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Condições de experimentação 

No documento Portal Luz Espírita (páginas 68-83)

O  estudo  dos  fenômenos  é  de  importância  capital,  pois  que  nele  é  que  se  baseia  inteiramente  o  Espiritismo.  Muitas  vezes,  porém,  a  ausência  de  método,  a  falta de continuidade e direção nas experiências tornam estéreis a boa­vontade dos  médiuns  e  as  legítimas  aspirações  dos  investigadores.  A  essas  causas  se  devem  atribuir  os  resultados  pouco  decisivos  que  tantas  pessoas  obtêm.  Experimentam ao  acaso  desordenadamente,  sem  preocupação  das  condições  indispensáveis;  têm  pressa  de  obter  fenômenos  transcendentes.  Em  consequência  mesmo  do  estado  de  espírito em que fazem as pesquisas, acumulam dificuldades, e se ao fim de algumas  sessões  não  obtêm  mais  que  fatos  insignificantes,  banalidades  ou  mistificações,  desanimam e abandonam a investigação. 

Se,  ao  contrário,  se  produzem  resultados  satisfatórios,  determinam  eles  muitas  vezes,  com  irrefletido  entusiasmo,  uma  tendência  prejudicial  para  a  credulidade,  uma  disposição  para  atribuir  aos  Espíritos  desencarnados  todos  os  fenômenos  obtidos.  Em  casos  tais  não  se  fazem  esperar  as  decepções  necessárias,  todavia, porque fazem nascer à dúvida e, com ela, restabelecem o equilíbrio mental,  o  senso  crítico,  indispensável  em  todo  estudo  experimental  e,  mais  que  qualquer  outro, nesse domínio das investigações psíquicas, em que a sugestão, o inconsciente  e  a  fraude  se  podem  a  cada  passo  misturar  com  as  manifestações  do  mundo  invisível. 

Noutros  lugares  fazem­se  criticas  levianas,  são  acusados  os  grupos  de  má  direção,  os  médiuns  de  incapacidade  e  os  assistentes  de  ignorância  ou  misticismo.  Queixam­se  de  não  obter  senão  comunicações  destituídas  de  interesse  científico  e  consistindo de repisadas exortações morais. 

Essas  críticas  nem  sempre  são  infundadas;  mas  é  preciso  não  esquecer,  como  geralmente  se  faz,  que  nenhum  bem  se  adquire  sem  trabalho,  e  que  se  não  deve procurar colher os frutos antes da maturação. Em tudo se requer moderação e  paciência.  As  faculdades  mediúnicas,  como  todas  as  coisas,  estão  submetidas  à lei  de  progressão  e  desenvolvimento.  Em  lugar  de  estéreis  críticas,  mais  vale,  pelo  concurso  de  boas­vontades  reunidas,  facilitar  a  tarefa  do  médium,  formando  em  torno  dele  uma  atmosfera  de  simpatia  que  lhe  seja  ao  mesmo  tempo  sustentáculo,  estímulo e proteção.

É  indispensável  submeter  às  produções  mediúnicas  a  rigoroso  exame  e  conduzir as investigações com espírito analítico sempre vigilante. 

A  falta  de  benevolência,  a  critica  exagerada,  a  malsinação  sistemática  podem,  entretanto,  desanimar  o  médium,  compelido  a  abandonar  tudo,  ou  pelo  menos  afastá­lo  das  reuniões  numerosas,  para  se  incorporar  aos  grupos  familiares,  aos círculos restritos, onde encontrará sem dúvida mais favorável ambiente, mas em  que os seus trabalhos só aproveitarão a reduzido número de escolhidos. 

Há,  portanto,  antes  de  tudo  um  duplo  inconveniente  a  remover.  Se  demasiado  cepticismo  é  prejudicial,  a  credulidade  excessiva  constitui  perigo  não  menor. É preciso evitar um e outra com igual cuidado, e conservar­se num prudente  meio­termo. 

Entre  os  homens  de  ciência  é  que  se  encontram  os  mais  inveterados  preconceitos e prevenções a respeito dos fatos espíritas. 

Querem  eles  impor  a  essas  investigações  as  regras  da  ciência  ortodoxa  e  positiva, que consideram os únicos fundamentos da certeza; e se não são adotadas e  seguidas essas regras, rejeitam implacavelmente todos os resultados obtidos. 

