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Vesterbro/Hedebygade – Copenhaga (Dinamarca)

No documento PEDRO MIGUEL CARVALHO CHULA (páginas 112-120)

3. BAIRROS ECOLÓGICOS: BOAS PRÁTICAS NO PANORAMA EUROPEU E NACIONAL

3.3. Vesterbro/Hedebygade – Copenhaga (Dinamarca)

3.3.1 Descrição Geral

O bairro de Vesterbro localiza-se bem no centro da cidade de Copenhaga. Identificando-se como uma área urbana com 35 hectares que teve origem na segunda metade do século XIX, em grande parte para instalação da classe operária da cidade, este bairro vinha-se degradando ano após ano, na fase final do século XX, em resultado da implantação de classes sociais vulneráveis e de condições de habitabilidade muito baixas, principalmente pela falta de sistemas de aquecimento e de condições higienosanitárias.

Na última década do século XX o município de Copenhaga decidiu investir em Vesterbro, no sentido da sua requalificação, primando por privilegiar vários critérios ambientais e por tornar este bairro um bom exemplo de boas práticas de sustentabilidade urbana.

A área de Vesterbro apresenta um uso maioritariamente habitacional, onde se implantam cerca de 4.000 apartamentos para uma população prevista de 6.500 habitantes, mas onde não descuram, ainda assim, a previsão de espaços públicos de recreio e lazer (sobretudo nas áreas – páteos – interiores dos quarteirões formados pelos prédios de Vesterbro) ou de espaços de uso terciário (escritórios, bares e pequenas empresas, sobretudo nos rés-de-chão desses mesmos prédios. De entre os objetivos definidos pelo município de Copenhaga para este projeto destacam-se a intenção de que, e desde logo, a requalificação deste bairro se fizesse de forma sustentável, minimizando-se o uso de recursos, economizando-se no consumo de água, aproveitando-se as águas pluviais e reduzindo-se na produção de resíduos, mas também, promovendo-se as devidas adaptações dos apartamentos e espaços construídos à legislação atual e boas regras de construção e vivência, tornando assim este projeto como exemplo a seguir ao nível das requalificações urbanas.

Também ao nível do envolvimento da população houve a preocupação desde o início em envolver ao máximo os moradores, desde logo para fomentar uma vivência homogénea e integrada de todos (eliminado possíveis atritos sociais existentes resultantes das várias classes sociais existentes em Vesterbro), criando-se assim um novo / renovado espírito de bairro.

3.3.2 Intervenção urbana

Dividido em alguns quarteirões de intervenção diferenciada, o quarteirão Hedebygade serve como exemplo conciliador de todas as boas práticas implementas em Vesterbro, de que se destacam: - Instalação de um prisma solar na cobertura dos edifícios no intuito de conduzir a luz solar para o interior dos edifícios, com o auxílio de espelhos; simultaneamente, as fachadas foram devidamente isoladas, interior e exteriormente, para efeitos de poupança de energia;

- Construção de paredes solares com o intuito de aproveitar a energia solar passiva, convertendo- a em fonte de calor e aquecimento dos edifícios;

Figura 3.16 – Vesterbro Hedebygade: imagem de fachadas envidraçadas para aproveitamento da luz e energia solar (Foto do autor, 2013)

- Execução de canteiros e colocação de plantas várias para efeitos de purificação do ar interior, pemitindo simultaneamente uma poupança de energia uma vez que evita ter equipamentos a trabalhar para esse fim;

- Criação de cozinhas ecológicas nos apartamentos, caracterizadas por instalação de equipamentos energeticamente eficientes, mas também, pela previsão de canteiros verticais para cultivo de pequenos legumes, ambos tecnicamente pensados para possibilitar a poupança de energia e água;

- Ao nível das fachadas dos edifícios foi prevista uma combinação entre os elementos envidraçados utilizados e a implementação de equipamentos fotovoltaicos, mais uma vez para aproveitamento dos recursos da energia solar;

- Implementação de um sistema de medição individual de consumo de energia elétrica, calor e água, com vista à adoção, por todos os moradores, de uma atitude consciente de consumo de recursos e de contribuição para o sucesso da requalificação ecológica em prática;

- Aproveitamento da energia solar ao nível de painéis solares, maiores áreas envidraçadas, sistemas de ventilação com recuperação do calor e paredes solares ventiladas;

Figura 3.17 – Vesterbro Hedebygade: aproveitamento de energia solar com painéis solares no topo dos edifícios (Foto do autor, 2013)

- Criação de locais próprios para separação de resíduos, sendo desenvolvidas ações pedagógicas e informativas sobre o assunto junto dos moradores;

- Criação de um centro comunitário e áreas comuns de convivência pública, prevendo locais de trabalhos domésticos comuns (cozinha comunitária ou lavandaria com recurso a águas pluviais);

Figura 3.19 – Vesterbro Hedebygade: área de lavandaria comum no edifício (Foto do autor, 2013)

- Aproveitamento de pequenos espaços (na maioria dos casos, as áreas interiores dos quarteirões, mas também, outras pequenas áreas junto às vias públicas) para criação de espaços públicos e de lazer.

