo tomado nota de várias referência nessas iniciativas, pretendeu o autor, também, tomar contacto in loco com experiências urbanas de sucesso (que não, necessariamente, AUGI), conforme relatado no capítulo 3 desta tese, de forma a poder conjugar as práticas urbanas aí desenvolvidas e poder chegar a conclusões sobre uma proposta de implementação de boas práticas urbanas – se possível, certificadas – a introduzir nos processos de reconversão de AUGI.

Aliás, o sucesso destas iniciativas será sempre maior quando a sustentabilidade urbana e o planeamento criativo se interrelacionarem (Krueger, 2012) e tal inter-relação permitam que se atinjam boas práticas e vivências urbanas.

De facto, não poderão ser alheias as atuais estratégias de intervenção urbana, suportadas por critérios de desenvolvimento urbano sustentável, e com variadas experiências já implementadas quer a nível nacional, quer internacional, e consideradas como boas práticas a seguir.

Ainda assim, nunca será de mais ter sempre presente o estigma social com que estas áreas simultaneamente se confrontam, e que variadas dificuldades trazem para o sucesso dos seus processos de reconversão. Ainda que várias AUGI sejam, de facto, áreas degradadas ao nível do edificado, com problemas sociais de criminalidade e pobreza, é também certo que essas características não configuram a maioria das AUGI existentes; aliás, muitas dessas áreas são, mesmo, áreas urbanas ou periurbanas com variadas semelhanças com outras demais, consideradas legais. Os principais problemas passarão, mesmo, por questões de infraestruturação, equipamentos e áreas públicas, e edificado com condições de habitabilidade. E foi com base, sobretudo, nessas questões que incidiu grande parte da proposta apresentada ao nível do modelo de boas práticas apresentado, bem como, das propostas de revisão da LAUGI.

Poderemos concluir que, num balanço das consecutivas alterações da LAUGI muitos dos objetivos definidos terão sido atingidos. Por um lado, o fenómeno clandestino do parcelamento dos prédios rústicos foi travado; simultaneamente foi definitivamente aceite pelos comproprietários que o dever da reconversão era, primordialmente, sua, com a necessária e possível colaboração dos municípios, possibilitando assim uma colaboração recíproca ao invés de situações de confronto verificadas anteriormente.

Ainda assim, questões haverá ainda a tratar e resolver, como:

- Falta de mercado legal de oferta de habitação, nas áreas periurbanas dos grandes centros urbanos (onde poderiam entrar as áreas das AUGI, reconvertidas, e com correta oferta de parque habitacional, acessibilidades, espaços e equipamentos públicos);

- Correto planeamento e infraestruturação, bem como, carências sociais e más condições de habitabilidade;

- Necessidade de uma visão e orientação estratégica central e global, ao invés de deixar os processos de reconversão ao livre e exclusivo arbítrio das políticas municipais;

- Morosidade nos processos de reconversão; - A desatualização da informação cadastral.

Um dos principais obstáculos a um célere desenvolvimento destes processos, ao nível do seu licenciamento, continua mesmo a ser a excessiva burocracia administrativa, que se torna ainda mais morosa quando envolve entidades da administração central. Esta questão leva, muitas vezes, a uma desmotivação dos particulares para levar avante o processo de reconversão da “sua” AUGI. Este aspeto necessitará, forçosamente, de ser revisto com o atual processo de revisão da LAUGI, em trâmite na Assembleia da República.

Sobre essa questão teve o autor, também, oportunidade de se pronunciar em audição na Assembleia da República42, em 28/05/2014, pelo “Grupo de Trabalho - Para proceder à identificação dos condicionalismos legais existentes relativamente ao processo de reconversão das áreas urbanas de génese ilegal” da Comissão do Ambiente, Ordenamento do Território e Poder Local, tendo contribuído com as suas ideias e propostas para uma revisão da LAUGI que deverá ocorrer até final do ano de 2014.

Concluindo, e considerando que em todos os concelhos da AML ainda existem AUGI por reconverter urbanisticamente, que o total de áreas delimitadas como AUGI configura um território com cerca de 9.000 hectares (Alves, 2008), que a respetiva população é de cerca de 200.000 pessoas (Alves, 2008), não se considerando aqui os agregados que apenas conferem um uso sazonal ou de segunda habitação às suas parcelas de terreno nas AUGI, parece-nos estar perante números que exigem um tratamento urbano e legal – definitivamente – urgente e devidamente ponderado. Aliás, este fenómeno com cerca de cinco décadas está controlado mas não resolvido; cerca de 15% das AUGI da AML não têm sequer o processo de reconversão iniciado e apenas 27,4% o têm concluído (Alves, 2008).

A imperatividade e pertinência do presente trabalho revelam-se, pois, como de extrema importância e aplicabilidade em todos os casos ainda não resolvidos.

É, pois, apresentada nesta tese a caracterização do fenómeno das AUGI, o enquadramento legislativo aplicável (e a necessária análise crítica do mesmo), seguindo-se a apresentação de casos exemplares de bairros ecológicos no contexto europeu e nacional, no intuito de possibilitar o “abrir de porta” aos processos de reconversão das AUGI para aplicação dos referidos critérios de desenvolvimento urbano sustentável.

E nesse intuito, são apresentadas duas propostas de intervenção para o correto desenrolar de um processo de reconversão de AUGI: por um lado, ao nível de propostas de alteração à própria LAUGI, e por outro lado (em conjugação), ao nível da apresentação de uma proposta de modelo de boas práticas para estes processos.

Assume-se a convicção de que, verificadas ambas as propostas, se garantirá um impulso e sensibilização essenciais para os processos de reconversão das AUGI, no sentido da sua qualificação urbana e ambiental, no cumprimento do objetivo principal, que passa pela melhoria da qualidade de vida das populações e do território.

42 Vídeo da audição disponível para visualização em:

No documento PEDRO MIGUEL CARVALHO CHULA (páginas 174-178)