excedentes no próprio negócio ou na comunidade, em detrimento da maximização de lucros para distribuir pelos seus stakeholders (Zografos, 2007).
Tabela 6.2 - Fatores sociais que condicionam o sucesso das cooperativas
Fator Indicador Evidências
Social • Formação dos cooperadores • Reconversão do setor produtivo
local
• Fixação da população • Integração de públicos
desfavorecidos
• “Damos toda a ajuda e informação aos nossos cooperadores”
• “Ao promovermos a qualidade incentivamos a reconversão das vinhas, para podermos pagar mais aos cooperadores”
• “Tanto podem ser associados aqueles que produzem apenas alguns quilos de uvas, como os que produzem várias toneladas, desde que tenham qualidade”
Note-se, também, que o Presidente da UDACA, reconhece que os cooperadores se sentem mais satisfeitos quando a cooperativa é vista como um caso de sucesso, e onde existe uma liderança forte, “profissional”, que “sabe o que quer”, com “um líder que conduz a equipa…sem
conflitos” e que fomenta o “espírito de união, confiança e empatia”. Na realidade, o estilo e
tipo de liderança possui efeitos significativos na satisfação e sustentabilidade das cooperativas (Cheney et al., 2014; Hagedorn, 2014) podendo, inclusive, explicar o surgimento ou desaparecimento de grupos de produtores, bem como motivar para a construção de projetos e ações coletivas.
6.2 Investigação Quantitativa - Questionário
Na análise dos resultados deste segundo tipo de estudo (quantitativo) foram usados diferentes procedimentos estatísticos, aplicados aos dados recolhidos, para atingir os objetivos propostos nesta investigação. Em primeiro lugar foi feita uma análise estatística descritiva dos possíveis fatores e critérios para medir a satisfação dos cooperadores e a sua intenção de permanecer na cooperativa, além de uma análise das perceções dos cooperadores acerca das cooperativas enquanto alianças estratégicas e motores de desenvolvimento social. Para isso recorreu-se ao software SPSS Statistics (v. 24; IBM, Chicago, IL).
Para responder em concreto às hipóteses de investigação opta-se, numa segunda fase, pela aplicação de regressões lineares, usando o coeficiente de correlação de Pearson, assumindo-se a normalidade e linearidade na distribuição, tendo como pressuposto a teoria da tendência central (n>30) (Marôco, 2011), para perceber quais as ligações existentes entre as variáveis e qual a direção dessas relações. Em termos de p=value, serão tidas em consideração
122
significâncias para o nível 0.01 e 0.05, rejeitando-se todos os resultados cujos valores de p não se enquadrem nestes parâmetros.
6.2.1 Caracterização da amostra
Devido às dificuldades sentidas em encontrar os cooperadores, dada a sua dispersão geográfica, os dados foram recolhidos em diferentes momentos, através de diferentes meios e contextos, como explicado no capítulo da metodologia. Obtiveram-se 194 inquéritos válidos.
Como se pode observar, há uma grande heterogeneidade quando se procede à caracterização quer dos cooperadores, quer das produções e explorações agrícolas, que entregam uvas nas cooperativas alvo do estudo (Tabela 6.3).
Tabela 6.3 - Descrição da Amostra
N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Idade 194 18 87 59,72 12,265
Área Vitivinícola detida (ha) 194 ,1 20,0 3,34 2,8552
Produção entregue (2015) (kg) 194 500 110000 19738,14 19478,589
N.º de anos de cooperador 190 1 60 16,25 10,676
Percentagem de receitas atividade agrícola 193 0,01 100 46,89 31,958 Percentagem de receitas oriundas da Coop. 194 0,01 100 49,73 34,201 Tempo de espera para receber (dias) 194 90 850 511,58 221,038
N válido (listwise) 190
Em termos de idade, verifica-se que a média é elevada (60 anos), com um desvio padrão de 12,26 anos, apesar de existirem alguns, poucos, agricultores cooperadores com idades inferiores a 35 anos (3,1%).
A existência de cooperadores já com idades avançadas comprova um dos problemas elencados na revisão da literatura (Hernández-Espallardo et al., 2009), e corroborado no estudo de caso, em que se dá conta de que um dos desafios que enfrentam atualmente as cooperativas passa, precisamente, por atrair cooperadores mais novos, por forma a promover a sustentabilidade daquelas instituições, já que 60.8% dos cooperadores inquiridos possuem mais de 55 anos (cf. Figura 6.2), o que comprova o envelhecimento do setor, a que os públicos mais jovens têm dificuldades em aderir.
A distribuição de género é também desproporcional (Figura 6.1). Apenas 14.4% dos inquiridos é do género feminino, contra 85.6% do género masculino, o que traduz a dominância dos homens neste setor de atividade.
123
Figura 6.1 – Distribuição da amostra por género
Outro aspeto a considerar é o de que, apesar da média de idades ser elevada, o número de anos como cooperador ronda os 16 anos (Tabela 6.3). Este resultado é indicador de que as cooperativas poderão ter sofrido alguns constrangimentos e passado por diversas transformações nas últimas décadas, alterações essas que terão conduzido a uma entrada de novos cooperadores.
Figura 6.2 - Distribuição dos cooperadores por idades
Pode revelar, também, que a atividade cooperativa vitivinícola poderá ter-se tornado mais atrativa de alguns anos a esta parte, fruto dos desenvolvimentos do setor e do aumento do
124
volume de vinho comercializado (IVV, 2014), passando a atividade vitivinícola a constituir mais uma fonte de receita familiar.
Figura 6.3 - Distribuição da amostra por grau de instrução
A Figura 6.3 revela que o setor vitivinícola é um setor onde predomina uma fraca formação escolar. Como se pode observar, 47.4% dos inquiridos afirmaram possuir a escolaridade primária, a que se somam 30.9% a deterem a escolaridade básica. Estes dois itens somados devolvem o valor de mais de 78% dos cooperadores a não irem além da escolaridade obrigatória. Em número reduzido aparecem os cooperadores que possuem o ensino secundário (12.4%) e os que completaram um ciclo de estudos superiores (8.3%).
Os dados apontam para a existência de uma relação entre a elevada idade dos cooperadores e os baixos níveis de escolaridade, que é confirmada através do teste de correlação de Pearson4,
ao indicar que existe, de facto, uma correlação negativa forte (-0.523), significativa ao nível 0.01 bilateral, entre a idade dos cooperadores e as suas habilitações literárias, ou seja, o aumento de uma resulta na diminuição da outra e vice-versa.
Acresce que, ao observar-se a percentagem de receitas que provêm da atividade agrícola (Tabela 6.3), verifica-se que a agricultura, em geral, e a produção de vinho, em particular, não é ainda encarada como uma atividade que possa ser desenvolvida em 100% do tempo. Dos
4 Usa-se nesta e em todas as restantes análises correlacionais o Teste de Pearson, assumindo-se a linearidade da
amostra. Todavia, a aplicação do rô de Spearman deu resultados idênticos, com uma correlação negativa forte (- 0,639) entre as variáveis.