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O presente trabalho buscou ao longo de seus capítulos traçar um perfil da Segurança Jurídica no ordenamento tributário brasileiro, demonstrando a necessidade de se aplicar o sobreprincípio de forma dinâmica sem, contudo violar o princípio da separação dos poderes. Diante do que até aqui foi exposto é possível pontuar as seguintes conclusões:

1. A interpretação feita pelo do sujeito é sempre marcada pela parcialidade, sendo que em todo caso o ser cognoscente deixará de considerar propriedades e questões do objeto que ele não conseguiu alcançar por sua atitude interpretativa. Por consequência, os resultados serão meras significações dadas por ele ao objeto sobre o qual se pôs a analisar;

2. Daí conclui-se que a universalidade e unidade interpretativas não são possíveis de serem alcançadas por absolutamente nenhum método hermenêutico conhecido. Todavia, apesar da indeterminação da linguagem dificultar o processo interpretativo ela não o inviabiliza;

3. Na interpretação da norma jurídica, compreendida de forma bipartite (regras e princípios), pelo exercício hermenêutico alcança-se uma subdivisão mais moderna na qual se inclui os sobreprincípios como categoria própria;

4. Essa categoria dos sobreprincípios está ao lado das regras e dos próprios princípios como espécies do mesmo gênero, e não como uma nova categoria ao lado das normas, uma vez que não inova em sua estrutura sintática;

5. Um sobreprincípio é, portanto, um princípio que sua realização se dá concomitantemente com a existência e sobreposição de outros do ordenamento jurídico;

6. A conceituação de segurança jurídica não é das mais fáceis, uma vez que se trata do mais importante Sobreprincípio de nosso ordenamento jurídico, constituindo verdadeiro vetor de interpretação;

7. Na conceituação tida por mais acertada a Segurança Jurídica é encarada como um princípio e garantia constitucional que protege as relações travadas sob a expectativa de confiança legítima em todas as etapas de existência da norma, desde sua criação, aplicação e revogação, buscando estabilizar o ordenamento jurídico e dar efetividade aos direitos e liberdades fundamentais;

8. A Segurança Jurídica também impõe ao Estado o dever de permitir aos contribuintes a antecipação objetiva de seus direitos e deveres tributários, que surgem apenas por lei, em respeito ao princípio da igualdade e da irretroatividade;

9. A sobrevivência do direito está atrelada à manutenção da Segurança Jurídica, e por via de consequência da confiança e estabilidade nas relações jurídicas travadas em sociedade, sob pena do direito deixar de exercer sua função de planificação de conhecimentos;

10. Vive-se atualmente a denominada sociedade de risco, marcada pela imprevisibilidade nas ralações travadas em sociedade. Nesse contexto, os antigos instrumentos criados quando do surgimento do Estado Liberal se mostram ineficazes para responder a novos desafios. É nesse contexto que uma visão moderna da Segurança Jurídica se faz necessária, principalmente para o direito tributário;

11. A Segurança Jurídica exerce em nossa constituição verdadeira função integradora com as demais normas da Carta Magna, dando-lhes sentido ao mesmo tempo em que encontra nelas seus fundamentos, irradiando seus efeitos por todo o ordenamento jurídico;

12. Daí extrai-se a característica auto-poética do sistema. Ao contrário do que se imagina, o sistema não ignora o ambiente e se torna incomunicável, na verdade o entorno é imprescindível para sua caracterização.

13. A relação da Segurança Jurídica com a legalidade deve ser observada em dois momentos distintos: quando da criação da norma e quando de sua aplicação;

14. Durante a criação, para se evitar normas que provoquem mais insegurança do que estabilidade, é necessário que a hipótese de incidência seja completa e exaustiva, sem, todavia, incorrer em exageros. Tanto uma norma lacunosa como uma prolixa permitem interpretações dúbias, criando potencial para insegurança. O caráter pricipiológico desse dever se extrai da interpretação da legalidade sob o prisma da Segurança Jurídica e do Devido Processo Legal quando a elaboração da lei;

15. Durante a aplicação da norma a Segurança Jurídica também deve ser observada, uma vez que voltada para casos concretos, ela assume função de garantia fundamental dos direitos e liberdades individuais;

16. O princípio da tipicidade fechada, que impõe a cobrança de um tributo apenas quando se realizam os pressupostos previstos na lei, tem sua fundamentação maior na proteção à confiança e, portanto, na Segurança Jurídica;

17. O princípio da boa-fé tem sua existência fundada na Segurança Jurídica, pois quando este Sobreprincípio irradia seus efeitos nas relações fisco- contribuinte, exigindo conduta não contraditória de ambas as partes, nada mais faz do que garantir a concretização da boa-fé, em mais uma demonstração da função integradora deste elevado Sobreprincípio;

18. No que se refere ao princípio da irretroatividade, a relação da Segurança Jurídica com essa norma é tão intensa que em noções mais antigas chegam a se confundir, pois ambas versam, essencialmente, sobre a aplicação do direito no tempo.

