• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3 O ESTUDO

3.2 Contexto de implementação

O estudo foi desenvolvido numa Escola do Ensino Básico do concelho de Guimarães, que se insere num meio rural que se pode considerar algo atípico. Esta atipicidade ficará a dever-se ao facto deste espaço, embora geograficamente, classificado como rural se encontre em transição para o urbano. Sendo de prever uma atividade económica assente na predominância de uma agricultura de subsistência e de mercado, é, no entanto, de considerar a presença de alguma indústria no sector da cutelaria e dos têxteis. Por sua vez, a rede de transportes que serve esta região é insuficiente, o que favorece o isolamento.

Assiste-se também a uma ausência total de bens culturais como livrarias, bibliotecas, museus, entre outros, apresentando por isso um ambiente cultural carente. A maioria das famílias é desfavorecida, existindo muito emprego precário e elevadas taxas de desemprego. Aproximadamente 63% dos alunos desta escola (2º e 3º Ciclos) pertencem a famílias com este perfil. A população valoriza pouco o sistema escolar, preferindo a rápida inserção dos jovens na vida ativa. Os próprios alunos revelam um baixo interesse pelo estudo e desvalorizam a importância do conhecimento e das culturas escolares numa futura integração profissional, facto que se fica a dever à falta de estímulos sociofamiliares e culturais do meio.

A emigração teve e continua a ter grandes reflexos na estrutura demográfica, económica e social da região. Territorialmente, esta escola pertence ao distrito de Braga. No ranking nacional das escolas, este estabelecimento foi o que apresentou os piores resultados do concelho de Guimarães.

Quando pretendemos selecionar a amostra tivemos em consideração a circunstância de uma parte significativa dos alunos no final da escolaridade obrigatória procurar integrar o mercado de trabalho, existindo pouca motivação para o prosseguimento de estudos. Como saída para a vida ativa e face à parca oferta de empregos na região, muitos encontram resposta numa possível ida para o estrangeiro, como o fizeram alguns familiares ou amigos da comunidade em que estão inseridos. A turma selecionada para a investigação frequenta o 9º ano do 3º Ciclo do Ensino Básico, é constituída por 25 alunos (N=25), doze raparigas e treze rapazes, cuja média de idades é de catorze anos. As habilitações académicas dos pais destes alunos nivelam-se pelo quarto e sexto anos de escolaridade, apenas dois possuem o décimo segundo ano de escolaridade e um o décimo ano. Assim, podemos observar que a formação académica dos pais destes alunos é na generalidade inferior à dos seus filhos.

O critério que levou à seleção destes sujeitos relaciona-se com o facto de entre as “Competências Essenciais” na disciplina de Geografia estar identificado como experiências educativas “(…) as consequências das migrações nas áreas de partida e de chegada”; “Identificar os grandes fluxos migratórios, evidenciando as áreas de partida e as áreas de chegada”; “Identificar causas da tomada de decisão dos migrantes, a partir das características das áreas de partida e de chegada” (ME, Orientações Curriculares de Geografia, 3º Ciclo, 2001:21-22).

O conteúdo sobre a “mobilidade populacional”, que trata de temáticas como as migrações, a sua natureza, características, fluxos migratórios, consequências, entre outros, foi lecionado no 8º ano do 3º Ciclo, e partimos do princípio que os conhecimentos se encontram mais consolidados ao longo do 9º ano de escolaridade, podendo assim partir para um projeto de investigação sobre “Que conceções de emigração é que os alunos constroem a partir de fotografias das décadas de 50/60?”. Convém, contudo, ressalvar que a investigadora não foi professora de geografia desta turma no 8º ano, tendo esta chegado a ter duas professoras intercaladas por um período de um mês, aproximadamente, sem aulas. Esta turma chegou ao 9º ano vindo referenciada como a melhor turma do 8º ano. No final do ano letivo 2010/2011 na disciplina de Geografia existiram os seguintes resultados: 56% de níveis três, 32% de níveis quatro e 12% de níveis cinco.

Este estudo foi inserido no contexto programático da “mobilidade populacional” onde se abordou o tema da emigração, que constitui segundo Maira Beatriz da Rocha-Trindade um problema estrutural da sociedade portuguesa de há um século para cá. Já também Maria Engrácia Leandro(s/d) referiu que “…l’émigration a la tendance a se maintenir au Portugal. En définitive, sans cette transformation, l´émigration légale et/ou clandestine risque de se perpétuer tout comme les grands arbres séculiers”.

As migrações, nos conteúdos do 8º ano de escolaridade, aparecem no tema da « Mobilidade populacional » dentro do próprio país ou entre países. Os fluxos populacionais têm tido origem nas regiões de elevado crescimento demográfico e dirigem-se para as áreas onde a pressão populacional é mais reduzida e o nível de desenvolvimento e/ou de crescimento económico são mais elevados. Após a II Guerra Mundial, e com o desenvolvimento de alguns países resultantes dos programas de recuperação económica, a Europa Ocidental passou de uma região de partida da população para uma área de destino de fluxos migratórios. As causas que levam às migrações são diversas e causas naturais ou ambientais, socioculturais, religiosas, económicas, políticas, turísticas e a conflitos armados. No caso particular da emigração portuguesa, que decorreu ao longo de todo o século XX, deveram-se fundamentalmente a razões económicas e políticas. O tipo de fluxos populacionais está dependente da relação que se estabelece com a lei – legais ou clandestinas; da tomada de decisão – livres ou forçadas; do período de duração – definitivas, temporárias ou sazonais; e da relação com o espaço – internas ou externas (intercontinentais ou intracontinentais, emigração ou imigração).

As consequências das emigrações são principalmente de caráter demográfico, económico e social. Para as áreas de chegada, as consequências demográficas situam-se ao nível do aumento da população absoluta e da densidade populacional, do rejuvenescimento da população, do aumento da taxa de natalidade e do aumento do crescimento natural. As consequências económicas são, essencialmente, o aumento da população ativa, a possibilidade de aumento do desemprego e o aumento da mão-de-obra barata (os imigrantes aceitam trabalhos menos atrativos e menores salários, pois ou são pouco qualificados ou as suas qualificações não são reconhecidas ou aproveitadas). Das consequências sociais salientam-se o aumento da população residente em bairros de habitação precária, o incremento dos conflitos sociais através do aumento do racismo e da xenofobia (a população dos países de chegada tende a responsabilizar os imigrantes pelo crescimento da criminalidade e do desemprego) e as dificuldades de integração. Em Portugal a emigração teve sempre reflexos na população portuguesa. Porém, na década de 60 do século XX, o número de emigrantes foi tão elevado que fez diminuir a população total do país. Refletiu-se também na economia, pois a maioria dos emigrantes depositava as suas poupanças em Portugal.

Estes conteúdos foram lecionados no final do 8º ano, não tendo sido abordados no momento antes da implementação do estudo. Na aula antes da aplicação do instrumento, a investigadora apresentou aos alunos o documentário “Portugal, um retrato social” de António Barreto (2007), que aborda as condições de vida dos portugueses na década de 60 do século XX em Portugal.