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CONFIGURAÇÃO HIPERTEXTUAL DO MEIO DIGITAL

Uma característica também peculiar ao meio digital é o seu formato hipertextual. A dinâmica do hipertexto rompe com narrativas cristalizadas e circulares da oralidade e com a seqüencialidade da escrita, apresentando-se como um fenômeno dinâmico, aberto e veloz. Essa possibilidade de interconexão traz – característica fundamental do hipertexto digital – a não linearidade.

Em virtude disso, as informações são organizadas e indexadas através de links. Os links possibilitam a ligação de um nó a outro. De acordo com Correia e Andrade (1998), o link é considerado um dos conceitos mais importantes do hipertexto, pois é através dele que se salta de um ponto a outro no documento. Estas ligações podem ser representadas por palavras, frases, gráficos ou ícones, podendo produzir resultados diferentes, desde a transferência para um novo tópico, até a execução de um programa de computador.

Além do link, a noção de navegação é fundamental para se compreender o aspecto não seqüencial do hipertexto digital. Temos a liberdade de navegar de site em site, de um lugar para o outro, sem precisarmos seguir uma rota direcionada por alguém. Isso possibilita que façamos leituras em sintonia com as nossas necessidades com um simples click no mouse. Daí a grande diferença do hipertexto digital para os textos clássicos disponibilizados nos livros – o seu caráter interativo. Lemos (2002, p.123) afirma que “o ciberespaço é um hipertexto mundial interativo, onde cada um pode adicionar, retirar e modificar partes dessa estrutura telemática, como um organismo auto-organizante, um cybionte em curso de concretização”. Todas estas potencialidades do meio digital dão ao hipertexto um caráter dinâmico e não linear semelhante a um caleidoscópio.

Com um ou dois cliques, obedecendo por assim dizer ao dedo e ao olho, ele mostra ao leitor uma de suas faces, depois outra, um certo detalhe ampliado, uma estrutura complexa, esquematizada. Ele se redobra e desdobra à vontade, muda de forma, se multiplica, se corta e se cola outra vez de outra forma. Não é apenas uma rede de microtextos, mas sim um grande metatexto

de geometria variável, com gavetas, com dobras. Um parágrafo onde pode aparecer ou desaparecer sob uma palavra, três capítulos sob uma palavra desses capítulos, e assim virtualmente sem fim, de fundo falso em fundo falso (LÉVY, 1993, p. 41).

Sob este aspecto, percebe-se que a configuração digital do hipertexto possibilita uma forma diferente de recepção de mensagens, textos, e imagens, e a instauração de condições favoráveis no desenvolvimento de atividades pedagógicas no ciberespaço, por permitir a construção de diversos percursos interativos e não lineares dos sujeitos envolvidos no processo. É nesse sentido que a idéia de navegação é fundamental – por abrir a perspectiva de múltiplas itinerâncias, rompendo assim com as seqüências fixas e estáveis.

O hipertexto, então, retrata associações e inter-relações de informações textuais, on- line (Web) ou off-line (CD-ROM), numa dinâmica complexa proporcionada pelos links. Esse potencial do hipertexto, advindo do meio digital, se diferencia do suporte escrito pela sua velocidade e instantaneidade na passagem de um nó para outro. “Na leitura clássica, por exemplo, (textos impressos), o leitor se engaja em um processo também hipertextual, já que a leitura é feita por interconexões que remetem para fora de uma ‘linearidade do texto” (LEMOS, 2002, p.123). Corroboro com Lemos, pois quando estamos imersos no processo de leitura, fornecemos ao texto informações presentes na nossa memória, buscando uma melhor compreensão, além de recorrermos às referências do texto buscando estabelecer uma maior conexão com outras fontes.

Dessa forma, fica claro que a noção de hipertexto e da leitura não linear não é uma exclusividade do meio digital. A grande diferença está na navegação rápida, na mixagem de diversas linguagens e, sobretudo, na interatividade proporcionada por esta estrutura hipertextual. Esse potencial do hipertexto é possibilitado pela especificidade do meio digital que permite a manipulação e reformulação livre da informação, de forma diversificada, emergente, plural e viva.

É importante destacar que, antes mesmo da revolução digital, já havia hipertextos. Citações, notas de rodapé, verbetes e termos em dicionários são exemplos de ligações contidas em lexias que levam o leitor a outra lexia, permitindo, desta forma, que o leitor crie o seu próprio caminho de leitura. De acordo com Aquino, fundamentada em Primo, Recuero e Araújo (2004)

No entanto, a idéia de hipertexto não é de hoje, nem surgiu com o advento da Internet, ela vem desde os séculos XVI e XVII com as chamadas marginalias. Estas seriam como índices pessoais, citações de textos, remissões a outras partes ou outros textos feitas pelos leitores dos livros da época, anotadas nos cantos das páginas destes e depois transferidas para um caderno de “lugares comuns”, para que posteriormente pudessem ser

consultadas Porém, foi com o advento da revolução digital e com toda a sua bagagem tecnológica que o hipertexto ganhou novas formas de se concretizar, sendo produzido em larga escala. (AQUINO, 2006, s/p)

Figura 5- Nós de rede

Fonte: Doyle Graph (Wolfram Mathworld)

Destarte, o hipertexto poderá contribuir de forma significativa para uma concepção de educação que rompa com um estudo linear, pautando-se agora numa montagem de conexões não seqüenciais. Esse enfoque traz consigo a idéia de que o ciberespaço se constitui de diversos centros móveis, que saltam de um nó a outro, permitindo a construção de diversas autorias, rompendo com a centralidade única na figura do professor. Lévy (1993) assim define o hipertexto:

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens gráficos, ou partes de gráficos, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó, por sua vez, pode conter uma rede inteira (LÉVY, 1993, p. 33).

O hipertexto digital possibilita operar com diversos caminhos e fazer diversas leituras, contrapondo-se a uma proposta de educação hierarquizada e linear. Lévy (1993, p.25- 26) caracteriza-o em seis princípios: (1) Princípio da metamorfose, onde a rede está em constante mudança; esse caráter de abertura proporciona movimento e auto-organização aos sujeitos envolvidos nessa dinâmica; (2) Princípio da heterogeneidade caracterizado pela convergência de diferentes mídias (palavras, sons, textos); (3) Princípio da multiplicidade e de encaixe das escalas de forma semelhante a um fractal, onde qualquer nó ou conexão, quando analisado, pode se revelar como sendo composto por toda uma rede; (4) Princípio da exterioridade caracterizado pela dependência exterior, tanto para seu crescimento e sua diminuição como para sua composição e recomposição; (5) Princípio da topologia, no qual o funcionamento se dá por vizinhança, proximidade, envolvimento; e (6) Princípio da mobilidade dos centros partindo do pressuposto de que não existe um centro único e sim diversos centros móveis. Esses centros se movem de um lugar para outro, através dos nós, já que a leitura é feita por interconexões. Nesse sentido, a prática docente, em particular, precisa

superar a narrativa do falar/ditar e a perspectiva linear da informação, mas interagir com as diferentes vozes e a pluralidade de expressões individuais e coletivas na arquitetura de outro espaço de participação e aprendizagem.

Dessa forma, o hipertexto se caracteriza por seu formato não-linear de apresentar as informações, e pela possibilidade de integração de uma linguagem audiovisual, com sons, textos e imagens, potencializando caminhos originais de navegação hipertextual, onde cada sujeito se torna responsável pela sua itinerância.