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No capítulo introdutório apresentávamos os objetivos principais do nosso estudo, sendo o principal objetivo estudar as colocações lexicais independentemente, ou seja, apresentar algumas ideias gerais sobre o fenómeno. Ao analisar diferentes definições, chegamos à conclusão de que a colocação lexical não é uma combinação livre de palavras, uma vez que existem determinadas leis e tendências, que estabelecem limites na construção de colocações e que se revelam mais ao nível semântico do que sintático, ou seja, do ponto de vista da sintaxe, uma colocação lexical apresenta a mesma estrutura que uma combinação livre.

Ao analisar algumas definições de colocações, descobrimos a existência de diferentes abordagens desta questão. Alguns estudiosos prestam atenção somente à teoria, ou seja, descrevem diretamente as cataterísticas de colocações e outros trabalham com dados estatísticos, que permitem não só falar sobre os principais traços do fenómeno, como também sobre o seu uso, e frequência, nas línguas concretas. Contudo, há autores que nos seus estudos misturam duas abordagens diferentes. Nós não escolhemos uma única maneira de abordar a questão: trabalhavamos com a teoria e, ao mesmo tempo, fizemos uma análise prática de exemplos de colocações.

Outro objetivo do trabalho era determinar o lugar da colocação entre os outros tipos de combinações lexicais. Para isso, imaginamos um vetor, que representa o aumento do grau de fixidez das combinações lexicais: no extremo esquerdo do vetor estariam as combinações lexicais livres e no extremo direito estariam os frasemas completos. Os quase-frasemas e as colocações ocupariam um lugar mais central e, por isso, em nosso entender, são estruturas mais difíceis de identificar, de estudar e de ensinar.

Tendo estudado diferentes classificações de combinações lexicais, observamos que todos os linguistas estudados usam termos próprios, que não se encontram nos trabalhos de outros autores. No entanto, isto não significa que eles falem sobre as situações completamente diversas. A nossa intenção não era tanto estudar a terminologia, mas sim a maneira de descrever os fenómenos lexicais. Por isso, na nossa própria investigação, não prestamos muita atenção a

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termos: a análise de classificações ajudou-nos a compreender que mais importante do que a classificação em si e a correspondente terminologia é a compreensão e a descrição do fenómeno.

Apesar de o estudo das diversas classificações de combinações lexicais de Mel’čuk ser central no nosso trabalho, descobrimos que, mesmo que o termo de colocação lexical não se encontrasse nos estudos de todos os linguistas apresentados, não significa que esta ideia não existisse antes de Mel’čuk: de uma ou de outra maneira vários estudiosos tratavam este conceito, embora alguns deles não conseguissem descrevê-lo e classificá-lo tão detalhadamente. Dentre os precursores, destacamos Charles Bally (vd. supra 2.4.1) que já reflete sobre as séries verbais e as estruturas com os verbos-suporte. As definições deste fenómeno têm a ver com a ideia contemporânea de colocações. Além disso, a análise das classificações de diferentes autores permitiu estudar o desenvolvimento das ideias sobre diversas combinações de palavras, ou seja, examinar as tendências da evolução de conhecimentos sobre fenómenos lexicais, nomeadamente, sobre as colocações. Trabalhando com as classificações, chegamos à conclusão de que não seria eficaz analisar somente os estudos mais contemporâneos ou somente os estudos que incluem explicitamente o termo “colocação lexical”. Por exemplo, sem cohecimentos iniciais, tirados do estudo de Chakhmatov, nunca poderíamos perceber as ideias do seu discípulo Vinogradov e, tendo por base estes estudiosos, bem como classificações de autores de épocas diversas, conseguimos compreender melhor as colocações lexicais e outras combinações de palavras.

Com esta base teórica como ponto de partida, já podíamos estudar as colocações sob uma perspetiva mais prática, construindo listas de colocações em português e em russo. Este modo de investigação permitiu não só analisar o fenómeno de colocação mais detalhadamente, mas também revelar diferenças entre os sistemas da língua portuguesa e da língua russa quanto à construção e ao uso de colocações lexicais. Contudo, em nosso entender, isto pode ser útil para posteriores investigações de autores que terão como objetivo a análise contrastiva destas línguas nos outros níveis gramaticais. Quanto ao nosso trabalho, esta investigação também ajudou na realização de outro objetivo: a proposta de métodos de ensino de colocações lexicais no processo ensino-aprendizagem de PLE para falantes russos.

