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3. Diagnóstico ao inventário e à documentação de coleções arqueológicas do Museu

3.4. Conclusões do diagnóstico

Feito o retrato aos sectores relacionados com o inventário e a documentação, constata-se que no tocante ao SIC, ainda que não tenha um manual de procedimentos escrito e formalmente implantado, o inventário obedece a muito do enunciado por autores que se debruçam sobre as especificidades da documentação e inventário em museus de arqueologia, nomeadamente segue as Normas de Inventário para esta disciplina (Cruz e Correia, 2007; Raposo, Martins e Correia, 2000) publicadas pela tutela, bem como as recomendações processuais que têm vindo a ser divulgadas por

instituições que se debruçam sobre o tema, e se encontram sumarizadas por Andrew Roberts (2004, pp. 37–38) por exemplo.

Apesar das dificuldades apresentadas pela sua coleção – dificuldades que se tentaram colmatar ao longo dos 125 anos de existência do MNA e que culminam na (co)existência de diversos sistemas e números de inventário –, expostas nos dois trabalhos de inventário elaborados no âmbito de trabalhos académicos que foram alvo de análise, o SIC dispõe de diferentes elementos para a elaboração dos processos de sítios arqueológicos, onde é reunida a informação bibliográfica e documental sobre o mesmo, e de onde se salientam as fichas de complexo, que enumeram os objetos pertencentes aos sítios, agrupando-os por contexto. Os objetos são sumariamente descritos nestas fichas, sendo um inventário mais pormenorizado efetuado no programa Matriz 3.0.

Verifica-se que na ficha Matriz são preenchidos os campos essenciais para uma eficaz gestão das coleções – uma vez que este programa se encontra em conformidade com a norma ISO 21 127:2006156, norma desenvolvida tendo por base o CIDOC CRM –,

bem como para conhecer o historial de exposições, de presença em publicações e de conservação de um determinado objeto. Salienta-se ainda o facto de o SIC e o LCR trabalharem em grande proximidade, com o SIC a identificar carências de conservação, durante o trabalho de revisão sistemática dos sítios e espólios à sua guarda, e o LCR a agir sobre os bens.

Apesar do inventário em Matriz 3.0, nem todas as fichas elaboradas se encontram disponíveis mediante a plataforma para divulgação MatrizNet, sendo que, na maior parte dos casos, tal se deve ao facto de a ficha não corresponder ainda aos padrões do MNA, devido à falta de elementos como uma imagem representativa. Contudo, nas fichas de objetos que são disponibilizadas, a informação disponível resume-se às indicações que mais interesse terão para o público ou mesmo para investigadores, que podem usar estas fichas como ponto inicial de partida para a sua investigação, encontrando aí indicações bibliográficas, não só a bibliografia consultada para a caracterização dos bens, recorrendo-se à identificação de paralelos com outros

objetos já identificados, mas também a referente ao objeto em si, caso tenha sido alvo de estudo ou tenha estado patente numa exposição. Salienta-se o facto de diversos campos preenchidos no Matriz 3.0 não aparecerem no MatrizNet, como o sítio arqueológico que seria pesquisável em versões anteriores e que é hoje omisso. Sendo uma informação essencial para investigadores da área, o SIC, ao dar-se conta deste problema em 2011, resolveu enunciar este dado também no ‘historial’, de certa forma duplicando a informação, mas facilitando a pesquisa aos interessados. Este cuidado mostra que, tal como o MAN, o MNA está atento ao que o seu público procura e tenta facilitar, mediante os instrumentos que tem à sua disposição para o inventário e documentação das suas coleções, toda a informação que detenha sobre os seus acervos e seja passível de ser comunicada.

Porém, ao analisar-se as diversas fichas elaboradas pelo SIC no programa Matriz, parece ser notória a necessidade de revisão e uniformização no preenchimento de alguns dados157, como no caso dos coletores, tendo-se observado a multiplicação de

registos, como por exemplo “Manuel e Maria Maia” e “Manuel Maia e Maria Maia”, quando os dois nomes deveriam até surgir separadamente, com a criação de uma ficha para cada um dos nomes. Verifica-se também, uma profusão de denominações, mesmo dentro da própria ciência arqueológica, ainda que dentro de quatro ou cinco grandes tipos, uma vez que as peças são denominadas pela sua função e alguns termos mais específicos são limitados a determinada cronologia ou área geográfica (Cruz e Correia, 2007, p.66). No exemplo da Fraga, tal é evidenciado pela opção, por parte da autora da tese e do SIC, de diferentes termos para determinados objetos, o que pode ter também consequências em termos de pesquisa, pelo que, como já foi abordado anteriormente, seria uma mais-valia que arqueólogos e profissionais de museus trabalhassem em conjunto na elaboração de um tesauro para a disciplina.

Ainda no que diz respeito ao Matriz 3.0, constata-se que não são usadas todas as funcionalidades que, segundo o Manual do Utilizador (Instituto dos Museus e da Conservação e Departamento de Património Imaterial, 2011), são disponibilizadas, caso do inventário de fundos documentais. Sendo que o MNA não dispõe de software de

157 Veja-se também REMELGADO, Ana Patrícia Soares Lapa – Gestão integrada de colecções

arquivo, excluindo o que foi usado para a construção e disponibilização do espólio de Manuel Heleno, alvo de tratamento documental no âmbito de um projeto, e que o SIC, no decorrer do seu trabalho de revisão sistemática dos sítios arqueológicos, precisa de recorrer por várias vezes ao espólio documental detido pelo AHMNA, poderia conjugar- se esforços e abordar o acervo documental de forma semelhante, aproveitando o AHMNA as informações recolhidas pelo SIC, na leitura dos diversos documentos, para construir uma base de dados que fosse útil aos dois sectores bem como para os utilizadores, já que o AHMNA possui um acervo arquivístico e documental bastante rico, podendo servir de ponto de partida para os mais variados trabalhos de investigação arqueológica mas também da história de outras ciências sociais, pelo que é importante torna-lo acessível e dar-lhe destaque.

Ainda no tocante ao AHMNA, existe alguma indefinição no uso do termo Arquivo Histórico, sendo que este no MNA é sobretudo entendido como o Arquivo Administrativo (ou Arquivo Morto), e nos limites de cada um dos acervos arquivísticos. Não obstante existirem os Arquivos Pessoais de diretores e técnicos da instituição, e o arquivo administrativo, é possível que haja duplicação de documentos nos diversos fundos, ou a evolução de um documento ou processo, pelo que deveria ser ponderado o tratamento conjunto destes fundos, ou pelo menos deveria ser tentado relacioná-los de alguma forma, sob pena de se perder informação.

É notória, por tal, a dispersão de informação e alarmante a previsibilidade da sua perda a curto-médio prazo, com a passagem à reforma de parte dos funcionários do MNA que estiveram presentes e assistiram a tão grandes mudanças, como a desmontagem nos anos de 1980, e que têm por isso memória de situações e espaços hoje difíceis de visualizar. São ainda pessoas com um grande conhecimento de toda a história do Museu e com experiência de anos a lidar com coleções com especificidades de documentação e inventário muito particulares. Seria importante sistematizar uma série de dados, talvez compilar e atualizar a história do Museu, pegando nos conteúdos já publicados e acrescentando a informação dos últimos 30 a 50 anos, com a participação destes técnicos e outros, que têm passado pelo MNA e deixado o seu contributo.