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2.1 CONSIDERAÇÕES ACERCA DO CONFLITO

2.1.1 Conflitos individuais e coletivos do trabalho

Como já se teve a ocasião de sublinhar, o conflito entre

empregadores e empregados é motivado por uma infinidade de fatores, sendo a

própria relação de subordinação, que é um requisito à configuração da relação de

emprego, um foco irradiador de divergências, seja pelo uso abusivo por parte do

empregador ou pela resistência do empregado em cumprir as ordens patronais.

Tais conflitos são classificados levando-se em conta o número de

pessoas envolvidas, determinando se se trata de conflito individual ou coletivo de

trabalho.

Quanto ao conflito individual do trabalho SILVA explica:

“(...) o conflito individual, também chamado jurídico ou de direito, se verifica nos moldes clássicos do conflito de interesses do processo comum: o empregado, julgando-se titular de um direito subjetivo baseado em norma legal ou norma pactuada (proveniente de acordo, convenção ou

141 A própria Constituição Federal, em seu art. 114, ao referir-se à competência da Justiça do Trabalho, diz que a esta competirá a conciliação e julgamento dos dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores. Nota-se que a Constituição utilizou a palavra dissídio na concepção de conflito.

contrato coletivo), requer do Estado a sua realização, já que a obrigação a ele correspondente não foi espontaneamente cumprida.”143

A partir do conceito citado é possível concluir-se que o conflito

individual ocorre entre um trabalhador ou diversos trabalhadores considerados

individualmente e o empregador, baseado seja numa norma legal ou contratual.

Há alguma confusão na doutrina em tomo do conceito de conflito

individual plúrimo. Para esclarecer tal dúvida, utilizamo-nos da explicação de

MORGADO:

“Quando envolver apenas um trabalhador e um empregador o conflito será considerado singular. Abrangendo mais de um trabalhador e/ou empregador será um conflito plúrimo, que não se configura como coletivo porque embora vários os sujeitos, estes são perfeitamente identificados, e seus interesses encontram-se individualizados.”144

Nos conflitos individuais, segundo ensinamento de MALTA:

“O conflito de interesses a ser dirimido pelo judiciário é entre pessoas determinadas e as reivindicações debatidas têm base em normas de comportamento já existentes no momento em que a lide se inicia. O empregado Pedro, por exemplo, reclama do empregador João o pagamento do aviso prévio a que se refere o art. 487 da CLT.”145

O autor acima aponta o poder judiciário como sendo o órgão que irá

resolver o conflito individual trabalhista, no entanto, como se verá em tópico

subseqüente, a via judicial é um dos meios colocados à disposição dos

interessados para a composição das desavenças, mas não o único.

Ao lado dos conflitos individuais trabalhistas há os conflitos

coletivos que têm um sentido muito mais amplo e alcança um grupo de

trabalhadores abstratamente considerados e um ou vários empregadores. E

complementa NASCIMENTO;

“O grupo não é uma simples soma ou reunião de pessoas. Esse é o seu aspecto objetivo. Mas há um vínculo intersubjetivo entre essas pessoas

143 SILVA. Antônio Álvares da. Questões Polêmicas de D ireito do T rabalho, v. V. São Paulo: LTr, 1994, p. 12.

144 MORGADO, I. J. ob. cit. p. 15.

145 MALTA, Christovão Piragibe Tostes. P rática do Processo T rabalhista. 29. ed. São Paulo: LTr. 1999. p. 30.

que, segundo a doutrina, é a uniformidade de sentimentos, a autoridade que os ordena, a comunidade de entendimentos, fatores que a simplificação prefere designar por interesse coletivo,”146

Diferentemente do conflito individual, o coletivo diz respeito a

interesses de um grupo inteiro ou de uma categoria. Dessa forma, para que um

conflito seja considerado coletivo, é preciso a cumulação de dois requisitos: que

haja interesse de um grupo de trabalhadores e que haja um interesse coletivo a ser

defendido. Como exemplo de interesse coletivo têm-se as hipóteses de

necessidade de interpretação de cláusulas numa convenção coletiva.

