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4. Apresentação dos Resultados

4.2 Perspetivas dos Profissionais do Sistema Prisional

4.2.5. Preparação da saída e da vida em liberdadee

Quando os reclusos, em geral, estão longos períodos na prisão no momento de se confrontarem com a sociedade, pode suceder um “desculturamento”, que por consequência deixa o indivíduo inapto para a vida em liberdade (Goffman, 1961/2001; Gonçalves, 2008 e Adams, 1992). Inerente a um programa de reinserção é notório que a maioria dos técnicos anseia por um programa a prisão, por várias razões plausíveis Uma delas é a família. Passamos a explicar. Os reclusos idosos durante o percurso de pena têm visitas assíduas dos familiares, nomeadamente dos mais próximos. Contudo, no momento da sua saída há circunstâncias associadas ao crime, à disposição familiar, confiança, entre outras, que conduzem a um afastamento da família.

T4: “As principais problemáticas são arranjar quem os receba, muitas vezes têm apoio da família durante o período que estão cá dentro mas depois quando saem não, mas compreende-se e.g, eu não posso deixar o meu emprego para ir tomar conta do meu pai e vir para a minha casa porque foi lá que cometeu o crime. É complicado embora a família os queira apoiar, mas não os quer receber em casa”.

Muitos dos reclusos idosos entrevistados têm a família como ponto de referência, mas o grande problema é a disposição familiar para recebê-los depois da pena terminar. Denotámos no confronto de respostas, o sentimento de confiança do recluso na prisão que pode ser enfraquecido na sua saída e acarretar problemas inerentes à sua reintegração e poderem voltar a cometer um crime para regressarem à prisão. Por outro lado, o sistema prisional está encarregue de enviar o processo para a Segurança Social e alertar para as possíveis necessidades. No entanto, existe a impossibilidade de resolver a situação devido aos inúmeros pedidos que a Segurança Social tem. Na perspetiva do Especialista dos Sistemas Prisionais.

T1: “Na minha opinião, não competindo, mas deveria competir à reinserção social. As pessoas saem com risco de voltarem a reincidir. Devem ser contactadas instituições de solidariedade social que têm respostas de apoio a estas situações limite. Devem ser informados os reclusos que podem recorrer a instituições”.

110 Quando a Segurança Social não dá resposta, os técnicos de reeducação tentam arranjar um lar para os reclusos idosos. O técnico entrevistado chega mesmo a afirmar que é uma das coisas que lhe “tira o sono”.

T4 “ A Segurança Social está cheia de pedidos e às vezes estamos na véspera da pessoa ir embora e não sabemos para onde vai e isso às vezes tira-me um bocadinho o sono e os da parte da clínica, dos inimputáveis, além de não terem família são pessoas que precisam de uma instituição especializada no problema deles e é muito complicado, mas, nós, com seis meses de antecedência tentámos alertar a Segurança Social mas é onde houver vagas e depois são encaixados”.

O Técnico de Reeducação defende que deveria haver um programa ou uma casa de transição para os reclusos com vários tipos de problemas e laços familiares cortados, com vista a uma reinserção positiva na sociedade.

T4: “Eu defendo que deveria haver uma casa de saída de reclusos que não têm família, uma casa de transição para quando saíssem não iam diretamente para a rua e durante uns meses, (...) ajudar arranjar casa e as pessoas idosas precisam de muita mais ajuda.

Apesar disso, o Adjunto do Diretor acredita que não podemos manter uma sociedade em plena intervenção, havendo auxílio por parte dos serviços quando estes vão de precária, mas não quando saem definitivamente.

T3:“quando saem lá fora em liberdade condicional, são acompanhados pelas equipas de reinserção social e essa orientação vai existindo. Quando saem em liberdade definitiva, saem sem qualquer tipo de acompanhamento. Mas isto, não se pode titular um ser humano para além da pena. O ser humano pode ser titulado em liberdade condicional, mas para além da pena não pode porque senão criamos uma sociedade de intervenção sobre o cidadão que nunca mais acaba. No fim da pena, são encaminhados para a segurança social que depois poderá fazer este tipo de acompanhamento mais social”.

111 O Especialista dos Serviços Prisionais, também partilha da mesma opinião que o técnico de reeducação e menciona que deveria criar-se uma casa de apoio temporária (casa de saída).

T1: “Deveria criar-se uma casa de apoio temporária que permitisse apoiar e orientar as pessoas que após a saída da prisão, não tenham encontrado um rumo para a sua vida”.

Na mesma opinião, o guarda refere:

T2:“Não há uma ajuda lá fora quando eles saem da cadeia. Há muitos que não têm lar e na saída, os técnicos deveriam antecipar-se a isso e apalpar terreno. Era um programa de reinserção lá fora para os encaminhar, eles chegam lá fora, depois de tantos anos de entra e saí e até que chega a um ponto em que dizem assim: não, estou melhor lá dentro. É por isso que eu não acredito na reinserção social. As técnicas preocupam-se se eles têm condições de ir a primeira vez de precária, mas não se preocupam em precaver a saída deles no final da pena”.

Portanto, verificando as respostas dadas por cada técnico, a maioria concorda que deva existir um espaço de transição. Consoante os crimes praticados, os reclusos idosos estão um grande período desprovidos de liberdade, criando inadaptações. Verifica-se também, que a família em certos casos não é determinante quanto ao acolhimento dos reclusos idosos na sua saída.

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