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OS CONFLITOS INTERNOS.

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Diagrama 5: Pirâmide da composição social de poder e dominação da ADMM

3.3. OS CONFLITOS INTERNOS.

Em nossa pesquisa se pode comprovar que os conflitos internos dentro da ADMM eram uma situação muito comum e constante dentro da instituição. Lembrando que o poder e a dominação são questões passíveis a resistência e constantes conflitos. Bourdieu (2013) deixa essa situação muito clara, quando afirma sobre as disputas existentes entre o sacerdote e o profeta no meio religioso e a ADMM não é uma exceção à regra, entretanto como uma organização social (BERGER, 1985) a mesma tende a enfrentar as mesmas condições de tensão social. Foi assim como o Pr. Paulo Leivas Macalão, que enfrentou muitos problemas nesse sentido (nesta pesquisa falamos sobre as discordâncias com a igreja em Brasília e mais tarde em Anápolis – GO) e, o Bp. Manoel Ferreira, seus filhos e a Mesa Diretora da CONAMAD não estiveram (e nem estão) isentos dessas questões e desafios para manter o seu domínio sobre a organização.

Como já mencionamos na seção anterior de nossa pesquisa, em se tratando apenas de São Paulo nestes últimos vinte cinco anos, pelo menos quatro significativos campos se emanciparam e hoje são igrejas independentes e sem vínculo algum com a ADMM132. São eles a AD Nova Gerty, localizada na cidade de São Caetano do Sul em São Paulo, fundada em 1951, que se emancipou no ano de 2002133; a AD Ministério de São Bernardo do Campo134 fundada em 1957, mas que no ano de 1993 com a morte do Pr. Roberto Montanheiro foi a primeira igreja de São Paulo a se emancipar, no mesmo dia em que estavam velando o corpo do referido pastor (Pr. P(ex)-B, entrevista em áudio gravada no dia 14/07/16). Temos também a AD Ministério de Perus135 fundada em 1947, mas que em 2002 já desempenhava uma relação apenas de “laços fraternos” com a ADMM (segundo pastores desse ministério), sendo 2006 o ano do rompimento definitivo. E por último temos o caso

132 Segundo o Pr. P(ex)-A essa condição não se restringi a São Paulo apenas, no Estado do Rio de

Janeiro alguns Campos vivem em constante tensão com a CONAMAD, esperando qualquer pequeno motivo para romper com o ministério (Entrevista em áudio, gravada no dia 25/05/2016). Encontramos um artigo em um site gospel falando sobre a tentativa do Bp. Manoel Ferreira em tomar posse das ADMM em Gama - GO e Taguatinga – DF. Está última é presidida pelo Pr. Benedito Domingos, na qual ocorreu uma situação inusitada, pois os “obreiros” do campo e leais ao referido pastor, jogaram suas carteiras de membros da CONAMAD no chão em sinal de protesto a tentativa do bispo em assumir a igreja. Disponível em: http://www.pulpitocristao.com/2015/07/ganancia-de-manoel-ferreira- revolta.html. Acesso no dia 12/11/2016.

133 Informações cedidas pela secretaria da instituição por contato telefone.

134 Disponível em http://www.iead-msbc.com.br/#about. Acesso no dia 15/11/2016. 135 Disponível em http://www.adperus.com.br/institucional.php. Acesso no dia 15/11/2016.

da ADSA Brasil136 (Assembleia de Deus Ministério de Santo Amaro) fundada em 1951, entretanto em 2003 se emancipou do Ministério de Madureira em meio a um processo bem turbulento.

Ainda na gestão do Pr. João Galdino de Lima o Campo de Santo Amaro, conhecido pelo seu rígido padrão moral estava construindo a nova igreja-sede, situado a Rua João Alfredo nº 527. Um grande e moderno templo, o qual estava sendo construído no mesmo período do templo do Brás. Por ser um Campo que a época contava com um número bem significativo de igrejas-filiais, “os Ferreiras” resolveram no começo dos anos 2000 mudar a gestão ali instituída. Com a negativa do Pr. Galdino e de sua diretoria esse caso chegou a ser levado aos tribunais se arrastando por alguns anos. No final a ADMM perdeu essa causa e o Campo de Santo Amaro se tornou ADSA Brasil (Pr. P(ex)-A, entrevista em áudio gravada do dia 25/07/2016). Segue a fala do próprio Bp. Manoel Ferreira sobre o Pr. Galdino e que remete ao caso, ele disse,

Um homem fiel, trabalhador, forte, mas, infelizmente, depois foi levado por assessores, maus conselheiros e deixou-se enveredar por um caminho difícil. Agora, era um homem trabalhador, muito fiel a Madureira, até onde pôde. Construiu um grande trabalho para o lado de Santo Amaro e hoje eu não sei como está aquele campo, mas a verdade é que enquanto ele esteve conosco deu prova de muita fidelidade e de muito trabalho (FERREIRA, s.n.t, p. 152).

