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As interfaces digitais fórum e chat – principal lócus da ação docente no AVA

6.2 OS SABERES DOS DOCENTES NOS AVA

6.2.1 As interfaces digitais fórum e chat – principal lócus da ação docente no AVA

As interfaces disponíveis nos ambientes virtuais de aprendizagem, por seu formato digital, estimulam de certa maneira um comportamento hipertextual, interativo e virtualizante, seja por parte dos professores, seja por parte dos alunos. Neste trabalho busco refletir sobre o

potencial de algumas interfaces, pois é através destas que professores e alunos vão tecendo a itinerância educativa no contexto da cibercultura.

A utilização do termo interface representa as diversas funcionalidades oferecidas nos diversos ambientes de aprendizagem da rede como os chats, fóruns, blogs entre outros.Para Johnson (2001), o termo interface está relacionado à informática e à cibercultura, como dispositivo para o encontro de duas ou mais faces em atitude comunicacional, caracterizando- se como um objeto virtual do ciberespaço.

Na perspectiva interativa, percebemos, nas interfaces digitais, presentes no ciberespaço, abordagens síncronas e assíncronas. As abordagens síncronas se caracterizam, principalmente, pelas trocas ocorridas em tempo real, nas quais os sujeitos vivenciam o mesmo instante de conexão; as mensagens são visualizadas e estão disponíveis para a intervenção imediata. Já nas abordagens assíncronas, as mensagens podem ser acessadas em momentos diferentes, independendo da presença dos sujeitos. Conseqüentemente, o acesso às informações disponibilizadas nas mensagens pode ocorrer dias depois da postagem, a depender do interesse e disponibilidade das pessoas envolvidas.

Para Britto (2003), apesar do potencial das abordagens síncronas se centrarem na interação em tempo real, estas apresentam como limitação a compatibilidade de horário, as questões relativas aos empecilhos tecnológicos, além da dificuldade de disponibilização de tempo integral do professor para as interações. Para o autor, as abordagens assíncronas, por não requererem a presença dos sujeitos no mesmo instante, flexibilizam a interação entre os participantes.

Destacamos a opinião de Romani e Rocha (2001, apud BRITTO, 2003), que mencionam alguns pontos que podem interferir na efetividade dos mecanismos baseados nas interfaces assíncronas: tempo de resposta – é necessário que as questões ou colocações pontuadas pelos discentes sejam respondidas logo, evitando-se a desmotivação dos sujeitos; sobrecarga do professor – o docente pode ser bombardeado por uma série de questões, e ser incapaz de responder a todas, causando demora no envio de respostas aos alunos; motivação do aluno – é importante desenvolver estratégias de intervenção que estimulem o aluno a colaborar com os colegas e com o docente; sistematização de questões – deve ser uma pauta constante durante todo o trabalho, para evitar a desmotivação dos alunos; sistematização das respostas – é preciso que o docente responda com clareza às dúvidas levantadas pelo educando, demonstrando apoio em todo o processo de ensino e aprendizagem.

Neste trabalho, ressaltamos duas interfaces utilizadas no meio digital, que foram lócus para o desenvolvimento da mobilização dos saberes docentes no curso de tutores da

UFBA: o fórum e o chat. Nos ambientes virtuais de aprendizagem, os fóruns são as interfaces mais utilizadas para a interação e troca de saberes entre os alunos, podendo ser considerada um espaço fundamental para a “aula online”.

O fórum é uma interface assíncrona realizada por meio de um quadro de mensagens, direcionadas a pessoas que sejam habilitadas ao seu acesso. As mensagens são estruturadas de forma hierárquica, apresentando os assuntos em destaque. Apesar dessa hierarquia, o fórum traz o potencial do meio digital, por permitir dinâmicas hipertextuais e agregação de várias mídias. Além disso, a digitalização permite que as intervenções nas mensagens sejam dadas no mesmo campo textual, dinamizando assim as discussões das temáticas.

As mensagens armazenadas no fórum, diferentemente das listas de discussão, ficam hospedadas em campos específicos, a exemplo dos cursos em AVA. Podemos encontrar nesse espaço um cabeçalho onde ficam registrados os nomes dos autores e a discussão em pauta, facilitando a interação com os demais sujeitos do curso.

