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1.2.1 O Conceito de Empregado

1.2.1.1 Pressupostos para a Caracterização do Vínculo Empregatício

1.2.1.1.1 A Pessoalidade e a Não-Eventualidade

O art. 3 o da Consolidação das Leis do Trabalho expõe como

primeira característica do empregado a necessidade de ser este pessoa física.

Assim não há que se cogitar a pessoa jurídica como empregada, podendo ser,

apenas, empregadora.

GOMES e GOTTSCHALK, esclarecem:

“As pessoas jurídicas, dada a sua natureza, são incapazes de prestar um serviço. Como observa Passarelli, inábeis para produzir um trabalho

próprio sob a dependência de outra pessoa, as pessoas jurídicas são absolutamente privadas da capacidade jurídica de trabalho, e por isso não podem assumir a posição de devedoras de trabalho subordinado.”64

Paia a execução do trabalho, o empregado utilizará suas aptidões,

sua experiência, sua energia física ou intelectual, o que não seria possível através

da pessoa jurídica.

A prestação do trabalho entre empregado e empregador tem o caráter

intuitu personae, ou seja, apenas o próprio indivíduo poderá cumprir as atividades,

não se podendo fazer substituir por outra pessoa, salvo se ocorrer de forma

esporádica e com a anuência do empregador.

Nota-se que com a necessidade da prestação pessoal do trabalho*

leva-se em conta os atributos do trabalhador, sua qualificação profissional, grau de

instrução, dentre outras características.

Mais uma vez argumentam GOMES e GOTTSCHALK acerca da

prestação intuitu personae do empregado: “Esta é a razão pela qual não tem o

empregado a faculdade de prestar o serviço por intermédio de outrem. (...). A

obrigação de prestar o serviço é, pois, personalíssima e, portanto,

intransmissível”.65

Esse caráter pessoal66 da prestação do trabalho justifica-se, inclusive,

pois se houvesse a constante substituição do empregado por outro, ocorreria a

configuração de um outro contrato de trabalho com o substituto e o respectivo

empregador,

Além do trabalho ser desenvolvido por pessoa física e pessoalmente,

é necessário que ele seja habitual, que se projete no tempo e ocorra com

regularidade.

64 GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Élson. Curso de D ireito do Trabalho. 15. ed. Rio de janeiro: Forense, 1999, p. 75.

65 GOMES, O.; GOTTSCHALK, E. Idem, p. 77.

66 Alguns autores fundamentam a pessoalidade na prestação do serviço com base no art. 878 do Código Civil que estatui: “Na obrigação de fazer, o credor não é obrigado a aceitar de terceiro a prestação, quando for convencionado que o devedor a faça pessoalmente”. Nesse sentido: VALERIANO, Sebastião Saulo. Relações Especiais de T rabalho. São Paulo. LTr, 1999, p. 114.

A expressão “não-eventual” tem causado certa divergência

doutrinária quanto ao entendimento de sua extensão. Assim sendo, algumas

correntes buscam dimensionar tal conceito,

A primeira corrente argumenta que o caráter eventual da prestação

do trabalho está ligada a um acontecimento específico, determinado, e que

justifique a presença do trabalhador, sem que haja uma dilação no prazo de

duração do evento. Uma segunda corrente utiliza como critério os fins colimados

pela empresa. Desta forma, o trabalhador eventual será aquele contratado para

realizar tarefas que não estejam diretamente ligadas às atividades normais da

empresa. Para uma terceira corrente, o trabalhador eventual seria aquele que

desempenha determinada atividade, sem caráter de permanência. Um último

critério, diz respeito à fixação jurídica a um tomador de serviços. Dentro dessa

linha de raciocínio, o trabalhador eventual seria aquele que não está ligado a uma

única fonte de trabalho.07

DELGADO complementa afirmando que é preciso combinar os

vários critérios para se traçar um panorama do trabalho de natureza eventual, e

resume:

“a) descontinuidade da prestação do trabalho, entendida como a não permanência em uma organização com ânimo definitivo; b) não-fixação jurídica a uma única fonte de trabalho, com pluralidade variável de tomadores de serviços; c) curta duração do trabalho prestado; d) a natureza do trabalho tende a ser concernente a evento certo, determinado e episódico no tocante à regular dinâmica do empreendimento do tomador dos serviços; e) em conseqüência, a natureza do trabalho não corresponde, também, ao padrão dos fins normais do empreendimento.”68

Observa-se que não é apenas o fator tempo que é levado em

consideração para se classificar um trabalho como eventual ou não. O critério que

liga a eventualidade a atividade-meio da empresa, sustenta que o trabalho prestado

transitoriamente não classifica o trabalhador como empregado, mesmo que

&/ BARROS. A. M. de (coord). ob. cit. p. 280. 68 BARROS. A. M. de (coord). Idem, p. 281.