O que chamou nossa atenção nesse caso foi, a postura do Pr. Galdino frente ao ocorrido, pois o mesmo passou a direção da igreja a seu filho Pr. Marcos Galdino, que à época nem “crente era” (segundo dois de nossos entrevistados). Seu “pastorado” a frente do ministério de Santo Amaro foi relativamente curto e no ano de 2014, o referido pastor, transferiu à presidência do ministério para o seu filho Pr. Marcos Galdino de Lima Junior, então Vice-Presidente do Ministério. O qual assumiu a responsabilidade de ser o mais novo pastor-presidente da ADSA Brasil, se mantendo até hoje como tal (Pr. P-B, entrevista em áudio gravada no dia 09/08/2016). Temos nesse caso a estrutura estruturada (BOURDIEU, 2013) muito típica das atuais ADs no Brasil, no qual o poder é delegado a filhos, genros, netos, sempre na tentativa de manter o patrimônio familiar herdado.

Findado esse período de turbulência do poder e dominação “dos Ferreiras” dentro da ADMM, principalmente porque os mesmos se posicionaram em lugares

136 Disponível em http://www.adsabrasil.org.br/historia-da-assembleia-de-deus-ministerio-em-santo-

bem estratégicos como Brasília Sede da CONAMAD, Madureira Igreja-mãe e Brás Sede do poder simbólico e econômico, a referida família conseguiu consolidar seu projeto de legitimação do prestígio através da “nomeações oficializadas” (BOURDIEU, 2003) e pelas truculentas137 disputas pelo poder. Entretanto isso não quer disser que entre eles, internamente tudo seja “paz, amor e flores”, uma vez que historicamente brigas de irmãos já causaram dramas, divisões e mortes.

Em duas de nossas entrevistas, foram mencionadas as tensões constantes entre os irmãos Abner e Samuel Ferreira pela posse do poder no ministério e sendo o pai muitas vezes o apaziguador desses conflitos. Esse conflito não se restringe apenas aos dois, pois os outros filhos, até mesmo o único filho que não é pastor- presidente faz críticas severas a postura dos irmãos (Pr. P-B, entrevista em áudio gravada no dia 09/08/2016). E é inegável que os dois irmãos sejam líderes extremamente habilidosos não apenas para manter o poder concentrado entre eles, mas também como fazer com que essas desavenças fiquem “abafadas” entre eles, porém como disseram os Pr. P-B e Pr. P(ex)-A, a tensão entre os dois é bem visível, principalmente nas Assembleias Gerais.

[...] Hoje o Manoel Ferreira já “desapareceu”, não fica assim muito claro, mas quem acompanha a coisa, quem sabe da história, hoje é o Samuel. E a coisa é tão “braba” que a disputa é Samuel e Abner e, os dois quando estão juntos, assim na frente dos outros são amigos, um reverente ao outro. Mas ou dois, um só falta matar o outro, por causa da disputa, disputa, por causa da disputa. A disputa é “braba”! (Pr. P(ex)-A, entrevista em áudio gravada no dia 25/07/2016)

Bem ou mal o que essas tensões e conflitos gerarão para o futuro da instituição só o tempo revelará, entretanto é que as lutas pelo poder, prestígio e dominação são uma realidade não apenas entre os Campo do Ministério de Madureira, mas também, entre os membros da família do próprio Bp. Manoel Ferreira. Estas situações demarcam as novas realidades que a organização tem que enfrentar, em meio a um mundo inserido no turbilhão da modernidade (BERMAN, 1986), uma vez que a mesma é parte integrante dessa sociedade e fruto das tensões e transformações resultantes das relações sociais e suas contradições.

Todas essas questões e complexidades refletem o que são as ADs ligadas ao Ministério de Madureira hoje, que desde seu nascimento se constitui como uma

137 Não foram poucas às vezes durante a pesquisa e nas entrevistas que ouvimos, ora em off, ora

abertamente que muitas das ações promovidas pelos “Ferreiras” ocorriam de forma bem truculenta e muitas vezes gerando grandes tensões.

igreja autenticamente brasileira e interregionalizada, claramente ligada à figura de seu fundador. E que logo cedo passou a centralizar o poder em seu carisma, porém que ao longo dos anos foi obrigado em seu processo de tradicionalização a criar uma “oligarquia diretiva” para ajudá-lo a manter o poder. Sendo nesse processo de tradicionalização que o poder patrimonial foi se constituindo como uma marca desse segmento assembleiano (não que os outros estejam livres desse mesmo fenômeno), na constituição do prestígio do Pastor-presidente e de seu quadro de especialista. Com a chegada das novas gerações esse poder patrimonial, passou a se legitimar através de regras burocráticas de “nomeações oficializadas”, porém o que se pode perceber é que nesta dinâmica do movimento o que temos é a prática de beneficiamento de parentes e pessoas próximas aos líderes. E ainda mais a sucessão dos principais postos de comando agora se dá pelo grau de parentescos dos líderes, transformando a instituição em uma propriedade privada das “classes diretivas”. Gerando dentro da mesma, constantes processos de tensões e conflitos entre os que estão no topo da pirâmide pela disputa e conservação do poder instituído.

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