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3.2. O contrato do discurso político no corpus: restrições situacionais e discursivas

3.2.2. Configuração dos textos de Aécio Neves

No que diz respeito à organização formal dos textos, diante do exposto, as colunas de Aécio Neves podem ser configuradas a partir da complexidade dos gêneros como instância enunciativa de origem externa, como explica Charaudeau (2012b). Os discursos mostram análises de acontecimentos e opinião emitida como político engajado não em uma análise objetiva dos fatos, mas na expressão de seu ponto de vista partidário. Assim, seus textos se apresentam com a estrutura do gênero jornalístico, reconhecidamente pelas relações sociais como artigos de opinião, por buscarem o convencimento do outro de seus ideais políticos a partir da argumentação ou do modo de organização argumentativo, conforme expõe Charaudeau (2012a).

Enfatizamos que na definição situacional a que nos propomos, os gêneros precisam ser considerados a partir de suas visadas que dão pistas da intencionalidade. Nesse sentido, as colunas de Aécio Neves por demonstrarem a visada de “incitação” no sentido de “fazer acreditar” pela persuasão e a visada de “informação” expressando legitimação para sua tomada de posição (“deve saber”), corroboram para a definição do gênero argumentativo de opinião. Segundo Charaudeau (2012a, p. 205), “[...] o sujeito que argumenta passa pela expressão de uma convicção e de uma explicação que tenta transmitir ao interlocutor para persuadi-lo a modificar seu comportamento”, estabelecendo uma relação triangular entre o sujeito que argumenta, a proposta sobre o mundo e o sujeito que é alvo dessa argumentação, percebidos no gênero discursivo analisado.

Charaudeau (2012a), como já expomos, defende que nesse modo de organização existe como procedimento uma perspectiva de razão demonstrativa de sustentação das afirmações realizadas e de razão persuasiva por meio da apresentação de provas e argumentos consistentes que justifiquem as proposições sobre o mundo. Sendo um

gênero discursivo que busca convencer o outro sobre uma determinada ideia, é perceptível a recorrência de uma questão a ser debatida – asserção de partida que conta com a aceitação de uma outra asserção, que a justifica; uma asserção de chegada que representa a conclusão orientada pela asserção de partida e uma asserção de passagem, também chamada de prova, inferência ou argumento que justifica a relação de causalidade entre a primeira e a segunda (CHARAUDEAU, 2012a, p. 209).

Podemos caracterizar, dessa maneira, em linhas gerais, o gênero artigo de opinião adotado por Aécio Neves pela relação dialógica e de alteridade; pela presença de uma situação polêmica de debate social; pelos modos de encadeamento; pelas modalidades ou condições de realização e pelo escopo do valor de verdade, conforme a definição de Charaudeau (2012a). Além disso, os artigos evidenciam os procedimentos da lógica argumentativa ou modos de raciocínio de dedução; explicação; associação; escolha alternativa; e escolha restritiva, como podemos constatar nas análises feitas.

O gênero artigo de opinião nos discursos de Aécio Neves tem características do acontecimento comentado, de acordo com o seu propósito de construir a opinião pública. É preciso considerar que a opinião, nesse caso, aparenta pertencer ao domínio do crer, do imaginário do saber sobre o qual o sujeito pode efetuar um julgamento, conforme as definições de Charaudeau (2012b). Charaudeau (2012b, p. 121) explica que a opinião é o resultado da reunião de elementos heterogêneos a na associação deles, a partir de um “cálculo de probabilidade”, capaz de levar a uma atitude de aceitação ou rejeição. Ao trazerem debates sobre questões em discussão na sociedade, os artigos de Aécio Neves trazem comentários ligados aos assuntos e, por isso, podem se constituírem como o comentário, numa atividade discursiva que consiste, para Charaudeau (2012b, p. 175), “em exercer suas faculdades de raciocínio para analisar o porquê e o como dos seres que se acham no mundo e dos fatos que aí se produzem”.

Como gênero discursivo, os artigos de opinião analisados estão inseridos numa atividade comunicacional com alguns critérios bem definidos, os quais foram expostos por Charaudeau (2004), dentre os quais destacamos, a partir das análises feitas:

i. A finalidade: os artigos apresentam como visadas predominantes, a visada de “incitação” na busca de fazer crer que o sujeito comunicante age para o bem do destinatário e a visada de “informação” na intenção de “fazer saber” por meio do reconhecimento dos fatos e a capacidade de julgamento. Tem como objetivo promover a adesão do sujeito interpretante a partir da argumentação. Nesse sentido, a informação está a serviço da incitação de maneira inter-relacionada.

ii. A identidade dos sujeitos: nos artigos, estão bem definidos os papéis do sujeito comunicante Aécio Neves, vinculado à instância política, por intermédio da instância midiática, interessado em investir no cargo de presidente da república. O sujeito interpretante, como instância cidadã, são os leitores do jornal ou internautas interessados em conhecer a opinião do político, também intermediados pela instância midiática.

iii. O propósito e sua estruturação temática: os temas dos artigos estão relacionados a acontecimentos do espaço público com o propósito de argumentar em favor do bem- estar dos brasileiros e da nação. A temática gira em torno da responsabilidade na gestão, ética e economia.

iv. As circunstâncias: a condição material dos textos é constitutiva do discurso e das colunas publicadas semanalmente no portal da Folha de S. Paulo representam a localização e o tempo do discurso.

Assim, percebemos no corpus uma argumentação voltada para a problematização dos propósitos, na tentativa de elucidar e avaliar os aspectos do tema em questão, com uma avaliação voltada para os problemas enfrentados pelo país e para a responsabilização do governo no poder. Não há, desse modo, uma avaliação sob diferentes aspectos, o que seria mais apropriado para o gênero artigo de opinião. As restrições de espaço do portal Folha on-line podem ser identificadas pela característica da cultura digital31 moderna em que a leitura é feita, na maioria das vezes, com pouca concentração e disciplina por um “navegador errante”. Embora, ao mesmo tempo, essa característica permita também ao destinatário uma possibilidade maior de interação, podendo comentar, curtir, compartilhar, e, até mesmo, ouvir o texto, o que pode diminuir as fronteiras entre a leitura e a autoria.

Nesse sentido, do mesmo modo que os recursos tecnológicos modernos facilitam a interação entre os participantes do ato de comunicação, também dão origem a restrições na medida em que os textos devem chamar a atenção do leitor para gerar o interesse pela leitura. Nesse contexto, não há como a instância enunciadora controlar a circulação e o alcance das publicações, não sendo possível, por isso, precisar quantos serão os leitores e qual o seu perfil. Apesar disso, a mídia digital representa um ganho inestimável para a divulgação e compartilhamento do discurso político, como podemos ver.