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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Como vimos no decorrer desta pesquisa, as Assembleias de Deus, em especial o Ministério de Madureira é o resultado das diferentes contradições que a mesma produziu durante todo o seu desenvolvimento histórico e social no Brasil. De um movimento nascido e impulsionado pelo carisma de seu fundador, ao poder patrimonialista da gestão atual “dos Ferreiras”, que busca em ações racionais burocráticas manter consolidado a sua dominação patrimonialista, a ADMM expressa às condições de um movimento que reproduz as condições e relações sociais produzidas na sociedade que está inserida. Em seus mais de 87 anos de existência a ADMM não é mais aquela iniciada no subúrbio carioca no final da década de 1920. Apesar de nascer autônoma e “interregionalizada” na postura carismática do Pr. Paulo Leivas Macalão, essa igreja viu ao longo dos anos a gradativa “profissionalização” do poder do Pasto-presidente, junto ao seu quadro administrativo de especialistas. Essa nova estrutura de poder e dominação assembleiana, que é contrária aos padrões modernos de democracia, possibilitou a criação de uma forma de poder sucessório, no qual transformou a igreja em um patrimônio particular de algumas poucas famílias e seus associados.

Sendo então o propósito dessa pesquisa compreender quais são as causas que ajudem a explicar o porquê esse processo foi ocorrendo dentro dessa organização (e que ajuda a entender o que ocorre também em outras igrejas ADs no Brasil) e aceito por boa parte de seus membros, mesmo em um período histórico que valoriza os processos democráticos. Dessa forma optamos em analisar o papel do Pastor-presidente, pois ele é hoje a principal figura de poder e dominação nas ADs. Seu prestígio é tão grande que atualmente os mesmos são figuras inquestionáveis dentro da instituição e que tem transferido esse “poder”, em muitos casos, a um de seus familiares.

Mostramos durante a pesquisa que esta figura não é uma “mera herança” da colonização brasileira, mas sim, um produto da dialética produzida pela disputa interna de poder do grupo social. Assim rejeitando as respostas oferecidas pelos intelectuais do “culturalismo liberal conservador” brasileiro, que buscam explicar essas figuras como “estoques culturais herdados”, anulando dos mesmos suas particularidades concretas de agentes produtores de relações e tensões sociais.

A partir dos conceitos de poder e dominação weberiano demostramos que a figura do Pastor-presidente se legitima por um direito que é construído em torno de sua pessoa e que se solidifica pela existência do “quadro administrativo de especialistas” que se formam na instituição. Estes são responsáveis em manter o mesmo no topo da instituição e distribuindo parcelas do poder apenas entre os mais próximos. Percebemos que nas relações sociais produzidas pela a ADMM é de fundamental importância à existência de grupos “estamentais” que tendem a manter o poder e dominação estáveis o máximo possível. Entretanto, apesar de concentrar esse “grande volume” de poder na instituição, a figura do Pastor-presidente não nasce com a instituição, ela é criada ao longo dos anos em um momento, em que as estruturas da mesma se veem ameaçadas pelas novas demandas existentes dentro do pentecostalismo assembleiano, em virtude da industrialização e urbanização brasileira, que gerou tensões e fragmentações dentro do movimento.

Portanto sua criação é uma resposta às ameaças que o movimento passa a sofrer dentro da nova dinâmica social do país. Sua carreira é construída dentro da organização a partir de sua fidelidade a igreja e sua capacidade em resolver questões administrativas, dessa forma ele acaba desempenhando um papel muito mais de um gestor, do que mesmo de um “pregador e ensinador da palavra”. Porém encontramos àqueles que alcançam o posto de Pastor-presidente mediante práticas corruptas de beneficiamento, que podem ser obtidas devido a questões relacionadas à consanguinidade, ou mesmo por se buscar criar um grupo de “vassalos”, que serão leais a esse senhor. Tudo isso na tentativa de conseguir o máximo possível de capital social pra si mesmo, o que legitimaria sua perpetuação e possibilitará uma sucessão futura, a fim de garantir o padrão de vida que foi adquirido ao longo dos anos em detrimento da maioria dos membros da instituição.

