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4 Colocações lexicais no ensino-aprendizagem de PLE para falantes russos

4.1 Métodos de ensino de línguas estrangeiras Método gramática-tradução

Já nos referimos neste trabalho à tradução como um dos métodos de ensino de línguas estrangeiras, sendo, também, necessário indicar as principais questões que surgem no processo ensino-aprendizagem de língua estrangeira neste contexto, uma vez que a tradução não é o único método usado na pedagogia moderna.

Primeiro, queríamos efetuar uma pequena digressão pela história dos métodos de ensino de línguas e pela situação que existe nas universidades contemporâneas russas e, em geral, nos cursos de línguas estrangeiras, nomeadamente, da língua portuguesa.

O método mais tradicional e antigo que aqui abordaremos é o chamado “método gramática-tradução” (the grammar-translation method), que nasceu no início do século XIX, centrado na sequência rigorosa de atividades na aula (Johnson, 2001):

While there is some variation, grammar-translation usually consists of the following activities:

1. Explanation of a grammar rule, with example sentences. 2. Vocabulary, presented in the form of a bilingual list.

3. A reading selection, emphasizing the rule presented in (1) above and the vocabulary presented in (2).

4. Exercises designed to provide practice on the grammar and vocabulary of the lesson. These exercises emphasize the conscious control of structure <…> and include translation in both directions, from L1 to L2 and L2 to L1 (Krashen, 1987: 127)

Como podemos ver, o acento deste tipo de método faz-se na tradução, ou seja, é a atividade principal na aula, através da qual os aprendentes têm que aperfeiçoar os seus conhecimentos da língua estrangeira.

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O método “gramática-tradução” é mais teórico do que prático e apesar de ser útil em alguns casos, por vezes torna-se ridículo, porque alguns exemplos de exercícios são inventados só para ilustrar as regras gramaticais, mas não têm nada a ver com a realidade. O foco está inteiramente na forma, não no conteúdo (Idem: 128). Além do mais, este método é dedutivo, ou seja, a explicação de regras normalmente implica o uso da língua materna, segundo o esquema “regra – exemplo”. Por outro lado, com o método gramática-tradução, os professores ensinam mais a língua escrita do que a oral, ou seja, a língua da conversação. (Johnson, 2001)

Apesar dos princípios descritos do método gramática-tradução poderem parecer obsoletos, e em alguns casos o sejam, este método ainda se usa hoje em dia e, além do mais, considera-se como o método fundamental, usado nas faculdades de letras das universidades russas onde se aprendem línguas estrangeiras. Por esta razão, não podíamos evitar a descrição deste método, baseando-nos nos métodos usados no processo ensino-aprendizagem de PLE na Rússia, nomeadamente, tomando em conta método “gramática-tradução” poderemos criticar os métodos de estudo das colocações.

Posteriormente, surgiram outros métodos, que se usam até hoje em dia, por exemplo, “métodos naturais” (incluindo “Series method”), inventados por François Gouin, que se baseiam na conversa “natural”, segundo a sequência dos eventos na aula, e “métodos diretos” (the Direct Methods), inventados pelo alemão Maximilian Delphinius Berlitz, que são indutivos e têm como principal objetivo o uso da língua estrangeira mais do que a língua materna, ou seja, a ideia de associar a imagem logo com o signo da língua estudada e não através da língua materna, como se faz no método “gramática-tradução” (Idem). Segundo estes métodos, todas as explicações na aula, inclusive as de regras gramaticais, efetuam-se usando a língua estrangeira e não a língua materna de aprendentes (Krashen, 1987).

Na história da teoria do ensino de línguas havia muitos reformadores, que queriam centrar-se de maneira especial no ensino da língua falada, ou seja, da língua da comunicação. Por isso, apareceram mais métodos indutivos como, por exemplo, o chamado “áudio lingualism”, inventado nos Estados Unidos para fazer os soldados aprender línguas antes da Segunda Guerra Mundial e difundido por toda a parte nos anos sessenta do século XX. A principal ideia deste método é dar prioridade à fala e não à escrita e usar a estratégia de ensinar gradualmente, assim chamada estratégia de “incrementalism” (Johnson, 2001). As estratégias de ensino podem variar, mas em geral as caraterísticas deste método são as seguintes:

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The lesson typically begins with a dialogue, which contains the structures and vocabulary of the lesson. The student is expected to

mimic the dialogue and eventually memorize it (termed “mim-mem”). Often, the class practices the dialogue as a group, and then in smaller

groups. The dialogue is followed by pattern drill on the structures introduced in the dialogue. The aim of the drill is to “strengthen habits”, to make the pattern “automatic” (Krashen, 1987: 129-130).

