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Conclusões parcelares do instrumento “O que estas fotografias me dizem?”

CAPÍTULO 4 ANÁLISE DOS DADOS

4.2 Conclusões parcelares do instrumento “O que estas fotografias me dizem?”

recolhidos no instrumento – “O que estas fotografias me dizem?”. Tentamos salientar, assim, alguns aspetos encontrados na análise às respostas das perguntas, para procurar responder à questão de investigação.

Sublinhamos o bom nível de observação focalizada que os alunos mobilizam, facto que nos faz pensar que o trabalho com fontes icónicas, em particular com as fotografias, pode suscitar um incremento do nível motivacional e da aprendizagem dos alunos, realizado em contexto de sala de aula, ou fora dela. É de destacar também que, na generalidade, os alunos não estão habituados a trabalhar com fotografias, e através delas procurar as intenções do fotógrafo, de modo a terem a consciência de que o fotógrafo pode trabalhar por encomenda, e em que em alguns casos, a fotografia pode ser um poderoso instrumento de propaganda por parte dos Estados, e de instituições públicas e ou privadas. Realçamos que os alunos interiorizaram que a fotografia (é) pode ser um elemento de comunicação e denúncia tendo um papel nos processos de mudança de práticas e discursos das sociedades. Um grande número de alunos consegue, através da perspetiva do fotógrafo, dar continuidade ao processo de construção de conceções de emigração, que se iniciou com a observação focalizada e perseguiu no contexto da “lições da História”.

Reconheceu-se nas respostas dos alunos o reconhecimento da dimensão estética da fotografia.Advogamos que ela deve ser mais trabalhada pelos professores, dentro e fora da sala de aula, de maneira a que os alunos desenvolvam também o prazer e a aprática de juízos estéticos não se ficando apenas por afirmações de mero gosto. Como Melo defende: (2009: s/ pág.):

As estratégias do professor podem ser orientadas para a dádiva de mais informação, mas deve privilegiar discussões sustentadas por esses saberes evitando um discurso meramente repetitivo do saber aprendido que se fixa apenas em categorizações e julgamentos das ‘autoridades’. Estará a contribuir para a construção de uma relação pessoal e emocional com a obra, provocando a presença e o reconhecimento de vários e possíveis pontos de vista e das razões da sua relevância para o público. Outro foco da sua ação será promover a desconstrução de certos juízos estereotipados e ou dicotómicos como as ‘famosas’ frases do tipo: «É bom /É mau!», «Eu gosto /Eu não gosto!», «Isto é conforme o gosto de cada um» …

Destacamos ainda que a grande parte das perguntas feitas às fotografias foram alocadas às categorias Contextualização vivencial e Interpretação. De forma explícita ou implícita, as perguntas traduzem um nível de curiosidade e uma procura em compreender alguns dos elementos e aspetos implícitos e ou explícitos que as fotografias apresentam e os significados contidos nestas fontes, onde subjazem os sentimentos, as emoções e as sensações dos alunos. Esta nossa leitura é corroborada pela fraca frequência de perguntas sobre elementos ou aspetos pouco ou nada relevantes para o entendimento das fotografias (Categoria Informação não focalizada).

O facto de a maior frequência de perguntas ter ocorrido na categoria da Contextualização vivencial, faz-nos pensar que os alunos procuram recuperar dimensões e aspetos que não estão presentes nas fontes. Segundo Marques (2007:121),

“Percebemos neste tipo de perguntas uma maior motivação para temas mais próximos dos valores e vivências da sua realidade (idade), estabelecendo, quase sempre, comparações. Os alunos nas suas perguntas mobilizam conhecimentos e experiências da sociedade atual, do seu quotidiano, procurando dar sentido às situações do passado representado nas fotos.”

De uma forma geral, as perguntas inseridas na categoria Interpretação, partem de elementos e pormenores presentes nas fotografias. Os alunos elaboram as suas interpretações e alguns deles chegam mesmo a apresentar hipóteses, fazendo referência ao que pensaram e como teria ocorrido, baseando-se nos seus conhecimentos tácitos.

A ausência quase total de contextualização tempo/espaço, ou seja, histórica e geográfica é notória. Este facto não significa necessariamente a ausência de conhecimentos científicos. Preferimos inferir que como os alunos não estão habituados a explorar este tipo de fontes, manifestam dificuldades em incluir esses conhecimentos nos seus processos explicativos. Caberá aos professores das Ciências Sociais promover esse tipo de relações que se traduzam depois nos seus discursos escritos e ou orais.

A informação contida nas fotografias foi tratada de forma pessoal. Na sua interpretação e compreensão os alunos expressaram os seus sentimentos, emoções, sensações e valores morais, provocados pelo forte impacto causado pelas fotografias em cada um deles. A descoberta das vivências dos emigrantes portugueses nos anos 60 do século XX em França, vieram moldar a carga emocional das perguntas feitas às fotografias.

Nas respostas à pergunta de natureza empática “Se tu estivesses lá, o que sentirias?”, os alunos não foram capazes, na generalidade, de recorrer ao conhecimento substantivo histórico, tendo utilizado expressões de emoções, sentimentos e sensações perante as diferentes “cenas”. As palavras empregues são denunciadoras de um quadro emocional de tristeza, resignação e revolta que caracteriza o contexto físico presente nas fotografias através da adjetivação.

No que toca às narrativas, os alunos de uma forma geral, apresentaram um discurso rico em sentimentos, emoções, sensações, consciência moral e juízos de valor que acabaram por atravessar todas as categorias. Os textos elaborados apresentam, como já referido, uma diminuta mobilização não apenas de conhecimentos científicos específicos (contextualização histórica e geográfica), como também o seu vocabulário específico. Foram manifestas as dificuldades encontradas na construção de frases, o que pode ter afetado a explicitação das conceções de emigração. Este é um fenómeno transversal a todas as disciplinas do currículo, mesmo quando as competências adstritas à expressão escrita são valorizadas em todos os documentos oficiais emanadas pelo Ministério da Educação.

Outra presença transversal foi a família, seja como contexto caracterizador de sentimentos, como geradora de juízos de valor ou ainda como motivadora dos esforços levados a cabo pelos portugueses que emigravam e ainda emigram.

Por fim, foi notório o empenho dos alunos na análise procurando formas pessoais de interpretação e compreensão das fontes, onde subjazeram ideias tácitas carregadas de vivências e valores da sua contemporaneidade.