presentes os demais requisitos, pois a sua atividade não diz respeito à atividade-

fim da empresa.69

JORGE NETO e PESSOA discordam da opinião acima;

“Há uma parte da doutrina que atrela a eventualidade aos fins da empresa, aduzindo que serviços não eventuais são os exercidos de acordo com a finalidade da empresa. A justificativa está incorreta, pois, existem várias empresas que possuem empregados os quais exercem atividades não condizentes com a sua finalidade. Uma empresa prestadora de serviços na área de vigilância pode possuir um pedreiro que lhe presta serviços na área de manutenção e registrado como empregado.”70

Os doutrinadores acima citados associam a noção de serviços não

eventuais à idéia de serviços prestados com habitualidade a uma pessoa durante

um certo período de tempo. Quanto ao critério para se caracterizar ou não o

vínculo empregatício, esclarecem que não há um parâmetro exato e será verificado

caso a caso diante das particularidades dos mesmos.71

MACHADO JÚNIOR, salienta que a caracterização do trabalho

não eventual como aquele relacionado com a atividade fim da empresa não

soluciona todas as questões, pois, segundo o autor “será possível a caracterização

do vínculo de emprego mesmo em atividade não essencial ao estabelecimento,

desde que exista continuidade e permanência na prestação de serviços, ou o ânimo

para tanto”.72

Nota-se, a partir da citação acima, que o autor menciona a expressão

“continuidade”. Serão sinônimas as expressões não-eventualidade e continuidade?

Tal polêmica em tomo da semelhança ou não entre os conceitos

citados emergiu com a Lei 5.859/7273 que disciplina o trabalho doméstico, onde o

legislador caracterizou o vínculo doméstico da seguinte forma: “Art. I o - Ao

empregado doméstico, assim considerado aquele que presta serviços de natureza

69 VALERIANO, S. S. Relações Especiais de Trabalho, p. 119. 70 JORGE NETO. F. F.: CAVALCANTE. J. de Q. P. ob. cit. p. 60. 71 JORGE NETO, F. F.; CAVALCANTE, J. de Q. P. Idem. p. 60.

72 MACHADO JÚNIOR, César P. S. Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1999, p. 118.

73 Lei 5859 de 11 de dezembro de 1972. Publicada no DOFC de 12/12/1972, pág. 011065, Col. 1, Diário Oficial a União. Ementa: Dispõe sobre a profissão de empregado doméstico e dá outras providências.

contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial

desta, aplica-se o disposto nesta lei”.

A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu art. 3o, como já

citado, fala em “natureza não eventual da prestação dos serviços”.

ALEMÃO pronuncia-se acerca do assunto:

“Em nosso entender a continuidade significa que a cada hora, a cada dia, a cada mês há um contrato. Ou seja, é o contrato que é sucessivo, podendo ser alternado, diferentemente de outros contratos que já possuem início e fim, bastando às partes cumpri-lo (...). O trabalho eventual pode, em certos casos, durar mais que o contrato de trabalho.”74

Ainda na tentativa de determinar a extensão do conceito de não-

eventualidade, cabe a menção aos esclarecimentos de ALMEIDA, ao afirmar que

se uma empresa encarrega um trabalhador autônomo de desempenhar atividades

estranhas àquelas intrínsecas à empresa, mas o faz estipulando regras de execução,

normas de funcionamento do estabelecimento, fornecendo também os

instrumentos necessários e assumindo os riscos da atividades, estar-se-á diante de

vínculo empregatício e a pessoa contratado sob a denominação de autônoma é, de

fato, empregada. E arremata a autora “Assim, a eventualidade - que excluiria a

relação de emprego - só pode ocorrer na necessidade fortuita de determinado

serviço, que exija uma duração reduzida, e, pela sua própria natureza, não tome

presumível uma continuidade da prestação.”75

VILHENA assim considera a eventualidade:

“Ainda que maiores ou menores sejam os períodos de prestação e maiores ou menores os intervalos que os separem (uma hora; dia sim, dia não; três horas ao dia por semana; duas vezes por semana; nas seguidas quinzenas de cada mês; pelas estações do ano; ora em meados do mês, ora no princípio dos meses, etc.), tudo isso é irrelevante (...). registre-se, porém: se a periodicidade se consuma de maneira uniforme, então não há dúvida sobre a presença de um contrato de trabalho.”76

'4 ALEMÃO, Ivan. D ireito das Relações de Trabalho. São Paulo: LTr, 1998, p. 70.

75 ALMEIDA. Isis de. M anual de D ireito Individual do Trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 84. 76 VILHENA, P. E. R. de. ob. cit. p. 370.

“a eventualidade não traduz intermitência. Desse modo, se a prestação é

descontínua, mas permanente, deixa de haver eventualidade. E que a jornada

contratual pode ser inferior à jornada legal, inclusive no que concerne aos dias

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laborados na semana.”