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Sometimes I feel I'm gonna break down and cry, so lonely Nowhere to go, nothing to do with my time

5.2 CONCLUSÕES PARCIAIS

Esta apresentação inicial nos permite tirar as seguintes conclusões:

Os VFs NÃO são exclusivos do registro informal. Pudemos ver que eles são comuns em discursos marcados por um considerável grau de formalidade, como textos sobre política e economia, entre outros.

A grande maioria dos verbos frasais possui um verbo correspondente de uma palavra. Esta é outra afirmação feita na seção anterior e corroborada agora. De todos os VFs vistos, apenas run out of não apresenta um equivalente de uma única palavra.

A maioria absoluta dos VFs possui raiz anglo–saxã. Com exceção de carry, que remete a seu correspondente, ‘carregar’, nenhum outro VF da amostra apresenta traços românicos.

A maioria dos verbos de uma palavra apresenta influências românicas. Setenta por cento dos VCs da amostra (14) remetem a formas latinizadas. Apenas seis VFs – do, wait, start, end, happen e yield – não aparentam grau algum de latinidade.

As formas mais latinizadas são, regra geral, mais formais que as anglo– saxãs. Não significa dizer que os VFs sejam exclusivos da informalidade, como vimos anteriormente. Significa apenas que eles não são tão formais quanto os verbos correspondentes de uma palavra.

5.3 ANÁLISES

A seguir, vamos analisar mais profundamente dez destes vinte enunciados. Para poder controlar melhor nossa observação, dividimos as análises em tópicos. Assim sendo, todas elas passam pelos mesmos passos: primeiramente, apresentamos o sentido dos componentes do verbo frasal – o que o verbo e preposição que compõem o VF significam isoladamente. O que apresentamos aqui são os sentidos mais estabilizados do verbo e da preposição, seus sentidos mais reconhecidos pelos alunos. Assim, podemos enfatizar a mudança de sentido que ocorre quando verbo e preposição se acoplam. Em seguida, na construção do

sentido, buscamos demonstrar como o aluno pode chegar ao sentido do verbo frasal.

Nesta busca, as marcas cotextuais têm um papel importante porque dão pistas sobre a que o VF pode se referir. Obviamente, a situação enunciativa (“contexto”, para a linguística tradicional) também tem um papel determinante na construção do sentido, entretanto, como ela nem sempre pode estar disponível para o aluno e, como a TOPE preza pela observação exclusiva das marcas linguísticas, optamos por não abordar as marcas mais externas ao enunciado. Falamos também da coocorrência entre

verbo e preposição, principalmente do modo como a preposição modifica o verbo,

resultando em uma espécie de híbrido ao qual chamamos de verbo frasal e falamos da forma como a preposição orienta a ação representada pelo verbo (“função” da

preposição). A seguir, tecemos uma comparação entre o VF e seu correspondente

de uma palavra. Considerando–se que é impossível dizer a “mesma coisa” com

palavras diferentes (Fuchs 1982), é importante observar as mudanças de sentido que ocorrem quando se opta por uma ou outra forma. Nessa comparação mostramos também o ponto de invariância entre as duas marcas, o que é importante se considerarmos que a TOPE é uma teoria da invariância. Em seguida, mostramos a

relação primitiva baseada no VF e as paráfrases que podem ser feitas a partir de

cada tripla. Finalmente, encerramos nossas análises falando sobre as implicações

didáticas das informações levantadas – primeiramente as implicações sobre os livros

didáticos, aquilo que acreditamos que deveria ser revisto para melhorar o ensino de VFs e preposições, sobretudo, informações que deveriam ser acrescentadas. Na sequência, utilizamos traduções para falar sobre os resultados que esperamos dos alunos, as formulações que esperamos que eles sejam capazes de realizar desde que tenham tempo para reflexão (iniciamos este trabalho defendendo uma abordagem

mais reflexiva). Dentro desta discussão didática, apresentaremos outros exemplos de ocorrências de VFs e preposições para demonstrar as acepções que devem complementar as listas dos LDs.

