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O Espiritismo e a mulher 

No documento Portal Luz Espírita (páginas 57-61)

Encontram­se,  em  ambos  os  sexos,  excelentes  médiuns;  é  à  mulher,  entretanto,  que  parecem  outorgadas  as  mais  belas  faculdades  psíquicas.  Daí  o  eminente papel que lhe está reservado na difusão do novo Espiritualismo. 

Mau  grado  às  imperfeições  inerentes  a  toda  criatura  humana,  não  pode  a  mulher,  para  quem  a  estuda  imparcialmente,  deixar  de  ser  objeto  de  surpresa  e  algumas  vezes  de  admiração.  Não  é  unicamente  em  seus  traços  pessoais  que  se  realizam, em a Natureza e na Arte, os tipos da beleza, da piedade e caridade; no que  se  refere  aos  poderes  íntimos, à intuição  e  adivinhação,  sempre  foi  ela  superior ao  homem. Entre as filhas de Eva é que obteve a antiguidade as suas célebres videntes e  sibilas. Esses maravilhosos poderes, esses dons do Alto, a Igreja entendeu, na Idade  Média,  aviltar  e  suprimir,  mediante  os  processos  instaurados  por  feitiçaria 38 .  Hoje  encontram eles sua aplicação, porque é sobretudo por intermédio da mulher que se  afirma a comunhão com a vida invisível. 

Mais uma vez se revela à mulher em sua sublime função de mediadora, que  o  é  em  toda  a  Natureza.  Dela  provém  à  vida;  é  ela  a  própria  fonte  desta,  a  regeneradora  da  raça  humana,  que  não  subsiste  e  se  renova  senão  por  seu  amor  e  seus ternos cuidados. E essa função preponderante que desempenha no domínio da  vida, ainda a vem preencher no domínio da morte. Mas nós sabemos que a morte e a  vida são uma, ou antes, são as duas formas alternadas, os dois aspectos contínuos da  existência. 

Mediadora  também  é  a mulher no  domínio  das  crenças.  Sempre  serviu de  intermediária  entre  a  nova  fé  que  surge  e  a  fé  antiga  que  definha  e  vai  desaparecendo. Foi o seu papel no passado, nos primeiros tempos do Cristianismo, e  ainda o é na época presente. 

O  Catolicismo  não  compreendeu  a  mulher,  a  quem  tanto  devia.  Seus  monges  e  padres,  vivendo  no  celibato,  longe  da  família,  não  poderiam  apreciar  o  poder e o encanto desse delicado ser, em quem enxergavam antes um perigo. 

38 Ver Michelet, A  FEITICEIRA,  passim; Joseph Fabre, PROCESSO  DE  CONDENAÇÃO  DE  JOANA  D'ARC

Delagrave,  editor. A  SRA.  PIPER,  diz:  “A  derradeira  vitima  dos  processos  de  feitiçaria  foi  Ana  Gaeldi,  supliciada  em  Glaris  (Suíça),  a  7  de  junho  de  1874.  Durante  catorze  séculos  foram  executados  mais  de  meio milhão de homens e mulheres, sob pretexto de feitiçaria”.

A antiguidade pagã teve sobre nós a superioridade de conhecer e cultivar a  alma feminina. Suas faculdades se expandiam livremente nos mistérios. Sacerdotisa  nos tempos védicos, ao altar doméstico, intimamente associada, no Egito, na Grécia,  na  Gália,  às  cerimônias  do  culto,  por  toda  a  parte  era  a  mulher  objeto  de  uma  iniciação,  de  um  ensino  especial,  que  dela  faziam  um  ser  quase  divino,  a  fada  protetora, o gênio do lar, a custódia das fontes da vida. A essa compreensão do papel  que  a  mulher  desempenha,  nela  personificando  a  Natureza,  com  suas  profundas  intuições,  suas  percepções  sutis,  suas  adivinhações  misteriosas,  é  que  foi  devida  a  beleza, a força, a grandeza épica das raças grega e céltica. 

