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Condições de acesso à actividade

No documento Capital de risco (páginas 36-39)

C. O regime qualificado

C.1 Condições de acesso à actividade

Como já resulta do acima exposto, o regime qualificado é imperativo para as ECR que ultrapassem os limiares do art. 6.º, n.º 2 os quais assumem obrigatoriamente a designação de SGFCR ou SICR (que adiante, por motivos de clareza de exposição, designaremos também, em conjunto, por Organismos de Investimento Alternativo em Capital de Risco, ou “OIACR”).

O capital social mínimo das SGFCR – encarregues de gerir FCR acima dos limites ou SICR – é de €125.000, ao passo que para as SICR se exige um montante de €300.000 (art. 46.º, n.ºs 1 e 2, respectivamente). Em ambas o capital social é representado obrigatoriamente por acções nominativas, e pode ser realizado através de entradas em dinheiro ou qualquer das classes de activos referidas no n.º 1 do art. 9º a propósito das SCR.

A estas ECR aplicam-se também, por força do art. 46º, n.º 4 do RJCR, que por sua vez remete para o art. 71º do RGOIC, as normas relativas à constituição de fundos próprios

suplementares quando o valor líquido das carteiras sob gestão153 exceda os €250.000.000,

que corresponde ao art. 9.º, n.ºs 3 e 6 da DGFIA, já mencionadas a propósito do regime simples (art. 12º do RJCR).

No regime qualificado aplica-se ainda a prescrição da parte final do n.º 3 do art. 9.º da DGFIA: sem prejuízo da obrigação de manter fundos próprios em montante não inferior a um quarto das despesas do ano anterior (art. 97, n.º 1 do Regulamento n.º 575/2013 do Parlamento e do Conselho, de 26 de Junho, por remissão do art. 71.º, n.º 4 do RGOIC), a soma do capital inicial com o montante suplementar de fundos não pode ser superior a

35 €10.000.000 (art. 71.º, n.º 3 do RGOIC, ex vi do art. 46.º, n.º 4 do RJCR). Os fundos próprios, incluindo os fundos próprios suplementares, devem ser investidos em activos líquidos e não incluir posições especulativas (art. 71.º, n.º 8 do RGOIC).

O art. 71.º, n.º 6 do RGOIC estabelece ainda a obrigação das sociedades gestoras de OIA, neste caso ECR, detenham fundos próprios suplementares suficientes para cobrir eventuais perdas ou danos resultantes de um desempenho negligente da sua actividade profissional (vd. art. 12.º, n.º 2 do Regulamento 231/2013) ou celebrem um seguro de responsabilidade civil profissional apto e adequado à cobertura daqueles riscos.

Voltando ao art. 46.º do RJCR, sublinhe-se a possibilidade das SGFCR e SICR adquirirem UP dos fundos sob gestão até um limite de 50% (art. 29.º, ex vi do art. 46, n.º 5).

O art. 47.º vem estabelecer requisitos de idoneidade relativos aos membros dos órgãos sociais e titulares de participações qualificadas dos OIACR. Quanto aos membros dos órgãos sociais que tenham a direcção efectiva dos FCR ou SICR – que deverão ser pelo menos duas pessoas (47.º, n.º1 al. a) - exige-se que possuam “boa reputação” e

“experiência suficiente” em relação às estratégias de investimento adoptadas (art. 47, n.º

1). O n.º 2 exige a idoneidade dos accionistas titulares de participações qualificadas, com o propósito de assegurar uma gestão “sã e prudente” dos OIACR. O n.º 4 remete para o disposto nos arts. 30.º-D, 31.º, n.ºs 1 e 2 e 33.º, n.º 11 do RGICSF, que estabelecem os critérios a que deve obediência a avaliação da idoneidade e experiência profissional. Merece ainda destaque a obrigatoriedade da apresentação de um relatório anual de cada OIACR, enviado à CMVM e colocado à disposição dos participantes (art. 62º).

C.2 Autorização

A Directiva, e por inerência, o RJCR, condicionam a constituição de GFIA a um pedido prévio de autorização à CMVM, ao qual já aludimos a propósito da cláusula de opt-in. O pedido deve conter os seguintes elementos, de acordo com o disposto nos n.ºs 2 e 3 do art. 48.º e als. c), e) e f) do art. 7.º):

a) Informações sobre:

i. as pessoas que dirigem efetivamente as atividades da sociedade, em particular sobre os membros dos órgãos sociais (incluindo questionário e declaração de idoneidade de cada membro, registo criminal e CV);

36 ii. a identidade dos acionistas que detenham, direta ou indiretamente, participações qualificadas e o número de ações detidas, direitos de voto e percentagem de capital correspondente, (incluindo questionário e declaração de idoneidade, registo criminal e CV);

iii. políticas e práticas de remuneração;

iv. mecanismos previstos para a subcontratação de funções;

b) Programa de atividades que estabeleça a estrutura organizativa da sociedade, incluindo descrição dos meios humanos, técnicos, materiais e informáticos a afetar ao exercício da atividade e informação sobre a forma como tenciona cumprir as obrigações decorrentes do RJC;

c) Fundos de capital de risco ou carteira própria que a sociedade de capital de risco pretende gerir e respetivas estratégias de investimento, de acordo com o art. 5.º do Regulamento 231/2013;

d) O lugar da sede e identificação de sucursais, agências, delegações ou outras formas locais de representação;

e) Capital social subscrito e capital social realizado.

A autorização encontra-se sujeita a consulta prévia do regulador de outro Estado-Membro quando o OIACR se encontrar numa especial relação de representação ou controlo com outra entidade gestora, SGFIM, empresa de investimento, instituição de crédito ou empresa seguradora sedeadas nesse outro Estado-Membro (cfr. art. 48º, n.º 7 ro RJCR). São fundamento da recusa de autorização a insuficiência do conteúdo dos elementos do pedido, a demonstração, pela sociedade gestora, de incapacidade para cumprir os deveres estabelecidos no RJCR, além da verificação das situações enunciadas no n.º 2 do art.

50.º154, quando susceptíveis de debilitar as funções de supervisão da CMVM.

A decisão da CMVM obedece a um prazo de 30 dias, que se suspende caso exista fundamento para a recusa de autorização (art. 49, n.ºs 1 e 2), sendo a CMVM obrigada a notificar os requerentes, conferindo-lhes um prazo de 10 dias para suprir eventuais insuficiências (art. 50.º, n.º 3) ou pronunciarem-se sobre o fundamento da recusa.

37 À semelhança das regras consagradas para o registo no regime simplificado, a autorização para exercício de actividade pode ser revogada no caso de violação grave e sistemática de normas legais, regulamentares ou constantes dos documentos constitutivos, caso o interesse dos participantes ou a defesa do mercado o justificar (art. 51.º, n.º 2, al. a). O recurso a falsas declarações e o facto da entidade gestora deixar de reunir os pressupostos de autorização constituem os restantes motivos de revogação (art. 51.º, n.º 2, als. b) e c). A não utilização da autorização no prazo de um ano ou a cessão da actividade durante,

pelo menos, 6 meses, implica a sua caducidade (art.51.º, n.º 1)155.

Quanto às alterações subsequentes das condições iniciais de autorização, o RJCR remete para os arts. 25.º e 26.º do RGOIC, que estabelece regimes distintos consoante a relevância da alteração e o tipo de investidores a que o OIACR dirige a sua actividade, que vão desde a comunicação prévia à CMVM e sua não oposição como condição de eficácia, à mera comunicação subsequente ao regulador.

No documento Capital de risco (páginas 36-39)

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