Nestes espaços, para além de se proporcionarem a criação de áreas verdes, esplanadas ao ar livre, implantação de pequenos comércios (bares, etc), áreas de recreação infantil, entre outras, houve também, em grande parte dos casos, a preocupação de preservar o edificado envolvente nos casos em que o mesmo não fossem edifícios de habitação (ou outros usos); isto é, verificaram-se situações de recuperações bem sucedidas de panos de fachadas (outrora fachadas de edifícios) com particular interesse arquitetónico e estético.

Figura 3.20 – Vesterbro Hedebygade: entrada num espaço verde e de recreação no interior de um quarteirão, com a particularidade da entrada se fazer através de um pano de fachada arquitetonicamente

recuperado (Foto do autor, 2013)

Interessante, mas ao mesmo tempo normal face à cultura de mobilidade da cidade de Copenhaga, foi verificar que a rede de ciclovias já existente na cidade foi estendida para este bairro, possibilitando aos milhares de cidadãos que diariamente percorrem a cidade de bicicleta, possam chegar a Vesterbro com a maior segurança e conforto possíveis.

Figura 3.21 – Vesterbro Hedebygade: as ciclovias possuem sinalização semafórica e vias de circulação próprias (Foto do autor, 2013)

Em contrapartida, não se descobriram áreas de parqueamento automóvel de maior concentração (caves dos edifícios ou silos de estacionamento), pelo que todos os automóveis que estacionam nesta área fazem-no á superfície, nas próprias vias, criando um efeito visual das ruas pouco aliciante para uma circulação pedonal desafogada e segura. Ainda assim, e mesmo com esse handicap, foi possível constatar em algumas ruas a existência do conceito da “rua para todos”, ou seja, ruas que conciliavam a circulação e estacionamento automóvel, mas também espaços de estadia (por exemplo, esplanadas de cafés) havendo total respeito dos condutores rodoviários por esses espaços nessas ruas.

Figura 3.22 – Vesterbro Hedebygade: “Ruas para todos” – conciliação entre trânsito automóvel, estacionamento, circulação pedonal e esplanadas de superfícies de restauração (Foto do autor, 2013)

Figura 3.23 – Vesterbro Hedebygade: Área de recreação e lazer, no interior de um quarteirão (Foto do autor, 2013)

A viagem do autor a Copenhaga realizou-se em setembro de 2013. Ao contrário do que se pretendeu observar em Hafencity ou Hammarby, interessou neste caso observar as particularidades de uma requalificação urbana bem no centro de uma cidade. E as expetativas não foram goradas, dado que se conseguiu apreender uma série de conceitos e boas práticas muito interessantes implementadas em Vesterbro.

À semelhança dos outros projetos, foi naturalmente aproveitado algum tempo para explorar a cidade de Copenhaga, destacando-se também esta capital nórdica pelas excelentes condições de vivência urbana e civilizacional, e tal como Hamburgo ou Estocolmo, pela estreita relação com a água.

3.3.3. Aprendizagens a reter para um processo de reconversão urbanística sustentável de uma AUGI

Como já referido, a experiência de Vesterbro revelava-se fulcral para estudar a intervenção de uma requalificação urbana no meio de um centro urbano.

Também no caso das AUGI, muitos são os casos de reconversão urbanística que ocorrem no interior de perímetros urbanos, e que necessitam de tipos de intervenções com um maior índice de preocupação pelo enquadramento com o restante tecido da malha urbana envolvente.

No caso de Vesterbro verifica-se que os grandes objetivos a atingir passaram pela recuperação sustentável dos edifícios, conferindo-lhes características próprias para aproveitamento dos recursos naturais (sobretudo da energia solar), prevendo a implantação de equipamentos energéticos eficientes e inovando ao nível dos sistemas construtivos.

A medição individual dos consumos energéticos pareceu-nos também uma ideia muito interessante porquanto permite que todos os moradores tenham uma perceção, na prática, do seu contributo para a pegada ecológica do bairro. Logicamente que esta medida, a aplicar em AUGI, teria sempre de passar por uma prévia fase de consciencialização pedagógica para os objetivos a atingir; ainda assim, conjugada essa medida com um fator de redução de impostos diretos (faturas da água, energia elétrica, telecomunicações, etc.) poder-se-iam atingir níveis consideráveis de poupança energética e de recursos naturais.

Ainda, e ao nível dos espaços públicos, para além dos sistemas de mobilidade eficientes (ciclovias e passeios largos) destacam-se as áreas verdes no interior dos quarteirões, que possibilitam a criação de uma relação de vizinhança mais próxima e com maior índice de segurança. Ainda que, na maior parte desses espaços, os mesmos sejam acessíveis pelo exterior (via pública) foi interessante observar famílias inteiras a confraternizar e crianças a brincar em pequenos equipamentos lúdicos existentes. De realçar, também, a criação de pequenos jardins em espaços de áreas mais reduzidas, mas ainda assim, importantes para a estadia e lazer dos cidadãos.

No documento PEDRO MIGUEL CARVALHO CHULA (páginas 112-120)