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H- Critério de valoração – a conformação do futuro

4. Principais repercussões do Código de Processo Civil no Código de Processo do

4.1. O processo declarativo comum

4.1.4. Discussão e julgamento da causa

No Código de Processo do Trabalho, a discussão julgamento da causa, encontram-se previstas nos artigos 68.º a 72.º, incidindo a presente análise, sobretudo, quanto ao primeiro normativo.

4.1.4.1 O tribunal singular, a gravação da audiência e o tribunal colectivo

O art.º 68.º do CPT, que tem como epígrafe, “Instrução, discussão e julgamento da causa”, dispõe o seguinte:

1. A instrução, discussão e julgamento da causa incumbem ao tribunal singular, sem prejuízo do disposto no n.º 3.

2. Quando a decisão admita recurso ordinário, pode qualquer das partes requerer a gravação da audiência ou o tribunal determiná-la oficiosamente.

3. A instrução, discussão e julgamento da causa incumbem ao tribunal colectivo nas causas de valor superior à Alçada da Relação desde que ambas as partes o requeiram e nenhuma tenha requerido a gravação da audiência.

4. A gravação da audiência ou a intervenção do tribunal colectivo devem ser requeridas na audiência preliminar, se a esta houver lugar, ou até 20 dias antes da data fixada para a audiência de julgamento.

5. A matéria de facto é decidida imediatamente por despacho ou por acórdão, se o julgamento tiver decorrido perante o tribunal colectivo.

Nos termos dos n.ºs 2., 3 e 4, do citado preceito legal, a gravação da audiência está consagrada apenas em termos facultativos, a pedido de qualquer das partes ou por determinação do tribunal e quando a causa admita recurso ordinário.

Por seu turno, a intervenção do tribunal colectivo apenas poderá ocorrer nas causas de valor superior á alçada da relação, a pedido de ambas as partes e desde que nenhuma delas haja requerido a gravação da audiência.

Da leitura conjugada das normas em questão, retira-se, com clareza, ter sido concedida primazia ao julgamento por juiz singular. É o que resulta do seu n.º 1.

A intervenção do tribunal colectivo dependente da verificação de três pressupostos: valor da causa superior à alçada do tribunal da relação, requerimento por ambas as partes e

que nenhuma delas tenha requerido a gravação da audiência. Decorre daí que a gravação da audiência e a intervenção do tribunal colectivo funcionam alternativamente. Importa no entanto salientar que à luz do entendimento que vimos fazendo, que o regime regra deve ser agora o da gravação de todas audiências finais, regime esse que nos termos do art.º 155.º, se me afigura constituir uma das medidas emblemáticas da reforma em apreço.

Deste modo, as audiências finais em processo do trabalho, devem passar a ser gravadas, à luz daquele preceito legal.

De acordo com o dito art.º 68.º do CPT, a intervenção do tribunal colectivo, estava dependente do valor da causa ser superior ao da alçada da relação, do requerimento de qualquer das partes e de não ter sido requerida a gravação da audiência. Sendo, a partir da agora, obrigatória a gravação da audiência final nas acções, incidentes e procedimentos cautelares, não faz qualquer sentido, na actualidade, a intervenção do tribunal colectivo em sede de processo do trabalho, que, aliás, se encontra em desuso há longos anos.

É certo que o art.º 207.º da Constituição da República, prevê a intervenção dos juízes sociais no julgamento das questões de trabalho, embora não em termos obrigatórios. E que a Lei 62/2013, de 26 de Agosto (Lei de Organização do Sistema Judiciário, regulamentada pelo DL 49/2014, de 27 de Março, no que concerne à organização e funcionamento dos tribunais judiciais), continua a prever no art.º 127.º, nas secções de trabalho, a existência do tribunal

colectivo (art.º 134.º), integrado, neste caso, pelo colectivo e por dois juízes sociais, ao qual

compete julgar as causas as causas elencadas nas alíneas a), b), e), f), g) e q), do seu art.º 126.º. Trata-se, todavia, de normas que reproduzem praticamente na íntegra, o que se dispunha nos artigos 75.º, 118.º e 120.º da Lei 52/2008, de 28 de Agosto, constituindo como que o interface do previsto no CPT, sem curar de as adaptar ao novo regime processual civil (e seus óbvios reflexos no processo do trabalho), onde a intervenção do tribunal colectivo deixou, pura e simplesmente, de existir em decorrência do novo modo de conceber o julgamento da matéria de facto e de direito. Anote-se que os juízes sociais, intervêm apenas na decisão da matéria de facto (art.º 72.º, n.º 5, do CPT), não sendo compaginável essa intervenção à luz do novo regime unitário do julgamento.

