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Concordância e Tempo na produção agramática

No documento livro_fonoaudiologia afasia (páginas 61-67)

Friedmann e Grodzinsky (1997) lançaram uma das hipóteses mais debatidas no campo da afasiologia, a chamada Hipótese da Poda da Árvore (HPA). Basicamente esta hipótese prevê que, se to-

marmos como base a representação arbórea da estrutura sintática adotada no âmbito da Teoria Gerativa, poderemos ver que o comportamento de um afásico agramático seria reexo da poda das partes mais altas desta árvore. Em outros termos, os autores propõem que, no que diz respeito à produção , o décit

agramático seria caracterizado por uma incapacidade de lidar com os constituintes hierarquicamente superiores das sentenças. Esta hipótese contempla três níveis de severidade (FRIEDMANN, 2001), ilus-

trados na Figura 1. Agramáticos leves teriam somente CP3 comprometido e, com isso, estariam inaptos

a produzir sentenças com constituintes alocados neste nível como interrogativa(s)-Qu e subordinadas desenvolvidas. Agramáticos moderados, além de CP, teriam TP comprometido, e, com isso, teriam prob-

lemas na produção da morfologia exional responsável pela codicação da informação temporal nos verbos. Agramáticos severos, por sua vez, além de CP e TP, teriam AgrP comprometido, e estariam, portanto, inaptos a codicar de maneira adequada a informação referente à concordância entre sujeito e verbo.

Figura 5 - Ilustração dos níveis de comprometimento sintático de acordo com a HPA.

1 A referida dissertação de mestrado foi realizada sob a orientação de Ricardo Joseh Lima, no programa de pós-graduação em Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O presente artigo se beneciou, sem dúvida, dos comentários feitos por Eduardo Kenedy, Érica Rodrigues, Letícia Corrêa e Marina Augusto à dissertação.

2 Algumas partes deste texto são reproduções textuais da dissertação.

3 Seguindo a tradição adotada no campo, utilizamos as siglas em inglês. Assim, por CP, entenda-se Sintagma Complemen tizador; por TP, Sintagma Temporal; por AgrP, Sintagma de Concordância e, por VP, Sintagma Verbal.

61 Capítulo V -Aspectos metodológicos na avaliação da Produção de afásicos de broca

Formulada desta maneira, a HPA prevê a controversa possibilidade de dissociação entre Tempo e Concordância4, isto é, a possibilidade de existirem agramáticos que conseguem usar adequadamente

as desinências de tempo, mas não as de concordância. Tal previsão é controversa porque, ainda que os autores tenham apresentado dados de uma agramática capaz de codicar adequadamente a informa-

ção de concordância, mas não a de tempo, este resultado não pôde ser replicado por outros autores. Burchert, Swoboda-Moll & De Bleser (2005) relatam, inclusive, uma dissociação inversa, isto é, Con-

cordância comprometida e Tempo preservado, o que falsearia denitivamente a hipótese. Controversa também porque o nó AgrP foi banido em formulações mais recentes do modelo sintático gerativista em favor de uma representação que permite alocar as marcas de tempo e concordância em um mesmo nó.

Partindo, então, desta discussão a respeito da dissociação entre Concordância e Tempo, foi elaborado um experimento, com o objetivo de vericar se tal dissociação seria vericável em afásicos do Português Brasileiro.

A primeira etapa nesta direção foi a de selecionar os sujeitos que participariam da pesquisa. Para isto, estabelecemos como critério de seleção a presença de uma lesão cerebral na área de Broca ou adjacências, e também a presença de um comportamento assintático na fala espontânea. Entretanto, a importância dada a estes dois critérios não foi a mesma, e isto se deu em função dos objetivos deste trabalho.

Considerando que nosso objetivo central era o de estabelecer um diálogo com a literatura, acr-

editamos que o critério fundamental seria o aspecto funcional. Uma posição diferente deveria ser adot-

ada se nosso objetivo fosse o de discutir a localização neural de componentes do sistema linguístico, pois, neste caso, seria necessário ter conhecimento do local preciso da lesão para, assim, poder delinear associações entre porções do tecido neural e funções linguísticas. Ainda que existam estudos que, com este objetivo, não sejam cuidadosos em relação ao local de lesão5, acreditamos que este seja um aspecto

fundamental para dar validade às conclusões obtidas.

