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4 Análise e discussão dos resultados

4.4 Conclusões do capítulo

Apesar de todos os factores que influenciam os resultados das técnicas utilizadas (termografia, esclerómetro e ultra-sons), estudos anteriores mostraram que as técnicas podem ser utilizadas na avaliação do desempenho mecânico em serviço de argamassas de revestimento de paredes, podendo ser complementadas com outras técnicas de diagnóstico (ex.: humidímetro, tubo de Karsten).

O ensaio com câmara termográfica permite identificar algumas zonas fissuradas, independentemente da sua abertura média. No termograma, estas zonas podem estar mais quentes ou mais frias, consoante as condições de inspecção e as condições do paramento analisado. Quando o Sol incide directamente no paramento, a temperatura nas fissuras é mais elevada do que no resto do paramento devido à concentração de calor no ar no interior. Contudo, existem situações com presença de humidade superficial em que tal não se verifica, ou seja, a temperatura na zona da fissura é inferior à do resto do paramento. Nestas situações, a presença de humidade superficial provoca a diminuição da temperatura na envolvente da fissura, sendo, por isso, identificada por um decréscimo de temperatura no termograma.

Nos termogramas, as fissuras também são visíveis, quando acompanhadas de colonização biológica. Quando se verificam estas duas anomalias, apesar da humidade presente, a cor mais escura, associada a colonização biológica, provoca um aumento da emissividade e, consequentemente, da temperatura superficial apresentada no termograma.

A presença de humidade também é detectável pela termografia, sendo uma zona mais fria no termograma. Este facto relaciona-se com a elevada condutibilidade térmica da água e com o carácter endotérmico da reacção de evaporação. Contudo, serão sempre necessários outros ensaios de modo a confirmar a causa da temperatura mais reduzida. A utilização do humidímetro em conjunto com a termografia, permite identificar se, de facto, são zonas que apresentam humidade.

Conclui-se que o ensaio de ultra-sons permite detectar a existência de fissuras e à presença de humidade no paramento. Quando se verifica a presença de fissuração (abertura média a 0,4mm), a velocidade de propagação das ondas ultra-sónicas tende a diminuir, em média, quando comparada com a velocidade em zonas sem anomalias. Com a presença de humidade esta velocidade aumenta. A análise dos resultados de ultra-sons torna-se mais complicada quando se verifica a presença destas duas anomalias, pois, por um lado, a existência de fissuração levaria a uma diminuição da velocidade aparente de propagação das ondas ultra-sónicas e, por outro, a presença de humidade faria aumentar a velocidade aparente de propagação. Nesta situação, torna-se essencial o cruzamento de resultados com outras técnicas de ensaio, tais como o uso do humidímetro.

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O ensaio com esclerómetro apresenta diferentes resultados na presença de fissuração e perda de aderência. A presença de colonizações biológicas, normalmente associadas à excessiva presença de humidade e degradação da superfície, amortece o impacto do pêndulo, fazendo diminuir o valor do ressalto, apesar de o paramento apresentar boas condições de aderência e não apresentar fissuração. Nestas situações, a utilização de termografia permite obter um mapeamento da distribuição de temperatura, sendo visíveis as zonas onde a presença da humidade é mais elevada, podendo também definir-se as zonas onde existem colonizações biológicas.

Existem ainda casos onde, apesar de existir humidade superficial, a temperatura registada no termograma é superior nas zonas do paramento sem anomalias. Este facto relaciona-se com a emissividade das superfícies. Normalmente, estas zonas com humidade superficial têm, também, presença de colonização biológica/sujidade, tornando-as mais escuras e, por isso, possuem um valor de emissividade mais elevado, fazendo com que a temperatura no termograma seja superior à do resto do paramento. O mesmo resultado é obtido em zonas com presença de sujidade, provocada por escorrências. Nestas situações, também se considera essencial o cruzamento de resultados de outras técnicas.

A utilização de técnicas de ensaio in-situ na avaliação do comportamento mecânico em serviço pode, por vezes, fornecer informação pouco objectiva e ambígua à inspecção visual. A análise de fissuração através da termografia é um exemplo disso. Independentemente da abertura média das fissuras, a sua análise através dos termogramas torna-se difícil, principalmente devido à falta de gradiente térmico entre as duas superfícies dos paramentos.

Por outro lado, a utilização de outras técnicas de ensaio in-situ pode tornar-se numa mais-valia para o melhor entendimento das causas das anomalias, pois permitem complementar a informação obtida através da inspecção visual e das outras técnicas., como por exemplo, caracterizar a extensão da degradação (perda de aderência), a profundidade de determinadas anomalias (ex.: fissuração) e ainda a constituição dos paramentos.

Além da conjugação entre as diferentes técnicas, a análise dos resultados a nível individual também pode ajudar bastante a inspecção visual. Através da termografia, é possível detectar e confirmar a informação obtida durante a inspecção visual. Assim, para zonas de difícil acesso (como por exemplo o muro de contenção da EN6), foi possível extrapolar a informação obtida pela termografia de modo a compreender as anomalias que se manifestam nessas zonas. Exemplos disso são as zonas que apresentam perda de aderência e empolamentos.

A variabilidade das técnicas de ensaio in-situ é outro aspecto a ter em conta, especialmente durante a realização dos ensaios e a análise dos resultados obtidos. Como exemplo, a termografia é afectada pela

85 incidência directa da radiação solar, os resultados dos ultra-sons variam com a presença de humidade e o índice esclerométrico altera-se com a rugosidade dos paramentos.

A compreensão de todos os factores que influenciam as diferentes técnicas, aliada ao cruzamento de resultados, são passos de elevada importância no que diz respeito à interpretação dos resultados obtidos nas inspecções em serviço.

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