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Os riscos e os desafios da reforma do processo civil na perspectiva da jurisdição

H- Critério de valoração – a conformação do futuro

8. Os riscos e os desafios da reforma do processo civil na perspectiva da jurisdição

São alguns os riscos e muitos os desafios decorrentes desta reforma do processo civil, tanto para o juiz, como para as partes e respectivos mandatários. Limitar-me-ei a enunciar apenas os que considero mais relevantes.

Os riscos

Tendo como pano de fundo as ideias do debate, da cooperação, da flexibilidade, da

eficácia, e da resolução justa do litígio, esta reforma pode soçobrar, como tantas outras que

têm sido levadas a cabo no domínio processual, com as inerentes consequências em sede de processo do trabalho.

É que, embora refrescada pela ausência da base instrutória, pela nova maneira de abordar a matéria de facto, e pela atenuação das regras de preclusão, a mesma assenta ainda, em grande medida, numa estrutura processual proveniente do passado. E, por força da reforma operada em 95/96, a que vem dar continuidade, tem por base uma visão dicotómica

do processo, que parte da existência de duas audiências fulcrais no decurso do mesmo.

Sucede, que a sobredita reforma de 95/96, não teve o êxito que seria de esperar, porventura, por nunca ter sido verdadeiramente interiorizada pelos operados judiciários, seus principais usuários.

No fundo, desde aquela reforma, pouco ou nada terá mudado na maneira de encarar o processo, no modo de alegar os factos, de seleccionar os que assumiam relevo para a boa decisão da causa, na praxis judiciária, o que também se reflectiu na jurisdição do trabalho.

É certo, que o actual CPC, aposta numa outra maneira de enunciar a factualidade relevante, tendente a tornar mais sucintos e escorreitos os articulados e mais expedido o julgamento, o que é de aplaudir. No entanto, uma vez que os temas da prova, poderão assumir um conteúdo genérico ou mesmo conclusivo, será necessário um cuidado acrescido na condução da audiência final, por forma a que produção de prova não se torne em algo de perfeitamente difuso, onde tudo passa a ser questionável, dando origem ao arrastar das sessões ou ao invés, à sua realização apressada, por força da observância da programação e calendarização dos anteriormente fixados.

Importará encontrar, também aqui, um ponto de equilíbrio, o que a montante pressupõe uma correcta elaboração dos articulados, um agendamento realista dos actos a

realizar, em consonância com os mandatários das partes, e, a jusante, na audiência final, uma postura activa, persuasiva e simultaneamente disciplinadora da parte do juiz na condução do

julgamento.

Os desafios

Ao longo do processo, o legislador pretendeu fazer valer os princípios da cooperação e

participativa e de sã colaboração, com vista ao célere desenrolar do processo e à expurgação do mesmo de tudo o que possa obviar à obtenção de uma decisão de mérito.

A discussão e o debate, declaradamente pretendidos pelo legislador, pressupõem da parte dos mandatários e do juiz, a prévia preparação e o estudo aprofundado do processo, de forma a tornar verdadeiramente operativas os actos e diligências em que os mesmos participem.

Tendo apostado no reforço da oralidade (com a gravação de todas as audiências finais e a tendencial gravação da audiência prévia), o legislador apela, desse modo, a uma postura de

proximidade e de diálogo entre o julgador, as partes e seus mandatários, o que é gerador de confiança, indispensável em qualquer tipo de processo democrático.

Ao juiz exige-se, manifestamente, uma atitude de liderança activa e responsável ao longo de todo o processo, devendo dirigi-lo em termos expeditos e dinâmicos, de modo a que prossiga os seus trâmites normais, sem demoras ou entraves que não tenham verdadeira justificação à luz dos princípios e garantias processuais; bem como a adopção, em diálogo com as partes, das medidas de simplificação e agilização que no caso se impuserem, sempre com vista à obtenção de uma decisão justa.

Momento privilegiado desse activismo judiciário, é o da tentativa de conciliação, tão relevante em sede de processo do trabalho.

Olhada por muitos, como uma “etapa” menor do processo, a sua direcção tem assentado sobretudo na intuição e sensibilidade de cada magistrado, estando condicionada, muitas vezes, por agendas de serviço bastante sobrecarregadas, pelo que, de um modo geral, é baixa a taxa de resolução de litígios obtida por esta via.

Sendo, porém, conhecidas as inúmeras vantagens da conciliação: rapidez na resolução do litígio, menores custos no processo, solução final encontrada de acordo com os interesses de ambas as partes, elevado grau de cumprimento do acordado, pacificação social, etc., o legislador entendeu impulsionar esta modalidade de resolução de conflitos, impondo ao juiz o dever de se empenhar “activamente na obtenção da solução de equidade mais adequada aos

termos do litígio”.

Este novo modo de agir no domínio da conciliação, deverá traduzir-se, para o juiz do trabalho, num esforço acrescido na condução de tal diligência; o que implica, para além do mais, uma boa comunicação entre si e as partes, e uma actuação que estimulando o diálogo entre estas, seja simultaneamente cuidadosa e serena (sem jamais forçar o acordo), de modo a

salvaguardar-se a sua imagem de independência, isenção e imparcialidade. Afiguram-se-me

9. Conclusão

A sociedade em que vivemos exige, cada vez mais, modelos diversificados, expeditos, flexíveis e justos para resolver os seus problemas.

O Código de Processo Civil de 2013, não tendo cortado definitivamente com o modelo do passado, traduz, a meu ver, não somente a reforma (do) possível, no contexto em que foi aprovado, mas também um “passo” bastante significativo, na pretendida flexibilização e

aproximação dos cidadãos perante a Justiça.

Talvez possa vir a constituir a antecâmara de um processo civil diferente, mais moderno, reclamado, por muitos, há já algum tempo. Enquanto assim não sucede, importa interiorizar e potenciar as virtualidades deste novo diploma legal, na perspectiva da sua aplicação no processo do trabalho. Consistem os nossos “pequenos passos” no uso persistente e empenhado do modelo agora aprovado em benefício dos nossos concidadãos, em cujo nome julgamos.

Tudo isto sem prejuízo da necessidade de revisão do presente Código de Processo do Trabalho, ou mesmo da outorga de um novo, à luz da sobredita reforma processual civil.