Como já se sabe, existe uma relação entre a existência de problemas sintáticos e lesões na área de Broca. Apesar disto, como também se sabe, a relação entre áreas e funções costuma ser instável, pois lesões em uma determinada área podem produzir sintomas diferentes em diferentes indivíduos, bem como um mesmo sintoma pode ser gerado por lesões em áreas diferentes. Assim, inferir que problemas sintáticos sejam um indício preciso de uma lesão na área de Broca e ignorar os dados de localização obtidos por técnicas de neuroimagem parece ser um procedimento inadequado a estudos que visem determinar a localização de uma função especíca. Já os estudos voltados exclusivamente para aspectos funcionais podem prescindir de informações precisas sobre localização, pois, mesmo não conhecendo o local de lesão, é possível conhecer o componente funcional  perdido (independentemente de sua local-

ização neural) e, a partir daí, realizar as inferências sobre o sistema linguístico normal. Assim, no caso em questão, o primordial é que o comportamento linguístico do sujeito demonstre indícios de que haja um comprometimento no domínio de interesse (como no domínio sintático, por exemplo), o que pode ser evidenciado a partir de uma avaliação preliminar. Comumente, a literatura utiliza para este m testes clínicos como o Teste de Boston (GOODGLASS & KAPLAN, 1983). Veremos adiante que existem prob-

lemas relacionados à seleção realizada a partir deste tipo de teste, principalmente, no que concerne aos estudos de grupo, entretanto, este parece ser um caminho útil para estudos com foco nos aspectos fun-

cionais. No que diz respeito aos estudos que visam, como o nosso, estabelecer uma discussão com a lit-

eratura, este tipo de teste é, na verdade, fundamental, pois, geralmente, estes são os testes empregados nas pesquisas em geral, de forma que a importância de sua utilização consiste em manter as mesmas condições de seleção utilizadas em outros estudos. Infelizmente, ainda que desejável, estes testes não puderam ser realizados nesta pesquisa por questões de tempo. Apesar disto, uma avaliação preliminar foi conduzida a partir da fala espontânea dos sujeitos por meio de gravações de suas sessões de terapia fonoaudiológica. Todos os quatro sujeitos selecionados demonstraram um comportamento assintático e fala não uente (telegráca) em maior ou menor grau. No que diz respeito ao aspecto siológico, todos tinham lesões potencialmente relacionadas à área de Broca.6

4 O termo Concordância refere-se, no contex to da HPA, principalmente, ao nó AgrP, presente em formulações menos recentes da Teoria Ger- ativa (POLLOCK, 1989). Refere-se também, de forma indireta, às marcas morfológicas de concordância com o sujeito expressas no verbo. 5 Ver os comentários feitos em Forster (2007) a respeito do trabalho de Grodzinsky (2000).

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Escolhidos os sujeitos, o segundo passo da pesquisa foi a escolha de uma tarefa que nos permitisse vericar como os afásicos codicavam as informações de Concordância e Tempo no verbo. Nossa primeira opção foi a de adaptar uma tarefa aplicada em Friedmann e Grodzinsky (1997), tarefa que

chamaremos de narrativa de eliciação . Levando em conta uma sentença introdutória, os participantes

teriam que, nesta tarefa, completar uma segunda sentença com um verbo exionado corretamente. Para responder de forma apropriada, os afásicos teriam de completar a segunda sentença copiando um verbo fornecido no innitivo na primeira oração (V2), mas alterando sua exão para adequá-lo ao tempo, à pessoa e ao número requeridos pela segunda sentença. As sentenças (01) e (02), abaixo, são exemplos da tarefa elaborada. Na primeira, é apresentada uma sentença eliciando o pretérito perfeito, na segunda, o presente, os dois tempos avaliados neste teste (o verbo sublinhado (V4) indica a resposta que deveria ser fornecida pelo informante).

Eu queria comprar uma caneta. Então, eu passei na loja e [comprei ]. ( 01 )

  (V1) (V2) (V3) (V4)

Eu quero comprar uma caneta. Então, eu passo na loja e [compro ]. ( 02 )

(V1) (V2) (V3) (V4)

Este teste foi aplicado, inicialmente, aos afásicos CS e RP, e os resultados nos levaram a não repetir a mesma tarefa com os outros informantes. Isto porque o desempenho de ambos se mostrou muito ruim durante o teste: o informante RP teve extrema diculdade em completar as sentenças e, na impossibilidade de responder verbalmente, respondia com gestos, ainda que tenha sido repetidamente advertido de que não deveria fazê-lo; a informante RC, dentre as 52 sentenças que respondeu (metade do total), acertou apenas duas vezes.7 Estes resultados demonstraram a necessidade de uma reelabora-

ção do instrumento de avaliação, já que os dados coletados não revelavam nenhum aspecto relevante a respeito do sistema linguístico dos informantes.

