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6.2 OS SABERES DOS DOCENTES NOS AVA

6.2.2 Docência online: uma pluralidade de saberes

6.2.2.2 Saberes interativos

As discussões sobre interatividade têm se tornado destaque nas publicações sobre cibercultura, e conseqüentemente na educação online, uma vez que é de fundamental importância no desenvolvimento de práticas docentes que visam potencializar atividades colaborativas na rede, bem como romper com propostas educacionais centradas na figura do professor como narrador de conteúdos, que nega o ato de conhecer como um processo de busca e descoberta. Esses pressupostos vão de encontro à perspectiva interativa aberta pelo meio digital que permite intervenção e manipulação na mensagem.

É nesse sentido que a ação pedagógica que procura refletir sobre a interatividade, como elemento fundamental no contexto online, requer considerações sobre a mudança do modelo clássico de comunicação, em que a emissão, a recepção e a mensagem encontram-se dispostas de forma hierárquica e dicotômica. Sob esse enfoque é que a participação e a intervenção possibilitam ao sujeito a autoria e co-autoria, na medida em que ele pode dispor de conteúdos manipuláveis para criação. Para isso, faz-se necessário vivenciar a reversibilidade entre emissão e recepção, superando a difusão da mensagem em mão única, dissolvendo-se fronteiras e permitindo aos sujeitos autoria nas suas ações. Essa dinâmica é de fundamental importância para que as pessoas possam navegar de forma livre, construindo narrativas em sintonia com a sua itinerância.

Nessa lógica, baseando-se nos princípios da mobilidade dos centros destacada por Lévy (1993), não existe um chefe, professor permanente do saber, mas uma circularidade de informações e trocas visando ao alcance dos objetivos que podem ser de todo o grupo ou apenas de um grupo restrito de pessoas ou até mesmo de uma única pessoa. Assim, as contribuições que vão circulando refletem a expressão das individualidades, percepções e racionalidades e contribuem para a constituição rizomática dos saberes em constante metamorfose.

Colocar em reflexão essas questões, não descarta o reconhecimento de que o papel do professor é fundamental, ao dispor de um maior conhecimento acerca de algumas temáticas de estudo, dominar os conhecimentos curriculares, das ciências da educação e, principalmente, os saberes da ação pedagógica. Contudo, as dinâmicas pedagógicas no contexto digital perdem sua estabilidade, possibilitando aos sujeitos envolvidos diferentes atuações ao longo do processo. Assim, em relação a determinadas temáticas propostas para a discussão, o destaque pode ser de um aluno que conhece mais profundamente aquele conteúdo sem, contudo, descaracterizar os saberes profissionais do docente.

Na visão de Silva (2002), a formulação de problemas, sistematização de experiências, a coordenação de equipes de trabalho e o constante diálogo com os educandos são desafios à docência. O autor também acrescenta:

O professor seria então aquele que oferece possibilidades de aprendizagem disponibilizando conexões para recorrências e experimentações que ele tece com os alunos. Ele mobiliza articulações entre os diversos campos de conhecimento tomados como rede inter/transdisciplinar e, ao mesmo tempo, estimula a participação criativa dos alunos, considerando suas disposições sensoriais, motoras, afetivas, cognitivas, culturais, intuitivas, etc. (SILVA, 2002, p.74).

Do mesmo modo, o professor precisa se posicionar não como um detentor todo poderoso do conhecimento e sim como um aprendiz que oriente o aluno diante das múltiplas possibilidades de acesso ao saber. Muda-se também a dinâmica da sala de aula, presencial ou online, onde o enfoque no trabalho em grupo é fundamental para se buscar e negociar as diversas alternativas sobre os conhecimentos em pauta.

Refletir sobre essa temática requer o alerta para a questão das diferenças desencadeadas na promoção do diálogo e na confrontação coletiva do conhecimento. Dessa forma, o professor não as elimina em favor de uma unidade e também não dilui as diversidades numa única unidade. É nessa trama que as dinâmicas de trabalho desencadeadas precisam estar abertas à pluralidade de vozes que vão construindo a comunidade de aprendizagem na construção da co-autoria. Esse enfoque traz consigo a visão de uma sala de aula democrática, presencial ou à distância, em que se reconhece e valoriza o aluno em sua inteligência e posicionamento sociocultural (SILVA, 2002).

No âmbito dessa discussão, o rompimento com a perspectiva da transmissão é uma pauta emergente, visto que na concepção educacional pautada na centralização da fala do professor, o aluno não participa como co-autor no processo de elaboração da mensagem, resumindo-se apenas a um objeto submisso diante de um conhecimento que lhe é transmitido como absoluto, inquestionável, inatingível. Os professores formadores do curso se preocupam com essa situação, como pode ser constatado nos trechos abaixo de um dos chats do curso:

21:42:18 [F1] Por que vocês decidiram fazer este curso online? Qual o interesse de vocês pela EAD?

21:42:19 [PC8] Será possível???Negroponte disse que espera conseguir colocar seu computador nas mãos de 1 bilhão de crianças com idades entre 6 e 16 anos em países em desenvolvimento, com a produção chegando a 400 mil unidades por mês no final deste ano, para um total de 3 milhões na primeira leva de produção. Li

21:42:39 [PC9] Aí, não nesse momento, discordo. O mesmo vinho compartilhado com amigos tem outro gosto. "Alegria só pode goza o máximo, se um outro também se alegre" (Mark Twain)

21:43:37 [PC8] Li isto num conteúdo da UOL hoje e creio que se for possível encurtaremos a distância entre incluídos e excluídos.

21:44:14 [PC9] Eu simplesmente queria conhecer a EAD. Antes só pensava mal da EAD, sem conhecê-la. Isso uma postura que não aceito em pessoas. Conhecer é o mínimo. Por outro lado, reconheço que esse país, em termos de tamanho, preciso caminhos específicos para superar a distância.

