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5 Conclusões e desenvolvimentos futuros

5.2 Conclusões finais

Durante as campanhas experimentais, para além da inspecção visual, foram realizados ensaios com câmara termográfica, ultra-sons e esclerómetro PT. Sempre que possível, a inspecção visual foi complementada com resultados de ensaios, efectuados paralelamente a esta dissertação (humidímetro e tubo de Karsten). Os resultados de todos estes ensaios permitiram obter informação não só relativamente à caracterização dos diferentes tipos de argamassas, mas também informação relacionada com a sensibilidade, viabilidade e potencialidade de cada técnica de ensaio face ao estado de degradação apresentado pelos paramentos.

O comportamento mecânico de argamassas está relacionado com a capacidade de resposta que as mesmas apresentam face às solicitações que lhe são impostas, sem que alterem a seu desempenho mecânico. Neste domínio, podem ser avaliadas características como a capacidade de deformação, a perda de aderência, a resistência superficial e a resistência mecânica interna.

Através dos resultados das diferentes técnicas, foi possível inferir acerca do comportamento mecânico dos diferentes paramentos analisados. A utilização da termografia permitiu detectar, em geral, a presença de colonização biológica e humidade e, em alguns casos, a existência de fissuração, empolamentos, perdas de aderência e descasques. Estas anomalias estão relacionadas com a perda de desempenho mecânico. De igual modo, através do ensaio com esclerómetro, foi possível avaliar a perda de resistência superficial e a perda de aderência do revestimento através da sua sensibilidade em relação a anomalias como a desagregação, empolamentos e colonização biológica (que provoca a desagregação do revestimento). Por fim, a utilização dos ultra-sons permitiu averiguar a perda de desempenho mecânico das argamassas, relacionado com anomalias como fissuração, empolamento e desagregação.

Uma vez que todos os paramentos analisados apresentavam, geralmente, o mesmo tipo de anomalias (fissuração, presença de humidade superficial, sujidade, alterações cromáticas e colonizações biológicas), foi possível fazer uma análise da sensibilidade e da potencialidade de cada técnica face a essas anomalias. Como esperado, o ensaio de ultra-sons mostrou-se sensível à presença de fissuração (aberturas entre 0,5mm e 1,5mm), apresentando resultados, em média, 40% inferiores quando comparados com zonas aparentemente sem fissuração. Apesar disso, nos locais onde se verificou simultaneamente a presença de fissuração e humidade superficial, os resultados obtidos foram mais elevados, em comparação com zonas sem fissuração aparente. Este fenómeno relaciona-se com o facto de a presença de água facilitar a propagação das ondas ultra-sónicas. Salienta-se que, em todas as

89 campanhas, foi utilizado o mesmo material (vaselina), tentando repor-se a mesma quantidade em todas as medições.

Relativamente aos ensaios com a câmara termográfica, conclui-se que é uma técnica bastante sensível à presença de humidade e, principalmente, às diferenças de tonalidade/sujidade. De facto, sempre que se verificou a presença de sujidade ou colonização biológica (geralmente zonas mais escuras), após incidência directa do Sol no paramento, estas eram indicadas no termograma como zonas mais quentes, devido à maior emissividade dessas superfícies. Contudo, se essas zonas escuras fossem devido à presença de humidade superficial e o paramento tivesse sido sujeito a incidência directa, o termograma apresentava-as como zonas mais frias, apesar da sua superior emissividade.

A fissuração é uma anomalia que raramente se identifica nos termogramas. Independentemente das aberturas médias verificadas, nos termogramas, em geral, apenas eram visíveis zonas de fissuras que estavam envolvidas por humidade ou por colonização biológica. Este facto pode estar relacionado com o diminuto gradiente térmico entre as superfícies frontal e de tardoz dos paramentos analisados e também com o facto de não ter ocorrido precipitação antes da realização dos ensaios (se o paramento tivesse absorvido água, as fissuras seriam mais notórias).