Entretanto,  a  experiência nos  demonstra  que  cada  ciência  tem  suas  regras  próprias.  Não  se  pode  estudar  com  proveito  uma  nova  ordem  de  fenômenos,  socorrendo­se  de  leis  e  condições  que  regem  fatos  de  uma  ordem  inteiramente  diversa.  Só  mediante  pesquisas  pessoais,  ou  graças  à  experiência  nesse  domínio  adquirida pelos investigadores conscienciosos, e não em virtude de teoriasa priori, é  que se podem determinar as leis que governam os fenômenos ocultos. São das mais  sutis  e  complicadas  essas leis.  Seu  estudo  exige  espírito refletido  e  imparcial.  Mas  como exigir imparcialidade àqueles cujos interesses, nomeada e amor­próprio estão  intimamente ligados a teorias ou a crenças que o Espiritismo pode aniquilar? 

“Para achar a verdade – disse notável pensador – é preciso procurá­la com o  coração  simples”.  É,  sem  dúvida,  por  isso  que  certos  sábios,  imbuídos  de  teorias  preconcebidas, escravizados pelo hábito aos rigores de um método rotineiro, colhem  menos  resultados  nessas  investigações  do  que  homens  simplesmente  inteligentes,  mas dotados de senso prático e de espírito independente. Esses se limitam a observar  os  fatos  em  si  mesmos  e  lhes  deduzir  as  consequências  lógicas,  ao  passo  que  o  homem de ciência se aferrará principalmente ao método, ainda quando improdutivo.  O que nesse domínio importa antes de tudo são os resultados, e o único método que  os  favorecer, mesmo que pareça defeituoso a alguns, deve  ser por nós considerado  bom. 

Não  é  necessário  ser  matemático,  astrônomo,  médico  de  talento,  para  empreender, com probabilidade de êxito, investigações em  matéria de 'Espiritismo:

basta  conhecer  as  condições  a  preencher  e  submeter­se  a  elas.  Nenhuma  outra  ciência nos pode indicar essas condições. 

Só  a  experimentação  assídua  e  as  revelações  dos  Espírito­guia  no­las  permitem estabelecer com precisão. 

Os sábios tomam muito pouco em consideração as afinidades psíquicas e a  orientação  dos  pensamentos,  que,  entretanto,  constituem  um  importante  fator  do  problema  espírita.  Encaram  o  médium  como  um  aparelho  de  laboratório,  como  máquina  que  deve  produzir  efeitos  à  vontade,  e  procedem  a  seu  respeito  com  excessiva  desatenção.  As  inteligências  invisíveis  que  o  dirigem  são  por  eles  equiparadas  a  forças  mecânicas.  Nelas  recusam­se,  em  geral,  a  ver  seres  livres  e  conscientes,  cuja  vontade  entra numa  considerável  proporção,  nas  manifestações  –  seres  que  têm  suas  idéias,  seus  desígnios,  seu  objetivo,  desconhecidos  para  nós,  e  que  nem  sempre  julgam  conveniente  intervir:  uns,  porque  o  desembaraço  e  os  intuitos excessivamente materiais dos experimentadores os afastam; outros, porque,  demasiado  inferiores,  não  se  preocupam  com  a  necessidade  de  demonstrar  aos  homens as realidades da sobrevivência. 

Força  é,  todavia,  reconhecer  que  as  exigências  e  os  processos  dos  sábios  podem,  num  certo  limite,  ser  justificados,  em  vista  de  fraudes  com  que  têm  sido  muitas vezes desfigurados ou simulados os fenômenos. 

Não  somente  hábeis  prestidigitadores  têm  praticado  esse  gênero  de  exercícios, mas verdadeiros médiuns têm sido, não raro, surpreendidos em flagrante  delito  de  simulação.  Daí  a  bem  legítima  prevenção  de  certos  investigadores  e  a  obrigação,  que  se  lhes  impõe,  de  eliminar,  nas  experiências,  tudo  o  que  apresenta  caráter suspeito, todo elemento de dúvida, todo motivo de ilusão. 