Acresce que nos termos do art.º 2.º, n.º 2, da Lei que aprovou o CPC2013, se prescreve que “nos processos de natureza cível, não previstos no Código de Processo Civil, as referências feitas ao tribunal colectivo, que deva intervir nos termos previstos neste Código, consideram-

se feitas ao juiz singular, com as necessárias adaptações, sem prejuízo do disposto no n.º 5 do

intervenção do colectivo e onde o julgamento deve ser realizado por esse tribunal, nos termos previstos na data dessa admissão.

Ademais, dizendo respeito a matéria cível todas as alíneas do referido art.º 126.º, onde, em articulação com o CPT se prefigura a intervenção do colectivo, parece aceitável, também por força disso e de harmonia com o referido art.º 2.º, n.º 2, da Lei Preambular sustentar a derrogação do art.º 68.º na parte relativa à intervenção do tribunal colectivo.

4.1.4.2 A decisão da matéria de facto

Nos termos do referido n.º 5 do art.º 68.º, acima transcrito, a matéria de facto é decidida imediatamente por despacho ou por acórdão, consoante tenha tido intervenção ou não o tribunal colectivo.

Ponderando o que acima foi dito, relativamente à abolição do tribunal colectivo, apenas se incidirá a atenção quanto à decisão de facto singular. Quanto a este aspecto, nos termos já assinalados, no CPC 2013, foram suprimidas, quer a base instrutória, quer a decisão da matéria de facto e a respectiva reclamação, decidindo o juiz na sentença sobre os factos e o direito – art.º 607.º

Resulta do citado normativo legal, a decisão da matéria de facto, em sede de processo laboral, está prevista em termos autónomos, de modo muito semelhantes ao que se dispunha para o processo sumário (art.º 791.º, n.º 3 do CPC61).

Tendo em consideração que por força do CPC 2013 a decisão da matéria de facto passa agora a ser parte integrante da sentença, o que também constitui, no contexto da reforma, um dos seus elementos estruturantes, é de considerar, de novo, à luz de uma interpretação actualista da lei que, uma vez realizada a audiência final, não há lugar a essa decisão da matéria de facto, decidindo-se de facto e de direito em sede de sentença, mas com respeito pelo prazo de 20 dias para a sua elaboração, como resulta do art.º 73.º do CPT. No que se refere à pretendida celeridade ou “imediatismo” pretendidos pelo legislador laboral, o mesmo pode continuar a ser obtido através do preceituado no art.º 73.º, n.º 2, do CPT, pelo que, em caso de simplicidade, a sentença final pode ser imediatamente lavrada por escrito ou ditada para a acta.

Sendo recorrível a decisão, e tendo sido impugnada, nos termos legais, a matéria de facto, esta será apreciada em sede de recurso, nos termos dos artigos 79.º- A, 80.º, do CPT e artigos 640.º, do CPC 2013.

No caso da sentença não admitir recurso, de acordo com o preceituado no n.º 2 do art.º 77.º do CPT, podem as partes arguir nulidades da sentença em requerimento dirigido ao

juiz que a proferiu, impondo-se a este título frisar que as causas da nulidade da sentença sofreram ampliação, face ao que constava do art.º 668.º, do CPC61, delas tendo passando a constar a “ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível”, art.º 615.º, n.º 1, alínea c), parte final, do CPC 2013, o que permite à parte, nestes casos, obter a modificação da sentença, tanto na sua vertente factual como jurídica.

