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H- Critério de valoração – a conformação do futuro

8. Conclusões

Em face do exposto, podemos formular as seguintes conclusões de âmbito geral: i. O novo CPC revogou o antigo CPC, pelo que salvo nos casos expressamente previstos no

art. 5.º da lei preambular, teremos que considerar que as remissões do CPT para o CPC se reportam ao novo CPC e nessa medida interpretar de forma atualista tais remissões, v.g. considerando que o conceito de audiência preliminar a que se refere o art. 62.º corresponde à audiência prévia do novo CPC.

ii. As normas do CPC1961 só poderiam aplicar-se em processo do trabalho se tal aplicação tivesse por fundamento uma norma de direito transitório, dado que, sendo o princípio geral o da aplicação imediata da lei nova e as disposições da lei preambular do CPC2013 não se reportarem ao processo do trabalho, a aplicação do CPC1961 ao processo do trabalho não tem fundamento legal.

iii. Todas as normas especiais previstas no CPT se mantêm em vigor, porque não foram revogadas pelo CPC2013. Como sucede, por exemplo, com o caráter de excecionalidade da audiência prévia no processo comum (art.º 62.º do CPT), a manutenção do limite de testemunhas por facto (art.º 65.º do CPT) e a possibilidade de julgamento com intervenção do tribunal coletivo (art.º 68.º do CPT).

iv. As normas especiais que fazem apelo a figuras ou atos do processo civil que foram alterados devem, em princípio, ser objeto de interpretação atualista, de modo a que se entendam como reportadas às correspondentes figuras do CPC2013;

v. Tal poderá não suceder quando o CPT regule de forma completa determinada figura ou instituto de tal modo que dispense qualquer aplicação de normas do CPC, como por exemplo, no caso do despacho saneador previsto para o processo especial de acidente de trabalho.

vi. As normas especiais que pressupõem alguma articulação com institutos outrora regulados

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Em sentido aproximado, embora sem concluir pela existência de uma lacuna, antes concluindo que o acordo para pagamento em prestações neste tipo de execuções constitui uma forma de pagamento do crédito exequendo não prevista no CPC, vd. PAULO RAMOS DE FARIA/ANA LUÍSA LOUREIRO, ob. e lug. cits.

no CPC1961 e que no CPC2013 deixaram de existir podem obrigar à integração de lacunas.

Lisboa, maio de 2014

I. INTRODUÇÃO

A Lei n.º 41/2013, de 26/06, que procedeu à aprovação e publicação do novo Código de Processo Civil – que entrou em vigor em 1 de Setembro de 2013 (art.º 8.º desse mesmo diploma) –, revogou, no seu art.º 4.º, entre outros diplomas, o Código de Processo Civil de 1961, tendo, por outro lado, determinado, no n.º 1 do seu art.º 5.º, a imediata aplicação do novo regime adjetivo às ações declarativas pendentes, com as ressalvas constantes dos seus restantes números, dedicando ainda uma norma transitória aos recursos.

O regime de recursos do Código do Processo do Trabalho acha-se contido, essencialmente, nos artigos 79.º a 87.º1, muito embora importe atentar na existência de normas que fazem depender a sua aplicação, de forma direta ou indireta, da possibilidade de recurso ordinário2 ou que possuem uma natureza especial3 relativamente àquele regime de

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Importa relembrar que o Decreto -Lei n.º 295/2009, de 13/10, alterou os artigos 79.º a 83.º e 87.º, revogou os artigos 84.º a 86.º e aditou os artigos 79.º-A e 83.º-A, tendo tais modificações legais começado a produzir efeitos a partir do dia 01/01/2010.

2

Cfr. o número 1 do artigo 30.º, quando à admissibilidade da reconvenção, o número 1 do artigo 60.º, quando à possibilidade de resposta às exceções arguidas pelo réu e os números 2 e 3 do artigo 68.º do Código do Processo do Trabalho, quanto à gravação da prova produzida em Audiência Final, à instrução, discussão e julgamento da causa pelo tribunal coletivo e requisitos para a sua constituição.