A. GO ON

And I don't wanna go on with you like that Don't wanna be a feather in your cap I just wanna tell you honey I ain't mad

And I don't wanna go on with you like that (John & Taupin 1988)

E eu não quero continuar com você assim Não quero ser seu troféu

Só quero te dizer que não estou louco, meu bem

E não quero continuar com você assim (tradução nossa)

Sentido dos constituintes do verbo frasal:

Go: ir, deslocar–se, movimentar–se (go to the club / school / to John’s / to the bar / to the mall / to another country / to a concert/restaurant/show, etc.)

On: sobre, em cima, ligado (The letter is on the desk; The tv is on )

Construção do sentido:

Marcas cotextuais: Verbos de movimento como go costumam ocorrer com formas adverbiais locativas ( go home / to work / to Europe etc.), o que não ocorre neste exemplo. Não se trata, portanto, da continuação de um movimento direcional. “I don’t wanna’ (Eu não quero) faz uma declaração é confere um valor negativo a you, indicando que este possui algo que é indesejável para o enunciador, algo que o enunciador quer evitar.

Coocorrência de go e on: On indica que o processo de ‘ir’, expresso pelo verbo go, mantém–se ‘em cima’, mantém–se ‘ligado’. A ação não ‘cai’, não se ‘desliga’. Indica, por conseguinte, que o deslocamento não cessa. Pelo contrário, ele é contínuo. Assim, o enunciado–exemplo fala sobre a continuidade de algo (algo que o enunciador não quer). Mais adiante, veremos mais exemplos de on indicando continuidade.

Função da preposição: Marcar aspectualmente (no contínuo / progressivo) a ação de ‘ir’.

Comparação go on vs. continue: go on retrata de forma mais vívida o deslocamento no tempo/espaço, uma vez que as ideias de ‘ir e ‘deslocar–se’ são o centro do domínio de go. Isto ocorre porque ele é originalmente um verbo de noção de movimento. O VF neste exemplo remete, portanto, à ideia de “ir”, “caminhar” com alguém. Observamos também que, na maioria de suas ocorrências, continue costuma ser sucedido de um verbo, como em “As the Titanic sank, the band continued to play” (Enquanto o Titanic afundava a banda continuava tocando”. (Cambridge, 2019). Go on possui uma variedade um pouco maior de complementos.

Invariância: Entre o VF e seu correspondente o elemento invariante é a não interrupção da ação, a referência a algo que não está parado, expressa tanto por go quanto por continue. Trata-se, pois, de uma invariância de caráter aspectual.

Relação primitiva – parafraseamento: <I, go on, you>

x (R) Y

Em sala de aula, é necessário que o aluno tenha tempo para entender que o sentido de go on não provém de uma soma dos sentidos mais estabilizados do verbo e da preposição mas antes de uma combinação dos sentidos – nem sempre os mais estabilizados – de ambos. ***Neste processo, através de sua atividade epilinguística ele deve gerar as seguintes traduções:

– * Não quero ir ligado com você assim. – * Não quero ir sobre com você assim. – Não quero continuar indo com você assim. – Não quero ir adiante com você assim. – Não quero ir mais com você assim.

– ** Não quero continuar com você assim.

* Traduções não possíveis. Eventualmente, a tendência é que o aluno as descarte.

** Tradução ideal, considerando–se que ‘continuar’ é o sentido mais estabilizado de go on.

*** Não houve um protocolo experimental com alunos. As traduções e paráfrases apresentadas são de nossa autoria.

Implicações para o conteúdo didático: Em nossas análises dos livros didáticos, observamos que on é visto primordialmente como parte de locuções adverbiais de lugar, como em The shirt is on your bed, The hospital is on your right/on Mulberry street ou, às vezes, em locuções temporais, como em American independence is celebrated on the 4th of July. Isso é uma clara demonstração de uma concepção exageradamente instrumental de ensino, segundo a qual a principal necessidade do aluno é pedir informações sobre lugar nos países onde se fala o inglês. Assim foca–se exclusivamente em on como indicador de lugar e ignoram–se outras significações importantes expressas por esta preposição, como a de continuidade. Este sentido de on é muito comum, podendo ser encontrado em diversos e variados tipos de enunciados, como mostram os exemplos a seguir:

1. Dream on, dream until your dream come true (TYLER, 1972)