Porque, tal seja a mulher, tal é o filho, tal será o homem. É a mulher que,  desde  o  berço,  modela  a  alma das  gerações.  É  ela  que  faz os  heróis,  os  poetas,  os  artistas, cujos feitos e obras fulguram através dos séculos. Até aos sete anos o filho  permanecia  no  gineceu  sob  a  direção  materna.  E  sabe­se  o  que  foram  as  mães  gregas,  romanas  e  gaulesas.  Para  desempenhar,  porém,  tão  sagrada  missão  educativa,  era  necessária  a  iniciação  no  grande  mistério  da  vida  e  do  destino,  o  conhecimento da lei das preexistências e das reencarnações; porque só essa lei dá à  vida do ser, que vai desabrochar sob a égide materna, sua significação tão bela e tão  comovedora. 

Essa  benéfica  influência  da mulher iniciada,  que  irradiava  sobre  o  mundo  antigo como uma doce claridade, foi destruída pela lenda bíblica da queda original. 

Segundo as Escrituras, a mulher é responsável pela proscrição do homem;  ela perde Adão e, com ele, toda a Humanidade; atraiçoa Sansão. Uma passagem do  Eclesiastes  a  declara  “uma  coisa  mais  amarga  que  a  morte”.  O  casamento  mesmo  parece um mal: “Que os que têm esposas sejam como se não as tivessem”; exclama  Paulo. 

Nesse  ponto,  como  em  tantos  outros,  a  tradição  e  o  espírito  judaico  prevaleceram,  na  Igreja,  sobre  o  modo  de  entender  do  Cristo,  que  foi  sempre  benévolo,  compassivo,  afetuoso  para  com  a  mulher.  Em  todas  as  circunstâncias  a  escuda  ele  com  sua  proteção;  dirige­lhe  suas  mais  tocantes  parábolas.  Estende­lhe  sempre  a  mão,  mesmo  quando  decaída.  Por  isso  as  mulheres  reconhecidas  lhe  formam uma espécie de cortejo; muitas o acompanharão até à morte. 

* * * 

Durante  longos  séculos  a  mulher  foi  relegada  para  segundo  plano,  menosprezada,  excluída  do  sacerdócio.  Por  uma  educação  acanhada,  pueril,  supersticiosa,  a  maniataram;  suas  mais  belas  aptidões  foram  comprimidas,  conculcado e obscurecido o seu caráter. 39 

A  situação  da  mulher,  na  civilização  contemporânea,  é  difícil,  não  raro  dolorosa. Nem sempre a mulher tem por si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se  ela  fraqueja,  se  sucumbe,  raramente  se  lhe  estende  mão  amiga.  A  corrupção  dos  costumes fez da mulher a vítima do século. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o  suicídio – tal é a sorte de grande número de pobres criaturas em nossas sociedades  opulentas. 

Uma reação, porém, já se vai operando. Sob a denominação de feminismo,  um  certo  movimento  se  acentua  legítimo  em  seu  princípio,  exagerado,  entretanto,  em  seus  intuitos;  porque,  ao  lado  de  justas  reivindicações,  enuncia  propósitos  que  fariam  da  mulher, não  mais  mulher,  mas  cópia,  paródia  do  homem.  O  movimento  feminista desconhece o verdadeiro papel da mulher e tende a transviá­la do destino  que  lhe  está  natural  e  normalmente  traçado.  O  homem  e  a  mulher  nasceram  para  funções  diferentes,  mas  complementares.  No  ponto  de  vista  da  ação  social,  são  equivalentes e inseparáveis. 

O  moderno  Espiritualismo,  graças  às  suas  práticas  e  doutrinas,  todas  de  ideal,  de  amor,  de  equidade,  encara  a  questão  de  modo  diverso  e  resolve­a  sem  esforço  e  sem  estardalhaço.  Restitui  à mulher  seu  verdadeiro  lugar na  família  e na  obra social, indicando­lhe a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação  e  no  adiantamento  da  Humanidade.  Faz  mais:  reintegra­a  em  sua  missão  de  mediadora predestinada, verdadeiro traço de união que liga as sociedades da Terra às  do Espaço. 