Uma nova tarefa foi elaborada, então, com a preocupação de não somente avaliar o aspec-

to linguístico investigado (Concordância e Tempo), mas também com uma preocupação relacionada à condição cognitiva dos informantes. Na narrativa de eliciação, o afásico deveria ser capaz de armazenar na memória o conteúdo lexical de (V2) e também os traços de pessoa, número e tempo de (V3) para fornecer a resposta correta. Assim, o afásico além de tentar compreender a sentença que estava sendo apresentada (apenas oralmente), deveria atentar para os itens relevantes a serem armazenados. Ainda que esta tarefa parecesse razoavelmente semelhante às condições naturais de produção, as capacidades envolvidas poderiam ir além do possível para os informantes.

Na segunda tarefa elaborada, que será chamada de eliciação forçada, as sentenças eram apre-

sentadas visualmente em uma tela de computador, juntamente com três opções de resposta, como vemos na Figura 6. Isto fornecia ao afásico um suporte xo para consultar os aspectos relevantes da sentença que determinariam a exão do verbo. Além disso, as sentenças eram mais curtas, o que fazia com que os traços relevantes de Concordância e Tempo estivessem contíguos ao verbo eliciado e não há algumas palavras de distância, como na narrativa de eliciação. Uma outra vantagem desta t arefa é o fato de que os participantes foram autorizados a apontar a opção desejada, permitindo que, ao fornecer a resposta, os afásicos passassem ao largo dos problemas fonológicos e lexicais, apresentados, em maior ou menor grau, em todos eles.

7 Os erros, nesta tarefa , poderiam ser de três tipos: parciais de concordânci a (como responder comprou em (01)), parciais de tempo (como responder compro em (01)) ou absolutos (como responder compr a em (01)). Os dois acertos men cionados são acer tos absolutos. O número de acertos parciais tamb ém foi baixo, chegando a apenas 3 sentenças.

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Figura 6 - Exemplo de um slide da condição de Concordância

A desvantagem da nova tarefa dizia respeito ao tipo de habilidade linguística avaliada. Ain-

da que este tipo de tarefa já tenha sido usado em estudos anteriores (WENZLAFF & CLAHSEN, 2004; BURCHERT, SWOBODA-MOLL & DE BLESER, 2005) com o objetivo de avaliar aproduçãolinguística, ex-

istem autores que levantam a possibilidade de que esta tarefa avaliaria a compreensão; outros sugerem, ainda, que se trataria, na verdade, de uma tarefa de julgamento de gramaticalidade:

“The reason for the forced-choice completion appearing in this judgment section is that the subject always used a judgment heuristic in these tasks: trying every alternative, judging it, and then choosing (this was obvious both from the patient’s behavior during the test and from her own report about the method she used).” (FRIEDMANN & GRODZINSKY, 1997, p. 406).

“… these might not truly be production tasks. Considering the fact that participants had to select the correct verb form from two or three given candidates, these tasks might very well target com - 

prehension instead of production of verb inection.”  (KOK, KOLK & DOORN, 2007, p. 275).

Foi esta controvérsia que fez com que optássemos inicialmente por uma tarefa mais natural, como parecia ser a narrativa de eliciação. Entretanto, a necessidade de adaptar as condições de avaliação à capacidade dos informantes fez com que seguíssemos Wenzlaff e Clahsen (2004) e De Burchert, Swo-

boda-Mol e De Blesser (2005), elegendo a tarefa de eliciação forçada para avaliar os informantes.

O total de estímulos oferecidos nesta tarefa foi escolhido com o intuito de poupar os partici-

pantes. O teste era composto de 144 sentenças, sendo 48 na condição de Tempo, 48 na de Concordância e 48 distratores. A escolha do número total de estímulos se deu em uma tentativa de equacionar um número razoavelmente capaz de fornecer análises estatísticas (assim, no menor contraste testado, o de forma pronominal, havia oito dados de cada pronome por condição) com a menor quantidade possível de sentenças. No caso dos informantes que se mostraram mais lentos ou indispostos (CS e RC), os distratores foram, ainda, retirados, para diminuir o número de estímulos.