É  indubitável  que, no  fenômeno  de  transportes,  por  exemplo,  será  preciso  uma  grande  acumulação  de  provas,  irrecusável  evidência,  para  acreditar­se  na  desmaterialização  e  sucessiva  reconstituição  de  objetos,  passando  através  das  paredes, de preferência a admitir que tenham sido trazidos por algum dos assistentes.  A  desconfiança,  entretanto,  não  deve  ser  levada  ao  extremo  de  impor  ao  fenômeno  condições  que  o  tornem  impossível,  como  no  caso  do  Dr.  Ferroul  e  dos  professores  do  Montpellier,  que  exigiam  a  leitura à  distância,  através  de  placas  de  vidro. 

A  interposição  desse  corpo,  criando  um  obstáculo  insuperável  à  ação  do  médium,  tornava  essa  experiência  equivalente  à  que,  num  intuito  de  verificação,  consistisse em inundar de luz intensa a câmara escura de um fotógrafo, no momento  de praticar as suas operações peculiares. 

A  ignorância  das  causas  em  ação  e  das  condições  em  que  elas  se  manifestam  explica  os  frequentes  insucessos  daqueles  mesmos  que,  supondo  dar  lições aos outros, só conseguem demonstrar insuficiência das regras de sua própria  ciência, quando as querem aplicar a esta ordem de pesquisas.

Além  disso,  o  espírito  de  suspeita  e  malevolência  em  que  envolvem  o  médium atrai as entidades inferiores, que se comprazem em perturbar e impelem o  sensitivo  à  prática  de  atos  fraudulentos.  Quando  esses  elementos  fazem  irrupção  num grupo, o melhor alvitre a adotar é suspender a sessão. É sobretudo nesse caso  que a presença e os conselhos de um Espírito­guia são de grande utilidade; e os que,  deles privados, se entregam a experiências, ficam expostos a graves decepções. 

O  médium  é  um  instrumento  delicado,  repositório  de  forças  que  se  não  renovam  indefinidamente,  e  que  é  preciso  utilizar,  com  moderação.  Os  Espíritos  esclarecidos,  os  experimentadores  sensatos,  aos  quais  merece  cuidado  a  saúde  dos  sensitivos,  sabem  deter­se  aos  primeiros  sintomas  de  esgotamento;  os  Espíritos  levianos  e  embusteiros,  que  afluem  às  reuniões  mal  dirigidas,  em  que  não  reina  a  harmonia  nem  a  elevação  de  pensamentos,  têm  menos  escrúpulos.  Senhores  dos  intuitos dos investigadores inexperto, não trepidarão em exceder o limite das forças  do médium, para produzirem fenômenos sem interesse, e mesmo para mistificarem  os assistentes. 

Quase  sempre,  forças,  causas,  influências  diversas  intervêm  nas  experiências;  algumas  vezes  mesmo  se  contrariam  e  hostilizam.  Daí  uma  certa  confusão,  uma  mescla  de  verdadeiro  e  falso,  de  coisas  evidentes  e  duvidosas  que  nem sempre é fácil distinguir. 

Os  próprios  sábios  reconhecem  que,  na  maior  parte  dos  casos,  pode  a  sugestão  intervir  numa  considerável  proporção;  do  que  resulta  que,  para  obter  fenômenos  espíritas  verdadeiramente  autênticos  e  espontâneos,  se  deve  evitar  com  cuidado tudo o que pode influenciar o médium e perturbar a ação dos Espíritos. Ora,  é  do  que  parece  menos  se  preocuparem  certos  homens  de  ciência 42 .  Julgam  lícito  embaraçar  o  sensitivo  com  perguntas  inoportunas,  pueris,  insidiosas.  Perturbam  as  sessões,  entretendo­se  em  conversas  particulares  e  colóquios.  Quando  são  indispensáveis a calma, o silêncio, a atenção, uns mudam de lugar, entram e saem,  interrompem as manifestações em curso, apesar das injunções dos Espíritos; outros,  como  certo  doutor  de  nosso  conhecimento,  fumam  e  tomam  cerveja  durante  as  experiências. 

Em  tais  condições  tão  pouco  sérias,  tão  pouco  honestas,  como  é  possível  ouso, legitimamente formular conclusões? 

