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2. BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A INDÚSTRIA DE ENERGIA ELÉTRICA

2.8. Condições de Contratação de Energia

Ao avaliar a implantação de nova capacidade de geração, o empreendedor terá, de forma simplificada, duas alternativas para comercializar a energia gerada:

• no ambiente livre, por meio de contratos bilaterais por quantidade; e/ou

• no ambiente regulado, por meio dos leilões de contratação por disponibilidade ou por quantidade.

12 Aprovação fundamentada nos seguintes instrumentos legais e regulatórios: § 4º do Art. 1º da Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004; Art. 7º da Resolução GCE nº 109, de 24 de janeiro de 2002; Resolução CNPE nº 10, de 16 de dezembro de 2003; Resolução ANEEL nº 212, de 20 de fevereiro de 2006.

Tabela 2.6 - Comparação entre as modalidades de contratação: Quantidade x Disponibilidade

Vendas por Quantidade Vendas por Disponibilidade

Receitas13 PPA RF (Receita Fixa) + CVU (despacho)

Custos Fixos + Variáveis Operação +

Liquidação Fixos + Variáveis Operação Liquidação Pelo Agente Gerador Pela Distribuidora Competitividade Preço do PPA Índice de Custo-Benefício (ICB)

Fonte: Petrobras

Os leilões de disponibilidade foram concebidos para permitir que a distribuidora gerencie um “portfólio” de contratos, devido à obrigação de contratar 100% de sua demanda e a incerteza na previsão dessa demanda. Além disso, eles têm como base a adequação da forma de contratação da capacidade termelétrica ao seu papel de complementação. Assim, esse é o modelo mais direcionado para a contratação das usinas termelétricas. A Figura 2.8 mostra os leilões previstos no ambiente regulado, sendo que o leilão que ocorre com 3 anos de antecipação ao início de operação (A-3) é aquele que as usinas termelétricas a gás natural são mais competitivas, pois dificilmente projetos baseados em outros combustíveis (como hidrelétricas e termelétricas a carvão) conseguem ser implantadas em tão pouco tempo. O prazo de contratação também varia, sendo de 15 anos para as usinas termelétricas e 30 anos para as usinas hidrelétricas.

Normalmente Termelétricas

Figura 2.8 - Venda no ACR: Leilões Anuais

Fonte: TUPIASSÚ (2007)

13 Onde: PPA significa “Power Purchase Agreement” ou contratos de compra de energia e CVU significa Custo Variável Unitário.

De forma resumida, os leilões possuem o seguinte processo: 60 dias antes do leilão, as distribuidoras informam os montantes (em MW médio) que desejam contratar. O MME oferece novos projetos hidrelétricos para o leilão (os quais devem ter licença ambiental prévia) e os agentes são livres para apresentar seus projetos (como termelétricas, PCHs, e usinas movidas a biomassa). Esses projetos devem ser qualificados pela EPE e apresentar informações14 para o cálculo da sua Garantia Física (lastro), sendo divulgada uma relação completa dos projetos que concorrerão no leilão, depois de efetuado esse cálculo. As usinas candidatas fazem ofertas de quantidade (MWh de energia assegurada ou lastro) e de preço unitário (R$/MWh). O leiloeiro ordena as usinas por preços unitários crescentes até que o montante acumulado de energia assegurada (lastro) seja igual à demanda licitada. Os vencedores da licitação assinam contratos bilaterais em separado com cada distribuidora, proporcional à demanda solicitada.

O leilão segue uma seqüência licitando primeiro os contratos por quantidade, correspondentes aos projetos hidrelétricos, seguindo com os contratos por disponibilidade, correspondentes aos projetos termelétricos. A alocação da demanda a ser licitada para cada modelo de contratação é feita pela EPE, seguindo regras pré-estabelecidas. Entretanto, alguns parâmetros usados podem não ser divulgados aos agentes, de forma que estes não têm certeza da demanda pela qual estarão competindo. Esta é uma informação importante na preparação da estratégia de participação no leilão, bem como a análise da competitividade do projeto proposto pelo agente. Essa análise é efetuada com base na estrutura de custos das usinas termelétricas. A Figura 2.9 mostra uma representação desses custos.