Na condição de Tempo deste teste, a resposta foi induzida a partir de enunciados como (03), que continham diferentes expressões adverbiais divididas em dois grupos: as de presente (todo dia, toda semana, todo mês, todo ano) e as de pretérito (ontem, semana passada, mês passado, ano passado)8.

Nas sentenças desta condição, o sujeito poderia ser qualquer uma das três pessoas do discurso em qualquer das suas marcações de número (singular e plural). As combinações de número e pessoa foram distribuídas igualmente ao longo das observações, sob a forma dos pronomes eu, você, ele, nós, vocês e eles. A apresentação das sentenças era feita por meio de slides, em um monitor de 15 polegadas, no qual, além da sentença, eram apresentadas três opções de resposta (gura 6): a resposta correta; uma com o verbo em uma forma nita inadequada (pretérito, quando a correta estava no presente ou vice- versa) e outra com um verbo no innitivo. Estas opções foram escolhidas para que, independentemente

8 É importante notar que existem diferenças aspectuais entre as sentenças de presente e passado. Veja-se Forster (2008) para uma dis- cussão a respeito desta questão. Descrições mais detalhadas de todos os experimentos relatados neste artigo podem ser encontradas também no referido trabalho.

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do Tempo a ser eliciado (presente ou pretérito), as opções fossem sempre as mesmas. A inclusão do innitivo como alternativa permitiria vericar se a preferência pelo innitivo em línguas como inglês e alemão (cf. FRIEDMANN, 2000) possui paralelo no português. A opção por uma forma nita incorreta foi disponibilizada para, em caso de erro, vericar se haveria preferência pela forma innitiva ou nita, opção esta que poderia indicar sensibilidade ao traço de nitude. Durante a aplicação, o experimentador lia as sentenças e, também, todas as opções, podendo repetir a leitura quantas vezes o afásico achasse necessário. Como resposta, o afásico deveria apontar para uma das opções e, caso conseguisse, pro-

nunciá-la.

Todo dia eu [_____] a roupa. ( 03 )

Na condição de Concordância, foi investigado se os participantes levavam em conta as infor-

mações de número e de pessoa expressas morfologicamente no verbo. A resposta, nesta condição, era induzida a partir da alternância entre os pronomes eu, você, ele, nós9, vocês e eles, em sentenças como

a (04).

Nós [_____] uma música. ( 04 )

Além da opção correta de resposta, eram apresentadas ao afásico uma forma verbal com o número incorreto e uma outra com a pessoa incorreta, mantendo o Tempo sempre constante. Estas alternativas foram escolhidas, pois permitiam investigar se uma eventual incapacidade de estabelecer a Concordância com o sujeito poderia ser atribuída especicamente ao traço de número ou pessoa. Tam-

bém permitiriam investigar quase todas as exões possíveis, considerando que o paradigma exional do PB possui, hoje, apenas quatro formas distintas. O procedimento foi o mesmo adotado na condição de Tempo.

Participaram deste experimento todos os quatro afásicos mencionados no início desta seção. Para todos eles, foi fornecida uma etapa de treinamento, na qual o experimentador explicava a tarefa ao informante e o auxiliava a completar algumas sentenças semelhantes às sentenças experimentais. Os resultados do experimento foram como segue.

Tabela 1 – Número total de acertos (e signicância) dos resultados por sujeito no experimento de eliciação forçada10

CS RC RP ZB

Concordância 35 / 48 (<.001) 35 / 48 (<.001) 22 / 48 (ns)a 16 / 48 (ns)

Tempo 40 / 48 (<.001) 28 / 48 (<.025) 19 / 48 (ns) 14 / 48 (ns)

a ns = não signicativo

 A tabela 1 apresenta o resultado de cada participante em cada uma das condições do experi- mento. Como é possível ver, somente os participantes CS e RC conseguiram um total de acertos sig - nicativamente maior do que o nível de chance. Em relação à dissociação entre Tempo e Concordân- cia, mostrada na tabela 2, nenhum dos participantes demonstrou uma diferença signicativa entre os scoresdas duas condições.