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Cfr. artigos 40.º – especificidades do recurso da decisão final no quadro do procedimento cautelar de

suspensão de despedimento – 167.º – efeito suspensivo do recurso interposto no âmbito do processo de impugnação de estatutos, deliberações de Assembleias Gerais ou atos eleitorais –, 172.º, n.º 3 (recurso da sentença em ação de impugnação de decisão disciplinar), 185.º, n.ºs 2 e 3 e 186.º – recurso de revista até ao Supremo Tribunal de Justiça e valor do acórdão proferido por este tribunal e efeito suspensivo do dito recurso, quando está em causa uma decisão de mérito, no que concerne à ação de anulação e interpretação de cláusulas de convenções coletivas de trabalho – n.º 3 do 186.º-C – recurso até ao Tribunal da Relação e com efeito suspensivo, com referência às ações de tutela de personalidade – e 186.º-P – recurso até ao SUMÁRIO: I. Introdução; II. Artigo 7.º da lei n.º 41/2013, de 26/06; III. Artigo 79.º do

Código do Processo do Trabalho (decisões que admitem sempre recurso); IV. Artigo 79.º-a do Código do Processo do Trabalho (recurso de apelação); V. Artigo 80.º do Código do Processo do Trabalho (prazo de interposição); VI. Artigo 81.º do Código do Processo do Trabalho (modo de interposição dos recursos); VII. Artigo 82.º do Código do Processo do Trabalho (admissão, indeferimento ou retenção de recurso); VIII. Artigo 83.º do Código do Processo do Trabalho (efeitos dos recursos); IX. Artigo 83.º – a do Código do Processo do Trabalho (subida dos recursos); X. Artigo 87.º do Código do Processo do Trabalho (julgamento dos recursos); XI. Notas finais

cariz geral4, convindo referir finalmente o caso muito particular do n.º 1 do art.º 124.º, em que se determina a irrecorribilidade da decisão que fixa a pensão ou indemnização provisória mas admitindo-se, no entanto, a reclamação da mesma por parte do responsável, com fundamento na não verificação das condições da sua atribuição ou o que se acha estatuído no n.º 2 do art.º 140.º, quando apenas permite a impugnação da sentença proferida no apenso para fixação de incapacidade no seio do recurso de Apelação que vier a ser interposto da sentença prolatada no processo principal.

Sem perder de vista o que se acha estabelecido no art.º 1.º do Código do Processo do Trabalho, impõe-se averiguar de que forma é que se articula e conjuga o regime regulador dos recursos em processo de trabalho com o seu homónimo no seio do novo Código de Processo Civil, importando alertar para a circunstância de, nesta matéria recursória, existirem três níveis de relacionamento ou conexão entre as normas de um e outro direito adjetivo, sendo que um tem natureza especial relativamente ao outro e este último, por ter uma índole geral e comum, funciona supletiva e subsidiariamente relativamente aquele.

Se atentarmos na alínea i) do n.º 2 do art.º 79.º-A, na segunda parte do n.º 2 do art.º 80.º – muito embora a 1.ª parte desse preceito contenha igualmente uma remissão indireta para o n.º 2 do art.º 691.º do anterior Código de Processo Civil, por força da referida alínea i) do art.º 79.º-A –, no n.º 3 do art.º 83.º e no n.º 1 do art.º 83.º-A do Código do Processo do Trabalho, verificamos que existe uma menção expressa a normas concretas de diversos dispositivos legais do Código de Processo Civil de 1961, na redação resultante da reforma de 2007.

Se comparamos, por exemplo, o n.º 2 do art.º 691.º do anterior Código de Processo Civil com o n.º 2 do art.º 79.º-A do Código do Processo do Trabalho, constatamos que ao lado de alíneas com conteúdo idêntico – alíneas a), b), f), g) m) e n) do n.º 2 da primeira disposição legal citada e alíneas a), b), c), g), h) e parte final da i) da outra referida – existem outras

Tribunal da Relação e com efeito meramente devolutivo, nesta muito recente ação de reconhecimento da existência de contrato de trabalho.

