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Capítulo III: Resultados

3.4. Conclusões sobre as filmagens realizadas nas aulas

Após a análise das filmagens levadas a cabo nas aulas, e tendo em conta as transcrições de alguns gestos que foram feitas no capítulo anterior, chegamos à conclusão de que, por um lado, os gestos que são objecto de estudo da cinésica tiveram como funções principais: manter a interacção durante as aulas e facilitar a tarefa da professora uma vez que estes complementaram, ilustraram e até substituiram os elementos verbais. Foram sempre sujeitos a um determinado tipo de função ou objectivo, tal como afirmam Ekman e Friesen (1969).

Por outro lado, pudemos observar, e apesar de não ter sido alvo de tanto escrutínio, que, no âmbito da Proxémica, a distância, caracterizada como pessoal e social, mostra o relacionamento entre professor e alunos no espaço interlocutivo de sala de aula.

Quer isto dizer que poderemos inferir que os elementos não-verbais contribuem significativamente para o processo ensino-aprendizagem de sala de aula e para a interacção, admitindo como o fazem Knapp & Hall (1997) que a comunicação verbal e a comunicação não verbal são inseparáveis e, portanto, devem ser tratadas como uma unidade.

3.5.Conclusões dos dados obtidos através da grelha de observação de CNV da professora

Procedeu-se à análise quantitativa individual de cada uma das secções constitutivas da grelha de observação que foi dividida em 6 secções: contacto ocular, movimentação do professor, expressões faciais, gestos, acenos de cabeça e proximidade. A grelha foi preenchida durante o 2º e 3º período pela minha colega de estágio ou pelas minhas orientadoras. O preenchimento da mesma consistia em assinalar na grelha os comportamentos não – verbais que eu tinha durante a aula em cada uma das secções. A análise quantitativa das grelhas traduziu-se no seguinte (ver gráficos 22, 23, 24, 25, 26 e 27 que se seguem):

Na 1ª secção – Contacto ocular – a comparação entre o 1º período e o 2º período revela que houve um aumento de 3%, já a segunda secção dedicada à movimentação da professora pela sala de aula teve um aumento mais significativo, tendo havido um acrescimo de 3,8. Relativamente ao uso de gestos e às expressões faciais, secções IV e III respectivamente, não houve grandes alterações, houve apenas mais conciencialização do seu uso e da altura em que é feito. Em relação às duas últimas secções- Os acenos de cabeça e a proximidade- houve um ligeiro aumento, tendo a média da primeira aumentado em 1,5% e a da segunda aumentado em 1%.

Após estas contatações, foram elaboradas as seguintes conclusões relativamente a CNV utilizada pela professora:

A CNV utilizada pela professora passou a ser bastante pensada e direccionada tendo em conta os objectivos e resultados pretendidos. Notou-se também uma evolução e uma consciencialização do impacto da CNV na sala de aula, na interacção pretendida e na potencialização dos resultados. Passou a haver uma maior tentativa de consonância entre a LV e a LNV. Por seu lado a CNV utilizada pelos alunos é mais irreflectida e espontânea. Estes usam-na para comunicar com os colegas de forma natural e reagem de forma positiva ou negativa à professora, dependendo da sua abordagem. Nota-se uma clara motivação para a aprendizagem e interacção potenciada pela empatia e o ambiente proporcionado pela professora. Nota-se igualmente uma grande motivação para os exercícios/jogos em que a LNV é utilizada e é de salientar a eficácia dos mesmos para compreensão de vocabulário novo.

Por tudo o anteriormente referido, torna-se bastante claro que o não-verbal da professora registou algumas alterações e alguma evolução à medida que foi cada vez mais

fazendo parte do desenrolar normal da aula. Ficou, ainda, demonstrado o contributo desta componente para um maior sucesso na aprendizagem. Em simultâneo, de forma natural muitas vezes, outras, mais “estratégica”, a CNV vai-se co-relacionando com o verbal formando uma unidade de discurso.

3.5.1. GRELHA DE OBERVAÇÃO DA CNV DA PROFESSORA – Comparação entre o 2º período e o 3º período

Secção I – Contacto ocular Secção II – Movimentação da professora pela sala de aula

Gráfico 21 Média final: 2º Período – Média 4,5 3º Período-Média 7,5 Gráfico 22 Média final: 2º Período – Média 6,2 3º Período-Média 10,1

0 2 4 6 8 10

O professor estabelece contacto ocular para mostrar desagrado com o

comportamento O professor estabelece

contacto ocular para mostrar aos alunos que estão a participar que os

ouve com atenção

3º PERÍODO 2º PERÍODO 0 5 10 A professora desloca- se pela sala 3º PERÍODO 2º PERÍODO

Secção III – Expressões faciais Secção IV – Uso de gestos

Gráfico 23 Média final: 2º Período – Média 4,5 3º Período-Média 5,5 Gráfico 24 Média final: 2º Período – Média 7,2 3º Período-Média 8,8

0 2 4 6 8 10

A professora sorri A professora franze as

sobrancelhas para demonstrar que tem

dúvidas

3º PERÍODO 2º PERÍODO

0 5 10 15

A professora faz uso das mãos para explicar

conceitos A professora faz uso da comunicação não-verbal

para dar ênfase às explicações do conteúdo A professora aponta para o

quadro para dar ênfase a uma explicação A professora aponta para

indicar algo A professora faz uso da comuncação-não verbal

para dar algumas instruções aos alunos

3º PERÍODO 2º PERÍODO

Secção V – Acenos de cabeça Secção VI – Proximidade

Gráfico 25 Média final: 2º Período – Média 6,5 3º Período-Média 8 Gráfico 26 Média final: 2º Período – Média 8 3º Período-Média 9