A utilização dos fóruns nos AVA tem como objetivo maior a abertura à discussão de determinadas temáticas pertinentes ao curso. Este possibilita uma reflexão mais aprofundada sobre o tema em estudo, haja vista que os questionamentos disponibilizados geram debate entre os participantes, reflexão sobre a temática, leituras mais aprofundadas e contribuição com sínteses mais elaboradas, possibilitando ao estudante um tempo maior para reflexão e posterior postagem. As contribuições disponibilizadas pelos colegas podem ser acessadas a qualquer momento, permitindo o debate plural de idéias e a crítica coletiva do grupo. Os docentes podem acompanhar o desenvolvimento de cada aluno e intervir nas mensagens, dando orientações e propondo novas discussões. Frente ao exposto, cabe observar algumas discussões travadas no “Fórum: O papel da tutoria”:

Questionamento inicial do fórum:

Falamos, neste módulo, sobre a função do tutor e suas várias competências. Ser tutor é muito mais do que acompanhar as atividades dos alunos, não é verdade? Além das competências analisadas, quais outras, você considera importantes para o tutor (professor EAD)? Reflita sobre estas questões e socialize a sua opinião neste fórum. A sua contribuição é muito importante. F1

Contribuição de uma cursista:

Ao refletir sobre a função do tutor em EAD, penso que em primeiro lugar, o domínio do AVA e suas ferramentas, a chamada competência técnica é fundamental.

Entretanto, creio que as competências relacionais são essenciais na tutoria. Perceber e sentir desmotivação, dificuldades, aprendizagem, possibilidades, eis aí um dos maiores desafios de um tutor!

Orientar o grupo de forma democrática, esclarecer, acompanhar sem conduzir e respeitar o ritmo e as diferenças individuais e ainda ser ágil nas reflexões às questões, dúvidas e necessidades de informações que surgem entre o grupo não é uma tarefa tão simples.

A vídeo-aula3 sobre tutoria oportunizou uma reflexão acerca da minha atuação como tutora. Fiquei rindo de como acreditamos mesmo!!! que estamos exercendo um comportamento proativo, mediador, autor, provocador de situações de aprendizagem. Diante da fala de F1 realmente percebemos que o comportamento reativo de tutoria é muito freqüente em cursos EAD, onde se convoca especialistas que não precisam produzir conteúdo, apenas tirar as dúvidas dos cursistas por tel, e-mail e chamar atenção para datas e prazos para postagem de atividades e contribuição no fórum. Nesse contexto, não se pode reconhecer esse tutor como professor com competências para provocar contexto de aprendizagem.

Enfim, o tutor é um professor somente quando atua na condição de mediador de conhecimento, significados, tanto sob o aspecto individual quanto coletivo. PC - 38

PC - 38,

Você tem razão. Se o tutor lida diretamente com a mediação do conhecimento, interfere na Zona de Desenvolvimento Proximal (Vygotsky) dos alunos através de questionamentos, de provocações, que não ocorreriam de forma espontânea, então ele é um PROFESSOR.

Nesse sentido, será que o termo TUTOR é adequado? Será que o conteúdo ideológico que o termo carrega não atrapalha a compreensão da sua função nos cursos a distância? Bjs, F2

Oi, F2

Acredito que não atrapalha, porém não representa a grande responsabilidade desta função. Pesquisando sobre o assunto busquei o significado da palavra tutor, o qual significa protetor do menor é considerar o sujeito da educação um sujeito passivo, dependente do outro que o tutora, protege-o, que decide o que fazer, quando e como. O ideal seria Orientador, que significa que aponta o Oriente, onde surge o Sol, alguém que indica caminhos, rumos, fazendo com que a pessoa se situe, reconheça o lugar em que se encontra para prosseguir a caminhada. Este termo se aplica muito bem neste curso, considerando a nossa interação constante. PC-41

No decorrer dos fóruns, pude constatar através das interações desencadeadas entre docentes e alunos, a busca constante de diálogo sobre as temáticas do curso. Percebemos na fala da aluna PC 38, uma reflexão mais aprofundada sobre a questão da tutoria, demonstrando

consistência teórica sobre a temática, bem como resgatando as discussões disponibilizadas no vídeo-aula sobre o tema. Percebemos também a intervenção consistente do professor formador, buscando estratégias para instigar o debate plural de idéias. Nessa trama dialógica, observamos na participação da cursista PC 41, investindo em pesquisa sobre o tema em discussão e contribuindo com o crescimento do grupo.