Entretanto, este método foi criticado e foi proposto utilizar o chamado LAD (Language Acquisition Device), que normalmente é usado para aprender a língua materna, no ensino de línguas estrangeiras. (Johnson, 2001)

There is a “Language Acquisition Device [LAD], which allows a child to learn the grammar of a language on the basis of the samples of speech it encounters” (Nagel, 1993: 109, em Chomsky, 2000: 92)

The child is born with a powerful piece of machinery – what he calls the language acquisition device (LAD) – which enables him to do the complex task. This piece of machinery contains a kind of blueprint of how language works. It is the existence of this blueprint that makes it unnecessary for the child to undertake the kind os analitic procedures the field linguists developed. These procedures are not necessary because the child already knows a lot about language when he is born. <…> the effect of a ‘piece of machinery’ like the LAD, developed by evolution and genetically passed on from age to age, is not really so different. (Johnson, 2001: 47).

Muitos estudiosos tentaram ressuscitar o método de LAD para usá-lo no processo ensino- aprendizagem de línguas para adultos, pensando que seria melhor usar um método que funciona com as crianças e não usar os métodos que apenas podem funcionar com os adultos. Por exemplo, Newmark falou sobre a estratégia minimal (“minimal strategy”), que pode ajudar a evitar os programas complexos, inventados por professores, que, segundo Newmark (1966), põem obstáculos ao estudo de línguas.

Ao desenvolver os estudos pedagógicos surgiram mais métodos de ensino de línguas estrangeiras, entre os quais se encontra o método da situação (“situational method”), inventado pelo professor de línguística da universidade de Londres John Rupert Firth, que foi o primeiro que prestou atenção ao contexto, ou seja, ao ensino de vocabulário em associação com diferentes situações. Uma variante deste método é o método audio-visual (“audio-visualism”), segundo o qual os diálogos, usados nas aulas de língua estrangeira, estão acompanhados com imagens.

A revolução sociolinguística desempenhou um papel importante no processo da metodologia comunicativa do ensino e entre os métodos comunicativos, é imperioso destacar o método de “role play” (Johnson, 2001), cuja atividade principal é simulação:

Simulations often require students to open up some aspect of their own personalities and klowledge which, perhaps, they are unaware existed or which they have rarely examined. Specifically, in a simulation:

(1) Players take on roles which are representative of the real world, and then make decisions in response to their assessment of the setting in which they find themselves.

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(3) They monitor the results of their actions, and are brought to reflect upon the relationship between their own decisions and the resultant consequences. (Richards, 1978: 270-271)

A revolução no processo ensino-aprendizagem de línguas continuou, e o novo ponto de vista era que o aluno não tem que traduzir todas as palavras do texto, mas é mais importante perceber a ideia em geral (Johnson, 2001). Assim, podemos dizer que apareceu a nova apreciação de métodos existentes, nomeadamente, do método gramática-tradução.

Assim, queríamos terminar a nossa breve observação histórica dos métodos de ensino de línguas estrangeiras com métodos mais modernos, que apareceram no século XX, que se chamam abordagens humanistas (“humanistic approaches”). A ideia principal destes métodos consiste na compreensão e que o aluno é capaz de resolver problemas por ele mesmo. Apareceram métodos de inovação, como por exemplo, o do estudioso indiano Prabhu, que apresentou uma ideia paradoxal: o melhor meio de ensinar estruturas gramaticais de uma língua estrangeira não consiste em focalizar-se nestas mesmas estruturas, mas no seu significado, sendo ainda um dos chamados métodos de tarefas (“task-based teaching”). (Idem)

He [Prabhu] devised a series of meaning-focused activities consisting of pre-tasks, which the teacher completed with the whole class, followed by tasks where the students worked on similar activities on their own. These tasks provided a basis for what Prabhu calls “meaning- focused activity” that required students to understand, convey, or extend meaning, and where attention to language forms is only incidental. (Ellis, 2003: 32)

Esta breve digressão pelos métodos mais significativos de ensino de línguas ajudar-nos-á a analisar os exercícios concretos de materiais didáticos, nomeadamente russos, de PLE e formar a nossa proposta de ensino de colocações lexicais. Analisaremos, a seguir, os métodos segundo exemplos dados e proporemos materiais novos, baseando-nos nos métodos já existentes.