Entretanto, durante a pesquisa ficou claro que mesmo criando toda uma estrutura patrimonial de poder, a qual possibilita o Pastor-presidente a acumular uma condição prestigiosa, o mesmo depende da aceitação por parte daqueles que se concentram na base da organização, uma vez que, sua dependência é total dos mesmos. Assim, a necessidade por parte do Pastor-presidente em se respeitar uma conduta ética (pelo menos figurativamente) e regramento financeiro, sob a pena de ser destituído de seu cargo se isso não for minimamente respeitado. Essa condição expressa à força que a massa dos membros pode obter, mas que ainda não se deram conta que tem; caso semelhante à população brasileira em geral.

Ainda na pesquisa analisamos a trajetória dos dois principais líderes da ADMM, como se constituiu a carreira de ambos e quais foram os principais desafios enfrentados pelos personagens em questão. Nisto ficou evidente que o fundador do movimento, o Pr. Paulo Leivas Macalão apesar de possuir um capital simbólico e cultural, o qual o diferenciava dos demais pares de sua época é lembrado como o principal responsável pelo “sucesso” dessa AD, graças ao seu carisma “inigualável”. Porém, o mesmo foi obrigado a tradicionalizar seu poder, na tentativa de manter coesa e unida a igreja por ele iniciada. Sofrendo a oposição de “reformadores” pela estrutura que criou, Macalão lançou mãos muitas vezes de ações racionais burocráticas, não apenas para manter seu poder, como para punir seus adversários. Usou de sua influência carismática algumas vezes e, em outras os poderes legais instituídos, mesmo que fossem de militares. Já o seu sucessor precisou desenvolver a sua caminhada, sob a sombra de Macalão e se consolidar em meio à ameaça constante do surgimento de um possível sucessor, mais prestigioso do que ele.

Mesmo o Bp. Manoel Ferreira de posse de um capital cultural privilegiado e sendo ele (segundo o próprio bispo) um especialista em resolver problemas de ordem administrativa do ministério, nunca foi reconhecido como o sucessor esperado de seu antecessor. Conquanto, somando suas habilidades de articulação e os acontecimentos visando à posse do poder, analisados nesta pesquisa, Manoel Ferreira não apenas conseguiu ser aceito como o sucessor legítimo, mas empreendeu uma nova tradição pautada no personalismo e reconhecimento de títulos honoríficos, que garantissem prestígio legítimo de ser ele o sucessor mais justo ao principal posto de comando das ADMM. Em conjunto a tudo isso, o “primeiro bispo” assembleiano inaugurou uma prática que seria seguida por muitos outros líderes da ADs no Brasil, o nepotismo. Instituindo dois de seus filhos como seu sucessor nos Campos onde estava (Madureira e Campinas), Ferreira promove a ascensão de sua família aos principais postos diretivos do ministério, os quais reforçaram ainda mais a figura personificada e mitificada do Pastor-presidente.

É nesta condição que a ADMM caminha atualmente, desligada da CGADB desde 1989, desenvolvendo uma prática centralizadora de organização, na qual todas as igrejas a ela filiadas devem coexistir sob a tutela de um único estatuto. Dessa forma se diferenciando da CGADB, que apesar de sua grande influência se mantém como uma “associação de pastores”. Já a CONAMAD concentra em si mesma, os poderes e prestígios diretivos da organização, não sendo sem motivos

que a família “dos Ferreiras” buscaram e buscam garantir esse “monopólio” pra si mesmos. Isso não significa a aceitação passiva de outros líderes que desejam alcançar esse posto prestigioso, explicando assim, as tensões existentes internamente e que por algumas vezes geraram o rompimento de alguns Campos, que acabaram se desligando de Madureira e fundando suas próprias Convenções.

No demais, a ADMM é uma expressão do pluralismo que denominamos de “assembleanismo” brasileiro, que ao longo dos seus mais de 105 anos de história produz e reproduz as questões inerentes aos grupos sociais instituídos no país. Suas tensões, disputas, transformações e expressões são sinais de que esse grupo está intimamente “ligado às coisas desse mundo”, muito mais do que eles mesmo pensam.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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