Estou convencida de que a utilização dos fóruns em ambientes virtuais de aprendizagem traz a possibilidade de uma reflexão e aprofundamento maior em determinada temática, contribuindo para uma intervenção de melhor qualidade no debate do grupo, ao mesmo tempo em que permite a abertura para a análise dos pares e a criação de vínculos afetivos entre os participantes.

No contexto do curso de tutores, o fórum foi o principal lócus de construção coletiva do conhecimento, possibilitando o encontro entre diferentes sujeitos e abrindo espaço para o debate plural sobre diferentes temáticas emergentes no processo.

Outra interface bastante utilizada na prática pedagógica do curso foram os chats ou sala de bate-papo. Diferentemente do fórum, o chat traz como principal característica a comunicação síncrona, ou seja, a possibilidade de podermos interagir no mesmo momento, enviando mensagens e recebendo comentários de forma imediata. Apesar de o chat apresentar algumas características semelhantes, a exemplo de conversas entre amigos e colegas, é o seu formato digital que vai modificar a dinâmica comunicacional.

Marcuschi (2005, p. 47) ressalta alguns aspectos básicos enfocados nesse gênero, que poderiam ser elencados da seguinte maneira: a) São produções escritas no formato de diálogo caracterizando-se principalmente pela rapidez de envio de contribuições dos sujeitos participantes do processo, podendo ocasionar muita confusão a depender do número de participantes. b) São produções síncronas, porém o autor alerta que a sincronia pode não ocorrer, devido à demora de envio de mensagens dos colegas, ou dos próprios participantes que estão interagindo com muitas pessoas ao mesmo tempo. c) As contribuições são, em geral, curtas, escritas em poucas linhas, podendo chegar a textos maiores; trazem como característica fundamental os turnos quando observamos a comunicação em andamento. O autor, porém, faz um alerta ao afirmar que nem sempre as seqüências dispostas estão ordenadas e pareadas de acordo com o diálogo dos pares. d) A possibilidade de operar comandos e praticar ações que nem sempre são bilaterais, quando, por exemplo, se seleciona alguém para a conversa e esta pessoa interage com outras, sem que possamos controlar. Esse aspecto faz com que o chat se diferencie de uma conversação face a face.

interação nos cursos à distância, por proporcionar o esclarecimento de dúvidas, discussões, criação de vínculos afetivos, entre outros. Diferentemente dos bate-papos abertos, os chats educacionais são realizados com pessoas conhecidas e os tópicos da discussão previamente definidos. Vejamos um exemplo de um dos chats que aconteceu no curso de tutores, relativo ao planejamento do TCC:

F2 21:09:48 Vi que começaram a criar o módulo.

PC 33 21:09:58 Oi PC 39

F2 21:10:47 Quais as dificuldades que vcs estão tendo?

PC 43 21:11:06 Acho q o livro do módulo I, está completo, q ainda n viu, dê uma olhadinha e veja se precisa mais de alguma coisa

PC 43 21:12:13 PC 33 , olhei várias sugestões, mas n estou lembrada qua a sua, foi sobre a estrutura do ambiente?

PC 27 21:13:05 estou tendo problemas, a página só fica querendo abrir e não consigo participar da conversa.

PC 28 21:13:24 Oi, desculpem. Cheguei atrasada, mas cheguei. Onde estamos?

F2 21:13:25 Oi PC 28

PC 33 21:13:28 PC 39 me disse que tb está com problemas pra acessar

F2 21:14:09 PC 28. O ambiente de vcs deu um probleminha. Pedi para abrir outro ambiente igualzinho. Não vão senti a diferença.

