CONFLITOS INDIVIDUAIS TRABALHISTAS.
4.1 EXPERIÊNCIA VIVENCIADA NO NÚCLEO INTERSINDICAL DE CONCILIAÇÃO TRABALHISTA DE PATROCÍNIO MG
4.1.2 Princípios Norteadores
A atuação do Núcleo Intersindical de Conciliação Trabalhista de
Patrocínio - MG é norteada por alguns princípios básicos, os quais serão
sucintamente analisados.
Um primeiro princípio a ser observado é o da livre associação. É de
conhecimento corrente que a Constituição Federal de 1988 em seu art. 5o, inciso
XVII, autoriza a associação que vise a fins lícitos. Também o Núcleo Intersindical
optou pela liberdade de associação entre os vários sindicatos que o compõe.
Acerca desse princípio manifesta-se VASCONCELOS:
“O modelo proposto encerra tais fins, eis que propugna pela associação dos sindicatos de classe (no exercício de suas prerrogativas constitucionais) para a discussão, normatização das relações de trabalho travadas no âmbito das respectivas categorias e criação de formas alternativas para a solução de conflitos delas emergentes, a fim de viabilizar um modelo trabalhista racional, estimulante do investimento e da oferta de emprego ao lado da garantia da dignidade do trabalhador e paulatina melhoria das condições de trabalho.”316
Ao lado do princípio da livre associação encontra-se o da legalidade.
Poderia parecer redundante fazer menção a tal princípio, mas todo o
funcionamento, bem como as deliberações tomadas pelo Núcleo estão pautadas na
315 VASCONCELOS, A. G. de; GALDINO, D. Núcleos Intersindicais de Conciliação T rabalhista, p.
lei. Nesse sentido adverte VASCONCELOS: “Caminho diverso toma-lo-á
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vulnerável ao descrédito de seus usuários e alvo fácil de interesses escusos”.
Outro princípio importante é o da paridade. Segundo ele, o Núcleo
deve sempre resultar dos interesses comuns que cercam os empregadores e os
empregados. Sem dúvida, estando esses sujeitos no centro das preocupações do
Núcleo, eles terão que ter participação equânime. Mais uma vez, valemo-nos dos
ensinamentos de VASCONCELOS: “Tanto os órgãos administrastivo-gerenciais
quanto aqueles encarregados da jurisdição sindical são sempre integrados por
representantes dos trabalhadores e empregadores ou outros por eles indicados pelo
318
critério de confiança”
Aliás, a própria Lei 9.958/00 determinou que os Núcleos que já
existem ou que vierem a existir pautem-se pelo princípio da paridade.
O princípio do tripartismo, sem dúvida, foi uma grande inovação
trazida pelos Núcleos e consiste na interação entre os sindicatos dos empregados e
dos empregadores e os entes públicos direta ou indiretamente envolvidos com a
relação de emprego.
VASCONCELOS complementa:
“O encontro das visões, do diagnóstico, de cada um destes segmentos acerca de uma situação - problema qualquer, à luz de suas experiências e interesses próprios, levará as lideranças obreiras e patronais a uma compreensão mais abrangente da atuação do poder público (Justiça do Trabalho, Ministério do Trabalho, Ministério Público do Trabalho, INSS, etc.)”319
O princípio do tripartismo constitui um meio extremamente
interessante de aproximação e oportunidade de diálogo entre todos os segmentos
envolvidos na relação empregador X empregado e seus desdobramentos. A quebra
do “compartimentalismo” existente entre esses órgãos é imperiosa, pois é
necessário que as aspirações dos empregadores e dos empregados sejam discutidas
e sirvam de orientação aos entes envolvidos. O fato de cada segmento ficar
317 VASCONCELOS, A. G. de: GALDINO. D. Idem. p. 126. 318 VASCONCELOS, A. G. de; GALDINO, D. Idem, p. 126 319 VASCONCELOS, A. G. de; GALDINO, D. Idem, p. 127.
fechado em suas atribuições acabou ocasionando o quadro de insatisfações que
hoje se verifica em grande parte do país.
VASCONCELOS faz um alerta;
“Esse estreito contato com a sociedade (destinatária dos serviços públicos) permitirá aos agentes públicos discernir o princípio da proteção ao trabalhador (sempre atual) de um “protecionismo” inconseqüente e acrítico, decorrente de vícios puramente ideológicos sem compromisso com os seus reflexos sociais, fazendo desproteger-se a quem tanto se quer proteger. O princípio da proteção passará a ser visto de forma abrangente e criteriosa; em nome da proteção não se dizimará o empregador exausto e claudicante. Senão, mata-se a fonte do emprego e não haverá mais empregado a ser protegido.”320 (grifo nosso).