A  grande  sensibilidade  da  mulher  a  constitui  o  médium  por  excelência,  capaz  de  exprimir,  de  traduzir  os  pensamentos,  as  emoções,  os  sofrimentos  das  almas,  os  altos  ensinos  dos  Espíritos  celestes.  Na  aplicação  de  suas  faculdades  encontra ela profundas alegrias e uma fonte viva de consolações. A feição religiosa  do  Espiritismo  a  atrai  e  lhe  satisfaz  as  aspirações  do  coração,  as  necessidades  de  ternura,  que  se  estendem,  para  além  do  túmulo,  aos  entes  desaparecidos.  O  perigo  para  ela,  como  para  o  homem,  está  no  orgulho  dos  poderes  adquiridos,  na  suscetibilidade  exagerada.  O  ciúme,  suscitando  rivalidades  entre médiuns, torna­se  muitas vezes motivo de desagregação para os grupos. 

Dai a necessidade de desenvolver na mulher, ao mesmo tempo em que  os  poderes intuitivos, suas admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma,  o  júbilo  do  sacrifício,  numa  palavra,  o  sentimento  dos  deveres  e  das  responsabilidades inerentes à sua missão mediatriz. 

O  Materialismo,  não  ponderando  senão  o  nosso  organismo  físico,  faz  da  mulher um ser inferior por sua fraqueza e a impele à sensualidade. Ao seu contacto,  essa flor de poesia verga ao peso das influências degradantes, se deprime e envilece.

Privada  de  sua  função  mediadora,  de  sua  imaculada  auréola,  tornada  escrava  dos  sentidos,  não  é  mais  que  um  ser  instintivo,  impulsivo,  exposto  às  sugestões  dos  apetites mórbidos. O respeito mútuo, as sólidas virtudes domésticas desaparecem; a  discórdia  e  o  adultério  se  introduzem  no  lar;  a  família  se  dissolve,  a  felicidade  se  aniquila.  Uma nova  geração,  desiludida  e  céptica,  surge  do  seio  de  uma  sociedade  em decadência. 

Com  o  Espiritualismo,  porém,  ergue  de novo  a  mulher a  inspirada  fronte;  vem  associar­se  intimamente  à  obra  de  harmonia  social,  ao  movimento  geral  das  idéias.  O  corpo  não  é  mais  que  uma  forma  tomada  por  empréstimo;  a  essência  da  vida  é  o  espírito,  e  nesse  ponto  de  vista  o  homem  e  a  mulher  são  favorecidos  por  igual.  Assim,  o  moderno  Espiritualismo  restabelece  o  mesmo  critério  dos  celtas,  nossos pais; firma a igualdade dos sexos sobre a identidade da natureza psíquica e o  caráter  imperecível  do  ser  humano,  e  a  ambos  assegura  posição  idêntica  nas  agremiações de estudo. 

Pelo  Espiritismo  se  subtrai  a  mulher  ao  vértice  dos  sentidos  e  ascende  à  vida superior. Sua alma se ilumina de clarão mais puro; seu coração se torna o foco  irradiador  de  ternos  sentimentos  e  nobilíssimas  paixões.  Ela  reassume  no  lar  a  encantadora missão que lhe pertence, feita de dedicação e piedade, seu importante e  divino papel de mãe, de irmã e educadora, sua nobre e doce função persuasiva. 

Cessa,  desde  então,  a  luta  entre  os  dois  sexos.  As  duas  metades  da  Humanidade  se  aliam  e  equilibram  no  amor,  para  cooperarem  juntas  no  plano  providencial, nas obras da Divina Inteligência.

VIII

No documento Portal Luz Espírita (páginas 57-61)