PC 39 21:14:16 estou tentando entrar

PC 43 21:14:26 Isso mesmo...rs... tenho aqui todas impressa... só faltava seu nome nesta...rs Gostei sim da sua sugestão e a parte de ambientação foi usada.

PC 39 21:14:29 mas não vejo o que estão dizendo

PC 27 21:15:02 estamos num encontro do curso de formação de tutores da UFBA

F2 21:15:23 Vcs tem material suficiente. Agora é só colocar em prática.

PC 33 21:16:22 Tava esperando o modulo ficar completo pra poder pensar melhor nas provocações dos fóruns e chats...

F2 21:16:48 Vcs farão um tópico de planejamento e outro de avaliação? É isso. Serão dois módulos.

PC 43 21:17:00 Dei uma pequena arrumada, seguindo a proposta do TCC, tudo está em criação... Veja o livro do Módulo I, caso tenha q acrescentar mais alguma coisa.

F2 21:17:22 Depois que o módulo ficar pronto é mais fácil pensar as atividades mesmo PC 33.

PC 43 21:17:44 Poderemos inserir links nos textos, não F2 é ?

F2 21:18:01 Exato PC 43.

Percebemos no desenrolar do chat, uma rede de relações travadas entre os participantes, com o propósito de discutir e tirar dúvidas em relação ao TCC. A comunicação desencadeada retratou interações diversas entre aluno-aluno, alunos-professores, dinamizando vários hipertextos. Assim, os chats, contribuíram para a criação de vínculos afetivos entre os sujeitos envolvidos, bem como para dialogar sobre as temáticas do curso e o esclarecimento de dúvidas.

Para Marcuschi (2005), nos chats com propósitos educacionais, dificilmente acontecem as conversas paralelas ou reservadas, pois os programas disponibilizados não contam com recursos desse tipo. Geralmente o tempo da discussão é delimitado a, no máximo, 90 minutos com um número reduzido de participantes.

Por seu formato digital, o chat permite também o armazenamento das discussões para posterior leitura dos alunos que não participaram da seção ou mesmo uma posterior análise da experiência, destacando os comentários que não foram compreendidos para um futuro debate, ou mesmo o aprofundamento de alguma temática levantada.

O docente na mediação de chats tem um papel fundamental, pois precisa estar atento aos alunos que não estão participando e buscar integrá-los, evitando atitudes coercitivas. Importante também nesse processo é a atenção do professor na dinâmica de discussão do grupo, buscando sempre analisar a qualidade da discussão, retornar ao objetivo pretendido e, assim, traçar novas metodologias de trabalho (BRITTO, 2003).

Apesar de reconhecer a importância da condução dos chats com objetivos temáticos, acreditamos que essa interface pode também assumir uma perspectiva mais flexível pela qual as pessoas possam conversar de forma mais livre e construir laços afetivos, sem ter necessariamente um centro estável. Assim, as diferentes propostas pedagógicas para a utilização do chat na educação, vão depender das escolhas dos sujeitos envolvidos no processo. O importante é que se busque sempre variar as metodologias de trabalho, para que todos tenham a oportunidade de debater idéias e participar plenamente da cultura tecnológica.

Nessa lógica, a docência na cibercultura vivencia o desafio de compreender e experimentar diferentes interfaces, que nascem com o movimento contemporâneo da

tecnologia, aprendendo com a não-linearidade do meio digital e a abertura a múltiplas manipulações proporcionadas pela comunicação interativa.

Em nossa pesquisa, percebemos que o chat contribuiu na construção de vínculos afetivos entre os participantes, troca de saberes, além de possibilitar uma melhor articulação de trabalho entre alunos/alunos, alunos/professores, e professores/professores. Nesse sentido, tivemos três horários disponíveis em cada módulo, para que todos pudessem vivenciar o potencial dessa interface síncrona. Além desses horários específicos, os docentes incentivaram o encontro entre os grupos, principalmente para a construção da proposta de TCC. Assim, o chat também se configurou como um lócus de docência na cibercultura.