Algumas  vezes  a  experiência  segue  uma  direção  normal,  satisfatória;  o  fenômeno  se  desenvolve  com  feição  prometedora.  E  subitamente  age  uma  nova  causa;  uma  vontade  intervém;  uma  corrente  de  idéias  contrárias  entra  em  jogo;  a  ação  mediúnica  se  perturba  e  transvia;  já  não  produz  senão  efeitos  em  desacordo  com  as  esperanças  do  começo.  Fatos  reais  parece  ladearem  coisas  ilusórias;  às 

42 Ver as experiências do Sr. Flournoy, professor de Psicologia na Universidade de Genebra, e a judiciosa 

sessões  imponentes  sucedem  manifestações  vulgares.  Como  destrinçar  essa  complicação que vos deixa perplexo? Como evitar a sua reprodução? 

E aí que a necessidade da disciplina nas sessões se  faz vivamente sentir e,  mais  ainda,  a  assistência  de  um  Espírito  elevado,  cuja  vontade  enérgica  exerça  império sobre todas as correntes adversas. 

Quando  a  harmonia  das  condições  se  estabelece  e  a  força  do  Alto  é  suficiente,  já  se  não  produzem  essas  contradições,  essas  incoerências  que  provêm,  quer  das  forças  inconscientes,  quer  de  Espíritos  atrasados,  quer  mesmo  do  estado  mental dos assistentes. O fenômeno se desenvolve então em sua majestosa grandeza,  e o fato probatório se apresenta. 

Mas  para  isso,  para  obter  essa  assistência  do  Alto,  fazem­se  precisas  a  união, a elevação dos pensamentos e dos corações; são necessários o recolhimento e  a prece. 

As  entidades  superiores  não  se  põem  de  boamente  ao  serviço  dos  experimentadores  que  não  são  animados  do  sincero  desejo  de  instruir­se,  de  um  amor profundo ao bem e à verdade. 

Aqueles  que  fazem  do  Espiritismo  um  passatempo,  uma  frívola  diversão,  não têm que contar senão com incoerências e mistificações. 

Pode  haver  mesmo  nisso,  às  vezes,  um  perigo.  Certas  pessoas  se  comprazem  em  conversas  mediúnicas  com  os  Espíritos  inferiores,  com  almas  viciosas  e  degradadas,  e  isso  sem  intenção  benéfica,  sem  intuito  de  regeneração,  movidas por sentimento de curiosidade, pelo desejo de divertir­se. Ao passo que não  teriam suportado a convivência desses seres, na vida terrestre, não receiam atraí­los,  depois de desencarnados, e com eles entreter palestras de mau gosto, sem reparar em  que desse modo se abandonam a perigosas influências magnéticas. 

Se  entrardes  em  relação  com  almas  perversas,  fazei­o  com  o  fim  de  sua  redenção,  de  sua  reabilitação  moral,  sob  o  amparo  de  um  guia  respeitável;  doutro  modo  vos  exporeis  à  nociva  promiscuidade,  a  obsessões  temíveis.  Não  abordeis  essas regiões do Além senão com o propósito firme e elevado, que vos seja como a  arma assestada contra o mal. 

A mediunidade, esse poder maravilhoso, foi concedida ao homem para um  nobre uso. Aviltando­a, aviltareis a vós mesmos, e de um puríssimo eflúvio celeste  fareis um sopro envenenado. 

O  antigo  iniciado,  como  os  orientais  em  nossos  dias,  só  se  entregava  às  evocações  depois  de  se  haver  purificado  pela  abstinência,  pela  prece  e  pela  meditação. A comunicação com o invisível era um ato religioso, que ele executava  com sentimento de respeito e de veneração pelos mortos. 

Nada  há  mais  diametralmente  oposto  que  o  modo  de  proceder  de  certos  experimentadores  atuais.  Apresentam­se  nos  lugares  de  reunião  depois  de  copioso  jantar, impregnados do cheiro do fumo, com o desejo intenso de obter manifestações

ruidosas  ou  indicações  favoráveis  aos  seus  interesses  materiais.  E  admiram­se,  em  tais  condições,  de  só  se  apresentarem  Espíritos  fraudulentos  e  mentirosos  que  os  enganam e se divertem em lhes causar inúmeras decepções! 

