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Conclusões a reter sobre os Sistemas de Certificação Urbana / Auditorias

No documento PEDRO MIGUEL CARVALHO CHULA (páginas 91-95)

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.7. Os Sistemas de Certificação Urbana / Auditorias Urbanas

2.7.6. Conclusões a reter sobre os Sistemas de Certificação Urbana / Auditorias

Muitos mais sistemas de certificação urbana / auditorias urbanas se poderiam aqui apresentar, no contexto da presente dissertação.

Julgamos, contudo, ser de maior importância realçar aqueles que, pela sua notoriedade e impacto ao nível de utilização global (BREEAM e LEED), mas também pela sua génese recente (Norma ISO 37120:2014 e Building for Life 12), ou ainda, pelo seu impacto nacional relevante (LiderA), se destacam e nos apresentam boas práticas implementadas e bons sistemas de avaliação e certificação, porquanto seja esse um dos principais intuitos deste trabalho: apresentar uma solução de avaliação de processos de reconversão urbanística de AUGI no panorama nacional, assente em critérios de desenvolvimento sustentável.

Não foi, nem nunca seria, nossa intenção aprofundar pormenorizadamente cada um desses sistemas de certificação urbana / auditorias urbanas, mas antes, apresentar as suas principais características e princípios orientadores, no sentido de servirem de base e inspiração para o supracitado intuito deste trabalho.

Numa súmula comparativa entre os sistemas apresentados, poderemos concluir pela pertinência dos indicadores propostos, sendo que, entre cada um desses sistemas, há áreas de intervenção mais, ou menos, abrangidas. Ainda assim, foi nossa intenção poder recolher de todos eles vários contributos para a proposta final apresentada no capítulo 5.

Em jeito de tabela comparativa de abrangência de áreas de intervenção, podemos verificar, por um lado, que existem áreas que são comuns a todos os sistemas de certificação / auditoria urbana, mas também, e simultaneamente, que esses sistemas privilegiam, em alguns casos, umas áreas em detrimento de outras. Vejamos:

Tabela 2.11 – Tabela comparativa de abrangência de áreas de intervenção dos sistemas de certificação e auditoria urbana apresentados e sua aplicabilidade numa proposta de certificação de processos de reconversão de AUGI 26

Áreas de

intervenção Bream LEED 37120 BfL 12 LiderA ISO Propostas de Indicadores AUGI

Energia / Conforto ambiental /

Ecologia

X X X X

- Poupança e rentibilidade energética - Projetos sustentáveis nos edifícios novos

- Implantação de sistemas eficientes de produção de energia

- Implantação de sistemas de redução de consumo de água e de energia elétrica, bem como, de aproveitamento de águas pluviais e outras

- Boa gestão dos resíduos

Comunidade / Vivência sócio- económica / Negócios X X X X X

- Criação de negócios locais / comércio, que permitam uma sustentabilidade económica local

- Previsão de lugares públicos (cobertos e ao ar livre) de convivência coletiva - Participação ativa (governança) dos moradores nas tomadas de decisão - Previsão de espaços que permitam o desenvolvimento de atividades com vista à subsistência das famílias (ex: hortas) - Maior densidade habitacional (vertical) - Ligação com malha urbana envolvente - Possibilitar a coexistência de usos habitacional e terciário

Placemaking / Integração

no local X X X X

- Interpretação do “espírito do lugar” - Respeito pelas características naturais e culturais do território

Transportes /

Mobilidade X X X X

- Acessibilidade universal - Acesso a sistemas públicos de transportes existentes

- Bons meios de mobilidade pedonal e em ciclovias

-Ligação entre o sistema de ciclovia interna do bairro e um sistema de ciclovias municipal existente

- Uso de combustíveis ecológicos nos transportes públicos

Recursos X X X X

- Implementação da regra dos “3R’s” - Execução das obras de urbanização com preocupações de utilização de materiais sustentáveis, bem como, pela reciclagem dos desperdícios de obra - Rentabilização das redes públicas de infraestruturas existentes