No que diz respeito ao esclerómetro, este ensaio mostrou-se algo sensível às anomalias presentes nos paramentos. De facto, e como esperado, as zonas onde durante a inspecção visual foi detectada perda de aderência, o valor do índice esclerométrico apresentava valores inferiores. O mesmo se constatou nas zonas onde se verificou a presença de colonização biológica, que provocou a desagregação do reboco à superfície. Estas anomalias absorvem parte da energia de impacto do pêndulo, fazendo diminuir o seu ressalto e, consequentemente, o valor do índice esclerométrico.

O cruzamento dos resultados das diferentes técnicas é um passo de extrema importância na compreensão do desempenho mecânico em serviço e do estado de degradação dos paramentos analisados. De outro modo não seria possível concluir acerca da diferença dos resultados da termografia relativamente à presença de humidade superficial/sujidade, simultaneamente com a alternância da incidência directa da radiação solar. De igual modo, também não seria possível justificar o aumento da velocidade aparente de propagação das ondas ultra-sónicas nas zonas onde a fissuração se manifesta juntamente com a humidade superficial.

Existem situações onde a realização de ensaios como forma de complemento à inspecção visual não se justifica, pois a informação obtida é pouco objectiva e ambígua, como é o caso da termografia na análise de fissuração. A visualização de fissuras durante a inspecção visual, é um processo bastante simples, independentemente da sua abertura média. Deste modo, a utilização da termografia para análise da fissuração não acrescenta muita informação mostrando, em geral, no termograma, as

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fissuras detectadas durante a inspecção visual. No entanto, em zonas de difícil acesso essa informação pode tornar-se numa mais-valia.

A análise dos resultados dos ensaios individualmente pode ser uma mais-valia em casos onde se verifica a dificuldade de acesso, particularmente os resultados da termografia. Na campanha do muro de contenção, muitas das zonas analisadas eram de difícil acesso, devido à altura do muro, e, por isso, apenas foram realizados ensaios de termografia. A análise dos resultados da termografia referentes às outras campanhas permitiu extrapolar a informação obtida. Desta forma, foi possível perceber as variações de temperatura apresentadas nos termogramas das zonas mais elevadas, percebendo as possíveis anomalias verificadas durante a observação visual.

Em relação aos acabamentos, o esclerómetro mostrou-se muito sensível, no que diz respeito à rugosidade. Na campanha do IST, o muro apresentava uma rugosidade considerável. Assim, os resultados obtidos, com e sem desgaste da superfície, apresentam uma diferença de cerca de 74%. A rugosidade aumenta o amortecimento do pêndulo, fazendo diminuir o valor do seu ressalto e, consequentemente, o valor do índice esclerométrico. No entanto, o desgaste da superfície em análise não se costuma efectuar em inspecções in-situ de revestimentos por questões de ordem estética, como aconteceu nas campanhas do LNEC e do muro de contenção.

A comparação dos resultados obtidos pelas diferentes técnicas de ensaio é essencial para que melhor se perceba o comportamento mecânico dos revestimentos de fachadas. Deste modo, é possível concluir com maior certeza acerca das causas e das anomalias que afectam o comportamento mecânico.

A inspecção visual constituiu um passo fundamental na análise de cada paramento, pois permitiu, numa fase inicial, avaliar o estado de degradação do elemento em estudo, embora de forma limitada. Assim, foi possível inferir acerca da influência das anomalias verificadas, quer nos resultados dos ensaios, quer no comportamento mecânico dos elementos.

Pelo referido, o trabalho realizado atingiu os objectivos propostos, uma vez que atesta a influência de vários factores na avaliação do desempenho mecânico de argamassas de revestimentos, através de técnicas de ensaio in-situ. Permitiu também concluir acerca da viabilidade, sensibilidade e potencialidade das técnicas de ensaio in-situ utilizadas na avaliação do comportamento mecânico e do estado de degradação de revestimentos de argamassa. Por último, este estudo propõe uma metodologia de inspecção que se inicia com uma inspecção visual, seguida de termografia, que permite uma caracterização geral do estado de degradação do paramento, complementada com ensaios localizados recorrendo às técnicas de ultra-sons e esclerómetro. Esta metodologia baseia-se em técnicas pouco intrusivas que, em complemento da inspecção visual, pode contribuir para a redução da subjectividade

91 da análise in-situ e, consequentemente, para melhorar a fiabilidade do diagnóstico em serviço do desempenho mecânico dos rebocos aplicados.

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