Ao analisar exemplos de colocações, pudemos concluir que estas podem ser divididas em três grupos: colocações com equivalentes absolutos, colocações sem equivalentes com a mesma estrutura e casos intermédios. Não realizamos esta divisão para criar mais uma classificação, mas sim para compreeender as diferenças nos métodos didáticos para diversos grupos de colocações,

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o que foi essencial para o nosso trabalho, porque antes de começarem a ensinar colocações, os professores primeiramente têm que prestar atenção a casos que podem provocar interferências com a língua materna, e tentar evitá-las.

Quando começamos a ensinar uma língua estrangeira, devemos combater nos nossos alunos hábitos linguísticos já fortemente enraizados que são os da língua materna. (Girard, 1997: 18-19)

Assim, consideramos no primeiro grupo os casos de colocações lexicais mais fáceis de compreender através da língua materna e, no segundo, aqueles que somente podem ser compreendidos pelo aluno quando ele “esquece” a sua própria língua e tenta perceber as realidades alheias.

No caminho, não pudemos evitar mais algumas reflexões, como o papel de colocações lexicais no processo ensino-aprendizagem de PLE e, em geral, a importância de estudo de colocações na aprendizagem de uma língua estrangeira. O argumento mais importante é que não se pode estudar uma língua estrangeira de maneira descontextualizada, limitando-nos à aprendizagem de regras gramaticais e vocabulário isolado. Esta tem que ser realizada através de estruturas mais complexas, do que as palavras que aparecem nos dicionários.

There is a sense of relief that language learning and teaching does not, after all, involve such painful activities as the learning of decontextualized vocabulary or attention to, and conscious knowledge of, grammatical rules. Under this dispensation, comprehension has ceased to be, sometimes, the ability to account for every word and sentence, but rather a general sense of overall drift, intention, and social purpose. (Cook, 1995 : 142)

Neste contexto, ganha especial relevo uma estrutura como a colocação lexical, uma vez que é a estrutura universal que permite desenvolver experiências de combinação de palavras na lingua estudada, aprender o novo léxico e regras gramaticais em contexto.

O tratamento que as colocações lexicais recebem nos métodos de ensino de línguas estrangeiras foram também objeto da nossa reflexão. Chegamos à conclusão que não se pode usar preferencialmente um só método, como se faz, por exemplo, nos materias didáticos de PLE para falantes russos, mas é preciso combinar os métodos, não só usando os tradicionais, mais também os mais modernos.

In language pedagogy, the new theoretical emphasis in linguistics is invoked to provide an opportunity to reject the methodologies os the past and to move on, it seems, to something better and more liberal. (Idem, 141)

Nesse sentido, o aspeto mais importante é saber combinar as ideias já existentes, misturando métodos de maneira mais eficaz e prestando atenção a questões, que, infelizmente,

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não se abordam suficientemente na didática moderna. O nosso objetivo, neste aspeto, era mostrar a importância do estudo de colocações lexicais, nomeadamente no processo ensino- aprendizagem de PLE para falantes russos, prestando atenção às dificuldades, que podem surgir da parte do professor e da parte do aprendente, e, baseando nos métodos existentes, propor a nossa própria visão do ensino das colocações, evitando centrarmo-nos somente num único método, como dissemos, um tipo de aluno ou um tipo da aula. Assim, propomos alternativas para os alunos universitários, que devem associar aulas de língua e aulas de linguística e alternaticvas para os alunos de cursos de língua, com mais necessidades comunicativas e menos interesse por questões linguísticas e gramaticais. Não negando a eficácia do método tradicional gramática- tradução, propomos o uso de outros métodos alternativos que em determinados contextos pode incluir mesmo componentes humorísticos, e demos, ainda, atenção à importância das aulas de tradução para aprendentes russos de PLE.

Pensamos que a nossa investigação pode servir como ponto de partida para outros professores interessados no fenómeno da colocação lexical e abertos à ideia de combinar os métodos didáticos.

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