Mau  grado  à  repugnância  dos  modernos  sábios  pelos  meios  com  cuja  aplicação  se  realiza  a  elevada  comunhão  das  almas,  será  forçoso  a  eles  recorrer, a  não ser que se queira fazer do Espiritismo uma nova fonte de abusos e de males. 

O  estado  de  espírito  dos  assistentes,  sua  ação  fluídica  e  mental,  é  por  conseguinte, nas sessões, um importante elemento de êxito ou de insucesso. Quanto  mais  sensível  é  o  médium  tanto  mais  receptivo  é  à  influência  magnética  dos  experimentadores.  Em  uma  assembléia  na  maioria  composta  de  incrédulos,  cujos  pensamentos hostis convergem para o sensitivo, o fenômeno dificilmente se produz.  A primeira das condições é abster­se de toda idéia preconcebida, a fim de deixar ao  Espírito  a  necessária  liberdade  de  ação.  Tenho,  por  minha  parte,  em  certos  casos,  podido  verificar que uma vontade enérgica e persistente pode paralisar o sensitivo,  se é fraco, e constituir obstáculo às manifestações. 

Os  pensamentos  divergentes  se  chocam  e  formam  uma  espécie  de  caos  fluídico, que à vontade dos invisíveis nem sempre consegue dominar. É o que torna  tão  problemáticos  os  resultados  nas  assembléias  numerosas,  de  composição  heterogênea,  nas  sessões  teatrais,  por  exemplo,  como  o  tem  demonstrado  a  experiência.  As  pessoas  ávidas  de  propaganda  pública,  que,  sem  cogitar  das  necessárias  precauções,  se  aventuram  nesse  terreno,  expõem­se  à  bem  graves  reveses.  Aí  correm  os  médiuns  grande  risco:  não  somente  se  acham  à  mercê  dos  Espíritos  atrasados  que  se  comprazem  na  permanência  entre  as  turbas,  mais  ainda  ficam à discrição de todo mal­intencionado que, aparentando de sábio, deles exigirá  experiências  contrárias  às  verdadeiras  leis  do  Espiritismo.  E  quando  tiver  usado  e  abusado  de  suas  forças  sem  resultado  prático,  persuadirá  os  espectadores  de  que,  nessa ordem de idéias, não há mais que fraude ou erro. 

Compreende­se,  depois  disso,  que  haja  quase  sempre  afinidade  entre  os  membros  de  um  círculo  e  as  entidades  atuantes.  As  influências  humanas  atraem  inteligências similares, e as manifestações revestem um caráter em harmonia com as  disposições, as preferências, as aptidões do meio. 

Certos  críticos  têm  pretendido  concluir  daí  que  as  comunicações  espíritas  não  passam  de  reflexos  dos  pensamentos  dos  assistentes.  Fácil  de  refutar  é  essa  opinião.  Basta  recordar  as  revelações  de  nomes,  fatos,  datas,  desconhecidos  de  todos, as quais se têm produzido em tantos casos e foram reconhecidas exatas depois  de verificação. 43 

Têm­se  obtido  palavras,  ditadas  em  línguas  ignoradas  dos  assistentes;  a  assinatura,  o  estilo,  a  maneira  de  escrever  de  pessoas  falecidas  têm  sido  mecanicamente  reproduzidas  por  médiuns  que  nunca  as  haviam  conhecido.  Às  vezes, também, experimentadores instruídos só obtêm coisas vulgares, ao passo que  em reuniões de iletrados têm sido transmitidas comunicações notáveis pela elevação  e beleza de linguagem. 

As  analogias  que  se  notam  entre  os  membros  de  um  grupo  e  os  Espíritos  que  o  dirigem não  provêm  unicamente  das  simpatias adquiridas  e  da  similitude  de  opiniões; radicam­se também nas exigências da transmissão fluídica. 

Nas  manifestações  intelectuais  o  Espírito necessita  de  um agente  e  de  um  meio  que  lhe  forneçam  os  elementos  necessários  para  expor  suas  idéias  e  as  fazer  compreender. Daí a tendência para se aproximar dos homens com quem se acha em  comunhão de idéias ou de sentimentos. 