Como é possível ver também na tabela 2, a afásica RC conseguiu acertar o número do verbo alvo em todas as sentenças da condição de Concordância, ao passo que em relação à pessoa do verbo, a afásica obteve apenas 35 acertos. Como é possível ver na tabela 3, a maior parte dos erros da informante em relação ao traço de pessoa foi ocasionada por sentenças com pronome de segunda 9 A forma pronominal de primeira pessoa do plural, “a gente”, comum no PB, principalmente na modalidade oral, não entrou no repertór io de pronomes utilizados, por ser usada jun to a uma desinência de terceira pessoa, o que reduziria os contr astes possíveis nesta condi ção. 10 O teste de signicância utilizado foi o chi-quadrado. O procedimento de realização do teste é apresentado em Forster (2008).

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pessoa, ao passo que o maior número de acertos foi com sentenças de primeira pessoal. Em relação à condição de Tempo, conforme apresentado na tabela 2, o afásico CS conseguiu acertar 23 das 24 sentenças elaboradas com advérbios no passado, enquanto, com as sentenças de presente, acertou somente 17.

Tabela 2 – Número de acertos (e signicância) de cada um dos sujeitos na condição de Con-

cordância comparada à de Tempo, no contraste de número comparado ao de pessoa e no de presente, ao de passado CS RC RP ZB concordância vs. tempo 35 vs. 40 (ns) 35 vs. 27 (ns) 22 vs. 19 (ns) 16 vs. 14 (ns) número vs. pessoaa 43 vs. 40 48 vs. 35 37 vs. 33 34 vs. 30 presente vs. passadob c 17 vs. 23 (ns) 14 vs. 14 (ns) 08 vs. 11 (ns) 8 vs. 6 (ns) a Considerando apenas a condição de Concordância.

b Considerando apenas a condição de Tempo.

c Na análise do contraste entre Tempo presente e passado, foi aplicada a correção de Yates ao

resultado do qui-quadrado, já que, para todos os sujeitos, houve a ocorrência de frequências esperadas menores do que 10 (Cf. LEVIN, 1987, p. 203).

Tabela 3 – Scores (e porcentagem) de acerto no contrastes de pessoa por sujeito na condição de Concordânciaa

CS RC RP ZB

PESSOA 1ª 13 / 16 (81,3%) 15 / 16 (93,8%) 6 / 16 (37,5%) 5 / 16 (31,3%) 2ª 10 / 16 (62,5%) 9 / 16 (56,3%) 10 / 16 (62,5%) 5 / 16 (31,3%) 3ª 12 / 16 (75,0%) 11 / 16 (68,8%) 6 / 16 (37,5%) 6 / 16 (37,5%)

a Os scores  de acertos apresentados aqui não incluem acertos parciais, isto é, só consideram

as vezes em que o sujeito forneceu uma resposta correta em todos os aspectos. Assim, situações em que o sujeito acertou o traço de pessoa, mas errou o de número, por exemplo, não são apresentadas aqui.

Resumindo, então, os resultados, não foi encontrada uma dissociação entr e Tempo e Concordân- cia. Entretanto, foram encontradas outras dissociações: um dos informantes apresentou um desem- penho melhor com o tempo passado quando comparado ao presente, outra informante apresentou um desempenho melhor com o traço de número quando compara do ao de pessoa e, em relação à pessoa, apresentou melhor desempenho com a primeira pessoa em relação às outras pessoas do discurso.

No que concerne a HPA, estes resultados não são muito informativos: por um lado, não conr - mam a HPA, porque não apresentam a dissociação prevista entre Concordância e Tempo, por outro lado, também não desconrmam, pois a HPA prevê casos de não dissociação em agramáticos leves (que só teriam CP comprometido) e severos (que teriam tanto AgrP quanto TP comprometidos). Neste espírito, seria possível dizer que CS e RC seriam agramáticos leves, enquanto ZB e RP, agramáticos severos.

Em relação às teorias sobre o sistema linguístico normal, o que se pode concluir é que catego- rias de análise como número, pessoa e tempo parecem gozar de alguma realidade psicológica, já que

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é permissível concluir, a partir dos resultados aqui apresentados, que lesões neurais possam afetar seletivamente estes aspectos, isto é, afetar uma pessoa do discurso, mas não outras. Ainda que não seja exatamente o caso de imaginar que a lesão possa ter afetado um possível “neurônio de segunda pessoa”, é possível deduzir que traços de pessoa estejam envolvidos nas operações que o cérebro implementa ao lidar com a linguagem, e assim, uma lesão, ao afetar a maneira como o cérebro trab- alha, pode afetar mais uma pessoa do que outra.

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