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A CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DAS ÁREAS ESTUDADAS NA CIDADE DO

2. A PRODUÇÃO DOS ESPAÇOS DE POBREZA EM NATAL/RN

1.5 A CONFIGURAÇÃO SOCIOESPACIAL DAS ÁREAS ESTUDADAS NA CIDADE DO

Na escala intraurbana, o fenômeno da “dispersão urbana” está alterando a morfologia da cidade, gerando novos centros20 e novas periferias. Segundo Villaça (2007), o espaço urbano só interessa enquanto meio de acesso a todo o sistema urbano, a toda a cidade, assim a mobilidade das pessoas até os bens e serviços é o valor de uso mais importante para a terra urbana, embora toda e qualquer terra o tenha em maior ou menor grau. Então, à medida que a cidade cresce a mobilidade das populações até o centro principal de consumo/produção varia de acordo com as localizações intraurbanas.

Conforme Villaça (2001), o mais conhecido padrão de segregação da metrópole brasileira é o do centro x periferia; sendo o centro dotado da maioria dos serviços urbanos, públicos e privados, e ocupado pelas classes de mais alta renda; e a periferia subequipada e longínqua, ocupada predominantemente pelos excluídos. Segundo o autor, “o espaço atua como um mecanismo de exclusão”. Ele ainda afirma que a estruturação espacial básica das metrópoles brasileiras demonstra o papel decisivo que a mobilidade do ser humano dentro da cidade desempenha na sua estruturação intraurbana.

Dessa forma, tem-se que a constituição dos espaços urbanos é o resultado das relações de locais onde os produtos são produzidos e consumidos, o qual envolve o deslocamento dos produtos e dos consumidores entre os locais de moradia e dos de produção e consumo. Como também, pela

20 Para Villaça (2007), a origem da nova centralidade urbana não está ligada aos palácios, catedrais ou bancos, mas está

associada à locomoção dos seres humanos que buscam controlar o tempo de deslocamento. Assim, nessa ótica, um novo centro surge a partir da necessidade de disputa dos indivíduos pelo controle do tempo e da energia gastos nos deslocamentos humanos.

54 localização urbana da rede de infraestrutura, composta pelo sistema viário, rede de água, esgotos, pavimentação, energia, dentre outros (PLANMOB, 2008c).

Historicamente, no caso do Natal, a política habitacional reforçou a exclusão social e a estratificação espacial dos mais pobres, ao destinar-lhes moradias precárias em periferias distantes desprovidas de serviços e equipamentos urbanos essenciais. Tal política teve como efeito o aumento das distâncias a serem percorridas até os locais de emprego, escola, compras, saúde e lazer. SILVA (2003) esclarece que:

Em Natal (...) a determinação de construir uma área residencial para a classe “burguesa”, como diz Villaça, no início do século partiu de um líder político que com ele levou a sociedade para os atuais bairros de Petrópolis e Tirol; ao construir o acesso centro-sul, os esforços de guerra permitiram apenas uma continuidade desta tendência, apreendida pelos primeiros loteadores de terras; com o fortalecimento do mercado imobiliário, foi possível estender a linha de valorização fundiária (lembrando que a terra em si não tem valor, mas adquire um preço, ou localização) até Ponta Negra. Mas tal valorização não seria possível sem o Estado: ao estabelecer um padrão diferenciado de implantação dos conjuntos habitacionais, a promoção estatal da moradia vaticinou a tendência de elitização espacial em Natal, agravando e consolidando a segregação socioespacial (SILVA, 2003, p. 94-95).

Para o presente estudo serão definidas algumas áreas com essas características, isto é, que se configuram como espaços de pobreza, escolhidos de acordo com os critérios já citados no capítulo introdutório e que serão detalhados a seguir. Essas áreas correspondem, por sua vez, a algumas AEDs – Áreas de Expansão Demográficas – definidas pelo IBGE.