21:44:18 [F1] P8, este tema dos computadores para as crianças será um campo de pesquisa vivo para nós que estamos na docência da Informática na Educação. Seremos sujeitos dessa história. Temos que pensar nas atividades que desenvolveremos com os professores, pensar na formação dos mesmos.

21:45:14 [P9] Acho que as crianças (algumas crianças) não largam mais o computador. Precisamos aceitar isso e trabalhar com isso. O mundo mudou. É um fato. Ele sempre mudará!

21:49:54 [F1] Seu exemplo P8 mostra que as metodologias podem ser compartilhadas sim. A pedagogia da reflexão é fundamental. Você já leu Paulo Freire?

Na dinâmica de interação desencadeada nesse chat, percebemos que a comunicação estabelecida é uma produção conjunta dos alunos e do professor, permeada por discussões de temáticas diversas; ao mesmo tempo fluem laços de afinidade que impulsionam a aprendizagem. Outro aspecto registrado diz respeito à dinâmica não-linear e ligeira das participações, favorecendo uma polifonia de idéias. Essas características evidenciadas no chat ressaltam o potencial do digital que abre a possibilidade de manipulação e adentramento na mensagem, liberando o pólo da emissão e criando espaço para a interatividade.

Nessa lógica, em particular, temos que estar atentos às formas de interação desenvolvidas nos diferentes ambientes de aprendizagem, já que não basta enviar e receber mensagens, dar feedback e observar as dinâmicas individuais. O desafio posto aos sujeitos envolvidos é estarem abertos a processos recursivos aonde as interações se caracterizam, especialmente, por sua construção dinâmica, contínua e contextualizada (PRIMO, 2007).

Os docentes e alunos do curso de tutores estavam alertas para essa perspectiva de interação, como pode ser observado no debate do fórum “Fuxicando sobre a produção de conteúdos para a EAD do Módulo II do curso”.

O trabalho com projetos de aprendizagem é fantástico e corrobora para a aprendizagem significativa. Uma vez que os alunos se constituem como autores participantes em todo o desenvolvimento do projeto, discutem as problemáticas, descrevem, registram investigam e produzem resultados. Através das dúvidas temporárias e certezas provisórias estimula a busca no sentido de encontrar repostas para as indagações. Infelizmente essa

metodologia ainda é bastante tímida nas instituições de ensino. abraç@o PC 3.

Oi, PC 3, Por que você acha que nas escolas a perspectiva de planejamento por projetos é tão tímida? PP

Oi PP, acho que não fui clara o suficiente. Me refiro a metodologia de projetos de aprendizagem, e não ao planejamento por projetos, uma vez que no projeto de aprendizagem há diferenças quanto ao papel do aluno e do professor. Nessa concepção a construção da aprendizagem é algo que só acontece quando o aluno é ativo, quando está interessado no que está fazendo, ou seja a aprendizagem, para ser bem sucedida, decorre daquilo que o aluno faz, não de algo que o professor faz nele, para ele ou por ele, sendo assim a aprendizagem acontece quando os alunos se envolvem em "projetos de aprendizagem", de sua própria escolha.

A pedagogia de projetos de aprendizagem está atrelada o uso da tecnologia digital (computador conectado) por constituir um espaço efetivo para: interação, aprendizagem colaborativa, disseminação e divulgação dos resultados.

Por isso que nessa perspectiva essa metodologia ainda está engatinhando.Na na nossa realidade já tem-se algumas experiências através das capacitações em informática educativa desenvolvidas pelos Núcleos de Tecnologia. abraços.

Oi PC 3,

Entendi sua colocação, porém acredito que é preciso articular a proposta do aluno com a proposta da escola. Afinal, temos conteúdos importantíssimos que são necessários ao repertório sócio cultural dos nossos alunos. Se a gente consegue, com você colocou atrelar isso a dinâmica da rede, com certeza a interação, aprendizagem colaborativa e autonomia do estudante vai ser potencializada. PP

PC3 e PP a interação de vocês ta muito boa! Concordo com PP quando toca na questão da convergência de interesses. Os projetos de aprendizagem não podem ficar desconectados dos demais projetos da escola. O projeto político pedagógico é a estratégia global da escola\comunidade, que para alcançar seus objetivos mais amplos (aprendizagem dos alunos), não existirá sem projetos de aprendizagem que ponham na prática sua filosofia, política e metas. É importante fazer ai convergência! Vamos intensificar mais este debate. Vamos lá grupo laranja? Beijos F1.

Na dinâmica de interação desencadeada na discussão do fórum, ressalta-se que, tanto os alunos quanto os formadores têm como pressuposto a interação dialógica. As questões são levantadas e percebe-se sua evolução contextualizada através do relato de experiências e saberes. É essa abertura ao contestar, ao discordar que difere uma interação mútua de uma interação reativa, onde o debate não tem lugar. Concordamos então com Primo (2007, p.116), que a “interação mútua é ação conjunta, muito mais que mero movimento ou reação determinada”.

Por conseguinte, o grande desafio do trabalho docente nos ambiente online é oportunizar processos de aprendizagem, colaboração, cidadania e, notadamente, de participação. Participar nesse cenário é muito mais do que escolher entre duas opções, mas adentrar e modificar a mensagem tornando-se co-autor da proposta. Portanto, outra questão que devemos ficar atentos é sobre a colaboração nos ambientes de aprendizagem que nos permitirá a vivência de uma inteligência coletiva. O professor passa a estimular os alunos, facilitando a troca de informações e a construção do conhecimento, a partir do debate e da crítica, ao virtualizar e atualizar simultaneamente problemáticas emergentes do contexto educativo e social.