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A pesquisa aqui desenvolvida procura responder a questão: “os ciclos de vida das empresas inspiram diferenças na qualidade da informação contábil entre os países em período de crise?” Para tal buscou-se identificar a influência dos estágios de ciclo de vida organizacional no período da Crise Financeira Global sobre duas medidas da qualidade da informação contábil: o value relevance e o gerenciamento de resultados.

Essa pesquisa teve como objetivo geral: analisar a influência dos diferentes estágios do ciclo de vida sobre o value relevance e sobre o gerenciamento de resultados das companhias abertas não financeiras na ocorrência da Crise Financeira Global.

Para esse efeito foram obtidos dados da base Refinitiv Eikon® com periodicidade anual, em dólares americanos com 201.870 observações para o modelo global. Em seguida, a amostra foi categorizada em diferentes clusters (G7 e BRICS, sistema legal e individualizado por países), dado que análises entre países (cross-country) representam um cenário poderoso para investigar questões relacionadas aos efeitos econômicos das informações contábeis-financeiras (BUSHMAN; SMITH, 2001).

A revisão de literatura destacou o estágio do ciclo de vida das organizações como importante fator de diferenciação do valor de mercado de empresas semelhantes e sobre as decisões de investimento e financiamento e sobre a qualidade dos resultados reportados pelas empresas (GORT E KLEPPER, 1982; MILLER; FRIESEN, 1984; PARK; CHEN, 2006; DICKINSON, 2011; LIMA et al., 2015; Costa et al., 2017).

E que durante a crise financeira, a qualidade dos lucros é reduzida, enquanto a relevância do patrimônio líquido aumenta (COSTA; REIS; TEIXEIRA, 2012; PERSAKIS, 2018). Mas também que a crise pode oferecer a oportunidade de discrição gerencial e de "big baths", com a utilização dos accruals discricionários como meio para se reduzirem receitas (KOUSENIDIS; LADAS; NEGAKIS, 2013).

O primeiro objetivo específico foi atendido pela classificação dos Estágios de Ciclo de Vida pelo uso do modelo de Dickinson (2011), a partir dos sinais dos fluxos de caixa

operacional, de investimento e de financiamento, integradas nas cinco etapas do ciclo de vida: Introdução, Crescimento, Maturidade, Turbulência e Declínio.

As análises foram efetuadas com base nas metodologias e testes utilizados na literatura sobre as dimensões de qualidade da informação contábil, dentre eles: value relevance, a partir do modelo pesquisado por Barth, Beaver e Landsman (1998) com base em Ohlson (1995); enquanto para o gerenciamento de resultados, pelos níveis anormais de accruals, a partir do modelo de accruals discricionários de Kothari, Leone e Wasley (2005), que tem base em Jones (1991).

Já para atender aos objetivos específicos dois e três, analisou-se mediante estatísticas descritivas, regressões com dados em painéis em cada modelo testado com a utilização do pacote estatístico Stata/IC 15.0 para Windows. Tendo, ainda, como cuidados estatísticos para assegurar a robustez das evidências na realização dos testes empíricos da associação entre as variáveis que representam o ciclo de vida organizacional e crise financeira global foram realizados testes de raiz unitária, teste de fator de inflação da variância (FIV) e testes de heterocedasticidade e autocorrelação.

Os resultados apontaram que a relevância do patrimônio líquido e do lucro líquido, no período da Crise Financeira Global, apresenta-se estatisticamente significativa para os estágios de menor saúde financeira, ECVs de turbulência e declínio, o que pode indicar que outras variáveis possam ter assumido maior relevância para empresas classificadas nos ECV de introdução, crescimento e maturidade; enquanto para os estágios de turbulência e declínio, os investidores reconheçam como relevantes para o valor os valores contábeis do patrimônio líquido e do lucro líquido, do que outras informações.

Constatou-se, ainda, que a relevância do lucro líquido diminui enquanto a do patrimônio líquido aumentou no período de 2004 a 2018, ao passo que, no período da crise financeira global, os resultados apontam que a relevância, tanto do patrimônio líquido quanto do lucro líquido, diminuiu no período, contrariando estudos anteriores, o que questiona se outras informações não se tornaram relevantes no período.

As empresas nos estágios de introdução, crescimento, turbulência e declínio exibiram um nível de gerenciamento de resultados estatisticamente significativo e maior do que as empresas no estágio de maturidade no período de 2004 a 2018. Por outro lado, no período da

Crise Financeira Global em relação ao estágio de maturidade, os diferentes estágios não exibiram diferenças significativas no nível de gerenciamento de resultados.

Os resultados lançam luz sobre: a) o estágio do ciclo de vida das organizações como importante fator de diferenciação do valor de mercado de empresas semelhantes e sobre a qualidade dos resultados reportados; b) os efeitos da crise financeira global na qualidade dos relatórios financeiros de países do G7 e BRICs, e de diferentes regimes legais: common law e code law; c) a identificação de quais países exibem informações contábeis de alta qualidade, apesar da crise; d) a utilização dos padrões internacionais de contabilidade (IFRS), seu efeito positivo no valor de mercado das empresas, e um efeito negativo sobre o gerenciamento de resultados.

Sugere-se para pesquisas futuras: i) investigar o papel de ativos intangíveis e significância de itens não recorrentes, reversão de accruals, qualidade da auditoria, fechamento de capital, problemas financeiros, ou quanto ao efeito de normas específicas, sobre os diferentes estágios do ciclo de vida; ii) utilizar outras abordagens e métricas para a qualidade da informação contábil e para o ciclo de vida; iii) testar diferentes períodos de crise ou outras variáveis de controle; e iv) realizar análises entre países (cross-country), pois representam um cenário poderoso para investigar questões relacionadas aos efeitos econômicos das informações contábeis-financeiras (BUSHMAN; SMITH, 2001).