LEITE expõe:

“Conflito coletivo de trabalho seria, então, o que se dá entre grupo de trabalhadores e empregadores ou grupo de empregadores, coletivamente considerados, cujo objeto tendo à satisfação dos interesses dos referidos grupos. Para a caracterização do conflito coletivo é necessária a existência de uma pretensão coletiva resistida, bem como a presença, em princípio, de pelo menos uma entidade sindical representativa do grupo de trabalhadores (CF, art. 8o, VI).”147

Os conflitos coletivos nascem a partir de dois motivos básicos, quais

sejam, a divergência em tomo de um interesse coletivo ou porque houve uma

lesão a esses interesses. Diante disso, poderão ser classificados como conflitos

coletivos econômicos ou conflitos coletivos jurídicos.

MORGADO traça a linha diferenciadora de tais conflitos:

“Conflitos econômicos ou de interesse constituem a regra geral e surgem com o fracasso de uma negociação direta. São aqueles em que os trabalhadores reivindicam a substituição ou revisão das normas então existentes, para que sejam criadas novas, que lhes propiciem melhores condições de trabalho.”148

Quanto aos conflitos jurídicos acrescenta MORGADO: “Surgem

quando as partes discordam sobre o emprego de uma determinada cláusula já

instituída anteriormente, sendo necessário se recorrer à Justiça do Trabalho para

140 NASCIMENTO, A. M. T eoria G eral do Direito do T rabalho, p. 316-317.

147 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho, v. II. Curitiba: Juruá, 2000. p. 88. 148 MORGADO, I. J. ob. cit. p. 15.

que esta possa executar a norma adequadamente, dando a ela interpretação

imparcial”.149

E de notar-se que os conflitos jurídicos poderão ocorrer tanto em

nível individual como coletivo, mas os de natureza econômica são discutidos

apenas coletivamente.150

Com o intuito de encerrar a diferenciação entre conflitos individuais

e coletivos de trabalho, é salutar a opinião de SUSSEKIND, ao afirmar que não é

o número de indivíduos que distingue tais conflitos mas sim a natureza dos

interesses por eles reivindicados. Isso porque, poderá ocorrer um dissídio plúrimo,

onde há uma simples soma de interesses individuais, e confundir-se com o

coletivo. Para que o conflito seja considerado coletivo, é preciso que haja uma

indeterminação dos sujeitos onde a decisão diga respeito a todos os indivíduos que

pertençam ou venham a pertencer àquela categoria.151

A Lei 9.958/00 aplica-se somente aos conflitos individuais

trabalhistas, sendo assim, passar-se-á à análise das formas de composição de

conflitos trabalhistas, com ênfase naqueles de cunho individual. A incidência da

referida lei sobre os conflitos individuais, justifica, pois, a restrição da análise que

estará sendo desenvolvida no tópico subseqüente.

A eliminação dos conflitos individuais que ocorrem na relação de

emprego poderá ser verificada por meio de ambos os sujeitos envolvidos ou por

ato de terceiro.

A doutrina elenca várias formas para a solução dos conflitos e estão

divididas em dois grandes grupos: as formas heterocompositivas e

autocompositivas.

149 MORGADO, I. J. Idem, p. 15-16.

150 MARTINS, sintetiza os tipos de conflitos coletivos: “Os conflitos econômicos são aqueles nos quais os trabalhadores reivindicam novas condições de trabalho ou melhores salários. Já nos conflitos jurídicos tem- se por objeto apenas a declaração da existência ou inexistência de relação jurídica controvertida, como ocorre na decisão em dissídio coletivo em que se declara a legalidade ou ilegalidade da greve” : In: MARTINS, S. P. D ireito do Trabalho, p. 687.

2.2 FORMAS DE COMPOSIÇÃO DOS CONFLITOS INDIVIDUAIS