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No fundo, encontramo-nos face a uma dupla relação de especialidade, pois o referido regime de recursos constante dos artigos 79.º a 87.º do Código do Processo do Trabalho, nos termos dos números 1 e 2 desta última disposição e do artigo 1.º do mesmo texto legal tem, por seu turno, a montante das disposições avulsas referenciadas na nota de rodapé anterior, uma relação de especialidade com as normas que regulam os recursos e que se acham inseridas no Código de Processo Civil e legislação complementar. Tal natureza especial do regime contido no Código do Processo do Trabalho acha-se reforçada pelo número 3 do artigo 1.º do Código do Processo do Trabalho quando estatui que «as normas subsidiárias não se

específicas do processo de trabalho – alíneas d), e) e f) do art.º 79.º-A – e, finalmente, a alínea i), 1.ª parte deste último dispositivo legal, que faz a remissão para as alíneas c), d), e), h), i) e j) do n.º 2 do art.º 691.º.

Se confrontarmos esse art.º 79.º-A – que foi introduzido no texto do Código do Processo do Trabalho pela reforma de 2009 – com o regime dos recursos anteriormente existente, concluímos que houve um cruzamento entre o antigo art.º 84.º – agravos que sobem imediatamente –5 e as alíneas a) a h) daquele primeiro preceito, tendo depois sido aditada a alínea i) em questão, que foi beber a sua fonte às decisões de que se pode apelar, no quadro do processo civil comum, conforme o n.º 2 do art.º 691.º do anterior Código de Processo Civil.

A técnica mista utilizada de «corta e cola» – perdoe-se-nos a expressão – mais remissão, para não tornar o n.º 2 do art.º 79.º-A excessivamente extenso, parece-nos censurável, por abrir a porta a equívocos de interpretação e compreensão das alterações de regime introduzidas pela reforma de 2009 no Código do Processo do Trabalho, no que toca à regulamentação dos recursos, designadamente, quando se operam modificações de monta a montante de tal dispositivo legal, que é como quem diz, no regime processual comum onde o mesmo assenta parte dos seus alicerces e arraiais6.

Um segundo nível de conexão com o regime processual comum, bastante mais flexível e aberto, acha-se espelhado no corpo do art.º 79.º – «Sem prejuízo do disposto no artigo 678.º

do Código de Processo Civil …» –, no n.º 5 do art.º 81.º – «À interposição do recurso de revista aplica-se o regime estabelecido no Código de Processo Civil» – e no n.º 1 do art.º 87.º do

Código do Processo do Trabalho – «O regime dos julgamentos dos recursos é o que resulta,

com as necessárias adaptações, das disposições do Código de Processo Civil que regulamentam o recurso de apelação e de revista» –, caraterizando-se tal relacionamento entre regimes por

uma receção pacífica – sem prejuízo das referidas adaptações e de eventuais exceções à tranquilidade dessa parceria (na.º 3 do art.º 1.º do C.P.T.) – de um pelo outro, ou seja, do acolhimento pela legislação do processo laboral das subsequentes modificações no regime recursório comum.

Finalmente, o terceiro nível não se radica em norma expressa como as anteriormente identificadas mas antes na ocorrência de lacunas (casos omissos) ao nível do regime

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A alínea a) do n.º 1 do art.º 84.º corresponde (formalmente) ao n.º 1 do art.º 79.º-A e as alíneas b), c), d), e), f), g) e n.º 2 vão encontrar acolhimento, ainda que com alterações de redação ou de âmbito de aplicação – competência do tribunal em vez de só competência absoluta, por exemplo – nas alíneas a), b), c), d), f), g) e h) do n.º 2 do art.º 79.º-A.

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Cfr., neste mesmo sentido, Pena dos Reis, no texto que abre o presente E-book e que se intitula “O novo

processual laboral e à sua integração por via das alíneas a), c) e e) do n.º 2 do art.º 1.º do Código do Processo do Trabalho, muito embora com a garantia de funcionamento da válvula de segurança que constitui o seu n.º 3.

Afigura-se-nos que a existência destas três modalidades ou formas de relacionamento entre os dois complexos normativos em presença poderá ajudar-nos a ultrapassar alguns dilemas e dificuldades com que nos iremos deparar na nossa análise.