14 As principais informações que devem ser declaradas a priori pelos agentes termelétricos são a Potência Efetiva (PotEfe), o Fator de Capacidade Máximo (FCmax), os índices de indisponibilidade (TEIF e IP), a inflexibilidade (Inf) e o Custo Variável Unitário (CVU).

Custos Fixos Custos Variáveisde Operação LiquidaçãoCustos de

Estrutura de Custos de Usinas Termelétricas

R F

C O P

C E C

R F

C O P

C E C

G F

Figura 2.9 - Estrutura de custos das UTEs e parâmetros para avaliação da competitividade nos leilões (ACR)

Fonte: TUPIASSÚ (2007)

A estrutura de custos das termelétricas é composta por custos fixos, variáveis de operação e de liquidação. Os custos fixos correspondem aos investimentos para instalação da capacidade da planta de geração e de implantação de infra-estrutura para suprimento do combustível, às despesas fixas de operação e manutenção, custos de conexão elétrica, inflexibilidade, seguros, encargos e taxas. Os custos variáveis de operação correspondem basicamente aos gastos com suprimento do combustível, tendo uma pequena parcela relativa aos custos variáveis de operação e manutenção. As termelétricas só incorrem em custos de liquidação quando vendem energia por quantidade, em contratos bilaterais, pois nas contratações por disponibilidade dos leilões, esses custos são arcados pelas distribuidoras.

Cada parcela de custo possui um parâmetro correspondente para análise da competitividade de uma termelétrica, havendo uma correlação entre eles por meio de uma fórmula que calcula o Índice de Custo-Benefício (ICB), conforme apresentado na Figura 2.10.

A Receita Fixa (RF) corresponde à parcela da receita prevista para cobrir os custos fixos, representando uma remuneração que será paga ao longo de toda a vida do contrato. O RF é reajustado anualmente pelo IPC-A, exceto a parcela relativa à inflexibilidade, que é reajustada na forma específica para o combustível.

O COP (Custo Variável de Operação) é função do CVU (Custo Variável Unitário) e da inflexibilidade declarada (que será abatida do despacho previsto), representando uma remuneração que será paga somente quando a termelétrica operar. O CVU é função do combustível utilizado, que é reajustado na forma específica para o combustível, e possui uma pequena parcela de O&M que é reajustada anualmente pelo IPC-A.

ICB = RF + COP + CEC

GF

ICB = RF + COP + CEC

GF

ICB =

COP + CEC

GF

RF

+

QL

ICB =

COP + CEC

GF

RF

+

QL

Lances do empreendedor durante o leilão

Calculado pelo leiloeiro antes do leilão, de acordo com os parâmetros informados pelo empreendedor

Limitado a um valor teto

Figura 2.10 - Fórmula para determinação do Índice de Custo-Benefício (ICB)

Fonte: TUPIASSÚ (2007)

A Garantia Física (GF) determina a quantidade de energia que poderá ser comercializada pela termelétrica, considerando as informações declaradas a priori pelos agentes termelétricos: Potência Efetiva (PotEfe), Fator de Capacidade Máximo (FCmax), os índices de indisponibilidade (TEIF e IP) e a inflexibilidade (Inf), além da geração hidrelétrica e termelétrica total que será requerida pelo sistema. É calculada pela EPE com base em parâmetros pré-estabelecidos.

O Índice de Custo-Benefício (ICB) é o indicador que permite comparar a competitividade do custo de geração dos diferentes tipos de empreendimentos de geração termelétrica. Quanto menor o ICB, menor o custo de geração e, conseqüentemente, mais competitiva é a termelétrica. Antes do leilão, os agentes recebem o valor do teto máximo do ICB que será aceito pelo governo, ou seja, o preço em que será aberto o leilão.

Grosso modo, a relação entre RF e COP na formação do ICB pode chegar a 1 para 4 na definição do valor do ICB, de forma que um custo fixo baixo, permite suportar um maior

custo variável sem afetar significativamente o ICB. Nesse sentido, o papel de complementação das termelétricas é reforçado, com base na minimização dos custos fixos (RF) e na flexibilização dos custos variáveis (COP e CVU) para garantir a competitividade da geração termelétrica.