Cabe salientar que ao lado do princípio do tripartismo e como
conseqüência deste, encontra-se o princípio da interação e integração dos agentes
influentes nas relações de trabalho. Assim, os sujeitos já mencionados (sindicatos
e poder público) estarão sempre dispostos a traçar um diagnóstico das situações
que demandem uma solução. Sendo assim, afasta-se a idéia da negociação apenas
na data-base e “(...) as partes (sindicatos de trabalhadores e empregadores)
comprometem-se a negociar sempre que for necessário, muitas vezes durante o
ano. Isto para acompanhar com a agilidade necessária as rápidas e permanentes
mudanças que afetam as relações de trabalho e que muitas vezes não podem 1 esperar a lei, nem as negociações coletivas restritas às datas-base anuais.”
Outro princípio que não poderia deixar de estar no rol daqueles que
constituem o “pilar central” do Núcleo é o do informalismo. VASCONCELOS
observa: “O modelo proposto caracteriza-se pela informalidade do tratamento
dada às partes usuárias dos serviços do Núcleo ou pela redução das formas ao
mínimo necessário para proporcionar-lhes a indispensável segurança jurídica
320 VASCONCELOS, A. G. de. Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista como espaço de transição de um modelo preponderantemente intervencionista para um modelo preponderantemente negociai, p. 174.
quanto aos atos praticados, em grau maior (arbitragem) ou menor (mediação)
conforme seja o expediente exercitado”322.
A informalidade presente no Núcleo só vem ao encontro da proposta
/
do mesmo, qual seja, criar um clima propício à conciliação. E certo que alguns
procedimentos obedecerão a uma burocracia interna, mas, conforme bem nota o
autor acima, será apenas na dose necessária à manutenção da segurança jurídica.
Além do princípio da livre associação entre os sindicatos, já
mencionado, o Núcleo Intersindical de Patrocínio orienta-se pela autonomia
coletiva. Com base no art. 8o, III da Constituição Federal de 1988 os sindicatos
têm o poder de agir em defesa dos interesses das categorias que representa. Diante
de tal autorização constitucional os sindicatos poderão elaborar normas coletivas a
serem observadas pelos integrantes das categorias.
A partir do princípio da autonomia coletiva, chega-se ao princípio da
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equivalência jurisdicional ou jurisdição privada . Aqui, os próprios sindicatos
associados na forma do Núcleo Intersindical poderão estabelecer formas de
composição extrajudicial dos conflitos a serem utilizados pelas categorias
envolvidas. Mais uma vez acrescenta VASCONCELOS:
“Em contrapasso à morosidade da Justiça, a evolução social está a exigir cada vez mais rapidez e agilidade na solução dos conflitos sociais. Cresce, mais e mais, no mundo atual a percepção de que o que importa é a pacificação social. Toma-se irrelevante se é alcançada por meio da ação do poder público ou por outros meios.”325
Acrescenta-se à opinião do autor o fato de que se a solução para o
conflito nasce da vontade convergente das partes, a pacificação terá alcançado o
seu modo mais eficaz.
322 VASCONCELOS, A. G. de; GALDINO, D. Núcleos Intersindicais de Conciliação Trabalhista, p.
127
323 VASCONCELOS, A. G. de; GALDINO, D. Idem, p. 128.
324 VASCONCELOS salienta que a expressão “jurisdição privada” está associada à idéia de que qualquer forma de dirim ir um conflito e “dizer o direito” é considerada jurisdição, mesmo que essa não seja procedida pelo Estado. Por outro lado, alguns autores utilizam a expressão “equivalentes jurisdicionais” que quer dizer que não há, por parte do Núcleo, jurisdição privada, mas a utilização de expediente extrajudicial de efeito equivalente à jurisdição estatal. In: VASCONCELOS, A. G. de; GALDINO, D. Idem, p. 129.
Por fim, VASCONCELOS elenca o princípio da honestidade,
lealdade e boa-fé, que, na verdade, deve estar presente em qualquer relação social,
e acrescenta:
“No campo trabalhista não é diferente. Toda negociação supõe compromisso e confiança das partes contratantes. No âmbito coletivo privilegia-se a lealdade, boa-fé, honestidade das categorias umas em relação às outras, sempre representadas por seus dirigentes eleitos, cuja conduta haverá de espelhar tais valores.”326
Sem dúvida, o sucesso das atividades do Núcleo Intersindical de
Patrocínio e de qualquer outro que venha a existir está associado diretamente ao
atendimento aos princípios aqui mencionados e à obediência incondicional a eles.
Após a análise dos princípios informadores do Núcleo Intersindical de Patrocínio
- MG, passar-se-á á análise das atividades ali desenvolvidas, a partir da estrutura
organizacional do Núcleo.