O primeiro critério utilizado como parâmetro para a análise foi localizar áreas com predominância de renda familiar de até três salários mínimos. Essa escolha deveu-se à necessidade de saber onde as pessoas com baixa renda estão inseridas na malha urbana do Natal. Para isso, utilizou-se o mapa da renda do PHIS - Política Habitacional de Interesse Social para o município de Natal (TINOCO, 2004) com os dados obtidos a partir de dados do Censo 2000/IBGE (Figura 11).

O mapa a seguir ilustra manchas referentes aos percentuais dos responsáveis das famílias de baixa renda que recebem de 0 a 3 salários mínimos. Assim, na AED de nº 2, que engloba os bairros de Igapó e Salinas cerca de 80 a 100% do total dos responsáveis das famílias de baixa renda recebem entre 0 a 3 salários mínimos. A AED de nº 18 correspondente ao bairro de Felipe Camarão, cerca de 80 a 89% dos responsáveis das famílias de baixa renda recebem até 3 salários mínimos. A outra parte da amostra, referente à AED 13 (bairros de Santos Reis, Praia do Meio, Areia Preta e Mãe Luíza),

apresentou nas famílias de baixa renda uma predominância 70 a 89% de seus responsáveis recebendo até três salários mínimos. Enquanto que na AED 08 (bairro de Ponta Negra), a mancha com relação às famílias de baixa renda é relativamente menor que nas demais AEDs e nela cerca de 70 a 79% de seus responsáveis recebem até 3 salários mínimos. Atribui-se esse fato ao alto rendimento mensal das famílias inseridas nesse bairro, como será visto posteriormente.

Figura 11: Mapa das famílias de baixa renda do Natal/RN ilustrando a predominância de seus responsáveis que recebem até 3 salários mínimos, com destaque para as AEDs estudadas. Fonte: PHIS, 2004.

Nota: Elaboração própria.

Uma vez delimitada a representatividade da população estratificada pela renda familiar, procedeu-se sua espacialização na cidade, ou seja, a partir do critério de escolha da representatividade de cada zona administrativa do Natal, que foi o 2º critério adotado. Em outras palavras, cada uma das AEDs escolhida deveria se localizar em uma das quatro zonas administrativas do Natal, segundo as figuras

56 12 e 13, com a finalidade de obter uma visão macro da distribuição espacial dessas famílias na cidade do Natal e, principalmente, de verificar como ocorre a mobilidade urbana para as famílias de baixa renda na cidade como um todo. Assim as AEDs selecionadas correspondem aos bairros de Igapó e Salinas (AED 2), Ponta Negra (AED 8), Santos Reis, Praia do Meio, Areia Preta e Mãe Luíza (AED 13) e Felipe Camarão (AED 18).

Figura 12: Mapa das zonas administrativas do Natal com a localização das AEDs escolhidas para análise. Fonte: CAERN, 2006. Nota: Elaboração própria.

A Figura 13 mostra a localização das AEDs distribuídas nos bairros da cidade conforme o CENSO (2000), com destaque para as AEDs aqui analisadas, que são as de nº 02, 08, 13 e 18.

Figura 13: Mapa de localização das AEDs de acordo com os bairros do Natal/RN. Fonte: CAERN, 2006. Nota: Elaboração própria.

Portanto, com base nos critérios analisados acima definiram-se as seguintes áreas de estudo: na Zona Norte, analisou-se a AED 02 composta pelos bairros Igapó e Salinas (setores censitários 42 e 43); na Zona Sul, analisou a AED 08 correspondente ao bairro de Ponta Negra (setores censitários 39 e 40); na Zona Leste, analisou a AED 13 constituída pelos bairros de Santos Reis (setores censitários 4 e 5), Praia do Meio, Areia Preta e Mãe Luíza (setores censitários 6, 7 e 9, respectivamente); e na Zona Oeste analisou a AED 18, formada pelo bairro de Felipe Camarão (setores censitários 30 e 31).

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