0 2 4 6 8 10

A professora acena com a cabeça para mostrar

desagrado A professora acena afirmativamente com a cabeça para incentivar o

aluno

3º PERÍODO 2º PERÍODO

0 2 4 6 8 10 A professora aproxima-se

dos alunos para mostrar receptividade em relação

ao que eles estão a dizer A professora debruça-se

sobre os alunos para mostrar que está atenta ao que eles estão a fazer

3º PERÍODO 2º PERÍODO

1. Considerações finais

Antes de mais cumpre-nos afirmar que após analisarmos todas as fimagens efectuadas nas aulas e verificarmos os resultados obtidos com os exercícios nas aulas bem como com os resultados dos inquéritos e das grelhas de observação concluimos que os aspectos da comunicação não-verbal do docente interferem e facilitam o processo de ensino/aprendizagem e a interação em sala de aula. A esmagadora maioria dos elementos não-verbais que foram observados e descritos foram sendo sistematicamente utilizados pela professora foram também, geralmente, interpretados correctamente pelos alunos. Há que acrescescentar a consistência que se impoem na forma e na utilização da CNV que se apresenta como sendo uma condição necessária para que haja consistência e concordância com a utilização dos elementos verbais. Na consequência destas considerações sobre as funções do comportamento não verbal na língua estrangeira aula dois factos devem ser mantidos em mente:

1. A CNV desempenha um papel importantíssimo na comunicação em sala de aula de língua estrangeira.

2. A CNV é usada para interpretar, comentar ou completar as mensagens verbais e deve ser incluída em qualquer análise de discurso.

Gostaríamos ainda de acrescentar que, felizmente, recentemente tem vindo a ser dada cada vez mais importância a esta componente da comunicação. Novos estudos vão surgindo e daí são retiradas novas conclusões. Aponta-se agora para uma visão integralista do gesto, se este passar a ser visto como parte integrante da gramática e a linguagem a ser vista de outra forma Lidell (2003) citado por Kendon (2010). Este trabalho, e assumindo uma posição modesta, pretende também ser um contibuto para o avanço nesta área.

2. Recomendações

Passemos agora a analisar mais detalhadamente os aspectos não verbais que consideramos que interferem na comunicação do docente, e a tecer algumas recomendações que pensemos que deveriam ser tidas em conta. São eles: a cinésica -os gestos utilizados - expressões corporais, as expressões faciais, a postura – emoções, a proxémica e a paralinguagem - tom e ritmo da voz, a proxémica). Relativamente às expressões faciais de um professor, estas deverão expressar o que o professor sente na realidade: deverão ser naturais, transmitir certeza, afabilidade, entusiasmo, motivação e espontaneidade e ser assertivas.

Deverão, ainda, ser coerentes com a oralidade. O contacto ocular com os alunos é necessário e deverá ter-se em atenção a forma como é feito; poderá ser directo (olhar nos olhos) ou indirecto (não manter o contacto visual durante demasiado tempo uma vez que inibe e é incómodo). Segundo os estudos realizados, sabemos que na nossa cultura o contacto com os olhos deve ser regular, pois demonstra aceitação e respeito com o outro; já a ausência de olhar acaba por enfraquecer o processo de comunicação.

A voz do professor quanto a intensidade deve ser audível e clara e em relação ao ritmo deve ser pausada, objectiva e de fácil entendimento. Nada mais desmotivante do que um professor que utiliza o mesmo tom monocórdico durante toda a aula.

Na distância interpessoal entre professor/aluno deverá respeitar-se o limite do outro, tendo em conta a especificidade de cada aluno. Devemos estar atentos para não ultrapassarmos os limites da „zona de conforto‟ dos alunos. Saberemos se estamos a ultrapassar os limites ao observarmos as suas reacções: quando derem um passo para trás ou olharem para outro lado, é um sinal de que se sentem incomodados com a nossa proximidade. Gostaríamos ainda de acrescentar que consideramos muito importante que o professor permaneça em pé com uma postura ergonômica, deve também movimentar-se pela sala e gesticular, com a cabeça erguida e sempre ainda dirigindo-se aos alunos. Deverá, ainda, ser desenvolto, nunca transmitir agressividade, e transparecer competência profissional.

Por outro lado, relembremos que aquilo que Knapp (1997) chamou de gestos adaptativos porque servem para libertarmos alguma tensão ou ansiedade, tais como: mexer num objecto, no cabelo aou até roer unhas; estes gestos devem ser evitados por um professor porque podem provocar alguma distracção.

É importante acrescentar que temos controlo de todos os elementos não-verbais e, é por isso, que precisamos do outro para nos desenvolvermos enquanto seres interacionais. Exigir que qualquer pessoa tenha controlo de toda sua CNV, é impossível. Verificamos, ainda, a grande importância que tem o docente e uso que este faz da comunicação não-verbal na inter-relação professor/aluno como um facilitador do processo ensino-aprendizagem, sem com isso, desmerecer ou desvalorizar a importância do aluno.

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