Duas notas apenas para a hipótese (que não subscrevo), de se considerar estarmos em

presença de uma norma especial do processo do trabalho, que continuaria a ser aplicável.

i) Estando em causa acção com valor superior à alçada do tribunal da Relação ou algum

dos casos em que é sempre admissível recurso para a Relação (art.º 79.º), fazendo-se uso do princípio da adequação formal (art.º 547.º do CPC 2013), configura-se como legítimo que, após a realização da audiência final, seja o processo concluso ao juiz para prolação da sentença, nos termos que decorrem dos citados artigos 603.º a 607.º, mas, ainda assim, com respeito pelo prazo fixado para esse efeito, supra referido. Esta solução tem a virtualidade de harmonizar o processo do trabalho com o novo regime processual civil, quanto ao carácter unitário da decisão, sem prejuízo para as partes, que, nos termos legais, terão a possibilidade de impugnar a matéria de facto fixada, em sede de recurso, respeitando-se, outrossim, os princípios que decorrem da 2.ª parte, do n.º 2, do art.º 630.º.

ii) Tratando-se de causa que não admita recurso ordinário, e face ao entendimento

que considera dever ser proferida decisão de facto autonomamente, deve ser concedido às partes o direito de impugnarem essa decisão, quer à luz da economia processual, quer, sobretudo, para lhes permitir uma eventual modificação da mesma.

E, porque o CPC 2013, tendo revogado o CPC de 1961, deixou de prever a decisão da matéria de facto e a consequente reclamação (art.º 653.º, n.º 4 do CPC61), a consequente lacuna seria integrada, nos termos do art.º 10.º, n.º 3, do Código Civil. É que, reitera-se, nesta hipótese, em que se admite a existência autónoma da decisão da matéria de facto, não conceder o (elementar) direito de impugnação, sempre se nos afiguraria uma solução pouco equilibrada, na medida em que assim se colocaria em causa a possibilidade de que as partes dispõem de verem reapreciada tal decisão. Não se podendo obviamente ignorar o carácter essencial da decisão da matéria de facto no que concerne à obtenção de uma decisão justa, outro não poderia ser o nosso entendimento nessa hipotética situação.

4.1.4.3. Causas de adiamento da audiência

Nos termos do art.º 70.º, n.º 4 do CPT,

“A audiência só pode ser adiada, e por uma vez, se houver acordo das partes e fundamento legal”.

Este normativo prevê em termos muito restritivos o adiamento da audiência. Na busca da resolução célere do litígio, o legislador, para além da consagração de outras medidas nesse sentido constantes do CPT, limitou claramente as hipóteses de adiamento da audiência, permitindo apenas um adiamento, desde que ocorra fundamento legal e o acordo das partes.

Os fundamentos do adiamento da audiência encontram-se actualmente contemplados no art.º 603.º do CPC que, manifestando claro propósito de limitar as causas de adiamento da audiência, estabelece que “verificada a presença das pessoas que tenham sido convocadas,

realiza-se a audiência, salvo impedimento do tribunal, faltar algum dos advogados sem que o juiz tenha providenciado pela marcação mediante acordo prévio ou ocorra motivo que constitua justo impedimento”.

Assim, salvo nos casos em que haja impedimento do tribunal (sendo a regra a seguir, a da prévia marcação consensual das diligências com os mandatários judiciais, art.º 151.º do CPC 2013) ou quando falte algum mandatário e o juiz não tenha providenciado pela sua marcação mediante acordo prévio, o adiamento pode agora ter lugar com base na ocorrência de motivo que constitua justo impedimento.

O justo impedimento encontra-se previsto no art.º 140.º, n.º 1, em termos idênticos aos constantes do CPC anterior e consiste no “evento não imputável à parte nem aos seus

representantes ou mandatários que obste à prática atempada do acto.”

Embora fosse discutível se o justo impedimento era adequado para justificar o adiamento da audiência, por verdadeiramente não estar em causa a prática de qualquer acto peremptório, a realizar pela parte ou pelo seu mandatário, nem o mesmo se enquadrar nas causas de adiamento consignadas na lei (art.º 651.º, do CPC 1961), alguma jurisprudência vinha-o aceitando à luz de máximas de justiça.

Uma vez que o CPC 2013, o consagrou, expressamente, como um dos fundamentos integradores do adiamento da audiência, embora deva ser devidamente adaptado para esse efeito, o regime especial decorrente do art.º 70.º, n.º 4 do CPT, deve agora ser articulado com os referidos artigos 603.º e 140.º, parecendo dever continuar a exigir-se a verificação dos demais requisitos ali contidos, assim se salvaguardando, entre o mais, a celeridade reclamada neste tipo de processo.