19. Todavia, a possibilidade da retroatividade mais benéfica (art. 106 do CTN) demonstra que são os efeitos irradiados da Segurança Jurídica, em franca demonstração de sua função integradora, que dão os contornos essenciais do momento de aplicação do princípio da irretroatividade;

20. A possibilidade de tributação surpresa em violação à sensação de segurança do contribuinte é a origem das duas manifestações do princípio da anterioridade;

21. As decisões judiciais são fontes de criação do direito, pois o judiciário não realiza a aplicação mecânica das normas, mas cria o direito a partir do exercício interpretativo;

22. Em virtude dessa característica, decisões judiciais que violem a segurança jurídica contribuem para o agravamento da chamada sociedade de risco;

23. No contexto de mudanças jurisprudências a possibilidade de modulação de efeitos da decisão constitui instrumento previsto pelo ordenamento jurídico para proteção da Segurança Jurídica;

24. A segurança jurídica, como garantia que é, tem por sujeito destinatário de seus efeitos o indivíduo, e não o estado, daí porque a modulação de feitos fundada na segurança jurídica para o Estado não se apresenta correta;

25. A possibilidade de efeitos prospectivos de decisão judicial já era aplicada antes da previsão do art. 27 da lei 9.868/99 justamente como meio de proteger a Segurança Jurídica. Por isso, não se afigura como legítima a negativa de modulação de efeitos no caso da COFINS para sociedades profissionais por ausência de previsão expressa de aplicação em controle incidental quando inexistente declaração de inconstitucionalidade, uma vez que o dever de proteção ao Sobreprincípio da Segurança Jurídica é mandamento constitucional;

26. A atividade legislativa é voltada para o futuro, criando o direito que ainda vai ser aplicável. Daí porque não se afigura como correta tentativas de se legislar para o passado. Apesar de previsão expressa no texto constitucional (Art. 5º, inciso XXXVI) tal noção é frequentemente ignorada pelo legislador;

27. No caso do Crédito-Prêmio de IPI durante décadas o contribuinte sofreu com sucessivas alterações legislativas, algumas voltadas para o passado, que inevitavelmente culminaram em um estado de Insegurança;

28. A incerteza legislativa ocorrida especialmente durante a década de 1980 em relação ao crédito prêmio de IPI violou a Segurança Jurídica e inúmeros princípios correlatos;

29. Em que pese a estabilidade das relações jurídicas ter sido considerada em um momento inicial ao se prever o fim do Crédito Prêmio de forma gradativa, fixando-se termo final para sua aplicação, a sequência de leis posteriores fulminaram a melhor técnica legislativa. O término de um incentivo fiscal jamais poderia ter sido delegada a atos administrativos expedidos pelo Ministro da Fazenda;

30. Com o fim do Crédito-Prêmio por manifestação do Poder Judiciário o STJ deveria ter modulado os efeitos de sua decisão. Não se afigura como legítima a negativa de modulação de feitos pelo STJ por ausência de previsão legal, uma vez que não se exclui do Poder Judiciário o dever de decidir acerca de lesão ou ameaça a direito nem por lei (Art. 5º, inciso XXXV da CF 88) e nem por lacuna (art. 4º e 5ºda Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro);

31. De mais a mais, o dever de proteção da Segurança Jurídica é fundamento bastante para a modulação de efeitos perante o STJ;

32. Em sendo, os atos da administração pública normas individuais e concretas é assegurada a possibilidade de mudança de critério jurídico utilizado por parte das autoridades fiscalizadoras, contudo essa alteração de critério não pode ser desprovida de limites e de seguir todo o complexo arcabouço de legislação tributária;

33. Ao alterar o critério interpretativo devem às autoridades aplicarem efeitos prospectivos, sob pena de violar a segurança jurídica em situações em que essa alteração gere encargos ou aumento na tributação;

34. No caso da incidência da CIDE sobre Royalties verificamos que por vezes, o contribuinte minimiza os riscos de surpresa e de resultados que possam inviabilizar o negócio jurídico que se pretende realizar;

35. Especialmente em se tratando de orientação específica deverá a alteração de interpretação de critério jurídico se manejada contra os contribuintes somente com efeitos futuros, pois qualquer atribuição de nova alteração ensejará em violação aos princípios constitucionais e mitigará o sobreprincípio da Segurança Jurídica;

36. Por fim, cremos que a Segurança Jurídica é o pilar do Estado de Direito, especialmente em razão da sua integração com as demais regras e princípios constitucionais;

37. O dinamismo da função da Segurança Jurídica é que em o condão de assegurar os direitos individuais dos contribuintes, bem como, manter a ordem Estatal devendo ser o pilar fundamental dos atos emanados pelos 03 (três) poderes do Estado (legislativo, judiciário e executivo).

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