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Condições oferecidas e privações do contexto prisional

4. Apresentação dos Resultados

4.2 Perspetivas dos Profissionais do Sistema Prisional

4.2.3. Condições oferecidas e privações do contexto prisional

T1:“É evidente que não concordo com tal posição e deveria ser alterada, portanto, devem ser concedidos ao recluso 10 minutos”.

O guarda prisional menciona que a partir do momento em que entrou em vigor o DL dos 5 minutos de chamadas, passou-se a encontrar mais telemóveis nas celas. Na verdade, os 5 minutos de chamada são diminutos, o que ficou claro nas respostas dadas pelos reclusos idosos.

T2: “Se nas revistas nós já apanhávamos telemóveis e não haviam os 5 minutos, ao porem os 5 minutos rigorosos, mais empurraram entre aspas o telemóvel a entrar. Há aí reclusos que têm famílias com 4/5/6 filhos, têm pai, mãe e têm esposa e os 5 minutos não chegam. E depois foram aplicados os 5 minutos, precisamente, muito próximo do Natal. Muitos é nessa altura que ligam para as famílias, nessas alturas até se demora mais porque estão familiares de outro país”.

Segundo o guarda, os serviços de reinserção ajudavam, anteriormente, as famílias mais pobres com oferta de senhas de transporte para visitarem os reclusos.

T2:“Há vinte e tal anos atrás até as senhas do autocarro pagavam às famílias muito pobres que não tinham dinheiro e a parte da reinserção pagava nessa altura as senhas dos autocarros para vir visitar os reclusos e isso acabou com o tempo”.

Na sua maioria, os reclusos idosos têm visitas de duas em duas semanas. Outros, uma vez por mês devido a questões monetárias e de transporte. Neste sentido, é importante realizar programas externos, voluntariado e estágios, que desenvolvam projetos de investigação-ação, que aproximem os familiares e amigos aos reclusos. A grande questão é que, ao longo de grande penas, os laços vão se dissolvendo e os reclusos idosos quando saem, poderão não ter família para cuidar deles. É uma questão que iremos abordar mais à frente neste trabalho.

4.2.3 Condições oferecidas e privações do contexto prisional

No que respeita ao Regulamento Geral dos Serviços Prisionais, os reclusos têm direito aos principais elementos inerentes às necessidades fisiológicas, especificamente,

102 comida, roupa lavada e cama individual. As respostas entre os reclusos e os técnicos parecem confirmar a existência de um conjunto de lacunas a melhorar.

Vejamos, os reclusos idosos entrevistados, na maioria, preenchem um quadro de tratamento especial por vários fatores associados a complementos vitamínicos. Portanto, as refeições deveriam ser primordiais, indo ao encontro dessa necessidade. Quanto ao Especialista dos Sistemas Prisionais nesta matéria.

T1:“Compete aos serviços clínicos, olharem para as situações de precaridade de saúde e alimentação dos que estão em regime comum. Quanto ao reforço alimentar dos idosos, se o médico prescrever uma dieta especial, deve ser cumprida a restrição”.

Em tempos, as famílias dos reclusos levavam alimentos para a prisão, mas essa vantagem foi diminuindo e as famílias só podem levar até 1kg. Não obstante, e continuando na visão da especialista dos sistemas prisionais, existem certas falhas das empresas que fornecem os sistemas prisionais que poderiam ser colmatadas com a alimentação vinda de casa.

T1: “A alimentação trazida de casa, terá que ser aliviada, na minha opinião, e de algum modo iria preencher as lacunas da alimentação provenientes das empresas.

Já na opinião do Adjunto do Diretor, não há nada a fazer porque o fornecimento das refeições é feito por empresas externas e o sistema prisional nada tem a ver com essa imposição.

T3:“A refeição prisional foi vendida a empresas privadas e portanto são empresas privadas que pelo preço baixo ganham um concurso e depois, às vezes os preços são tão baixos que acabamos por ter problemas com o cumprimento dos contratos ao longo do tempo e não podemos dizer que as refeições prisionais são de elevada qualidade.”

Contrariamente, o Especialista dos Sistemas Prisionais refere que.

T1: “Tem que haver uma pressão por parte dos E.P, junto dos fornecedores de refeições”.

103 No entanto o Adjunto do Diretor profere que, mesmo não sendo as refeições de qualidade.

T3: Podemos dizer que são equilibradas em termos de ingredientes. Têm a presença de cereais, legumes, peixe e de fruta e de carne”.

Baseando-nos nas afirmações dos técnicos, acreditamos que a entrega ao setor privado veio dificultar a questão inerente à alimentação dos reclusos em geral, nomeadamente dos reclusos idosos pelas especificidades de saúde observadas.

T3: “Entrega ao privado que tem que ter lucro com a atividade desta área de serviço e depois a comida na prisão tem um valor que não é mensurável para uma pessoa que está em liberdade. A alimentação tem um valor muito simbólico porque a privação de liberdade deixa o ser humano em privação de tudo. E a alimentação deixa este vazio. Como lá fora acontece, mas aqui acontece de uma forma premente e diária.”

Portanto, colocamos esta mesma questão ao guarda prisional que nos confirmou as respostas dadas pelos reclusos idosos.

T2: “ Desde que entraram há uns anos para cá as empresas e eu falo aqui porque não conheço os outros EP. Várias vezes que a comida foi para trás e eu não acredito que um responsável daqui não, da direção, não acredito que não contatem a ASAE porque isto entre o Estado e a Direção Geral e estas empresas, eu não tenho medo de falar, isto há grandes negócios”.

O guarda sensibiliza para a falta de valores morais das empresas para com os reclusos e menciona que o peixe é mal confecionado, tal como referido anteriormente pelos reclusos.

T2:“Eles esquecem-se que apesar de eles serem delinquentes, de serem criminosos, estão a pagar um crime porque foram condenados, mas são seres humanos. O peixe? Estes jovens zero, quem come o peixe são as pessoas mais idosas, do campo. O peixe, meu Deus às vezes. Eu sei que não é mesma coisa confecionar para meia dúzia de pessoas, mas estas empresas têm que estar

104 preparadas. Houve uma vez que eram 20h da noite e o fecho é as 19h e eles estavam a ir para o refeitório para comer porque o chefe mandou a comida para trás”.

Outra questão é a falta de higiene de alguns reclusos que, segundo a opinião do guarda prisional entrevistado, a parte dos serviços clínicos deveria cobrir certas necessidades do regime comum. Há reclusos com falta de mobilidade, a título de exemplo com canadianas e próteses, dificultando as tarefas diárias de limpeza de cela e íntima.

T2:“ Há um recluso com 91 anos que não toma banho há 7 meses, quem me diz é um idoso que está com ele na cela. Eu não sei como é que vou dizer esta frase mas é falta de alguém daquele lado (clínica) que venha aqui. Tem aqueles incapacitados da clínica que são obrigados a ir tomar banho, deveria ser o mesmo deste lado, deveria haver uma vigilância para os mais idosos daquele lado, a nível de enfermeiros, auxiliares, (da clínica em geral) sobre esta gente idosa”.