- Utilização de materiais e recursos locais

Edifícios X X X X

- Certificação ambiental dos edifícios - Preservação de edifícios históricos - Possibilitar a coexistência de usos habitacional e terciário

- Edifícios deverão valorizar a rua Inovação /

Uso

sustentável X X X

- Implantação de Agenda 21 de Bairro - Implantação da figura do “Gestor de Bairro”

- Benchmarking

26 O símbolo “X” aplicado na tabela em apreço indica os casos em que as áreas de intervenção expostas

Em jeito de conclusão desta apresentação parece-nos ser de realçar a importância existente dos processos de certificação, uma vez que criam uma “imagem de marca” para o projeto ou plano sujeito a avaliação. Contudo, julgamos também que uma certificação demasiado rígida provocará uma maior formalidade e fechamento de todo o processo, impossibilitando o contacto mais direto com os atores intervenientes no processo, logo à cabeça representados pelos moradores e utentes dos espaços em análise.

Daí que, no âmbito da presente dissertação, se apresente uma proposta de modelo de boas práticas, que possa, depois de devidamente experimentada, servir eventualmente de base para um processo de certificação destas áreas.

Haverá que salientar que um processo deste género confere, sempre, vantagens qualitativas para o objeto que esteja a ser avaliado. Com a implementação deste processo consegue-se garantir:

• A otimização de processos de trabalho;

• A aplicação de procedimentos acordados em detrimento de hábitos inadequados e ultrapassados

• A definição clara das responsabilidades de cada interveniente no processo, levando à natural motivação de todos para a inerente participação no mesmo;

• Aumento da credibilidade no mercado envolvente, bem como, na Comunidade em geral;

• Aumento da satisfação dos beneficiários do processo;

• O benchmarking provoca natural competitividade, permitindo um crescimento qualitativo e a possibilidade de uma melhoria contínua dos procedimentos;

• Definição de objetivos e indicadores de qualidade.

Neste contexto, haverá sempre que nunca descurar, ainda assim, que as principais mais-valias deste processo serão, exatamente, a satisfação dos beneficiários e a melhoria contínua desses processos. Todas as restantes vantagens acabam por advir dessas duas mais relevantes. Ainda, e assim, os sistemas de avaliação mais “abertos”, assentes em verificação de boas práticas já tomadas como exemplos a seguir, permitem uma discussão mais saudável entre todos os atores, dando azo à possibilidade de se atingirem soluções (sobretudo nas fases de conceção dos projetos e planos) mais do agrado de todos.

Caracterizando-se as AUGI por serem áreas, em muitos casos, já consolidadas (não se estando, aqui, a avaliar a qualidade urbana dessa consolidação), haverá que ter como preocupação base conjugar, num processo de certificação / auditoria urbana a criar para essas áreas, princípios de sustentabilidade mais rígidos (que obriguem, se necessário, a alterações

no tecido urbano ou nas edificações já existentes) com princípios mais abertos, que permitam a interatividade dos moradores e comproprietários na busca de uma solução o mais agradável e sustentável possível para a sua vivência na área de intervenção do loteamento a que respeitarem.

Da análise dos casos apresentados, e como recomendação para o capítulo 5 deste trabalho, facilmente se conclui que áreas como a energia, os transportes, o uso sustentável dos recursos naturais e do solo, o controlo da poluição, os materiais utilizados, a inovação, a correta interpretação e adaptação ao “espírito” do lugar, o correto planeamento prévio, as questões económicas, o conforto ambiental, a segurança, a relação entre o uso habitacional e terciário, o mobiliário urbano e a vivência em comunidade são as que claramente se destacam como aquelas que deverão servir de base a uma proposta real para sustentar processos de reconversão urbanística sustentável de AUGI.

E esta proposta, adiante apresentada como uma novidade no panorama da reconversão das AUGI, será tão mais inovadora e eficiente, se puder responder e enquadrar uma série de critérios e áreas que resultem de um benchmarking entre vários dos sistemas de certificação, (Lee, 2008) e simultaneamente várias das experiências e boas práticas que se forem realizando no âmbito dos processos de reconversão de AUGI.

No documento PEDRO MIGUEL CARVALHO CHULA (páginas 91-95)