É  sabido  que  nos  fenômenos  de  escrita,  de  incorporação  e,  às  vezes,  mesmo, de tiptologia, o pensamento do Espírito se transmite através do  cérebro do  médium  e  este  não  deixa  passar  senão  um  certo  número  de  vibrações  ­  as  que  se  acham em harmonia com o seu próprio estado psíquico. 44 

Do mesmo modo que um raio de luz, atravessando os  vidros coloridos de  uma janela, se decompõe e não projeta do outro lado senão uma quantidade reduzida  de vibrações, assim o ditado do Espírito, seja qual for à opulência dos termos e das  imagens  que  o  compõem,  será  transmitido  no  restrito  limite  das  formas  e  das  expressões familiares ao médium e contidas em seu cérebro. 

Esta regra é geral. Temos, entretanto, observado que um Espírito, poderoso  em  vontade  e  energia,  consegue  fazer  um  médium  transmitir  ensinos  superiores  a  seus conhecimentos e indicar fatos que sua memória não registra. 

Quanto às lacunas e contradições que entre si apresentam as comunicações,  e  de  que  tantas  vezes  se  faz  um  argumento  contra  o  Espiritismo,  convém  não  esquecer  que  os  Espíritos,  como  os  homens,  representam  todos  os  graus  da  evolução. A morte não lhes confere a ciência integral, e, posto que suas percepções  sejam mais extensas que as nossas, não penetram eles senão a pouco e pouco, e na  medida do seu adiantamento, os segredos do Universo imensurável.  A atmosfera terrestre está povoada de Espíritos inferiores, em inteligência e  em moralidade, aos quais o peso específico que lhes é próprio não permite elevarem­  se mais alto. São os que acodem aos nossos chamados e se comunicam a maior parte  das  vezes.  Os  que  se  elevaram a  uma  vida  superior não  volvem  até  nós  senão  em  missão.  Suas  manifestações  são  mais  raras.  Revestem­se  de  caráter  grandioso  que  não as permite confundir no conjunto das outras comunicações. 

Se  os  pensamentos  divergentes  dos  circunstantes  são  uma  causa  de  perturbação e de insucesso, por um efeito  contrário, os pensamentos dirigidos para  um  objetivo  comum,  sobretudo  quando  elevado,  produzem  vibrações  harmônicas  que  difundem no  ambiente  uma  impressão  de  calma,  de  serenidade,  que  penetra  o  médium  e  facilita  a  ação  dos  Espíritos.  Estes,  em  vez  de  lutarem,  empregando  o  poder  da  vontade,  não  têm  mais  que  associar  seus  esforços  às  intenções  dos  assistentes; e desde logo a diferença dos resultados é considerável. 

É  por  isso  que  nas  reuniões  do  nosso  grupo  de  estudos  reclamamos  constantemente o silêncio, o recolhimento, a união dos pensamentos, e, a fim de os  facilitar e de orientar a assistência no sentido de elevados assuntos, abrimos sempre  as  sessões  com  uma  prece  coletiva,  com  uma  Invocação  improvisada  ao  Poder  Infinito  e  aos  seus  invisíveis  Agentes,  pondo  nessa  invocação  todas  as  forças  de  nosso espírito, todos os espontâneos surtos de nosso coração. 

Além  disso,  nas  sessões  de  efeitos  físicos,  quando  se  pretende  obter  fenômenos  de  transportes,  escrita  direta,  materializações,  é  conveniente  empregar  um meio artificial para fixar num ponto os pensamentos dos circunstantes. Pode­se  adotar um signo e colocar imaginariamente acima do médium, como, por exemplo,  uma  cruz,  um  triângulo,  uma  flor,  e,  de  quando  em  quando,  no  curso  da  sessão,  lembrar o signo convencional, atrair para ele a atenção oscilante e prestes sempre a  desviar­se. 

Esse  processo  substitui  com  vantagem  as  cantarolas  vulgares,  pouco  edificantes, a que muitos costumam recorrer em certas reuniões e que impressionam  desagradavelmente as pessoas de  fino gosto  e  espírito culto, e só tem aplicação na  obscuridade.  A  luz  geralmente  exerce  uma  ação  dissolvente  sobre  os  fluidos.  Em  todos  os  casos  em  que  não  seja  indispensável,  como  para  obter­se  a  escrita 

No documento Portal Luz Espírita (páginas 68-83)